‘Falas Femininas’: Especial da Globo debate a ‘loucura’ atribuída à mulher


Ao Estadão, Paolla Oliveira e Taís Araújo falam sobre o estigma da ‘loucura feminina’, a estafa em conciliar trabalho e cuidado familiar e a importância de colocar tais temas em debate para um público plural como o da TV aberta

Por Damy Coelho
Atualização:
TaísTais Araujo e Paolla Oliveira apresentam o especial 'Falas Femininas'Araújo (Atriz) e Paolla Oliveira (Atriz). Foto: Divulgação Rede Globo / Manoella Mello / Leo Rosário

Estreia, neste Dia Internacional da Mulher, o programa Falas Femininas, na Rede Globo. O Estadão conversou com a atriz Taís Araújo, que apresenta o especial com Paolla Oliveira, além de Antonia Prado, diretora, e Veronica Debom, autora, para entender onde paira a tal “loucura feminina” – tema escolhido para a discussão – e o que ela significa em uma sociedade que não compreende a sobrecarga de tarefas que acomete as mulheres, ou que coloca em xeque suas convicções.

O formato escolhido para o programa é o experimento social – um exemplo desse gênero na TV aberta é o próprio Big Brother Brasil. Ao contar com a simulação de situações cotidianas, que vão do trabalho doméstico e cuidado familiar às situações profissionais nas quais mulheres são estigmatizadas, o programa propõe a reflexão do espectador sobre a sobrecarga de tarefas atribuídas à mulher, e como isso gera o estereótipo da “loucura feminina”.

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Para Antonia, essa “loucura” gera um ciclo vicioso.

As mulheres estão exaustas! Acumulam muitas funções no trabalho formal, em casa, nos cuidados com filhos e pais. Os afazeres não são divididos igualmente entre os pares porque parte-se da premissa que todas as funções domésticas e toda economia do cuidado são responsabilidades femininas; enquanto o homem só ‘ajuda’. E, quando precisam ser cuidadas, muitas e muitas vezes, as mulheres são abandonadas.

Antonia Prado

Maíra Marcondes Moreira, psicanalista, Doutora em Processos Sociais e autora do livro Freud e o casamento: o sexual no trabalho de cuidado, concorda que a sociedade atribui o cuidar à mulher, e as consequências disso se refletem até nos estudos da psicanálise.

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Quando Freud inicia seus famosos estudos sobre histeria – relacionado ao feminino – ele não se atenta para o fato de que todas as pacientes histéricas estavam também cuidando de alguém, seja um companheiro, familiar ou crianças

Maíra Marcondes Moreira

Em seu livro, a autora desmistifica a ideia de que exista um corpo que seja “mais capaz” para o cuidado, porque isso acaba colocando a mulher em posição de servidão. Ela propõe que o cuidado seja coletivo, atribuído não só ao Estado mas também ao próprio homem, para que ele se entenda como bom cuidador. Caso contrário, a mulher continuará com a sobrecarga desigual de tarefas pois, além do cuidado familiar, ela hoje também é, boa parte do tempo, provedora: Dados do IBGE revelam que, atualmente, mais de 48% dos lares brasileiros são chefiados por mulheres.

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Dizem que sou louca por eu ser assim

Muitas mulheres já foram chamadas de loucas, seja pelo parceiro, pelos familiares ou no ambiente de trabalho. É o chamado gaslighting – uma forma de abuso psicológico em que a vítima é manipulada para não acreditar na própria percepção da realidade, tema que também será debatido no programa.

“Me sinto ‘louca’, entre mil aspas, quando a minha palavra é descredibilizada”, conta Taís Araújo. Já para Paolla Oliveira, esse momento acontece quando ela assume várias responsabilidades ao mesmo tempo (leia a entrevista completa com a atriz).

