Livro mostra como a série ‘Os Sopranos’ consolidou regras para o gênero


Produção que agora festeja 20 anos inspira obra que inclui recapitulações detalhadas de cada episódio

Por John Williams
Atualização:

O mundo da TV hoje “mal se assemelha àquele em que o carro SUV de Tony Soprano, vivido por James Gandolfini (1961-2013), rodava nos idos de 1999” escrevem os críticos Matt Zoller Zeitz e Alan Sepinwall em The Soprano Sessions (Abrams Press). “Todos os aspectos da série que outrora sobressaltou os espectadores acabaram sendo aceitos: serialização, ambiguidade moral e narrativa; anti-heróis ou vilões como protagonistas principais; a beleza pela própria beleza.” 

James Gandolfini, ao centro, como Tony Soprano Foto: Craig Blankenhorn/HBO via The New York Times

O livro, que está sendo publicado para coincidir com o 20.º aniversário da estreia da série, inclui recapitulações detalhadas de cada episódio, várias entrevistas que os dois autores realizaram com o criador da série, David Chase, um debate sobre o tão discutido momento final do último episódio; e comentários de Seitz e Sepinwall publicados no jornal The Star Ledger, de New Jersey, quando Os Sopranos originalmente foi ao ar. Abaixo Zeitz, critico de TV da revista New York, e Sepinwall, crítico de TV da Rolling Stone, falam sobre o ambíguo final da série, as lembranças de Chase e mais.

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Quando tiveram a ideia de escrever esse livro?   Matt Zoller Seitz – Sou diretor criativo do Split Screens Festival e no nosso primeiro ano, em 2017, concedemos um prêmio a David Chase. O evento foi bem e ele era uma pessoa muito vivaz e divertida. Com o 20.º aniversário da série chegando pareceu-nos um bom momento. E Alan era a pessoa com quem eu queria escrever a história, uma vez que fizemos muita coisa envolvendo o programa e já escrevemos juntos antes. Alan Sepinwall – Foi uma boa desculpa para nos reunirmos e também nostálgica da época em que trabalhamos juntos no The Star Ledger. Muitas das coisas que escrevemos não existiriam sem essa série única. O aniversário dela sem dúvida nos forçou e foi uma desculpa para realizarmos esse trabalho e estou feliz com ele porque não tenho certeza se um dia voltaria a assistir à série inteira, que é excelente.

O que mais os surpreendeu quando escreviam o livro?   Sepinwall – Sabíamos que iríamos falar com David Chase sobre o programa e que cobriríamos tudo. E começamos a nos perguntar: será que ele dirá alguma coisa sobre o final? Sabíamos que isso acabaria surgindo na sétima das oito entrevistas que fizemos com ele. Mas na sexta, fiz aleatoriamente uma pergunta a ele sobre a preparação para o final e ele disse: “Bem eu tinha há anos aquela cena da morte na cabeça”, e eu não disse nada porque tive medo de ele se desdizer. Mas então Matt entrou na conversa e disse: “David, você percebeu que acabou de dizer ‘cena da morte’?”. Não sei se tivemos uma resposta definitiva, mas conversamos sobre as intenções dele para a série que jamais imaginei que ele diria. Seitz – Não conseguimos que ele admitisse que Tony morreu ou algo parecido. Ele disse que a intenção original era dar apenas indícios de que Tony morreu, mas abandonou a ideia e buscou algo mais filosófico. Mas David disse coisas intencionais sem realmente ser intencional. Perguntei a ele se era possível que uma vida inteira consumindo filmes de gângsteres, em que os heróis morrem no fim, o tivesse marcado. Ele respondeu: “É possível”.

Em que aspecto o livro que vocês escreveram é diferente daquele que pretendiam escrever?

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Seitz – Nós discutimos para incluir excertos do que escrevemos quando estávamos no The Star Ledger. Queria que parte daquilo ficasse preservado porque muita coisa não está disponível online. Mas também queria dar um sentido do que estávamos pensando sobre a série quando ela surgiu como algo novo e não havia nada parecido. Acabamos deixando isso de lado de maneira que o que escrevemos com relação a James Gandolfini ficou na própria seção dedicada a ele e isso acabou dando uma sensação de tristeza no final. Tony pode ou não ter morrido, mas o artista que o interpretou morreu e isso foi sentido como o fim. Sepinwall – Eu estava focado nos detalhes. Pretendia fazer a Chase muitas perguntas específicas: por que isso aconteceu? Por que aquilo? Fale sobre esse ou aquele antecedente da história. Mas com frequência ele não se lembrava ou não estava interessado em detalhar. Conversamos sobre o sentimento por trás de tudo. Mas Chase acabou falando muito mais dos próprios instintos criativos, como muita coisa do que faz é visceral e acho que a entrevista ficou mais interessante do que aquela que pensava fazer inicialmente. Seitz – Fiquei surpreso e comovido com algumas lembranças de David da sua adolescência e infância em New Jersey. Há recordações de um grande lirismo nessa parte da entrevista.

