Jane Austen: Diretora de 'Persuasão' rebate críticas e diz que filme respeita linguagem original


Carrie Cracknell enfrenta polêmica de ter feito um filme moderno demais; produção estreia nesta sexta, 15, na Netflix; veja trailer

Por Alexis Soloski

O trailer de Persuasão, filme de estreia da diretora de teatro britânica Carrie Cracknell, chegou em meados de junho. Ataques nas mídias sociais, liderados por fãs do romance de Jane Austen, no qual o filme é baseado, surgiram rapidamente. Os espectadores se opuseram aos flashes de linguagem contemporânea (“o ex”) e aos momentos em que Dakota Johnson, que interpreta a heroína Anne Elliot, se dirige diretamente à câmera. Houve reclamações sobre o estilo Fleabag do romance da época da Regência e sua ênfase na comédia. “Jane Austen se revira em seu túmulo”, dizia uma manchete do Daily Mail

Dakota Johnson interpreta Anne Elliot no filme 'Persuasão', baseado na obra de Jane Austen Foto: Nick Wall/Netflix

Carrie Cracknell, de 41 anos, conversando por videochamada de sua casa em Londres, diz não ver dessa forma. “O filme foi feito com muito amor e atenção ao material original e um respeito muito sincero por Jane Austen”, disse. “Não houve nenhuma tentativa de desmantelar o material original.”

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Cracknell, uma dramaturga prodígio e colíder de um grande teatro de Londres antes dos 30 anos, sempre se concentrou na experiência feminina em seu trabalho. O caráter complicado de Anne, que rejeitou um pretendente em sua juventude e se arrependeu desde então, a atraiu fortemente. E o roteiro brincalhão, de Alice Victoria Winslow e Ron Bass, ofereceu uma oportunidade, segundo Cracknell, “de falar para um novo público que talvez não conheça Jane Austen”.

Antes que esse novo público possa assistir ao filme disponível na Netflix a partir desta sexta, 15, Cracknell discutiu a reação ao trailer e o por quê de o longa ter tão poucos chapéus.

Por que Persuasão?

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Realmente amo o romance. Há um desejo e uma melancolia incríveis. Mas combinados com a sagacidade sardônica da personagem Anne. Anne é uma sofredora, mas também é perceptiva, brilhante e engraçada.

Cena do filme 'Persuasão', baseado na obra de Jane Austen, com Lydia Rose Bewley, Richard E. Grant, Dakota Johnson e Yolanda Kettle Foto: Nick Wall/Netflix

 

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Como poderíamos diagnosticar Anne? Deprimida?

Não sei se quero diagnosticá-la, honestamente. Havia uma opção pela liberdade, uma opção pela vida plena, por ser adulta, e ela recusou. Então ela está presa numa infância sem fim. É totalmente dependente da família, não tem espaço próprio e nem poder, o que causa uma espécie de mal-estar. Eu vejo isso mais como um conjunto de circunstâncias do que necessariamente uma parte central de sua paisagem emocional ou de seu ser. Porque acho que ela tem uma verdadeira aptidão para a alegria.

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Na verdade, fui diagnosticado com esse mal-estar anos atrás. Sério.

Como se você precisasse de sais aromáticos para voltar?

Sim. Ou uma taça de vinho. A grande inovação literária de Austen é uma narração flexionada em terceira pessoa. O filme usa uma abordagem direta. Por quê?

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Essa abordagem nos deu a oportunidade de escavar a vida interior de Anne e também nos transforma em seus confidentes. Espero que tenhamos equilibrado o uso do discurso direto para que ainda haja complexidade, mistura e uma vida interior oculta.

Por que o roteiro também recorre a uma linguagem moderna?

Eu estava interessada em uma psicologia e linguagem um pouco mais modernas, porque isso nos permite enquadrar os personagens de uma maneira realmente acessível e contemporânea. Uma das grandes esperanças que eu tinha para o filme era atrair um novo público para Austen e fazê-lo sentir que ele realmente reconhece as pessoas na tela.

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Perdemos alguma coisa quando perdemos a linguagem da época?

Eu acho que cabe a você dizer. Eu realmente gosto da ludicidade e da iconoclastia.

