Análise: Chandler Bing de Matthew Perry foi o piadista sarcástico que deixou preconceitos de lado


Não dá para pensar em Matthew Perry sem associar a Chandler. Um é sinônimo do outro. E ser rotulado por essa personagem é elogio. É preciso um certo grau de genialidade para atingir a nota exata de uma figura como aquela

Por Simião Castro
Atualização:

Matthew Perry morreu. Digo. Chandler Bing morreu. A Monica deve estar inconsolável nesse momento, como estamos todos nós fãs de Friends. É como se alguém da família tivesse partido. Ele que é a personificação do palhaço, que faz todo mundo rir enquanto por dentro chora.

Eu sempre me identifiquei bastante com Chandler. Ele pode não ser meu personagem preferido, mas certamente é o que mais tem a ver comigo. Sarcástico, desajeitado, não muito feliz em relacionamentos…

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Mas a devoção dele pelos amigos é algo que sempre me cativou demais. Chandler chegou a se fechar numa caixa enorme em silêncio para provar a Joey que se arrependia de um erro. E entre tudo, se calar talvez fosse o sacrifício maior para ele.

Matthew Perry em 2009, na premiere do filme '17 Outra Vez' Foto: Reuters/Phil McCarten
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Pois agora essa voz se silenciou para sempre. Porque não dá para pensar em Matthew Perry sem associar a Chandler. Um é sinônimo do outro. E isso pode ser complicado para um ator, ficar taxado com um único tipo de personagem. Mas não exatamente para Matthew.

Sabe, é preciso um certo grau de genialidade para atingir a nota exata de uma figura como aquela. O timing da comédia de Matthew é difícil de ser igualado. A inteligência - da personagem e do ator - são incomensuráveis. Perde a arte, perdemos nós.

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Eu não cresci com TV por assinatura. Lembro de Friends passando em algumas madrugadas na TV aberta do SBT, mas não tinha idade pra entender de verdade o pouco que vi. A maior série da televisão naquele momento.

Mas revendo incessantemente agora - é minha “série de almoço”, assisto enquanto como, ou deixo ligada quando faço outras coisas - é notável os altos e baixos por que Matthew passou.

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Uma alma atormentada

No decorrer dos anos, ele desenvolveu dependências pesadíssimas. Por várias vezes falou abertamente sobre como tentava lidar com o alcoolismo, drogas e chegou a dizer que tomava 55 comprimidos de paracetamol em um dia.

A pressão do showbiz e do sucesso foi cruel sobre ele - aparentemente, o mais sensível dos seis. Autocobrança, ansiedade, depressão. Reflexos nada incomuns que atingem grandes astros de Hollywood.

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O peso, como reflexo desse problema, era o que mais aparecia na tela. Não sei se para os fãs da época foi visível, Mas da passagem da temporada 6 para 7, em que a mesma noite é retratada, o emagrecimento é assustador.

De um episódio para o outro - separados por meses de hiato - as mesmas roupas ficam largas, o rosto ossudo, até articulação de fala muda. Quase como se fossem pessoas diferentes.

Politicamente meio correto - e hilário

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Friends envelheceu como leite em muitos aspectos. Rolavam sempre piadas sexistas, LGBTfóbicas, retratos de racismo estrutural que deviam já ser esquisitos à época - era a virada do século 20 para 21, afinal. Mas se havia dois personagens que conseguiam refletir menos esse padrão eram Chandler e Phoebe.

E olha que isso diz muito, porque Chandler era o piadista do grupo. O que não deixava nenhuma oportunidade passar. O que fazia graça com qualquer coisa. E daí, estando onde estava, claro que uma ou outra coisa passaram.

Especialmente sendo ele filho de uma travesti. O pai de Chandler tinha um show em Las Vegas chamado “Viva Las Gaygas”. E a separação dolorosa dos pais rendeu a ele anos de trauma. Entretanto, perto do casamento com Monica, a redenção veio com a reconciliação.

Ali ele demonstra novamente a generosidade. Em deixar de lado os próprios preconceitos e acolher novamente o pai, do jeito que ele é. E entrar na cerimônia de braços dado com ele usando um vestido, ao lado da mãe.