Convençam alguém a ler The Soprano Sessions em 50 palavras ou menos.  Seitz – Você tem de colocar a série no sofá do analista e ser a dra. Jennifer Melfi.  Sepinwall – Você tem uma desculpa para revisitar uma das melhores e mais influentes séries produzidas até hoje. E ter um vislumbre fantástico do homem que a produziu e de todas as decisões tomadas, incluindo o final que, 10 anos depois, você ainda está discutindo. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

O mundo da TV hoje “mal se assemelha àquele em que o carro SUV de Tony Soprano, vivido por James Gandolfini (1961-2013), rodava nos idos de 1999” escrevem os críticos Matt Zoller Zeitz e Alan Sepinwall em The Soprano Sessions (Abrams Press). “Todos os aspectos da série que outrora sobressaltou os espectadores acabaram sendo aceitos: serialização, ambiguidade moral e narrativa; anti-heróis ou vilões como protagonistas principais; a beleza pela própria beleza.” 

James Gandolfini, ao centro, como Tony Soprano Foto: Craig Blankenhorn/HBO via The New York Times

O livro, que está sendo publicado para coincidir com o 20.º aniversário da estreia da série, inclui recapitulações detalhadas de cada episódio, várias entrevistas que os dois autores realizaram com o criador da série, David Chase, um debate sobre o tão discutido momento final do último episódio; e comentários de Seitz e Sepinwall publicados no jornal The Star Ledger, de New Jersey, quando Os Sopranos originalmente foi ao ar. Abaixo Zeitz, critico de TV da revista New York, e Sepinwall, crítico de TV da Rolling Stone, falam sobre o ambíguo final da série, as lembranças de Chase e mais.

Quando tiveram a ideia de escrever esse livro?   Matt Zoller Seitz – Sou diretor criativo do Split Screens Festival e no nosso primeiro ano, em 2017, concedemos um prêmio a David Chase. O evento foi bem e ele era uma pessoa muito vivaz e divertida. Com o 20.º aniversário da série chegando pareceu-nos um bom momento. E Alan era a pessoa com quem eu queria escrever a história, uma vez que fizemos muita coisa envolvendo o programa e já escrevemos juntos antes. Alan Sepinwall – Foi uma boa desculpa para nos reunirmos e também nostálgica da época em que trabalhamos juntos no The Star Ledger. Muitas das coisas que escrevemos não existiriam sem essa série única. O aniversário dela sem dúvida nos forçou e foi uma desculpa para realizarmos esse trabalho e estou feliz com ele porque não tenho certeza se um dia voltaria a assistir à série inteira, que é excelente.

O que mais os surpreendeu quando escreviam o livro?   Sepinwall – Sabíamos que iríamos falar com David Chase sobre o programa e que cobriríamos tudo. E começamos a nos perguntar: será que ele dirá alguma coisa sobre o final? Sabíamos que isso acabaria surgindo na sétima das oito entrevistas que fizemos com ele. Mas na sexta, fiz aleatoriamente uma pergunta a ele sobre a preparação para o final e ele disse: “Bem eu tinha há anos aquela cena da morte na cabeça”, e eu não disse nada porque tive medo de ele se desdizer. Mas então Matt entrou na conversa e disse: “David, você percebeu que acabou de dizer ‘cena da morte’?”. Não sei se tivemos uma resposta definitiva, mas conversamos sobre as intenções dele para a série que jamais imaginei que ele diria. Seitz – Não conseguimos que ele admitisse que Tony morreu ou algo parecido. Ele disse que a intenção original era dar apenas indícios de que Tony morreu, mas abandonou a ideia e buscou algo mais filosófico. Mas David disse coisas intencionais sem realmente ser intencional. Perguntei a ele se era possível que uma vida inteira consumindo filmes de gângsteres, em que os heróis morrem no fim, o tivesse marcado. Ele respondeu: “É possível”.