Nikki Amuka-Bird eDakota Johnson estão no filme 'Persuasão', baseado em obra de Jane Austen Foto: Nick Wall/Netflix

E agora uma pergunta contundente: por que há tão poucos chapéus?

Nós realmente tentamos honrar a forma e a essência do período da Regência, mas simplificamos e retiramos detalhes adicionais. Às vezes, ao assistir a filmes de época, há muita coisa entre mim e a pessoa. Liberar isso e encontrar uma estética que tenha menos armadilhas do período foi libertador.

O filme se junta a lançamentos recentes como Bridgerton e Mr. Malcolm’s List ao levar em conta a diversidade na escolha do elenco para o período da Regência. O que uma maior diversidade acrescenta?

Para mim, essa diversidade é sobre o público mais amplo possível se vendo representado nessas histórias clássicas, que pareciam exclusivas e excludentes no passado. A construção de qualquer peça de época é um ato de imaginação e, neste caso, tornou-se um ato de imaginação aspiracional, que é permitir que um público muito mais amplo sinta que pertence a este mundo e que pode acessar essa história.

Carrie Cracknell é a diretora do filme 'Persuasão', baseado em obra deJane Austen Foto: Rosie Marks/The New York Times

 

Seu trabalho no teatro frequentemente explorou temas feministas. Este é um trabalho feminista?

Assisti a uma série de adaptações de Jane Austen com minha filha como preparação para as filmagens. Ela me disse uma noite: “Por que todas as mulheres sempre caem? Elas estão sempre chorando e sempre ficam doentes.” Queríamos fazer uma versão que tivesse uma qualidade um pouco mais estridente, questionadora e desafiadora para que falasse com um público jovem e muito mais feminista. Jane Austen realmente estava questionando as estruturas e os limites em que as mulheres se encontravam.

Quando o trailer foi lançado, a reação foi intensa. Você ficou surpresa?

As pessoas têm opiniões muito fortes sobre Jane Austen. E sentem uma sensação enorme de propriedade. Quase todas as adaptações sofrem alguma resistência. O trailer se concentra muito mais na qualidade cômica do filme do que nos elementos melancólicos mais maduros. Algumas pessoas que têm o livro como seu favorito não necessariamente viram isso representado. Espero que, quando assistirem ao filme, gostem desse equilíbrio tonal.  / TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

Cosmo Jarvis em cenado filme 'Persuasão', baseado em obra de Janeu Austen Foto: Nick Wall/Netflix

O trailer de Persuasão, filme de estreia da diretora de teatro britânica Carrie Cracknell, chegou em meados de junho. Ataques nas mídias sociais, liderados por fãs do romance de Jane Austen, no qual o filme é baseado, surgiram rapidamente. Os espectadores se opuseram aos flashes de linguagem contemporânea (“o ex”) e aos momentos em que Dakota Johnson, que interpreta a heroína Anne Elliot, se dirige diretamente à câmera. Houve reclamações sobre o estilo Fleabag do romance da época da Regência e sua ênfase na comédia. “Jane Austen se revira em seu túmulo”, dizia uma manchete do Daily Mail

Dakota Johnson interpreta Anne Elliot no filme 'Persuasão', baseado na obra de Jane Austen Foto: Nick Wall/Netflix

Carrie Cracknell, de 41 anos, conversando por videochamada de sua casa em Londres, diz não ver dessa forma. “O filme foi feito com muito amor e atenção ao material original e um respeito muito sincero por Jane Austen”, disse. “Não houve nenhuma tentativa de desmantelar o material original.”

Cracknell, uma dramaturga prodígio e colíder de um grande teatro de Londres antes dos 30 anos, sempre se concentrou na experiência feminina em seu trabalho. O caráter complicado de Anne, que rejeitou um pretendente em sua juventude e se arrependeu desde então, a atraiu fortemente. E o roteiro brincalhão, de Alice Victoria Winslow e Ron Bass, ofereceu uma oportunidade, segundo Cracknell, “de falar para um novo público que talvez não conheça Jane Austen”.

Antes que esse novo público possa assistir ao filme disponível na Netflix a partir desta sexta, 15, Cracknell discutiu a reação ao trailer e o por quê de o longa ter tão poucos chapéus.

Por que Persuasão?

Realmente amo o romance. Há um desejo e uma melancolia incríveis. Mas combinados com a sagacidade sardônica da personagem Anne. Anne é uma sofredora, mas também é perceptiva, brilhante e engraçada.

