BBB 24: Os brothers estão ‘passando do ponto?’ Edição está mais violenta? Como reagir sem violência?


A mediadora de conflitos Ana Luiza Isoldi e a psicanalista Elisama Santos, autora de ‘Vamos Conversar?’, dão dicas para a hora em que os ânimos estão acirrados, algo frequente neste Big Brother, principalmente depois do Sincerão

Por Sabrina Legramandi
Atualização:

O clima no Big Brother Brasil 24 fica cada vez mais tenso à medida que a reta final do programa se aproxima. Esta é uma das edições mais violentas do reality show, e não é incomum que as pautas do programa girem em torno de ameaças, agressões e brigas acaloradas. Conversamos com especialistas em mediação de conflito e comunicação não violenta para entender caminhos alternativos para solução de problemas, como os que têm afetado a casa. Mas, antes, vamos relembrar os últimos acontecimentos.

Logo no início do BBB 24, Rodriguinho e Vinicius ameaçaram bater em Davi após atritos em um Sincerão, dinâmica que substituiu o Jogo da Discórdia. O cantor chegou a declarar que não tinha medo de ser expulso caso agredisse o brother. Eles logo foram repreendidos pelos colegas.

Já a cantora Wanessa Camargo foi expulsa depois de agredir o motorista de aplicativo. Ela entrou no quarto em que Davi dormia pulando, gritando e acendendo as luzes. Em determinado momento, começou a dançar na frente da cama do brother, quando supostamente acertou a perna do motorista de aplicativo. Wanessa logo disse: “Desculpa, Davi. Eu estou bem louca”. Não houve desculpa. Ele reclamou. E ela foi expulsa.

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O brother também teve as roupas jogadas na piscina por Leidy Elin depois de um Sincerão. Na ocasião, os dois deram início a um atrito no intervalo do programa, com Davi chamando a colega de “mulher baixa”. “Eu não sou baixa? Então agora eu vou ser subterrânea”, disse ela enquanto jogava os pertences do brother. Ele ameaçou revidar, mas voltou atrás.

Na última segunda-feira, 25, uma briga entre Davi e MC Bin Laden precisou da intervenção da produção. O caso aconteceu também após um Sincerão, com os dois “se peitando” e encostando a testa um no outro.

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Por que o 'BBB 24' se tornou tão violento? Foto: Reprodução de vídeo/'BBB 24'/Rede Globo

Lucas tentou intervir, mas foi atingido pelo cotovelo de Bin e, em outro momento, derrubado ao chão. Dois dummies entraram no gramado para pedir calma. Com uma nova ameaça de Bin em agredir Davi, a voz do Big Boss ecoou no gramado pedindo para que os participantes encerassem a briga. “Acabou, parou, acabou! Passaram do ponto!”, gritava o diretor.

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Já durante o programa ao vivo desta terça, 26, o apresentador Tadeu Schmidt resolveu dar uma “bronca” nos envolvidos. “Quando você indica que quer violência, você já está errado”, declarou ele.

Expulsões já aconteceram antes no reality show, com outros casos emblemáticos que marcaram o programa. No BBB 16, Ana Paula Renault foi expulsa após dar um tapa no rosto de Renan durante uma festa. No BBB 19, Hariany empurrou sua melhor amiga, Paula, no chão, e foi desclassificada. Durante o BBB 22, a cantora Maria acertou um balde na cabeça de Natália durante o Jogo da Discórdia.

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Na terça, porém, Tadeu Schmidt admitiu que o programa nunca teve participantes que chegassem a “vias de fato”, como o que quase aconteceu entre Bin e Davi. “A casa inteira desesperada tentando impedir que duas pessoas briguem no BBB com o Brasil inteiro vendo”, declarou. “Em 24 edições de Big Brother, nenhum competidor jamais chegou a ‘vias de fato’ com um adversário. Davi e Bin, já é a segunda vez que vocês partem para esse cara a cara, esse cara a cara raivoso.”

Mas, afinal, o que fez com que o reality chegasse a esse ponto? E o que pode ser feito para reagir sem violência? O Estadão conversou com uma psicanalista e uma mediadora de conflitos para debater a questão. Veja abaixo.

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Por que os comportamentos do BBB 24 se tornaram tão violentos?