Torcemos, rimos, choramos, nos despedimos

Casamento, aliás, que é o ápice do desejo de alguém que se identifica com Chandler - como eu. Encontrar o amor da sua vida. Mais perto do que espera. Em uma pessoa incrível, que reúne força, ternura, caráter e benevolência. Todo mundo quer uma Monica na sua vida.

Recentemente fui ao casamento de duas amigas e, em meio às trocas de votos, elas mencionaram o discurso que Chandler faz para pedir a amiga em casamento. Antes, Ela havia dito: “Eu nunca pensei que teria tanto sorte de me apaixonar pelo meu melhor amigo”. Nós tivemos sorte. Ele nos fez nos apaixonarmos.

Não por acaso o especial de reunião de Friends foi tão emocionante. Principalmente para ele que, de todos os integrantes do sexteto, era o que parecia ter envelhecido mais rápido. Coisa demais para um único corpo e mente. A evidência de que fama e fortuna não são tudo.

Agora, com circunstâncias ainda nebulosas da morte, o que resta é torcer para que a passagem ao menos tenha sido suave. Que ao menos neste momento Matthew não tenha sofrido. E que finalmente possa descansar depois de tanto tormento na Terra.

Matthew Perry morreu. Digo. Chandler Bing morreu. A Monica deve estar inconsolável nesse momento, como estamos todos nós fãs de Friends. É como se alguém da família tivesse partido. Ele que é a personificação do palhaço, que faz todo mundo rir enquanto por dentro chora.

Eu sempre me identifiquei bastante com Chandler. Ele pode não ser meu personagem preferido, mas certamente é o que mais tem a ver comigo. Sarcástico, desajeitado, não muito feliz em relacionamentos…

Mas a devoção dele pelos amigos é algo que sempre me cativou demais. Chandler chegou a se fechar numa caixa enorme em silêncio para provar a Joey que se arrependia de um erro. E entre tudo, se calar talvez fosse o sacrifício maior para ele.

Matthew Perry em 2009, na premiere do filme '17 Outra Vez' Foto: Reuters/Phil McCarten

Pois agora essa voz se silenciou para sempre. Porque não dá para pensar em Matthew Perry sem associar a Chandler. Um é sinônimo do outro. E isso pode ser complicado para um ator, ficar taxado com um único tipo de personagem. Mas não exatamente para Matthew.

Sabe, é preciso um certo grau de genialidade para atingir a nota exata de uma figura como aquela. O timing da comédia de Matthew é difícil de ser igualado. A inteligência - da personagem e do ator - são incomensuráveis. Perde a arte, perdemos nós.

Eu não cresci com TV por assinatura. Lembro de Friends passando em algumas madrugadas na TV aberta do SBT, mas não tinha idade pra entender de verdade o pouco que vi. A maior série da televisão naquele momento.

Mas revendo incessantemente agora - é minha “série de almoço”, assisto enquanto como, ou deixo ligada quando faço outras coisas - é notável os altos e baixos por que Matthew passou.

Uma alma atormentada

No decorrer dos anos, ele desenvolveu dependências pesadíssimas. Por várias vezes falou abertamente sobre como tentava lidar com o alcoolismo, drogas e chegou a dizer que tomava 55 comprimidos de paracetamol em um dia.

A pressão do showbiz e do sucesso foi cruel sobre ele - aparentemente, o mais sensível dos seis. Autocobrança, ansiedade, depressão. Reflexos nada incomuns que atingem grandes astros de Hollywood.

O peso, como reflexo desse problema, era o que mais aparecia na tela. Não sei se para os fãs da época foi visível, Mas da passagem da temporada 6 para 7, em que a mesma noite é retratada, o emagrecimento é assustador.

De um episódio para o outro - separados por meses de hiato - as mesmas roupas ficam largas, o rosto ossudo, até articulação de fala muda. Quase como se fossem pessoas diferentes.

Politicamente meio correto - e hilário

Friends envelheceu como leite em muitos aspectos. Rolavam sempre piadas sexistas, LGBTfóbicas, retratos de racismo estrutural que deviam já ser esquisitos à época - era a virada do século 20 para 21, afinal. Mas se havia dois personagens que conseguiam refletir menos esse padrão eram Chandler e Phoebe.