Em que aspecto o livro que vocês escreveram é diferente daquele que pretendiam escrever?

Seitz – Nós discutimos para incluir excertos do que escrevemos quando estávamos no The Star Ledger. Queria que parte daquilo ficasse preservado porque muita coisa não está disponível online. Mas também queria dar um sentido do que estávamos pensando sobre a série quando ela surgiu como algo novo e não havia nada parecido. Acabamos deixando isso de lado de maneira que o que escrevemos com relação a James Gandolfini ficou na própria seção dedicada a ele e isso acabou dando uma sensação de tristeza no final. Tony pode ou não ter morrido, mas o artista que o interpretou morreu e isso foi sentido como o fim. Sepinwall – Eu estava focado nos detalhes. Pretendia fazer a Chase muitas perguntas específicas: por que isso aconteceu? Por que aquilo? Fale sobre esse ou aquele antecedente da história. Mas com frequência ele não se lembrava ou não estava interessado em detalhar. Conversamos sobre o sentimento por trás de tudo. Mas Chase acabou falando muito mais dos próprios instintos criativos, como muita coisa do que faz é visceral e acho que a entrevista ficou mais interessante do que aquela que pensava fazer inicialmente. Seitz – Fiquei surpreso e comovido com algumas lembranças de David da sua adolescência e infância em New Jersey. Há recordações de um grande lirismo nessa parte da entrevista.

Convençam alguém a ler The Soprano Sessions em 50 palavras ou menos.  Seitz – Você tem de colocar a série no sofá do analista e ser a dra. Jennifer Melfi.  Sepinwall – Você tem uma desculpa para revisitar uma das melhores e mais influentes séries produzidas até hoje. E ter um vislumbre fantástico do homem que a produziu e de todas as decisões tomadas, incluindo o final que, 10 anos depois, você ainda está discutindo. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

O mundo da TV hoje “mal se assemelha àquele em que o carro SUV de Tony Soprano, vivido por James Gandolfini (1961-2013), rodava nos idos de 1999” escrevem os críticos Matt Zoller Zeitz e Alan Sepinwall em The Soprano Sessions (Abrams Press). “Todos os aspectos da série que outrora sobressaltou os espectadores acabaram sendo aceitos: serialização, ambiguidade moral e narrativa; anti-heróis ou vilões como protagonistas principais; a beleza pela própria beleza.” 

James Gandolfini, ao centro, como Tony Soprano Foto: Craig Blankenhorn/HBO via The New York Times

O livro, que está sendo publicado para coincidir com o 20.º aniversário da estreia da série, inclui recapitulações detalhadas de cada episódio, várias entrevistas que os dois autores realizaram com o criador da série, David Chase, um debate sobre o tão discutido momento final do último episódio; e comentários de Seitz e Sepinwall publicados no jornal The Star Ledger, de New Jersey, quando Os Sopranos originalmente foi ao ar. Abaixo Zeitz, critico de TV da revista New York, e Sepinwall, crítico de TV da Rolling Stone, falam sobre o ambíguo final da série, as lembranças de Chase e mais.

Quando tiveram a ideia de escrever esse livro?   Matt Zoller Seitz – Sou diretor criativo do Split Screens Festival e no nosso primeiro ano, em 2017, concedemos um prêmio a David Chase. O evento foi bem e ele era uma pessoa muito vivaz e divertida. Com o 20.º aniversário da série chegando pareceu-nos um bom momento. E Alan era a pessoa com quem eu queria escrever a história, uma vez que fizemos muita coisa envolvendo o programa e já escrevemos juntos antes. Alan Sepinwall – Foi uma boa desculpa para nos reunirmos e também nostálgica da época em que trabalhamos juntos no The Star Ledger. Muitas das coisas que escrevemos não existiriam sem essa série única. O aniversário dela sem dúvida nos forçou e foi uma desculpa para realizarmos esse trabalho e estou feliz com ele porque não tenho certeza se um dia voltaria a assistir à série inteira, que é excelente.