A mediadora de conflitos Ana Luiza Isoldi comenta que elementos do reality contribuem para a escalada de conflitos: os participantes disputam um prêmio, que enxergam como recurso escasso. Afinal, apenas um pode vencer o programa.

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Segundo a mediadora, a própria lógica da atração contribui para haver atritos entre os brothers. Ana Luiza diz que os comportamentos no reality, de certa forma, podem ser um reflexo das atitudes em sociedade. Durante uma briga, é comum que as pessoas busquem ter razão em vez de resolverem problemas de convivência.

A profissional explica que há certos “gatilhos disparadores de conflito” que fazem com que os atritos sofram uma escalada. Como regra, esses “gatilhos” são sentimentos que causam “a vontade no outro de se defender”, como ingratidão, deslealdade, sarcasmo, indiferença, controle, traição, egocentrismo, perfeccionismo, hostilidade e falta de confiança.

Quando eles vêm à tona, geram sentimentos como raiva, medo e frustração. “[Essas sensações] aumentam a tensão e contaminam o ambiente, piorando o desempenho do grupo e o relacionamento”, afirma a mediadora.

Conflitos precisam da intervenção de uma terceira pessoa?

A discussão entre MC Bin Laden e Davi contou com a intervenção do Big Boss e, na terça, com a de Tadeu Schmidt. Para Ana Luiza, porém, para que um conflito chegue realmente ao fim, é preciso que uma terceira pessoa atue de fato como uma mediadora, facilitando que os envolvidos cheguem a soluções construtivas em conjunto.

“Quando a pessoa intervém no conflito alheio, costuma ajudar muito a postura de terceiro imparcial, sem tomar partido de uma ou outra pessoa, e sem impor ou sugerir soluções”, explica. “A solução vem dos próprios envolvidos, que tendem a cumprir o acordo quando é por eles mesmos construído.”

Em casos que envolvam violência, a intervenção de um terceiro ajuda a conter a escalada da discussão e uma possível agressão física. “Sem [conter a escalada de violência], não se consegue seguir com um diálogo”, pontua.

Como reagir sem violência em conflitos?

A psicanalista Elisama Santos, autora do livro Vamos Conversar: Um Pequeno Antimanual de Comunicação Não Violenta Para a Vida Real, explica que, durante um conflito, na maioria das vezes, as pessoas possuem a tendência de tentar convencer de que seu ponto é o correto. Uma das formas de evitar reagir violentamente a um atrito é usando a comunicação não violenta (CNV).

[Durante uma discussão] a gente reflete pouco”, conta. “A CNV nos convida a pensar sobre: ‘Do que eu estou cuidando quando eu falo da forma que eu falo? Será que a forma que eu falo é a forma mais eficiente para cuidar do que eu estou cuidando?’.”

Elisama cita um ditado popular - “para quem só tem martelo, qualquer objeto é prego”. E explica: “Nós nascemos com os nossos ‘martelinhos’ e a CNV nos convida a ampliar essa ‘caixa de ferramentas’. [...] A comunicação não violenta faz com que a gente encare as situações com a complexidade e o respeito que elas merecem”, comenta ela, dizendo que se comunicar de forma não violenta ajuda a enxergar o “ponto de vista” e as “necessidades” do outro.

Ana Luiza também afirma que o primeiro passo para conter a escalada de um conflito é “parar para respirar, fazer uma pausa, pensar, identificar suas emoções e o gatilho disparado”. A segunda etapa é “se preparar para escutar o outro e conversar abertamente sobre a questão”. “Assim começa um movimento de abertura para buscar soluções construtivas em conjunto”, aponta.

Raiva não é inimiga e chama para uma ‘conversa com nós mesmos’

Na hora da raiva, pode ser difícil pensar em usar a comunicação não violenta. Elisama, porém, que ela não é necessariamente inimiga. Assim, é preciso aprender a “escutar a raiva”. De que forma? Segundo a psicanalista, entendendo como ela chega até nós. “Precisamos perceber fisicamente a raiva para entender o momento de dar um tempo. Dar um tempo para que ela se acomode e seja ouvida. E para pensar: ‘o que é tão importante para mim que está saindo ‘gritado’, que está saindo com irritação? O que estou sentindo que está ameaçado aqui?’”, explica.