E olha que isso diz muito, porque Chandler era o piadista do grupo. O que não deixava nenhuma oportunidade passar. O que fazia graça com qualquer coisa. E daí, estando onde estava, claro que uma ou outra coisa passaram.

Especialmente sendo ele filho de uma travesti. O pai de Chandler tinha um show em Las Vegas chamado “Viva Las Gaygas”. E a separação dolorosa dos pais rendeu a ele anos de trauma. Entretanto, perto do casamento com Monica, a redenção veio com a reconciliação.

Ali ele demonstra novamente a generosidade. Em deixar de lado os próprios preconceitos e acolher novamente o pai, do jeito que ele é. E entrar na cerimônia de braços dado com ele usando um vestido, ao lado da mãe.

Torcemos, rimos, choramos, nos despedimos

Casamento, aliás, que é o ápice do desejo de alguém que se identifica com Chandler - como eu. Encontrar o amor da sua vida. Mais perto do que espera. Em uma pessoa incrível, que reúne força, ternura, caráter e benevolência. Todo mundo quer uma Monica na sua vida.

Recentemente fui ao casamento de duas amigas e, em meio às trocas de votos, elas mencionaram o discurso que Chandler faz para pedir a amiga em casamento. Antes, Ela havia dito: “Eu nunca pensei que teria tanto sorte de me apaixonar pelo meu melhor amigo”. Nós tivemos sorte. Ele nos fez nos apaixonarmos.

Não por acaso o especial de reunião de Friends foi tão emocionante. Principalmente para ele que, de todos os integrantes do sexteto, era o que parecia ter envelhecido mais rápido. Coisa demais para um único corpo e mente. A evidência de que fama e fortuna não são tudo.

Agora, com circunstâncias ainda nebulosas da morte, o que resta é torcer para que a passagem ao menos tenha sido suave. Que ao menos neste momento Matthew não tenha sofrido. E que finalmente possa descansar depois de tanto tormento na Terra.

Matthew Perry morreu. Digo. Chandler Bing morreu. A Monica deve estar inconsolável nesse momento, como estamos todos nós fãs de Friends. É como se alguém da família tivesse partido. Ele que é a personificação do palhaço, que faz todo mundo rir enquanto por dentro chora.

Eu sempre me identifiquei bastante com Chandler. Ele pode não ser meu personagem preferido, mas certamente é o que mais tem a ver comigo. Sarcástico, desajeitado, não muito feliz em relacionamentos…

Mas a devoção dele pelos amigos é algo que sempre me cativou demais. Chandler chegou a se fechar numa caixa enorme em silêncio para provar a Joey que se arrependia de um erro. E entre tudo, se calar talvez fosse o sacrifício maior para ele.

Matthew Perry em 2009, na premiere do filme '17 Outra Vez' Foto: Reuters/Phil McCarten

Pois agora essa voz se silenciou para sempre. Porque não dá para pensar em Matthew Perry sem associar a Chandler. Um é sinônimo do outro. E isso pode ser complicado para um ator, ficar taxado com um único tipo de personagem. Mas não exatamente para Matthew.

Sabe, é preciso um certo grau de genialidade para atingir a nota exata de uma figura como aquela. O timing da comédia de Matthew é difícil de ser igualado. A inteligência - da personagem e do ator - são incomensuráveis. Perde a arte, perdemos nós.

Eu não cresci com TV por assinatura. Lembro de Friends passando em algumas madrugadas na TV aberta do SBT, mas não tinha idade pra entender de verdade o pouco que vi. A maior série da televisão naquele momento.

Mas revendo incessantemente agora - é minha “série de almoço”, assisto enquanto como, ou deixo ligada quando faço outras coisas - é notável os altos e baixos por que Matthew passou.

Uma alma atormentada

No decorrer dos anos, ele desenvolveu dependências pesadíssimas. Por várias vezes falou abertamente sobre como tentava lidar com o alcoolismo, drogas e chegou a dizer que tomava 55 comprimidos de paracetamol em um dia.

A pressão do showbiz e do sucesso foi cruel sobre ele - aparentemente, o mais sensível dos seis. Autocobrança, ansiedade, depressão. Reflexos nada incomuns que atingem grandes astros de Hollywood.

