Análise: Silvio Santos construiu seu império ouvindo mais a si que aos outros


O grande salto viria com o Baú da Felicidade, um baú de Natal vendido por prestações no decorrer do ano

Por Cristina Padiglione

Os comediantes cobiçam imitá-lo, mais que a qualquer outro personagem. As colegas de trabalho se estapeiam para acertar suas perguntas na fila do microfone do auditório. Os funcionários o tratam com a intimidade do primeiro nome – nada de doutor, como foi com o patriarca da Globo, nada de bispo, como é na Record, ou de “seu” fulano, como era na Tupi, na Band e na extinta TV Manchete. Silvio Santos, “o Silvio”, é um sujeito popular, o mais popular da nação. Distribui dinheiro entre a plateia (exclusivamente feminina), brinca de constranger as filhas em rede nacional e não se acanha em constranger até o telespectador com decisões unilaterais, apoiadas unicamente em seu faro artístico. 

A última invenção do patrão atende por Dudu Camargo, um pós-adolescente no comando do Primeiro Impacto, um pretenso telejornal matutino do SBT. Na certeza de que o show vale mais que a notícia, o patrão se diverte com as controvérsias. O rapaz foi uma sugestão de seu cabeleireiro, o Jassa, amigo de tantas tinturas e laquês, que já é tratado como diretor informal de programação do SBT, tamanha é a disposição de seu cliente mais famoso em ouvi-lo.

Pai de seis filhas, de dois casamentos, Senor Abravanel construiu seu império ouvindo mais a si que aos outros, efeito da autoconfiança de quem começou como camelô e foi ao topo. O grande salto viria com o Baú da Felicidade, adquirido de Manoel da Nóbrega como um baú de Natal vendido por prestações no decorrer do ano, e transformado por Silvio em um amplo comércio de eletrodomésticos e afins.

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A candidatura de Silvio Santos à presidência da República de 1990 foi meteórica, não durou nem um mês. Ele foi incentivado pelo presidente José Sarney a concorrer quando Armando Corrêa do Partido Municipalista Brasileiro (PMB) renunciou. O apresentador chegou a fazer campanha e seu número era 26, mas seu registro foi impugnado porque já tinha passado o prazo e quem fez o pedido junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) foi o Partido PRN, do candidato Fernando Collor de Mello que se tornaria presidente da República em 1990 e ficariano cargo até seu impeachmento em 1992, quando assumiu Itamar Franco, seu vice. Foto: Arquivo Estado/AE

Foi locatário de horário na Globo, onde multiplicou seus negócios, até comprar a TVS no Rio. A concessão em São Paulo veio no governo de João Figueiredo – a primeira dama, dona Dulce, era fã do homem. Foi sócio de Paulo Machado de Carvalho na TV Record em 50%, fatia depois vendida a Edir Macedo, de quem hoje é sócio na distribuição de sinal digital. 

Ao longo da trajetória, não faltou quem tentasse transformá-lo em político. Em 1989, embolou a corrida presidencial ao entrar para o páreo aos 40 minutos do 2º tempo. Sua candidatura foi impugnada a pedido de Eduardo Cunha, à época filiado ao PRN, partido de Fernando Collor. Cioso das concessões que lhe cabem, Silvio evita confrontos com presidentes em exercício. Calou Rachel Sheherazade e mandou que Danilo Gentili não mais opinasse sobre política na TV. Por muitos anos, levava ao ar a Semana do Presidente, que narrava, na voz do saudoso locutor Lombardi, a agenda do chefe da nação. 

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Fez crescer o Grupo SS em até 44 empresas, incluindo a Jequiti e a Liderança de Capitalização, da Tele Sena. O tombo maior viria em 2010, quando foi descoberta uma fraude de R$ 4,3 bilhões na contabilidade de seu banco, o Panamericano, onde ele disse ter pisado uma vez na vida. Senor Abravanel assumiu a frente das negociações e, bom vendedor que é, convenceu o Fundo Garantidor a lhe prestar ajuda, vendeu o papagaio ao Banco BTG Pactual e depôs na Justiça Federal, em meio a selfies com as funcionárias do Fórum. Questionado sobre quem seria o responsável pelo rombo, reagiu: “Eu sei lá. Você pergunta pra polícia, eu não sou policial. Minha função é de animador”.