Como exemplo, ela cita momentos de conflito que tinha quando seu filho era pequeno. “Eu tinha uma conversa interessante com ele e dizia que eu precisava conversar com a minha raiva antes de conversar com a raiva dele. Por isso, eu me afastava”, relata.

O clima no Big Brother Brasil 24 fica cada vez mais tenso à medida que a reta final do programa se aproxima. Esta é uma das edições mais violentas do reality show, e não é incomum que as pautas do programa girem em torno de ameaças, agressões e brigas acaloradas. Conversamos com especialistas em mediação de conflito e comunicação não violenta para entender caminhos alternativos para solução de problemas, como os que têm afetado a casa. Mas, antes, vamos relembrar os últimos acontecimentos.

Logo no início do BBB 24, Rodriguinho e Vinicius ameaçaram bater em Davi após atritos em um Sincerão, dinâmica que substituiu o Jogo da Discórdia. O cantor chegou a declarar que não tinha medo de ser expulso caso agredisse o brother. Eles logo foram repreendidos pelos colegas.

Já a cantora Wanessa Camargo foi expulsa depois de agredir o motorista de aplicativo. Ela entrou no quarto em que Davi dormia pulando, gritando e acendendo as luzes. Em determinado momento, começou a dançar na frente da cama do brother, quando supostamente acertou a perna do motorista de aplicativo. Wanessa logo disse: “Desculpa, Davi. Eu estou bem louca”. Não houve desculpa. Ele reclamou. E ela foi expulsa.

O brother também teve as roupas jogadas na piscina por Leidy Elin depois de um Sincerão. Na ocasião, os dois deram início a um atrito no intervalo do programa, com Davi chamando a colega de “mulher baixa”. “Eu não sou baixa? Então agora eu vou ser subterrânea”, disse ela enquanto jogava os pertences do brother. Ele ameaçou revidar, mas voltou atrás.

Na última segunda-feira, 25, uma briga entre Davi e MC Bin Laden precisou da intervenção da produção. O caso aconteceu também após um Sincerão, com os dois “se peitando” e encostando a testa um no outro.

Por que o 'BBB 24' se tornou tão violento? Foto: Reprodução de vídeo/'BBB 24'/Rede Globo

Lucas tentou intervir, mas foi atingido pelo cotovelo de Bin e, em outro momento, derrubado ao chão. Dois dummies entraram no gramado para pedir calma. Com uma nova ameaça de Bin em agredir Davi, a voz do Big Boss ecoou no gramado pedindo para que os participantes encerassem a briga. “Acabou, parou, acabou! Passaram do ponto!”, gritava o diretor.

Já durante o programa ao vivo desta terça, 26, o apresentador Tadeu Schmidt resolveu dar uma “bronca” nos envolvidos. “Quando você indica que quer violência, você já está errado”, declarou ele.

Expulsões já aconteceram antes no reality show, com outros casos emblemáticos que marcaram o programa. No BBB 16, Ana Paula Renault foi expulsa após dar um tapa no rosto de Renan durante uma festa. No BBB 19, Hariany empurrou sua melhor amiga, Paula, no chão, e foi desclassificada. Durante o BBB 22, a cantora Maria acertou um balde na cabeça de Natália durante o Jogo da Discórdia.

Na terça, porém, Tadeu Schmidt admitiu que o programa nunca teve participantes que chegassem a “vias de fato”, como o que quase aconteceu entre Bin e Davi. “A casa inteira desesperada tentando impedir que duas pessoas briguem no BBB com o Brasil inteiro vendo”, declarou. “Em 24 edições de Big Brother, nenhum competidor jamais chegou a ‘vias de fato’ com um adversário. Davi e Bin, já é a segunda vez que vocês partem para esse cara a cara, esse cara a cara raivoso.”

Mas, afinal, o que fez com que o reality chegasse a esse ponto? E o que pode ser feito para reagir sem violência? O Estadão conversou com uma psicanalista e uma mediadora de conflitos para debater a questão. Veja abaixo.

Por que os comportamentos do BBB 24 se tornaram tão violentos?

A mediadora de conflitos Ana Luiza Isoldi comenta que elementos do reality contribuem para a escalada de conflitos: os participantes disputam um prêmio, que enxergam como recurso escasso. Afinal, apenas um pode vencer o programa.