O que mais os surpreendeu quando escreviam o livro?   Sepinwall – Sabíamos que iríamos falar com David Chase sobre o programa e que cobriríamos tudo. E começamos a nos perguntar: será que ele dirá alguma coisa sobre o final? Sabíamos que isso acabaria surgindo na sétima das oito entrevistas que fizemos com ele. Mas na sexta, fiz aleatoriamente uma pergunta a ele sobre a preparação para o final e ele disse: “Bem eu tinha há anos aquela cena da morte na cabeça”, e eu não disse nada porque tive medo de ele se desdizer. Mas então Matt entrou na conversa e disse: “David, você percebeu que acabou de dizer ‘cena da morte’?”. Não sei se tivemos uma resposta definitiva, mas conversamos sobre as intenções dele para a série que jamais imaginei que ele diria. Seitz – Não conseguimos que ele admitisse que Tony morreu ou algo parecido. Ele disse que a intenção original era dar apenas indícios de que Tony morreu, mas abandonou a ideia e buscou algo mais filosófico. Mas David disse coisas intencionais sem realmente ser intencional. Perguntei a ele se era possível que uma vida inteira consumindo filmes de gângsteres, em que os heróis morrem no fim, o tivesse marcado. Ele respondeu: “É possível”.

Em que aspecto o livro que vocês escreveram é diferente daquele que pretendiam escrever?

Seitz – Nós discutimos para incluir excertos do que escrevemos quando estávamos no The Star Ledger. Queria que parte daquilo ficasse preservado porque muita coisa não está disponível online. Mas também queria dar um sentido do que estávamos pensando sobre a série quando ela surgiu como algo novo e não havia nada parecido. Acabamos deixando isso de lado de maneira que o que escrevemos com relação a James Gandolfini ficou na própria seção dedicada a ele e isso acabou dando uma sensação de tristeza no final. Tony pode ou não ter morrido, mas o artista que o interpretou morreu e isso foi sentido como o fim. Sepinwall – Eu estava focado nos detalhes. Pretendia fazer a Chase muitas perguntas específicas: por que isso aconteceu? Por que aquilo? Fale sobre esse ou aquele antecedente da história. Mas com frequência ele não se lembrava ou não estava interessado em detalhar. Conversamos sobre o sentimento por trás de tudo. Mas Chase acabou falando muito mais dos próprios instintos criativos, como muita coisa do que faz é visceral e acho que a entrevista ficou mais interessante do que aquela que pensava fazer inicialmente. Seitz – Fiquei surpreso e comovido com algumas lembranças de David da sua adolescência e infância em New Jersey. Há recordações de um grande lirismo nessa parte da entrevista.

Convençam alguém a ler The Soprano Sessions em 50 palavras ou menos.  Seitz – Você tem de colocar a série no sofá do analista e ser a dra. Jennifer Melfi.  Sepinwall – Você tem uma desculpa para revisitar uma das melhores e mais influentes séries produzidas até hoje. E ter um vislumbre fantástico do homem que a produziu e de todas as decisões tomadas, incluindo o final que, 10 anos depois, você ainda está discutindo. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

O mundo da TV hoje “mal se assemelha àquele em que o carro SUV de Tony Soprano, vivido por James Gandolfini (1961-2013), rodava nos idos de 1999” escrevem os críticos Matt Zoller Zeitz e Alan Sepinwall em The Soprano Sessions (Abrams Press). “Todos os aspectos da série que outrora sobressaltou os espectadores acabaram sendo aceitos: serialização, ambiguidade moral e narrativa; anti-heróis ou vilões como protagonistas principais; a beleza pela própria beleza.” 

James Gandolfini, ao centro, como Tony Soprano Foto: Craig Blankenhorn/HBO via The New York Times

O livro, que está sendo publicado para coincidir com o 20.º aniversário da estreia da série, inclui recapitulações detalhadas de cada episódio, várias entrevistas que os dois autores realizaram com o criador da série, David Chase, um debate sobre o tão discutido momento final do último episódio; e comentários de Seitz e Sepinwall publicados no jornal The Star Ledger, de New Jersey, quando Os Sopranos originalmente foi ao ar. Abaixo Zeitz, critico de TV da revista New York, e Sepinwall, crítico de TV da Rolling Stone, falam sobre o ambíguo final da série, as lembranças de Chase e mais.