Assim é que o público compra a ideia de alguém que, prestes a completar 86 anos, pode falar o que quiser. A premissa que o traz todo domingo para dentro de nossas casas, afinal, é que “da vida não se leva nada: vamos sorrir e cantar”. CRISTINA PADIGLIONE É JORNALISTA ESPECIALIZADA EM TV, TITULAR DO SITE TELEPADI

Os comediantes cobiçam imitá-lo, mais que a qualquer outro personagem. As colegas de trabalho se estapeiam para acertar suas perguntas na fila do microfone do auditório. Os funcionários o tratam com a intimidade do primeiro nome – nada de doutor, como foi com o patriarca da Globo, nada de bispo, como é na Record, ou de “seu” fulano, como era na Tupi, na Band e na extinta TV Manchete. Silvio Santos, “o Silvio”, é um sujeito popular, o mais popular da nação. Distribui dinheiro entre a plateia (exclusivamente feminina), brinca de constranger as filhas em rede nacional e não se acanha em constranger até o telespectador com decisões unilaterais, apoiadas unicamente em seu faro artístico. 

A última invenção do patrão atende por Dudu Camargo, um pós-adolescente no comando do Primeiro Impacto, um pretenso telejornal matutino do SBT. Na certeza de que o show vale mais que a notícia, o patrão se diverte com as controvérsias. O rapaz foi uma sugestão de seu cabeleireiro, o Jassa, amigo de tantas tinturas e laquês, que já é tratado como diretor informal de programação do SBT, tamanha é a disposição de seu cliente mais famoso em ouvi-lo.

Pai de seis filhas, de dois casamentos, Senor Abravanel construiu seu império ouvindo mais a si que aos outros, efeito da autoconfiança de quem começou como camelô e foi ao topo. O grande salto viria com o Baú da Felicidade, adquirido de Manoel da Nóbrega como um baú de Natal vendido por prestações no decorrer do ano, e transformado por Silvio em um amplo comércio de eletrodomésticos e afins.

A candidatura de Silvio Santos à presidência da República de 1990 foi meteórica, não durou nem um mês. Ele foi incentivado pelo presidente José Sarney a concorrer quando Armando Corrêa do Partido Municipalista Brasileiro (PMB) renunciou. O apresentador chegou a fazer campanha e seu número era 26, mas seu registro foi impugnado porque já tinha passado o prazo e quem fez o pedido junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) foi o Partido PRN, do candidato Fernando Collor de Mello que se tornaria presidente da República em 1990 e ficariano cargo até seu impeachmento em 1992, quando assumiu Itamar Franco, seu vice. Foto: Arquivo Estado/AE

Foi locatário de horário na Globo, onde multiplicou seus negócios, até comprar a TVS no Rio. A concessão em São Paulo veio no governo de João Figueiredo – a primeira dama, dona Dulce, era fã do homem. Foi sócio de Paulo Machado de Carvalho na TV Record em 50%, fatia depois vendida a Edir Macedo, de quem hoje é sócio na distribuição de sinal digital. 

Ao longo da trajetória, não faltou quem tentasse transformá-lo em político. Em 1989, embolou a corrida presidencial ao entrar para o páreo aos 40 minutos do 2º tempo. Sua candidatura foi impugnada a pedido de Eduardo Cunha, à época filiado ao PRN, partido de Fernando Collor. Cioso das concessões que lhe cabem, Silvio evita confrontos com presidentes em exercício. Calou Rachel Sheherazade e mandou que Danilo Gentili não mais opinasse sobre política na TV. Por muitos anos, levava ao ar a Semana do Presidente, que narrava, na voz do saudoso locutor Lombardi, a agenda do chefe da nação. 

Fez crescer o Grupo SS em até 44 empresas, incluindo a Jequiti e a Liderança de Capitalização, da Tele Sena. O tombo maior viria em 2010, quando foi descoberta uma fraude de R$ 4,3 bilhões na contabilidade de seu banco, o Panamericano, onde ele disse ter pisado uma vez na vida. Senor Abravanel assumiu a frente das negociações e, bom vendedor que é, convenceu o Fundo Garantidor a lhe prestar ajuda, vendeu o papagaio ao Banco BTG Pactual e depôs na Justiça Federal, em meio a selfies com as funcionárias do Fórum. Questionado sobre quem seria o responsável pelo rombo, reagiu: “Eu sei lá. Você pergunta pra polícia, eu não sou policial. Minha função é de animador”.