O peso, como reflexo desse problema, era o que mais aparecia na tela. Não sei se para os fãs da época foi visível, Mas da passagem da temporada 6 para 7, em que a mesma noite é retratada, o emagrecimento é assustador.

De um episódio para o outro - separados por meses de hiato - as mesmas roupas ficam largas, o rosto ossudo, até articulação de fala muda. Quase como se fossem pessoas diferentes.

Politicamente meio correto - e hilário

Friends envelheceu como leite em muitos aspectos. Rolavam sempre piadas sexistas, LGBTfóbicas, retratos de racismo estrutural que deviam já ser esquisitos à época - era a virada do século 20 para 21, afinal. Mas se havia dois personagens que conseguiam refletir menos esse padrão eram Chandler e Phoebe.

E olha que isso diz muito, porque Chandler era o piadista do grupo. O que não deixava nenhuma oportunidade passar. O que fazia graça com qualquer coisa. E daí, estando onde estava, claro que uma ou outra coisa passaram.

Especialmente sendo ele filho de uma travesti. O pai de Chandler tinha um show em Las Vegas chamado “Viva Las Gaygas”. E a separação dolorosa dos pais rendeu a ele anos de trauma. Entretanto, perto do casamento com Monica, a redenção veio com a reconciliação.

Ali ele demonstra novamente a generosidade. Em deixar de lado os próprios preconceitos e acolher novamente o pai, do jeito que ele é. E entrar na cerimônia de braços dado com ele usando um vestido, ao lado da mãe.

Torcemos, rimos, choramos, nos despedimos

Casamento, aliás, que é o ápice do desejo de alguém que se identifica com Chandler - como eu. Encontrar o amor da sua vida. Mais perto do que espera. Em uma pessoa incrível, que reúne força, ternura, caráter e benevolência. Todo mundo quer uma Monica na sua vida.

Recentemente fui ao casamento de duas amigas e, em meio às trocas de votos, elas mencionaram o discurso que Chandler faz para pedir a amiga em casamento. Antes, Ela havia dito: “Eu nunca pensei que teria tanto sorte de me apaixonar pelo meu melhor amigo”. Nós tivemos sorte. Ele nos fez nos apaixonarmos.

Não por acaso o especial de reunião de Friends foi tão emocionante. Principalmente para ele que, de todos os integrantes do sexteto, era o que parecia ter envelhecido mais rápido. Coisa demais para um único corpo e mente. A evidência de que fama e fortuna não são tudo.

Agora, com circunstâncias ainda nebulosas da morte, o que resta é torcer para que a passagem ao menos tenha sido suave. Que ao menos neste momento Matthew não tenha sofrido. E que finalmente possa descansar depois de tanto tormento na Terra.

Matthew Perry morreu. Digo. Chandler Bing morreu. A Monica deve estar inconsolável nesse momento, como estamos todos nós fãs de Friends. É como se alguém da família tivesse partido. Ele que é a personificação do palhaço, que faz todo mundo rir enquanto por dentro chora.

Eu sempre me identifiquei bastante com Chandler. Ele pode não ser meu personagem preferido, mas certamente é o que mais tem a ver comigo. Sarcástico, desajeitado, não muito feliz em relacionamentos…

Mas a devoção dele pelos amigos é algo que sempre me cativou demais. Chandler chegou a se fechar numa caixa enorme em silêncio para provar a Joey que se arrependia de um erro. E entre tudo, se calar talvez fosse o sacrifício maior para ele.

Matthew Perry em 2009, na premiere do filme '17 Outra Vez' Foto: Reuters/Phil McCarten

Pois agora essa voz se silenciou para sempre. Porque não dá para pensar em Matthew Perry sem associar a Chandler. Um é sinônimo do outro. E isso pode ser complicado para um ator, ficar taxado com um único tipo de personagem. Mas não exatamente para Matthew.

Sabe, é preciso um certo grau de genialidade para atingir a nota exata de uma figura como aquela. O timing da comédia de Matthew é difícil de ser igualado. A inteligência - da personagem e do ator - são incomensuráveis. Perde a arte, perdemos nós.

Eu não cresci com TV por assinatura. Lembro de Friends passando em algumas madrugadas na TV aberta do SBT, mas não tinha idade pra entender de verdade o pouco que vi. A maior série da televisão naquele momento.