Cena do filme 'Persuasão', baseado na obra de Jane Austen, com Lydia Rose Bewley, Richard E. Grant, Dakota Johnson e Yolanda Kettle Foto: Nick Wall/Netflix

 

Como poderíamos diagnosticar Anne? Deprimida?

Não sei se quero diagnosticá-la, honestamente. Havia uma opção pela liberdade, uma opção pela vida plena, por ser adulta, e ela recusou. Então ela está presa numa infância sem fim. É totalmente dependente da família, não tem espaço próprio e nem poder, o que causa uma espécie de mal-estar. Eu vejo isso mais como um conjunto de circunstâncias do que necessariamente uma parte central de sua paisagem emocional ou de seu ser. Porque acho que ela tem uma verdadeira aptidão para a alegria.

Na verdade, fui diagnosticado com esse mal-estar anos atrás. Sério.

Como se você precisasse de sais aromáticos para voltar?

Sim. Ou uma taça de vinho. A grande inovação literária de Austen é uma narração flexionada em terceira pessoa. O filme usa uma abordagem direta. Por quê?

Essa abordagem nos deu a oportunidade de escavar a vida interior de Anne e também nos transforma em seus confidentes. Espero que tenhamos equilibrado o uso do discurso direto para que ainda haja complexidade, mistura e uma vida interior oculta.

Por que o roteiro também recorre a uma linguagem moderna?

Eu estava interessada em uma psicologia e linguagem um pouco mais modernas, porque isso nos permite enquadrar os personagens de uma maneira realmente acessível e contemporânea. Uma das grandes esperanças que eu tinha para o filme era atrair um novo público para Austen e fazê-lo sentir que ele realmente reconhece as pessoas na tela.

Perdemos alguma coisa quando perdemos a linguagem da época?

Eu acho que cabe a você dizer. Eu realmente gosto da ludicidade e da iconoclastia.

Nikki Amuka-Bird eDakota Johnson estão no filme 'Persuasão', baseado em obra de Jane Austen Foto: Nick Wall/Netflix

E agora uma pergunta contundente: por que há tão poucos chapéus?

Nós realmente tentamos honrar a forma e a essência do período da Regência, mas simplificamos e retiramos detalhes adicionais. Às vezes, ao assistir a filmes de época, há muita coisa entre mim e a pessoa. Liberar isso e encontrar uma estética que tenha menos armadilhas do período foi libertador.

O filme se junta a lançamentos recentes como Bridgerton e Mr. Malcolm’s List ao levar em conta a diversidade na escolha do elenco para o período da Regência. O que uma maior diversidade acrescenta?

Para mim, essa diversidade é sobre o público mais amplo possível se vendo representado nessas histórias clássicas, que pareciam exclusivas e excludentes no passado. A construção de qualquer peça de época é um ato de imaginação e, neste caso, tornou-se um ato de imaginação aspiracional, que é permitir que um público muito mais amplo sinta que pertence a este mundo e que pode acessar essa história.

Carrie Cracknell é a diretora do filme 'Persuasão', baseado em obra deJane Austen Foto: Rosie Marks/The New York Times

 

Seu trabalho no teatro frequentemente explorou temas feministas. Este é um trabalho feminista?

Assisti a uma série de adaptações de Jane Austen com minha filha como preparação para as filmagens. Ela me disse uma noite: “Por que todas as mulheres sempre caem? Elas estão sempre chorando e sempre ficam doentes.” Queríamos fazer uma versão que tivesse uma qualidade um pouco mais estridente, questionadora e desafiadora para que falasse com um público jovem e muito mais feminista. Jane Austen realmente estava questionando as estruturas e os limites em que as mulheres se encontravam.

Quando o trailer foi lançado, a reação foi intensa. Você ficou surpresa?

