Recuperados os movimentos depois de Avatar, Sam Worthington é o jovem Perseu, que descobre ser filho do poderoso Zeus, mas rejeita a essência divina depois de um ataque do traiçoeiro tio Hades aos humanos. Tudo isso ocorre na fantasia épico-mitológica Fúria de Titãs, que arrecadou quase US$ 500 milhões nas bilheterias em 2010 – e teve direito a uma sequência -, mas foi defenestrada pelos críticos, que caíram matando.
Mau humor total. É possível divertir-se com Perseu, com sua guia, Io/Gemma Arterton, e com Zeus e o deus do submundo, Hades, interpretados por Liam Neeson e Ralph Fiennes. A trama segue basicamente o longa do começo dos anos 1980 – Clash of the Titas, dirigido por Desmond Davis -, com direito a Titãs, cavalo alado, bruxas estígias, djins (feiticeiros cujos corpos são de madeira), escorpiões gigantescos e o monstruoso Kraken, a quem a bela Andrômeda/Alexa Davalos quase é sacrificada. Para petrificar o Kraken, o herói utiliza a cabeça da Medusa e a batalha contra a medonha criatura talvez seja o ponto alto da trama.
Louis Leterrier é o diretor e o grande diferencial do filme dele em relação ao de Davis são efeitos digitais. No Fúria de Titãs anterior, os efeitos de Ray Harryhausen ainda eram feitos essencialmente de bonecos, animatronics, que ele manipulava genialmente. O elenco também oferecia uma súmula do teratro e do cinema ingleses, com direito a Laurence Olivier, Maggie Smith, Claire Bloom e outros luminares, incluindo Harry Hamlin como Perseu e a sexy Ursula Andress como Afrodite. Pois bem. Fúria de Titãs, o 1 e o 2 – também com Sam Worthington e Liam Neeson, mas dirigido por Jonathan Libermann - estarão de volta nesta quinta, 26, no canal Space da TV paga, às 18h54 e 20h42, respectivamente. No 2, o grande combate é com os Tittãs, sobre os quais os deuses, e o próprio Zeus, perderam o controle. Pegando carona nesses filmes, que tal viajarmos na lembrança? As grandes aventuras mitológicas do cinema. Quais são?
Cabíria
O clássico mudo do italiano Giovanni Pastrone é contemporâneo de O Nasciomento de Uma Nação, de David W. Griffith, de 1915. Cabíria foi feito um ano antes, 1914. Inspira-se vagamente em Salammbô, de Gustave Flaubert, e é notável por ter assinalado o surgimento de um personagem mitológico – Maciste - que se tornou recorrente no cinema italiano, especialmente por volta de 1960, quando as aventuras mitológicas predominavam em Cinecittà. Marco da chamada época de ouro do cinema da Itália, tudo era superlativo no filme – 6 mil figurantes, filmagens na África e na Europa, orçamento de US$ 250 mil (uma fortuna), partitura com acompanhamento ao vivo de uma orquestra de 80 elementos, etc. E ainda havia as inovações. Técnicas de luz que ressaltavam a profundidade, movimentos que colocavam o espectador dentro da ação, aprimoramento da montagem – Pastrone filmou 66 mil pés de película e utilizou menos de 15 mil. Tudo isso para contar a história da romana Cabíria, raptada por fenícios e cartagineses e salva pelo poderoso Maciste. O filme divide-se em quatro partes. Cabíria é Lidia Quaranta, a maior estrela italiana da época, e Macisate é Bartolomeo Pàgano, o primeiro de uma série de intérpretes que imortalizaram o papel.
Os Filhos do Trovão
Giuliano Gemma na fase pré-Montgomery Wood, quando virou protagonista de spaghetti westerns – O Dólar Furado. Ele faz Krios, o mais jovem (e fraco) dos Titãs, que vai precisar de toda astúcia, já que não tem força, para derrotar Cadmo, rei de Creta. Cadmo alcançou o segredo da imortalidade, matou a mulher, elegeu a amante e confinou a filha, porque o oráculo anunciou que ela vai se casar com o assassino de seu pai. O sorriso de Giuliano, a beleza de Jacqueline Sassard e a direção de Duccio Tessari, que imprime um ritmo de comédia à aventura de 1962. É um filme movimentado, alegre, solar.
Hércules na Conquista da Atlântida
Duccio Tessari, o diretor de Os Filhos do Trovão, ainda era roteirista em 1961 e quem dirige é Vittorio Cottafavi. No Dicionário de Cinema, Jean Tulard o considera o grande mestre de um gênero depreciado, o peplum, como eram conhecidas as fantasias mitológicas por volta de 1960. Hércules salva garota das garras de um monstro e ela o conduz ao fantástico mundo da Atlântida. Reg Park, que faz o papel, pertence à série dos astros halterofilistas que faziam a fortuna do cinema industrial de Cinecittà. A crítica francesa da época – Cahiers du Cinéma – escandalizava os italianos por considerar Cottafavi um diretor 'brechtiano'. Ele viaja pelos gêneros – aventura, fantasia, mitologia, ficção científica - por meio de um barroco exacerbado. Um dos grandes filmes pouco conhecidos do cinema.
Jasão e os Argonautas
Na fantasia de 1963, realizada pelo inglês Don Chaffey, Jasão/Todd Armstrong embarca no Argos – e por isso seus companheiros de jornada, incluindo Hércules, são argonautas. Ao longo de uma viagem de 20 anos, ele vai à Cólquida em busca do Velo de Ouro, que lhe permitirá recuperar seu trono. Seres bizarros e monstruosos povoam a narrativa, mas o ponto alto é a luta com o exército de esqueletos. Talvez seja o filme em que os efeitos de Ray Harryhausen mais impresionam.
Maciste no Inferno
Riccardo Freda, cineasta italiano que filmou no Brasil O Caçula do Barulho – com Anselmo Duarte, em 1949 -, dirige (em 1962) seu compatriota Adriano Bellini, que adotou o pseudônimo de Kirk Morris. O filme mistura aventura mitológica com horror gótico, e Freda incursionaria pelo gênero de terror também adotando um pseudônimo, Robert Hampton. Casal instala-se em castelo na Escócia, onde a mulher é rechaçada pela população como reencarnação de uma bruxa queimada pela Inquisição. Ela é condenada ao inferno, mas salva por Maciste. Freda filmou seu inferno numa região de cavernas em Bari. São cenários grandiosos e fascinantes, e muito contribuíram para a fama do filme, que mistura gêneros e se tornou objeto de culto.