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Para Taís, a espectadora pode se reconhecer em situações do dia a dia e compreender o que elas, de fato, significam, sem que precise duvidar de si mesma. “Tudo aquilo acontece [no programa] de forma corriqueira e diariamente na vida de muitas mulheres, então, são ações normalizadas, e que não podem mais ser normalizadas”, explica.

Paolla Oliveira e Taís Araujo. Foto: Divulgação Rede Globo / Manoella Mello / Leo Rosário

Falas em debate

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Taís e Paolla foram escolhidas para comandar o programa por terem um dialogo próximo com a mulher brasileira. Para Taís, estar a frente do Falas Femininas é uma oportunidade.

A responsabilidade de representar mulheres pelo Brasil para mim, não é um peso, pelo contrário. É um estímulo para que eu evolua mais

Tais Araujo

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Todas as vezes que tentei fazer alguma coisa fora do padrão, inovadora ou que almejei algo fora do esperado, fui taxada de louca. Seja porque parecia difícil ou porque tal vontade não deveria ser de uma mulher. Quebrar protocolos ou ter certas ambições, por exemplo, no mundo masculino são visto como ‘força’, pra nós, viram loucura.

Antonia, diretora

Antonia Prado e Verônica Debom.  Foto: Divulgação Rede Globo / Manoella Mello / Leo Rosário

A autora do especial, Veronica Debom, explica: “Chamar uma mulher de louca pode ser uma forma de ignorar violências que ela esteja vivendo, físicas ou psicológicas. Além disso, é uma forma de desconsiderar suas opiniões ou de descartar a mulher profissionalmente. Essa estratégia pode levar até uma mãe a perder a guarda de um filho.”

Veronica afirma que todas as temáticas debatidas no programa são urgentes. Para ela, foi gratificante colocar em pauta, em rede nacional, tópicos que são comuns nas conversas entre amigas. “Como é bom levar a discussão que eu tenho exaustivamente na minha roda de amigas para o Brasil inteiro”, diz. “Fico cheia de esperança imaginando que muitas espectadoras irão se identificar e aprofundar sua consciência de gênero. Para além dessa missão tão gratificante, está o prazer da execução. É uma honra estar cercada de mulheres fazendo televisão de qualidade e tratando um assunto tão importante”, finaliza.

O especial Falas Femininas será transmitido pela Rede Globo nesta sexta, 8, depois do Big Brother Brasil.

TaísTais Araujo e Paolla Oliveira apresentam o especial 'Falas Femininas'Araújo (Atriz) e Paolla Oliveira (Atriz). Foto: Divulgação Rede Globo / Manoella Mello / Leo Rosário

Estreia, neste Dia Internacional da Mulher, o programa Falas Femininas, na Rede Globo. O Estadão conversou com a atriz Taís Araújo, que apresenta o especial com Paolla Oliveira, além de Antonia Prado, diretora, e Veronica Debom, autora, para entender onde paira a tal “loucura feminina” – tema escolhido para a discussão – e o que ela significa em uma sociedade que não compreende a sobrecarga de tarefas que acomete as mulheres, ou que coloca em xeque suas convicções.

O formato escolhido para o programa é o experimento social – um exemplo desse gênero na TV aberta é o próprio Big Brother Brasil. Ao contar com a simulação de situações cotidianas, que vão do trabalho doméstico e cuidado familiar às situações profissionais nas quais mulheres são estigmatizadas, o programa propõe a reflexão do espectador sobre a sobrecarga de tarefas atribuídas à mulher, e como isso gera o estereótipo da “loucura feminina”.

Para Antonia, essa “loucura” gera um ciclo vicioso.

As mulheres estão exaustas! Acumulam muitas funções no trabalho formal, em casa, nos cuidados com filhos e pais. Os afazeres não são divididos igualmente entre os pares porque parte-se da premissa que todas as funções domésticas e toda economia do cuidado são responsabilidades femininas; enquanto o homem só ‘ajuda’. E, quando precisam ser cuidadas, muitas e muitas vezes, as mulheres são abandonadas.