Segundo a mediadora, a própria lógica da atração contribui para haver atritos entre os brothers. Ana Luiza diz que os comportamentos no reality, de certa forma, podem ser um reflexo das atitudes em sociedade. Durante uma briga, é comum que as pessoas busquem ter razão em vez de resolverem problemas de convivência.

A profissional explica que há certos “gatilhos disparadores de conflito” que fazem com que os atritos sofram uma escalada. Como regra, esses “gatilhos” são sentimentos que causam “a vontade no outro de se defender”, como ingratidão, deslealdade, sarcasmo, indiferença, controle, traição, egocentrismo, perfeccionismo, hostilidade e falta de confiança.

Quando eles vêm à tona, geram sentimentos como raiva, medo e frustração. “[Essas sensações] aumentam a tensão e contaminam o ambiente, piorando o desempenho do grupo e o relacionamento”, afirma a mediadora.

Conflitos precisam da intervenção de uma terceira pessoa?

A discussão entre MC Bin Laden e Davi contou com a intervenção do Big Boss e, na terça, com a de Tadeu Schmidt. Para Ana Luiza, porém, para que um conflito chegue realmente ao fim, é preciso que uma terceira pessoa atue de fato como uma mediadora, facilitando que os envolvidos cheguem a soluções construtivas em conjunto.

“Quando a pessoa intervém no conflito alheio, costuma ajudar muito a postura de terceiro imparcial, sem tomar partido de uma ou outra pessoa, e sem impor ou sugerir soluções”, explica. “A solução vem dos próprios envolvidos, que tendem a cumprir o acordo quando é por eles mesmos construído.”

Em casos que envolvam violência, a intervenção de um terceiro ajuda a conter a escalada da discussão e uma possível agressão física. “Sem [conter a escalada de violência], não se consegue seguir com um diálogo”, pontua.

Como reagir sem violência em conflitos?

A psicanalista Elisama Santos, autora do livro Vamos Conversar: Um Pequeno Antimanual de Comunicação Não Violenta Para a Vida Real, explica que, durante um conflito, na maioria das vezes, as pessoas possuem a tendência de tentar convencer de que seu ponto é o correto. Uma das formas de evitar reagir violentamente a um atrito é usando a comunicação não violenta (CNV).

[Durante uma discussão] a gente reflete pouco”, conta. “A CNV nos convida a pensar sobre: ‘Do que eu estou cuidando quando eu falo da forma que eu falo? Será que a forma que eu falo é a forma mais eficiente para cuidar do que eu estou cuidando?’.”

Elisama cita um ditado popular - “para quem só tem martelo, qualquer objeto é prego”. E explica: “Nós nascemos com os nossos ‘martelinhos’ e a CNV nos convida a ampliar essa ‘caixa de ferramentas’. [...] A comunicação não violenta faz com que a gente encare as situações com a complexidade e o respeito que elas merecem”, comenta ela, dizendo que se comunicar de forma não violenta ajuda a enxergar o “ponto de vista” e as “necessidades” do outro.

Ana Luiza também afirma que o primeiro passo para conter a escalada de um conflito é “parar para respirar, fazer uma pausa, pensar, identificar suas emoções e o gatilho disparado”. A segunda etapa é “se preparar para escutar o outro e conversar abertamente sobre a questão”. “Assim começa um movimento de abertura para buscar soluções construtivas em conjunto”, aponta.

Raiva não é inimiga e chama para uma ‘conversa com nós mesmos’

Na hora da raiva, pode ser difícil pensar em usar a comunicação não violenta. Elisama, porém, que ela não é necessariamente inimiga. Assim, é preciso aprender a “escutar a raiva”. De que forma? Segundo a psicanalista, entendendo como ela chega até nós. “Precisamos perceber fisicamente a raiva para entender o momento de dar um tempo. Dar um tempo para que ela se acomode e seja ouvida. E para pensar: ‘o que é tão importante para mim que está saindo ‘gritado’, que está saindo com irritação? O que estou sentindo que está ameaçado aqui?’”, explica.