As pessoas têm opiniões muito fortes sobre Jane Austen. E sentem uma sensação enorme de propriedade. Quase todas as adaptações sofrem alguma resistência. O trailer se concentra muito mais na qualidade cômica do filme do que nos elementos melancólicos mais maduros. Algumas pessoas que têm o livro como seu favorito não necessariamente viram isso representado. Espero que, quando assistirem ao filme, gostem desse equilíbrio tonal.  / TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

Cosmo Jarvis em cenado filme 'Persuasão', baseado em obra de Janeu Austen Foto: Nick Wall/Netflix

O trailer de Persuasão, filme de estreia da diretora de teatro britânica Carrie Cracknell, chegou em meados de junho. Ataques nas mídias sociais, liderados por fãs do romance de Jane Austen, no qual o filme é baseado, surgiram rapidamente. Os espectadores se opuseram aos flashes de linguagem contemporânea (“o ex”) e aos momentos em que Dakota Johnson, que interpreta a heroína Anne Elliot, se dirige diretamente à câmera. Houve reclamações sobre o estilo Fleabag do romance da época da Regência e sua ênfase na comédia. “Jane Austen se revira em seu túmulo”, dizia uma manchete do Daily Mail

Dakota Johnson interpreta Anne Elliot no filme 'Persuasão', baseado na obra de Jane Austen Foto: Nick Wall/Netflix

Carrie Cracknell, de 41 anos, conversando por videochamada de sua casa em Londres, diz não ver dessa forma. “O filme foi feito com muito amor e atenção ao material original e um respeito muito sincero por Jane Austen”, disse. “Não houve nenhuma tentativa de desmantelar o material original.”

Cracknell, uma dramaturga prodígio e colíder de um grande teatro de Londres antes dos 30 anos, sempre se concentrou na experiência feminina em seu trabalho. O caráter complicado de Anne, que rejeitou um pretendente em sua juventude e se arrependeu desde então, a atraiu fortemente. E o roteiro brincalhão, de Alice Victoria Winslow e Ron Bass, ofereceu uma oportunidade, segundo Cracknell, “de falar para um novo público que talvez não conheça Jane Austen”.

Antes que esse novo público possa assistir ao filme disponível na Netflix a partir desta sexta, 15, Cracknell discutiu a reação ao trailer e o por quê de o longa ter tão poucos chapéus.

Por que Persuasão?

Realmente amo o romance. Há um desejo e uma melancolia incríveis. Mas combinados com a sagacidade sardônica da personagem Anne. Anne é uma sofredora, mas também é perceptiva, brilhante e engraçada.

Cena do filme 'Persuasão', baseado na obra de Jane Austen, com Lydia Rose Bewley, Richard E. Grant, Dakota Johnson e Yolanda Kettle Foto: Nick Wall/Netflix

 

Como poderíamos diagnosticar Anne? Deprimida?

Não sei se quero diagnosticá-la, honestamente. Havia uma opção pela liberdade, uma opção pela vida plena, por ser adulta, e ela recusou. Então ela está presa numa infância sem fim. É totalmente dependente da família, não tem espaço próprio e nem poder, o que causa uma espécie de mal-estar. Eu vejo isso mais como um conjunto de circunstâncias do que necessariamente uma parte central de sua paisagem emocional ou de seu ser. Porque acho que ela tem uma verdadeira aptidão para a alegria.

Na verdade, fui diagnosticado com esse mal-estar anos atrás. Sério.

Como se você precisasse de sais aromáticos para voltar?

Sim. Ou uma taça de vinho. A grande inovação literária de Austen é uma narração flexionada em terceira pessoa. O filme usa uma abordagem direta. Por quê?

Essa abordagem nos deu a oportunidade de escavar a vida interior de Anne e também nos transforma em seus confidentes. Espero que tenhamos equilibrado o uso do discurso direto para que ainda haja complexidade, mistura e uma vida interior oculta.

Por que o roteiro também recorre a uma linguagem moderna?

Eu estava interessada em uma psicologia e linguagem um pouco mais modernas, porque isso nos permite enquadrar os personagens de uma maneira realmente acessível e contemporânea. Uma das grandes esperanças que eu tinha para o filme era atrair um novo público para Austen e fazê-lo sentir que ele realmente reconhece as pessoas na tela.

Perdemos alguma coisa quando perdemos a linguagem da época?

Eu acho que cabe a você dizer. Eu realmente gosto da ludicidade e da iconoclastia.

Nikki Amuka-Bird eDakota Johnson estão no filme 'Persuasão', baseado em obra de Jane Austen Foto: Nick Wall/Netflix

E agora uma pergunta contundente: por que há tão poucos chapéus?

