O Globo de Ouro deu, a Jim Carrey, sua única estatueta pelo trabalho de O Mundo de Andy, de 1999. Levou o prêmio como o melhor ator de comédia da temporada, segundo o júri especializado, algo que seu personagem, Andy Kaufman, jamais recebeu – embora tenha obtido duas indicações, em 1979 e 1981.
De certo modo, a Associação de Correspondentes Estrangeiros de Hollywood havia entregue seu globo para ambos, Carrey e Kaufman que, depois daquele filme, se tornaram um só.
Explico – ou melhor, a Netflix explica: quando foi escalado para interpretar o performer Andy Kaufman (um tipo que, embora arrancasse risadas dos mais duros, também constrangia e criava silêncios perturbadores e, por isso, não se considerava um “comediante”), Carrey mergulhou numa alma e mente que não eram as suas.
Adotou o método, no qual viveu como Kaufman com tal intensidade que até mesmo alterou seu nome para receber correspondências.
Fez da vida da equipe que trabalhou em O Mundo de Andy um caos. Excêntrico, Kaufman era uma figura rara. Tal qual Carrey. Juntos, ator e personagem, foram ebulição.
Jim & Andy: The Great Beyond, o documentário lançado pela Netflix na sua plataforma no ano passado, é uma jornada insana pelo limite de um ator para entender a máscara que veste quando está diante de uma câmera ou uma plateia – e, possivelmente, do que acontece quando essa linha tênue entre a sanidade e a loucura é cruzada.
Carrey, comediante canadense que fez sucesso por suas interpretações de expressões intensas e humor extravagante, encontrou na estranheza de Kaufman o ponto inalcançável da sua persona artística. Chegou ao limite. Quase não voltou dela – na verdade, diz nunca ter se recuperado de fato. E, no doc, isso fica claro: dois grandes performers em um.