Antonia Prado

Maíra Marcondes Moreira, psicanalista, Doutora em Processos Sociais e autora do livro Freud e o casamento: o sexual no trabalho de cuidado, concorda que a sociedade atribui o cuidar à mulher, e as consequências disso se refletem até nos estudos da psicanálise.

Quando Freud inicia seus famosos estudos sobre histeria – relacionado ao feminino – ele não se atenta para o fato de que todas as pacientes histéricas estavam também cuidando de alguém, seja um companheiro, familiar ou crianças

Maíra Marcondes Moreira

Em seu livro, a autora desmistifica a ideia de que exista um corpo que seja “mais capaz” para o cuidado, porque isso acaba colocando a mulher em posição de servidão. Ela propõe que o cuidado seja coletivo, atribuído não só ao Estado mas também ao próprio homem, para que ele se entenda como bom cuidador. Caso contrário, a mulher continuará com a sobrecarga desigual de tarefas pois, além do cuidado familiar, ela hoje também é, boa parte do tempo, provedora: Dados do IBGE revelam que, atualmente, mais de 48% dos lares brasileiros são chefiados por mulheres.

Dizem que sou louca por eu ser assim

Muitas mulheres já foram chamadas de loucas, seja pelo parceiro, pelos familiares ou no ambiente de trabalho. É o chamado gaslighting – uma forma de abuso psicológico em que a vítima é manipulada para não acreditar na própria percepção da realidade, tema que também será debatido no programa.

“Me sinto ‘louca’, entre mil aspas, quando a minha palavra é descredibilizada”, conta Taís Araújo. Já para Paolla Oliveira, esse momento acontece quando ela assume várias responsabilidades ao mesmo tempo (leia a entrevista completa com a atriz).

Para Taís, a espectadora pode se reconhecer em situações do dia a dia e compreender o que elas, de fato, significam, sem que precise duvidar de si mesma. “Tudo aquilo acontece [no programa] de forma corriqueira e diariamente na vida de muitas mulheres, então, são ações normalizadas, e que não podem mais ser normalizadas”, explica.

Paolla Oliveira e Taís Araujo. Foto: Divulgação Rede Globo / Manoella Mello / Leo Rosário

Falas em debate

Taís e Paolla foram escolhidas para comandar o programa por terem um dialogo próximo com a mulher brasileira. Para Taís, estar a frente do Falas Femininas é uma oportunidade.

A responsabilidade de representar mulheres pelo Brasil para mim, não é um peso, pelo contrário. É um estímulo para que eu evolua mais

Tais Araujo

Todas as vezes que tentei fazer alguma coisa fora do padrão, inovadora ou que almejei algo fora do esperado, fui taxada de louca. Seja porque parecia difícil ou porque tal vontade não deveria ser de uma mulher. Quebrar protocolos ou ter certas ambições, por exemplo, no mundo masculino são visto como ‘força’, pra nós, viram loucura.

Antonia, diretora

Antonia Prado e Verônica Debom.  Foto: Divulgação Rede Globo / Manoella Mello / Leo Rosário

A autora do especial, Veronica Debom, explica: “Chamar uma mulher de louca pode ser uma forma de ignorar violências que ela esteja vivendo, físicas ou psicológicas. Além disso, é uma forma de desconsiderar suas opiniões ou de descartar a mulher profissionalmente. Essa estratégia pode levar até uma mãe a perder a guarda de um filho.”

Veronica afirma que todas as temáticas debatidas no programa são urgentes. Para ela, foi gratificante colocar em pauta, em rede nacional, tópicos que são comuns nas conversas entre amigas. “Como é bom levar a discussão que eu tenho exaustivamente na minha roda de amigas para o Brasil inteiro”, diz. “Fico cheia de esperança imaginando que muitas espectadoras irão se identificar e aprofundar sua consciência de gênero. Para além dessa missão tão gratificante, está o prazer da execução. É uma honra estar cercada de mulheres fazendo televisão de qualidade e tratando um assunto tão importante”, finaliza.