Mas revendo incessantemente agora - é minha “série de almoço”, assisto enquanto como, ou deixo ligada quando faço outras coisas - é notável os altos e baixos por que Matthew passou.

Uma alma atormentada

No decorrer dos anos, ele desenvolveu dependências pesadíssimas. Por várias vezes falou abertamente sobre como tentava lidar com o alcoolismo, drogas e chegou a dizer que tomava 55 comprimidos de paracetamol em um dia.

A pressão do showbiz e do sucesso foi cruel sobre ele - aparentemente, o mais sensível dos seis. Autocobrança, ansiedade, depressão. Reflexos nada incomuns que atingem grandes astros de Hollywood.

O peso, como reflexo desse problema, era o que mais aparecia na tela. Não sei se para os fãs da época foi visível, Mas da passagem da temporada 6 para 7, em que a mesma noite é retratada, o emagrecimento é assustador.

De um episódio para o outro - separados por meses de hiato - as mesmas roupas ficam largas, o rosto ossudo, até articulação de fala muda. Quase como se fossem pessoas diferentes.

Politicamente meio correto - e hilário

Friends envelheceu como leite em muitos aspectos. Rolavam sempre piadas sexistas, LGBTfóbicas, retratos de racismo estrutural que deviam já ser esquisitos à época - era a virada do século 20 para 21, afinal. Mas se havia dois personagens que conseguiam refletir menos esse padrão eram Chandler e Phoebe.

E olha que isso diz muito, porque Chandler era o piadista do grupo. O que não deixava nenhuma oportunidade passar. O que fazia graça com qualquer coisa. E daí, estando onde estava, claro que uma ou outra coisa passaram.

Especialmente sendo ele filho de uma travesti. O pai de Chandler tinha um show em Las Vegas chamado “Viva Las Gaygas”. E a separação dolorosa dos pais rendeu a ele anos de trauma. Entretanto, perto do casamento com Monica, a redenção veio com a reconciliação.

Ali ele demonstra novamente a generosidade. Em deixar de lado os próprios preconceitos e acolher novamente o pai, do jeito que ele é. E entrar na cerimônia de braços dado com ele usando um vestido, ao lado da mãe.

Torcemos, rimos, choramos, nos despedimos

Casamento, aliás, que é o ápice do desejo de alguém que se identifica com Chandler - como eu. Encontrar o amor da sua vida. Mais perto do que espera. Em uma pessoa incrível, que reúne força, ternura, caráter e benevolência. Todo mundo quer uma Monica na sua vida.

Recentemente fui ao casamento de duas amigas e, em meio às trocas de votos, elas mencionaram o discurso que Chandler faz para pedir a amiga em casamento. Antes, Ela havia dito: “Eu nunca pensei que teria tanto sorte de me apaixonar pelo meu melhor amigo”. Nós tivemos sorte. Ele nos fez nos apaixonarmos.

Não por acaso o especial de reunião de Friends foi tão emocionante. Principalmente para ele que, de todos os integrantes do sexteto, era o que parecia ter envelhecido mais rápido. Coisa demais para um único corpo e mente. A evidência de que fama e fortuna não são tudo.

Agora, com circunstâncias ainda nebulosas da morte, o que resta é torcer para que a passagem ao menos tenha sido suave. Que ao menos neste momento Matthew não tenha sofrido. E que finalmente possa descansar depois de tanto tormento na Terra.

Matthew Perry morreu. Digo. Chandler Bing morreu. A Monica deve estar inconsolável nesse momento, como estamos todos nós fãs de Friends. É como se alguém da família tivesse partido. Ele que é a personificação do palhaço, que faz todo mundo rir enquanto por dentro chora.

Eu sempre me identifiquei bastante com Chandler. Ele pode não ser meu personagem preferido, mas certamente é o que mais tem a ver comigo. Sarcástico, desajeitado, não muito feliz em relacionamentos…

Mas a devoção dele pelos amigos é algo que sempre me cativou demais. Chandler chegou a se fechar numa caixa enorme em silêncio para provar a Joey que se arrependia de um erro. E entre tudo, se calar talvez fosse o sacrifício maior para ele.