Como exemplo, ela cita momentos de conflito que tinha quando seu filho era pequeno. “Eu tinha uma conversa interessante com ele e dizia que eu precisava conversar com a minha raiva antes de conversar com a raiva dele. Por isso, eu me afastava”, relata.

O clima no Big Brother Brasil 24 fica cada vez mais tenso à medida que a reta final do programa se aproxima. Esta é uma das edições mais violentas do reality show, e não é incomum que as pautas do programa girem em torno de ameaças, agressões e brigas acaloradas. Conversamos com especialistas em mediação de conflito e comunicação não violenta para entender caminhos alternativos para solução de problemas, como os que têm afetado a casa. Mas, antes, vamos relembrar os últimos acontecimentos.

Logo no início do BBB 24, Rodriguinho e Vinicius ameaçaram bater em Davi após atritos em um Sincerão, dinâmica que substituiu o Jogo da Discórdia. O cantor chegou a declarar que não tinha medo de ser expulso caso agredisse o brother. Eles logo foram repreendidos pelos colegas.

Já a cantora Wanessa Camargo foi expulsa depois de agredir o motorista de aplicativo. Ela entrou no quarto em que Davi dormia pulando, gritando e acendendo as luzes. Em determinado momento, começou a dançar na frente da cama do brother, quando supostamente acertou a perna do motorista de aplicativo. Wanessa logo disse: “Desculpa, Davi. Eu estou bem louca”. Não houve desculpa. Ele reclamou. E ela foi expulsa.

O brother também teve as roupas jogadas na piscina por Leidy Elin depois de um Sincerão. Na ocasião, os dois deram início a um atrito no intervalo do programa, com Davi chamando a colega de “mulher baixa”. “Eu não sou baixa? Então agora eu vou ser subterrânea”, disse ela enquanto jogava os pertences do brother. Ele ameaçou revidar, mas voltou atrás.

Na última segunda-feira, 25, uma briga entre Davi e MC Bin Laden precisou da intervenção da produção. O caso aconteceu também após um Sincerão, com os dois “se peitando” e encostando a testa um no outro.

Por que o 'BBB 24' se tornou tão violento? Foto: Reprodução de vídeo/'BBB 24'/Rede Globo

Lucas tentou intervir, mas foi atingido pelo cotovelo de Bin e, em outro momento, derrubado ao chão. Dois dummies entraram no gramado para pedir calma. Com uma nova ameaça de Bin em agredir Davi, a voz do Big Boss ecoou no gramado pedindo para que os participantes encerassem a briga. “Acabou, parou, acabou! Passaram do ponto!”, gritava o diretor.

Já durante o programa ao vivo desta terça, 26, o apresentador Tadeu Schmidt resolveu dar uma “bronca” nos envolvidos. “Quando você indica que quer violência, você já está errado”, declarou ele.

Expulsões já aconteceram antes no reality show, com outros casos emblemáticos que marcaram o programa. No BBB 16, Ana Paula Renault foi expulsa após dar um tapa no rosto de Renan durante uma festa. No BBB 19, Hariany empurrou sua melhor amiga, Paula, no chão, e foi desclassificada. Durante o BBB 22, a cantora Maria acertou um balde na cabeça de Natália durante o Jogo da Discórdia.

Na terça, porém, Tadeu Schmidt admitiu que o programa nunca teve participantes que chegassem a “vias de fato”, como o que quase aconteceu entre Bin e Davi. “A casa inteira desesperada tentando impedir que duas pessoas briguem no BBB com o Brasil inteiro vendo”, declarou. “Em 24 edições de Big Brother, nenhum competidor jamais chegou a ‘vias de fato’ com um adversário. Davi e Bin, já é a segunda vez que vocês partem para esse cara a cara, esse cara a cara raivoso.”

Mas, afinal, o que fez com que o reality chegasse a esse ponto? E o que pode ser feito para reagir sem violência? O Estadão conversou com uma psicanalista e uma mediadora de conflitos para debater a questão. Veja abaixo.

Por que os comportamentos do BBB 24 se tornaram tão violentos?

A mediadora de conflitos Ana Luiza Isoldi comenta que elementos do reality contribuem para a escalada de conflitos: os participantes disputam um prêmio, que enxergam como recurso escasso. Afinal, apenas um pode vencer o programa.