O especial Falas Femininas será transmitido pela Rede Globo nesta sexta, 8, depois do Big Brother Brasil.

TaísTais Araujo e Paolla Oliveira apresentam o especial 'Falas Femininas'Araújo (Atriz) e Paolla Oliveira (Atriz). Foto: Divulgação Rede Globo / Manoella Mello / Leo Rosário

Estreia, neste Dia Internacional da Mulher, o programa Falas Femininas, na Rede Globo. O Estadão conversou com a atriz Taís Araújo, que apresenta o especial com Paolla Oliveira, além de Antonia Prado, diretora, e Veronica Debom, autora, para entender onde paira a tal “loucura feminina” – tema escolhido para a discussão – e o que ela significa em uma sociedade que não compreende a sobrecarga de tarefas que acomete as mulheres, ou que coloca em xeque suas convicções.

O formato escolhido para o programa é o experimento social – um exemplo desse gênero na TV aberta é o próprio Big Brother Brasil. Ao contar com a simulação de situações cotidianas, que vão do trabalho doméstico e cuidado familiar às situações profissionais nas quais mulheres são estigmatizadas, o programa propõe a reflexão do espectador sobre a sobrecarga de tarefas atribuídas à mulher, e como isso gera o estereótipo da “loucura feminina”.

Para Antonia, essa “loucura” gera um ciclo vicioso.

As mulheres estão exaustas! Acumulam muitas funções no trabalho formal, em casa, nos cuidados com filhos e pais. Os afazeres não são divididos igualmente entre os pares porque parte-se da premissa que todas as funções domésticas e toda economia do cuidado são responsabilidades femininas; enquanto o homem só ‘ajuda’. E, quando precisam ser cuidadas, muitas e muitas vezes, as mulheres são abandonadas.

Antonia Prado

Maíra Marcondes Moreira, psicanalista, Doutora em Processos Sociais e autora do livro Freud e o casamento: o sexual no trabalho de cuidado, concorda que a sociedade atribui o cuidar à mulher, e as consequências disso se refletem até nos estudos da psicanálise.

Quando Freud inicia seus famosos estudos sobre histeria – relacionado ao feminino – ele não se atenta para o fato de que todas as pacientes histéricas estavam também cuidando de alguém, seja um companheiro, familiar ou crianças

Maíra Marcondes Moreira

Em seu livro, a autora desmistifica a ideia de que exista um corpo que seja “mais capaz” para o cuidado, porque isso acaba colocando a mulher em posição de servidão. Ela propõe que o cuidado seja coletivo, atribuído não só ao Estado mas também ao próprio homem, para que ele se entenda como bom cuidador. Caso contrário, a mulher continuará com a sobrecarga desigual de tarefas pois, além do cuidado familiar, ela hoje também é, boa parte do tempo, provedora: Dados do IBGE revelam que, atualmente, mais de 48% dos lares brasileiros são chefiados por mulheres.

Dizem que sou louca por eu ser assim

Muitas mulheres já foram chamadas de loucas, seja pelo parceiro, pelos familiares ou no ambiente de trabalho. É o chamado gaslighting – uma forma de abuso psicológico em que a vítima é manipulada para não acreditar na própria percepção da realidade, tema que também será debatido no programa.

“Me sinto ‘louca’, entre mil aspas, quando a minha palavra é descredibilizada”, conta Taís Araújo. Já para Paolla Oliveira, esse momento acontece quando ela assume várias responsabilidades ao mesmo tempo (leia a entrevista completa com a atriz).

Para Taís, a espectadora pode se reconhecer em situações do dia a dia e compreender o que elas, de fato, significam, sem que precise duvidar de si mesma. “Tudo aquilo acontece [no programa] de forma corriqueira e diariamente na vida de muitas mulheres, então, são ações normalizadas, e que não podem mais ser normalizadas”, explica.