Matthew Perry em 2009, na premiere do filme '17 Outra Vez' Foto: Reuters/Phil McCarten

Pois agora essa voz se silenciou para sempre. Porque não dá para pensar em Matthew Perry sem associar a Chandler. Um é sinônimo do outro. E isso pode ser complicado para um ator, ficar taxado com um único tipo de personagem. Mas não exatamente para Matthew.

Sabe, é preciso um certo grau de genialidade para atingir a nota exata de uma figura como aquela. O timing da comédia de Matthew é difícil de ser igualado. A inteligência - da personagem e do ator - são incomensuráveis. Perde a arte, perdemos nós.

Eu não cresci com TV por assinatura. Lembro de Friends passando em algumas madrugadas na TV aberta do SBT, mas não tinha idade pra entender de verdade o pouco que vi. A maior série da televisão naquele momento.

Mas revendo incessantemente agora - é minha “série de almoço”, assisto enquanto como, ou deixo ligada quando faço outras coisas - é notável os altos e baixos por que Matthew passou.

Uma alma atormentada

No decorrer dos anos, ele desenvolveu dependências pesadíssimas. Por várias vezes falou abertamente sobre como tentava lidar com o alcoolismo, drogas e chegou a dizer que tomava 55 comprimidos de paracetamol em um dia.

A pressão do showbiz e do sucesso foi cruel sobre ele - aparentemente, o mais sensível dos seis. Autocobrança, ansiedade, depressão. Reflexos nada incomuns que atingem grandes astros de Hollywood.

O peso, como reflexo desse problema, era o que mais aparecia na tela. Não sei se para os fãs da época foi visível, Mas da passagem da temporada 6 para 7, em que a mesma noite é retratada, o emagrecimento é assustador.

De um episódio para o outro - separados por meses de hiato - as mesmas roupas ficam largas, o rosto ossudo, até articulação de fala muda. Quase como se fossem pessoas diferentes.

Politicamente meio correto - e hilário

Friends envelheceu como leite em muitos aspectos. Rolavam sempre piadas sexistas, LGBTfóbicas, retratos de racismo estrutural que deviam já ser esquisitos à época - era a virada do século 20 para 21, afinal. Mas se havia dois personagens que conseguiam refletir menos esse padrão eram Chandler e Phoebe.

E olha que isso diz muito, porque Chandler era o piadista do grupo. O que não deixava nenhuma oportunidade passar. O que fazia graça com qualquer coisa. E daí, estando onde estava, claro que uma ou outra coisa passaram.

Especialmente sendo ele filho de uma travesti. O pai de Chandler tinha um show em Las Vegas chamado “Viva Las Gaygas”. E a separação dolorosa dos pais rendeu a ele anos de trauma. Entretanto, perto do casamento com Monica, a redenção veio com a reconciliação.

Ali ele demonstra novamente a generosidade. Em deixar de lado os próprios preconceitos e acolher novamente o pai, do jeito que ele é. E entrar na cerimônia de braços dado com ele usando um vestido, ao lado da mãe.

Torcemos, rimos, choramos, nos despedimos

Casamento, aliás, que é o ápice do desejo de alguém que se identifica com Chandler - como eu. Encontrar o amor da sua vida. Mais perto do que espera. Em uma pessoa incrível, que reúne força, ternura, caráter e benevolência. Todo mundo quer uma Monica na sua vida.

Recentemente fui ao casamento de duas amigas e, em meio às trocas de votos, elas mencionaram o discurso que Chandler faz para pedir a amiga em casamento. Antes, Ela havia dito: “Eu nunca pensei que teria tanto sorte de me apaixonar pelo meu melhor amigo”. Nós tivemos sorte. Ele nos fez nos apaixonarmos.

Não por acaso o especial de reunião de Friends foi tão emocionante. Principalmente para ele que, de todos os integrantes do sexteto, era o que parecia ter envelhecido mais rápido. Coisa demais para um único corpo e mente. A evidência de que fama e fortuna não são tudo.

Agora, com circunstâncias ainda nebulosas da morte, o que resta é torcer para que a passagem ao menos tenha sido suave. Que ao menos neste momento Matthew não tenha sofrido. E que finalmente possa descansar depois de tanto tormento na Terra.

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