Quem acompanha o remake de Renascer conhece Du, o pai do filho de Teca, interpretado pelo carioca José Duboc. Antes de aparecer na casa dos brasileiros de segunda a sábado na novela das 21h, o ator até trabalhava nos Estúdios Globo, mas não era em nenhuma produção da emissora. Ele era entregador de um restaurante que fica no local.
Foi assim: um dia enquanto fazia uma entrega, Marcella Bergamo, produtora de elenco da novela Renascer, o viu e pediu para fazer uma foto dele de corpo inteiro. “Eu entreguei muitas vezes ali, que é onde ficam os produtores de elenco, não fui tão ingênuo na hora que ela pediu uma foto”, conta José em entrevista ao Estadão.
Foi tudo muito rápido, até porque ele precisava continuar com as entregas. Aquilo ficou dois dias na cabeça dele, diz.
O ator sabia o que poderia vir em seguida, mas não fazia ideia do quê. Certamente seria para participar de algum programa da emissora, mas qual? Alguns dias depois, ele recebeu uma mensagem pedindo um teste. Então, seu momento tinha finalmente chegado? Ainda não. O primeiro teste não deu certo, mas logo depois veio mais um, para interpretar Du, um personagem que, na primeira versão da novela de Benedito Ruy Barbosa, foi apenas citado.
Foi aí que José viu sua vida se transformar. O ator, que também trabalhava como Uber Moto, deixou os dois trabalhos que tinha para se dedicar exclusivamente à arte. “Nesse segundo teste eu me dediquei muito, fui para a casa de minha avó em Cabo Frio (cidade da Região dos Lagos do Rio de Janeiro), um lugar que eu me sinto tão confortável”, lembra. José Duboc ganhou o papel de Du, o pai do filho de Teca, vivida por Lívia Silva - na versão de 1993, a jovem foi interpretada por Palomma Duarte.
Construindo uma estrada
Apesar de ser o primeiro trabalho de José, o ator já estava se preparando para um dia estar na televisão - ou nos palcos. Cerca de um ano e meio antes de fazer os testes para o elenco de Renascer, ele começou a estudar teatro. Os interesses não passavam exatamente por conquistar um lugar na novela. “Nunca foi meu objetivo trabalhar na frente das câmeras, fui estudar teatro por outros motivos, mas a oportunidade veio e eu abracei, fui para cima”, conta.
Este ano, José ingressou em um curso superior de Artes Cênicas que, segundo ele, também ajudou muito a compor seu personagem. O artista diz que, para trazer Du à vida, precisou partir do zero, já que diferente de outros atores da novela, ele não tinha referências da versão de 1993.
“Tive um olhar muito observador, nas minhas idas e vindas para a faculdade, [prestava atenção] no olhar das pessoas, fui caçando tudo e me empenhando”, explica. O ator também diz ter se inspirado em Lázaro Ramos. “Em um vídeo, ele conta que passou a usar coisas do personagem para lembrar sempre”, continua. Ele diz que criou um jeito para Du andar e que sempre que caminha daquela forma, é Du, e não José, caminhando.
Assim, ele acabou se tornando uma das tantas revelações do horário nobre da Globo. “Entrei como um aluno porque esse deveria ser o meu papel, né? Eu não sei nada, as pessoas de Renascer me ensinaram muito, e e eu tive esse pensamento inicial de que estaria ali também para aprender, para ouvir”, explica. “Me coloquei nesse lugar, recebi muitos conselhos, também pedi muitos conselhos. Também procurei ter o pé no chão”, complementa.
Apoio familiar
Agora, José se prepara para futuros papeis. O ator já está fazendo alguns testes para próximas produções, mesmo que inicialmente, marcando uma transformação no rumo de sua vida e carreira. Ele comenta que decidiu estudar teatro por motivos que incluíam vencer a timidez. No entanto, se apaixonou pelo ofício e acabou ganhando o apoio dos pais, que não curtiam muito a ideia de ter um filho ator.
“Na minha infância, por motivos pessoais, meus pais não apoiavam e não mostravam o teatro de uma boa forma para mim, só que eu enxergava de outra forma”, lembra. Quando começou a trabalhar, passou a usar o dinheiro que ganhava para custear as aulas de teatro. “Quando tive a possibilidade de fazer teatro, descobri que era o que eu imaginava, uma coisa muito poderosa, eu vi um poder de transformação”, continua.
E isso também levou seus pais a mudarem o olhar que eles tinham com relação às artes cênicas. José finaliza lembrando do apoio que tem dos pais e de toda a família - ele tem duas irmãs mais velhas. “Eles evoluíram comigo em relação a esse pensamento sobre arte e hoje em dia me abraçam, entendem e todos aqueles pensamentos (contra o teatro), eles reconhecem que que era uma fase deles”, celebra.