Paolla Oliveira e Taís Araujo. Foto: Divulgação Rede Globo / Manoella Mello / Leo Rosário

Falas em debate

Taís e Paolla foram escolhidas para comandar o programa por terem um dialogo próximo com a mulher brasileira. Para Taís, estar a frente do Falas Femininas é uma oportunidade.

A responsabilidade de representar mulheres pelo Brasil para mim, não é um peso, pelo contrário. É um estímulo para que eu evolua mais

Tais Araujo

Todas as vezes que tentei fazer alguma coisa fora do padrão, inovadora ou que almejei algo fora do esperado, fui taxada de louca. Seja porque parecia difícil ou porque tal vontade não deveria ser de uma mulher. Quebrar protocolos ou ter certas ambições, por exemplo, no mundo masculino são visto como ‘força’, pra nós, viram loucura.

Antonia, diretora

Antonia Prado e Verônica Debom.  Foto: Divulgação Rede Globo / Manoella Mello / Leo Rosário

A autora do especial, Veronica Debom, explica: “Chamar uma mulher de louca pode ser uma forma de ignorar violências que ela esteja vivendo, físicas ou psicológicas. Além disso, é uma forma de desconsiderar suas opiniões ou de descartar a mulher profissionalmente. Essa estratégia pode levar até uma mãe a perder a guarda de um filho.”

Veronica afirma que todas as temáticas debatidas no programa são urgentes. Para ela, foi gratificante colocar em pauta, em rede nacional, tópicos que são comuns nas conversas entre amigas. “Como é bom levar a discussão que eu tenho exaustivamente na minha roda de amigas para o Brasil inteiro”, diz. “Fico cheia de esperança imaginando que muitas espectadoras irão se identificar e aprofundar sua consciência de gênero. Para além dessa missão tão gratificante, está o prazer da execução. É uma honra estar cercada de mulheres fazendo televisão de qualidade e tratando um assunto tão importante”, finaliza.

O especial Falas Femininas será transmitido pela Rede Globo nesta sexta, 8, depois do Big Brother Brasil.

TaísTais Araujo e Paolla Oliveira apresentam o especial 'Falas Femininas'Araújo (Atriz) e Paolla Oliveira (Atriz). Foto: Divulgação Rede Globo / Manoella Mello / Leo Rosário

Estreia, neste Dia Internacional da Mulher, o programa Falas Femininas, na Rede Globo. O Estadão conversou com a atriz Taís Araújo, que apresenta o especial com Paolla Oliveira, além de Antonia Prado, diretora, e Veronica Debom, autora, para entender onde paira a tal “loucura feminina” – tema escolhido para a discussão – e o que ela significa em uma sociedade que não compreende a sobrecarga de tarefas que acomete as mulheres, ou que coloca em xeque suas convicções.

O formato escolhido para o programa é o experimento social – um exemplo desse gênero na TV aberta é o próprio Big Brother Brasil. Ao contar com a simulação de situações cotidianas, que vão do trabalho doméstico e cuidado familiar às situações profissionais nas quais mulheres são estigmatizadas, o programa propõe a reflexão do espectador sobre a sobrecarga de tarefas atribuídas à mulher, e como isso gera o estereótipo da “loucura feminina”.

Para Antonia, essa “loucura” gera um ciclo vicioso.

As mulheres estão exaustas! Acumulam muitas funções no trabalho formal, em casa, nos cuidados com filhos e pais. Os afazeres não são divididos igualmente entre os pares porque parte-se da premissa que todas as funções domésticas e toda economia do cuidado são responsabilidades femininas; enquanto o homem só ‘ajuda’. E, quando precisam ser cuidadas, muitas e muitas vezes, as mulheres são abandonadas.

Antonia Prado

Maíra Marcondes Moreira, psicanalista, Doutora em Processos Sociais e autora do livro Freud e o casamento: o sexual no trabalho de cuidado, concorda que a sociedade atribui o cuidar à mulher, e as consequências disso se refletem até nos estudos da psicanálise.