Quando tiveram a ideia de escrever esse livro?   Matt Zoller Seitz – Sou diretor criativo do Split Screens Festival e no nosso primeiro ano, em 2017, concedemos um prêmio a David Chase. O evento foi bem e ele era uma pessoa muito vivaz e divertida. Com o 20.º aniversário da série chegando pareceu-nos um bom momento. E Alan era a pessoa com quem eu queria escrever a história, uma vez que fizemos muita coisa envolvendo o programa e já escrevemos juntos antes. Alan Sepinwall – Foi uma boa desculpa para nos reunirmos e também nostálgica da época em que trabalhamos juntos no The Star Ledger. Muitas das coisas que escrevemos não existiriam sem essa série única. O aniversário dela sem dúvida nos forçou e foi uma desculpa para realizarmos esse trabalho e estou feliz com ele porque não tenho certeza se um dia voltaria a assistir à série inteira, que é excelente.

O que mais os surpreendeu quando escreviam o livro?   Sepinwall – Sabíamos que iríamos falar com David Chase sobre o programa e que cobriríamos tudo. E começamos a nos perguntar: será que ele dirá alguma coisa sobre o final? Sabíamos que isso acabaria surgindo na sétima das oito entrevistas que fizemos com ele. Mas na sexta, fiz aleatoriamente uma pergunta a ele sobre a preparação para o final e ele disse: “Bem eu tinha há anos aquela cena da morte na cabeça”, e eu não disse nada porque tive medo de ele se desdizer. Mas então Matt entrou na conversa e disse: “David, você percebeu que acabou de dizer ‘cena da morte’?”. Não sei se tivemos uma resposta definitiva, mas conversamos sobre as intenções dele para a série que jamais imaginei que ele diria. Seitz – Não conseguimos que ele admitisse que Tony morreu ou algo parecido. Ele disse que a intenção original era dar apenas indícios de que Tony morreu, mas abandonou a ideia e buscou algo mais filosófico. Mas David disse coisas intencionais sem realmente ser intencional. Perguntei a ele se era possível que uma vida inteira consumindo filmes de gângsteres, em que os heróis morrem no fim, o tivesse marcado. Ele respondeu: “É possível”.

Em que aspecto o livro que vocês escreveram é diferente daquele que pretendiam escrever?

Seitz – Nós discutimos para incluir excertos do que escrevemos quando estávamos no The Star Ledger. Queria que parte daquilo ficasse preservado porque muita coisa não está disponível online. Mas também queria dar um sentido do que estávamos pensando sobre a série quando ela surgiu como algo novo e não havia nada parecido. Acabamos deixando isso de lado de maneira que o que escrevemos com relação a James Gandolfini ficou na própria seção dedicada a ele e isso acabou dando uma sensação de tristeza no final. Tony pode ou não ter morrido, mas o artista que o interpretou morreu e isso foi sentido como o fim. Sepinwall – Eu estava focado nos detalhes. Pretendia fazer a Chase muitas perguntas específicas: por que isso aconteceu? Por que aquilo? Fale sobre esse ou aquele antecedente da história. Mas com frequência ele não se lembrava ou não estava interessado em detalhar. Conversamos sobre o sentimento por trás de tudo. Mas Chase acabou falando muito mais dos próprios instintos criativos, como muita coisa do que faz é visceral e acho que a entrevista ficou mais interessante do que aquela que pensava fazer inicialmente. Seitz – Fiquei surpreso e comovido com algumas lembranças de David da sua adolescência e infância em New Jersey. Há recordações de um grande lirismo nessa parte da entrevista.

Convençam alguém a ler The Soprano Sessions em 50 palavras ou menos.  Seitz – Você tem de colocar a série no sofá do analista e ser a dra. Jennifer Melfi.  Sepinwall – Você tem uma desculpa para revisitar uma das melhores e mais influentes séries produzidas até hoje. E ter um vislumbre fantástico do homem que a produziu e de todas as decisões tomadas, incluindo o final que, 10 anos depois, você ainda está discutindo. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

O mundo da TV hoje “mal se assemelha àquele em que o carro SUV de Tony Soprano, vivido por James Gandolfini (1961-2013), rodava nos idos de 1999” escrevem os críticos Matt Zoller Zeitz e Alan Sepinwall em The Soprano Sessions (Abrams Press). “Todos os aspectos da série que outrora sobressaltou os espectadores acabaram sendo aceitos: serialização, ambiguidade moral e narrativa; anti-heróis ou vilões como protagonistas principais; a beleza pela própria beleza.” 