Nós realmente tentamos honrar a forma e a essência do período da Regência, mas simplificamos e retiramos detalhes adicionais. Às vezes, ao assistir a filmes de época, há muita coisa entre mim e a pessoa. Liberar isso e encontrar uma estética que tenha menos armadilhas do período foi libertador.

O filme se junta a lançamentos recentes como Bridgerton e Mr. Malcolm’s List ao levar em conta a diversidade na escolha do elenco para o período da Regência. O que uma maior diversidade acrescenta?

Para mim, essa diversidade é sobre o público mais amplo possível se vendo representado nessas histórias clássicas, que pareciam exclusivas e excludentes no passado. A construção de qualquer peça de época é um ato de imaginação e, neste caso, tornou-se um ato de imaginação aspiracional, que é permitir que um público muito mais amplo sinta que pertence a este mundo e que pode acessar essa história.

Carrie Cracknell é a diretora do filme 'Persuasão', baseado em obra deJane Austen Foto: Rosie Marks/The New York Times

 

Seu trabalho no teatro frequentemente explorou temas feministas. Este é um trabalho feminista?

Assisti a uma série de adaptações de Jane Austen com minha filha como preparação para as filmagens. Ela me disse uma noite: “Por que todas as mulheres sempre caem? Elas estão sempre chorando e sempre ficam doentes.” Queríamos fazer uma versão que tivesse uma qualidade um pouco mais estridente, questionadora e desafiadora para que falasse com um público jovem e muito mais feminista. Jane Austen realmente estava questionando as estruturas e os limites em que as mulheres se encontravam.

Quando o trailer foi lançado, a reação foi intensa. Você ficou surpresa?

As pessoas têm opiniões muito fortes sobre Jane Austen. E sentem uma sensação enorme de propriedade. Quase todas as adaptações sofrem alguma resistência. O trailer se concentra muito mais na qualidade cômica do filme do que nos elementos melancólicos mais maduros. Algumas pessoas que têm o livro como seu favorito não necessariamente viram isso representado. Espero que, quando assistirem ao filme, gostem desse equilíbrio tonal.  / TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

Cosmo Jarvis em cenado filme 'Persuasão', baseado em obra de Janeu Austen Foto: Nick Wall/Netflix

O trailer de Persuasão, filme de estreia da diretora de teatro britânica Carrie Cracknell, chegou em meados de junho. Ataques nas mídias sociais, liderados por fãs do romance de Jane Austen, no qual o filme é baseado, surgiram rapidamente. Os espectadores se opuseram aos flashes de linguagem contemporânea (“o ex”) e aos momentos em que Dakota Johnson, que interpreta a heroína Anne Elliot, se dirige diretamente à câmera. Houve reclamações sobre o estilo Fleabag do romance da época da Regência e sua ênfase na comédia. “Jane Austen se revira em seu túmulo”, dizia uma manchete do Daily Mail

Dakota Johnson interpreta Anne Elliot no filme 'Persuasão', baseado na obra de Jane Austen Foto: Nick Wall/Netflix

Carrie Cracknell, de 41 anos, conversando por videochamada de sua casa em Londres, diz não ver dessa forma. “O filme foi feito com muito amor e atenção ao material original e um respeito muito sincero por Jane Austen”, disse. “Não houve nenhuma tentativa de desmantelar o material original.”

Cracknell, uma dramaturga prodígio e colíder de um grande teatro de Londres antes dos 30 anos, sempre se concentrou na experiência feminina em seu trabalho. O caráter complicado de Anne, que rejeitou um pretendente em sua juventude e se arrependeu desde então, a atraiu fortemente. E o roteiro brincalhão, de Alice Victoria Winslow e Ron Bass, ofereceu uma oportunidade, segundo Cracknell, “de falar para um novo público que talvez não conheça Jane Austen”.

Antes que esse novo público possa assistir ao filme disponível na Netflix a partir desta sexta, 15, Cracknell discutiu a reação ao trailer e o por quê de o longa ter tão poucos chapéus.

Por que Persuasão?

Realmente amo o romance. Há um desejo e uma melancolia incríveis. Mas combinados com a sagacidade sardônica da personagem Anne. Anne é uma sofredora, mas também é perceptiva, brilhante e engraçada.