Quando Freud inicia seus famosos estudos sobre histeria – relacionado ao feminino – ele não se atenta para o fato de que todas as pacientes histéricas estavam também cuidando de alguém, seja um companheiro, familiar ou crianças

Maíra Marcondes Moreira

Em seu livro, a autora desmistifica a ideia de que exista um corpo que seja “mais capaz” para o cuidado, porque isso acaba colocando a mulher em posição de servidão. Ela propõe que o cuidado seja coletivo, atribuído não só ao Estado mas também ao próprio homem, para que ele se entenda como bom cuidador. Caso contrário, a mulher continuará com a sobrecarga desigual de tarefas pois, além do cuidado familiar, ela hoje também é, boa parte do tempo, provedora: Dados do IBGE revelam que, atualmente, mais de 48% dos lares brasileiros são chefiados por mulheres.

Dizem que sou louca por eu ser assim

Muitas mulheres já foram chamadas de loucas, seja pelo parceiro, pelos familiares ou no ambiente de trabalho. É o chamado gaslighting – uma forma de abuso psicológico em que a vítima é manipulada para não acreditar na própria percepção da realidade, tema que também será debatido no programa.

“Me sinto ‘louca’, entre mil aspas, quando a minha palavra é descredibilizada”, conta Taís Araújo. Já para Paolla Oliveira, esse momento acontece quando ela assume várias responsabilidades ao mesmo tempo (leia a entrevista completa com a atriz).

Para Taís, a espectadora pode se reconhecer em situações do dia a dia e compreender o que elas, de fato, significam, sem que precise duvidar de si mesma. “Tudo aquilo acontece [no programa] de forma corriqueira e diariamente na vida de muitas mulheres, então, são ações normalizadas, e que não podem mais ser normalizadas”, explica.

Paolla Oliveira e Taís Araujo. Foto: Divulgação Rede Globo / Manoella Mello / Leo Rosário

Falas em debate

Taís e Paolla foram escolhidas para comandar o programa por terem um dialogo próximo com a mulher brasileira. Para Taís, estar a frente do Falas Femininas é uma oportunidade.

A responsabilidade de representar mulheres pelo Brasil para mim, não é um peso, pelo contrário. É um estímulo para que eu evolua mais

Tais Araujo

Todas as vezes que tentei fazer alguma coisa fora do padrão, inovadora ou que almejei algo fora do esperado, fui taxada de louca. Seja porque parecia difícil ou porque tal vontade não deveria ser de uma mulher. Quebrar protocolos ou ter certas ambições, por exemplo, no mundo masculino são visto como ‘força’, pra nós, viram loucura.

Antonia, diretora

Antonia Prado e Verônica Debom.  Foto: Divulgação Rede Globo / Manoella Mello / Leo Rosário

A autora do especial, Veronica Debom, explica: “Chamar uma mulher de louca pode ser uma forma de ignorar violências que ela esteja vivendo, físicas ou psicológicas. Além disso, é uma forma de desconsiderar suas opiniões ou de descartar a mulher profissionalmente. Essa estratégia pode levar até uma mãe a perder a guarda de um filho.”

Veronica afirma que todas as temáticas debatidas no programa são urgentes. Para ela, foi gratificante colocar em pauta, em rede nacional, tópicos que são comuns nas conversas entre amigas. “Como é bom levar a discussão que eu tenho exaustivamente na minha roda de amigas para o Brasil inteiro”, diz. “Fico cheia de esperança imaginando que muitas espectadoras irão se identificar e aprofundar sua consciência de gênero. Para além dessa missão tão gratificante, está o prazer da execução. É uma honra estar cercada de mulheres fazendo televisão de qualidade e tratando um assunto tão importante”, finaliza.

O especial Falas Femininas será transmitido pela Rede Globo nesta sexta, 8, depois do Big Brother Brasil.

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