Segundo a mediadora, a própria lógica da atração contribui para haver atritos entre os brothers. Ana Luiza diz que os comportamentos no reality, de certa forma, podem ser um reflexo das atitudes em sociedade. Durante uma briga, é comum que as pessoas busquem ter razão em vez de resolverem problemas de convivência.

A profissional explica que há certos “gatilhos disparadores de conflito” que fazem com que os atritos sofram uma escalada. Como regra, esses “gatilhos” são sentimentos que causam “a vontade no outro de se defender”, como ingratidão, deslealdade, sarcasmo, indiferença, controle, traição, egocentrismo, perfeccionismo, hostilidade e falta de confiança.

Quando eles vêm à tona, geram sentimentos como raiva, medo e frustração. “[Essas sensações] aumentam a tensão e contaminam o ambiente, piorando o desempenho do grupo e o relacionamento”, afirma a mediadora.

Conflitos precisam da intervenção de uma terceira pessoa?

A discussão entre MC Bin Laden e Davi contou com a intervenção do Big Boss e, na terça, com a de Tadeu Schmidt. Para Ana Luiza, porém, para que um conflito chegue realmente ao fim, é preciso que uma terceira pessoa atue de fato como uma mediadora, facilitando que os envolvidos cheguem a soluções construtivas em conjunto.

“Quando a pessoa intervém no conflito alheio, costuma ajudar muito a postura de terceiro imparcial, sem tomar partido de uma ou outra pessoa, e sem impor ou sugerir soluções”, explica. “A solução vem dos próprios envolvidos, que tendem a cumprir o acordo quando é por eles mesmos construído.”

Em casos que envolvam violência, a intervenção de um terceiro ajuda a conter a escalada da discussão e uma possível agressão física. “Sem [conter a escalada de violência], não se consegue seguir com um diálogo”, pontua.

Como reagir sem violência em conflitos?

A psicanalista Elisama Santos, autora do livro Vamos Conversar: Um Pequeno Antimanual de Comunicação Não Violenta Para a Vida Real, explica que, durante um conflito, na maioria das vezes, as pessoas possuem a tendência de tentar convencer de que seu ponto é o correto. Uma das formas de evitar reagir violentamente a um atrito é usando a comunicação não violenta (CNV).

[Durante uma discussão] a gente reflete pouco”, conta. “A CNV nos convida a pensar sobre: ‘Do que eu estou cuidando quando eu falo da forma que eu falo? Será que a forma que eu falo é a forma mais eficiente para cuidar do que eu estou cuidando?’.”

Elisama cita um ditado popular - “para quem só tem martelo, qualquer objeto é prego”. E explica: “Nós nascemos com os nossos ‘martelinhos’ e a CNV nos convida a ampliar essa ‘caixa de ferramentas’. [...] A comunicação não violenta faz com que a gente encare as situações com a complexidade e o respeito que elas merecem”, comenta ela, dizendo que se comunicar de forma não violenta ajuda a enxergar o “ponto de vista” e as “necessidades” do outro.

Ana Luiza também afirma que o primeiro passo para conter a escalada de um conflito é “parar para respirar, fazer uma pausa, pensar, identificar suas emoções e o gatilho disparado”. A segunda etapa é “se preparar para escutar o outro e conversar abertamente sobre a questão”. “Assim começa um movimento de abertura para buscar soluções construtivas em conjunto”, aponta.

Raiva não é inimiga e chama para uma ‘conversa com nós mesmos’

Na hora da raiva, pode ser difícil pensar em usar a comunicação não violenta. Elisama, porém, que ela não é necessariamente inimiga. Assim, é preciso aprender a “escutar a raiva”. De que forma? Segundo a psicanalista, entendendo como ela chega até nós. “Precisamos perceber fisicamente a raiva para entender o momento de dar um tempo. Dar um tempo para que ela se acomode e seja ouvida. E para pensar: ‘o que é tão importante para mim que está saindo ‘gritado’, que está saindo com irritação? O que estou sentindo que está ameaçado aqui?’”, explica.

Como exemplo, ela cita momentos de conflito que tinha quando seu filho era pequeno. “Eu tinha uma conversa interessante com ele e dizia que eu precisava conversar com a minha raiva antes de conversar com a raiva dele. Por isso, eu me afastava”, relata.

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