James Gandolfini, ao centro, como Tony Soprano Foto: Craig Blankenhorn/HBO via The New York Times

O livro, que está sendo publicado para coincidir com o 20.º aniversário da estreia da série, inclui recapitulações detalhadas de cada episódio, várias entrevistas que os dois autores realizaram com o criador da série, David Chase, um debate sobre o tão discutido momento final do último episódio; e comentários de Seitz e Sepinwall publicados no jornal The Star Ledger, de New Jersey, quando Os Sopranos originalmente foi ao ar. Abaixo Zeitz, critico de TV da revista New York, e Sepinwall, crítico de TV da Rolling Stone, falam sobre o ambíguo final da série, as lembranças de Chase e mais.

Quando tiveram a ideia de escrever esse livro?   Matt Zoller Seitz – Sou diretor criativo do Split Screens Festival e no nosso primeiro ano, em 2017, concedemos um prêmio a David Chase. O evento foi bem e ele era uma pessoa muito vivaz e divertida. Com o 20.º aniversário da série chegando pareceu-nos um bom momento. E Alan era a pessoa com quem eu queria escrever a história, uma vez que fizemos muita coisa envolvendo o programa e já escrevemos juntos antes. Alan Sepinwall – Foi uma boa desculpa para nos reunirmos e também nostálgica da época em que trabalhamos juntos no The Star Ledger. Muitas das coisas que escrevemos não existiriam sem essa série única. O aniversário dela sem dúvida nos forçou e foi uma desculpa para realizarmos esse trabalho e estou feliz com ele porque não tenho certeza se um dia voltaria a assistir à série inteira, que é excelente.

O que mais os surpreendeu quando escreviam o livro?   Sepinwall – Sabíamos que iríamos falar com David Chase sobre o programa e que cobriríamos tudo. E começamos a nos perguntar: será que ele dirá alguma coisa sobre o final? Sabíamos que isso acabaria surgindo na sétima das oito entrevistas que fizemos com ele. Mas na sexta, fiz aleatoriamente uma pergunta a ele sobre a preparação para o final e ele disse: “Bem eu tinha há anos aquela cena da morte na cabeça”, e eu não disse nada porque tive medo de ele se desdizer. Mas então Matt entrou na conversa e disse: “David, você percebeu que acabou de dizer ‘cena da morte’?”. Não sei se tivemos uma resposta definitiva, mas conversamos sobre as intenções dele para a série que jamais imaginei que ele diria. Seitz – Não conseguimos que ele admitisse que Tony morreu ou algo parecido. Ele disse que a intenção original era dar apenas indícios de que Tony morreu, mas abandonou a ideia e buscou algo mais filosófico. Mas David disse coisas intencionais sem realmente ser intencional. Perguntei a ele se era possível que uma vida inteira consumindo filmes de gângsteres, em que os heróis morrem no fim, o tivesse marcado. Ele respondeu: “É possível”.

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Seitz – Nós discutimos para incluir excertos do que escrevemos quando estávamos no The Star Ledger. Queria que parte daquilo ficasse preservado porque muita coisa não está disponível online. Mas também queria dar um sentido do que estávamos pensando sobre a série quando ela surgiu como algo novo e não havia nada parecido. Acabamos deixando isso de lado de maneira que o que escrevemos com relação a James Gandolfini ficou na própria seção dedicada a ele e isso acabou dando uma sensação de tristeza no final. Tony pode ou não ter morrido, mas o artista que o interpretou morreu e isso foi sentido como o fim. Sepinwall – Eu estava focado nos detalhes. Pretendia fazer a Chase muitas perguntas específicas: por que isso aconteceu? Por que aquilo? Fale sobre esse ou aquele antecedente da história. Mas com frequência ele não se lembrava ou não estava interessado em detalhar. Conversamos sobre o sentimento por trás de tudo. Mas Chase acabou falando muito mais dos próprios instintos criativos, como muita coisa do que faz é visceral e acho que a entrevista ficou mais interessante do que aquela que pensava fazer inicialmente. Seitz – Fiquei surpreso e comovido com algumas lembranças de David da sua adolescência e infância em New Jersey. Há recordações de um grande lirismo nessa parte da entrevista.

Convençam alguém a ler The Soprano Sessions em 50 palavras ou menos.  Seitz – Você tem de colocar a série no sofá do analista e ser a dra. Jennifer Melfi.  Sepinwall – Você tem uma desculpa para revisitar uma das melhores e mais influentes séries produzidas até hoje. E ter um vislumbre fantástico do homem que a produziu e de todas as decisões tomadas, incluindo o final que, 10 anos depois, você ainda está discutindo. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

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