Assim é que o público compra a ideia de alguém que, prestes a completar 86 anos, pode falar o que quiser. A premissa que o traz todo domingo para dentro de nossas casas, afinal, é que “da vida não se leva nada: vamos sorrir e cantar”. CRISTINA PADIGLIONE É JORNALISTA ESPECIALIZADA EM TV, TITULAR DO SITE TELEPADI

Os comediantes cobiçam imitá-lo, mais que a qualquer outro personagem. As colegas de trabalho se estapeiam para acertar suas perguntas na fila do microfone do auditório. Os funcionários o tratam com a intimidade do primeiro nome – nada de doutor, como foi com o patriarca da Globo, nada de bispo, como é na Record, ou de “seu” fulano, como era na Tupi, na Band e na extinta TV Manchete. Silvio Santos, “o Silvio”, é um sujeito popular, o mais popular da nação. Distribui dinheiro entre a plateia (exclusivamente feminina), brinca de constranger as filhas em rede nacional e não se acanha em constranger até o telespectador com decisões unilaterais, apoiadas unicamente em seu faro artístico. 

A última invenção do patrão atende por Dudu Camargo, um pós-adolescente no comando do Primeiro Impacto, um pretenso telejornal matutino do SBT. Na certeza de que o show vale mais que a notícia, o patrão se diverte com as controvérsias. O rapaz foi uma sugestão de seu cabeleireiro, o Jassa, amigo de tantas tinturas e laquês, que já é tratado como diretor informal de programação do SBT, tamanha é a disposição de seu cliente mais famoso em ouvi-lo.

Pai de seis filhas, de dois casamentos, Senor Abravanel construiu seu império ouvindo mais a si que aos outros, efeito da autoconfiança de quem começou como camelô e foi ao topo. O grande salto viria com o Baú da Felicidade, adquirido de Manoel da Nóbrega como um baú de Natal vendido por prestações no decorrer do ano, e transformado por Silvio em um amplo comércio de eletrodomésticos e afins.

A candidatura de Silvio Santos à presidência da República de 1990 foi meteórica, não durou nem um mês. Ele foi incentivado pelo presidente José Sarney a concorrer quando Armando Corrêa do Partido Municipalista Brasileiro (PMB) renunciou. O apresentador chegou a fazer campanha e seu número era 26, mas seu registro foi impugnado porque já tinha passado o prazo e quem fez o pedido junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) foi o Partido PRN, do candidato Fernando Collor de Mello que se tornaria presidente da República em 1990 e ficariano cargo até seu impeachmento em 1992, quando assumiu Itamar Franco, seu vice. Foto: Arquivo Estado/AE

Foi locatário de horário na Globo, onde multiplicou seus negócios, até comprar a TVS no Rio. A concessão em São Paulo veio no governo de João Figueiredo – a primeira dama, dona Dulce, era fã do homem. Foi sócio de Paulo Machado de Carvalho na TV Record em 50%, fatia depois vendida a Edir Macedo, de quem hoje é sócio na distribuição de sinal digital. 

Ao longo da trajetória, não faltou quem tentasse transformá-lo em político. Em 1989, embolou a corrida presidencial ao entrar para o páreo aos 40 minutos do 2º tempo. Sua candidatura foi impugnada a pedido de Eduardo Cunha, à época filiado ao PRN, partido de Fernando Collor. Cioso das concessões que lhe cabem, Silvio evita confrontos com presidentes em exercício. Calou Rachel Sheherazade e mandou que Danilo Gentili não mais opinasse sobre política na TV. Por muitos anos, levava ao ar a Semana do Presidente, que narrava, na voz do saudoso locutor Lombardi, a agenda do chefe da nação. 

Fez crescer o Grupo SS em até 44 empresas, incluindo a Jequiti e a Liderança de Capitalização, da Tele Sena. O tombo maior viria em 2010, quando foi descoberta uma fraude de R$ 4,3 bilhões na contabilidade de seu banco, o Panamericano, onde ele disse ter pisado uma vez na vida. Senor Abravanel assumiu a frente das negociações e, bom vendedor que é, convenceu o Fundo Garantidor a lhe prestar ajuda, vendeu o papagaio ao Banco BTG Pactual e depôs na Justiça Federal, em meio a selfies com as funcionárias do Fórum. Questionado sobre quem seria o responsável pelo rombo, reagiu: “Eu sei lá. Você pergunta pra polícia, eu não sou policial. Minha função é de animador”.

Assim é que o público compra a ideia de alguém que, prestes a completar 86 anos, pode falar o que quiser. A premissa que o traz todo domingo para dentro de nossas casas, afinal, é que “da vida não se leva nada: vamos sorrir e cantar”. CRISTINA PADIGLIONE É JORNALISTA ESPECIALIZADA EM TV, TITULAR DO SITE TELEPADI

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