Cid Moreira não tinha problemas com envelhecer. “Isso nunca me preocupou porque meu pai tem 93 anos, minha mãe, 92. Devo ter uma vida longa”, disse ele em uma entrevista ao Estadão em 1996. O apresentador, considerado um dos ícones da televisão brasileira, morreu nesta quinta-feira, 3, aos 97 anos.
A entrevista em questão foi concedida após o anúncio de que Moreira seria substituído por William Bonner na bancada no Jornal Nacional, quando tinha 68 anos. Ele continuaria na emissora como locutor de editoriais e outros especiais da emissora.
“Li vários [editoriais]. Essa é a minha função. Nunca me recusei a fazer nada. A empresa é amiga, sempre me prestigiou. Por isso, sempre fui fiel servidor”, disse ele. A decisão de colocar Bonner e a colega Lilian Wite Fibe foi polêmica na época, mas Moreira garantiu que não estava magoado com a decisão.
Também reforçou que nunca quis a função de editor, que os então novos apresentadores ganhariam: “Eu me limitei a ler notícias porque sempre tive outras funções fora da TV. Gravo comerciais, documentários, audiovisuais. Comercialmente, era interessante continuar nesse esquema.” (Veja aqui a edição).
Três anos antes, em 1993, quando o Jornal Nacional completou 24 anos no ar, todos sob o comando de Moreira, o apresentador confessou ao Estadão que, por vezes, ainda ficava nervoso antes de entrar ao vivo. “Convivo há muitos anos com o tumulto da TV”, disse. “Todo dia parece que o mundo está acabando.” (Veja aqui a edição)
Já em 2004, quando o telejornal fazia 35 anos, Moreira relembrou os piores e melhores momentos de seu tempo à frente da bancada: “A melhor notícia que dei foi o fim da ditadura, quando acabou o Ato Institucional Nº 5. E a pior foi ter que falar mal da emissora quando o [Leonel] Brizola foi eleito governador pela primeira vez. Ele não aceitou uma notícia que li e obteve direito de resposta.” (Veja aqui a edição)
Em 2019, ele contou como foi a primeira edição do programa: “Para dizer a verdade, eu não estava ansioso na época, não. Eu e o Hilton Gomes estávamos apresentando, há uns quatro meses, o Jornal da Globo, então tínhamos uma certa tarimba. A novidade era o aumento do público, que deixaria de ser só do Rio de Janeiro. A apreensão maior era dos técnicos, que recebiam e enviavam as imagens através de links nessa nova etapa do jornal.”
Questionado se, naquela época, já poderia imaginar que o Jornal Nacional teria uma trajetória tão duradoura na TV brasileira, respondeu, bem-humorado: “Como é que eu poderia? Não sou nenhum Mister M [Risos].”, Ele se referia ao polêmico mágico, Val Valentino, que ganhou um quadro no Fantástico com narração de Cid.
Depois, opinou sobre o atual formato dos telejornais: “Hoje nós temos o Jornal Nacional com esse layout bonito de uma nave espacial. Redatores, apresentadores se comunicando, andando em pé, coisa que na época eu nem pensava [risos]. Enfim, é evolução, tecnológica e dos apresentadores, também.”