Cena do filme 'Persuasão', baseado na obra de Jane Austen, com Lydia Rose Bewley, Richard E. Grant, Dakota Johnson e Yolanda Kettle Foto: Nick Wall/Netflix

 

Como poderíamos diagnosticar Anne? Deprimida?

Não sei se quero diagnosticá-la, honestamente. Havia uma opção pela liberdade, uma opção pela vida plena, por ser adulta, e ela recusou. Então ela está presa numa infância sem fim. É totalmente dependente da família, não tem espaço próprio e nem poder, o que causa uma espécie de mal-estar. Eu vejo isso mais como um conjunto de circunstâncias do que necessariamente uma parte central de sua paisagem emocional ou de seu ser. Porque acho que ela tem uma verdadeira aptidão para a alegria.

Na verdade, fui diagnosticado com esse mal-estar anos atrás. Sério.

Como se você precisasse de sais aromáticos para voltar?

Sim. Ou uma taça de vinho. A grande inovação literária de Austen é uma narração flexionada em terceira pessoa. O filme usa uma abordagem direta. Por quê?

Essa abordagem nos deu a oportunidade de escavar a vida interior de Anne e também nos transforma em seus confidentes. Espero que tenhamos equilibrado o uso do discurso direto para que ainda haja complexidade, mistura e uma vida interior oculta.

Por que o roteiro também recorre a uma linguagem moderna?

Eu estava interessada em uma psicologia e linguagem um pouco mais modernas, porque isso nos permite enquadrar os personagens de uma maneira realmente acessível e contemporânea. Uma das grandes esperanças que eu tinha para o filme era atrair um novo público para Austen e fazê-lo sentir que ele realmente reconhece as pessoas na tela.

Perdemos alguma coisa quando perdemos a linguagem da época?

Eu acho que cabe a você dizer. Eu realmente gosto da ludicidade e da iconoclastia.

Nikki Amuka-Bird eDakota Johnson estão no filme 'Persuasão', baseado em obra de Jane Austen Foto: Nick Wall/Netflix

E agora uma pergunta contundente: por que há tão poucos chapéus?

Nós realmente tentamos honrar a forma e a essência do período da Regência, mas simplificamos e retiramos detalhes adicionais. Às vezes, ao assistir a filmes de época, há muita coisa entre mim e a pessoa. Liberar isso e encontrar uma estética que tenha menos armadilhas do período foi libertador.

O filme se junta a lançamentos recentes como Bridgerton e Mr. Malcolm’s List ao levar em conta a diversidade na escolha do elenco para o período da Regência. O que uma maior diversidade acrescenta?

Para mim, essa diversidade é sobre o público mais amplo possível se vendo representado nessas histórias clássicas, que pareciam exclusivas e excludentes no passado. A construção de qualquer peça de época é um ato de imaginação e, neste caso, tornou-se um ato de imaginação aspiracional, que é permitir que um público muito mais amplo sinta que pertence a este mundo e que pode acessar essa história.

Carrie Cracknell é a diretora do filme 'Persuasão', baseado em obra deJane Austen Foto: Rosie Marks/The New York Times

 

Seu trabalho no teatro frequentemente explorou temas feministas. Este é um trabalho feminista?

Assisti a uma série de adaptações de Jane Austen com minha filha como preparação para as filmagens. Ela me disse uma noite: “Por que todas as mulheres sempre caem? Elas estão sempre chorando e sempre ficam doentes.” Queríamos fazer uma versão que tivesse uma qualidade um pouco mais estridente, questionadora e desafiadora para que falasse com um público jovem e muito mais feminista. Jane Austen realmente estava questionando as estruturas e os limites em que as mulheres se encontravam.

Quando o trailer foi lançado, a reação foi intensa. Você ficou surpresa?

As pessoas têm opiniões muito fortes sobre Jane Austen. E sentem uma sensação enorme de propriedade. Quase todas as adaptações sofrem alguma resistência. O trailer se concentra muito mais na qualidade cômica do filme do que nos elementos melancólicos mais maduros. Algumas pessoas que têm o livro como seu favorito não necessariamente viram isso representado. Espero que, quando assistirem ao filme, gostem desse equilíbrio tonal.  / TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

Cosmo Jarvis em cenado filme 'Persuasão', baseado em obra de Janeu Austen Foto: Nick Wall/Netflix

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