Mister M escapou da morte, ouviu recado do além e veio morar em SP: ‘Estive em outra dimensão’


Famoso ilusionista mascarado, sucesso do ‘Fantástico’ no fim dos anos 90, anda pela Avenida Paulista com o ‘Estadão’ e fala sobre experiência transcendental após vencer batalha contra um câncer: ‘Aguardo com expectativa a próxima vida’; veja vídeo

Por Gabriel Zorzetto
Foto: Tiago Queiroz/Estadão
Entrevista comMister MPersonagem de Val Valentino

Mister M esteve no céu – de maneira física e metafísica. Isso porque o famoso mágico, sucesso do Fantástico no fim dos anos 90 e lembrado até hoje por seus truques mirabolantes de ilusionismo, deu uma entrevista ao Estadão nas alturas de São Paulo, no 30º andar de um prédio na região da Paulista, no bar The View.

O homem por trás da máscara, o norte-americano Val Valentino, de 68 anos, no entanto, já havia visitado o “céu” quando fazia o tratamento contra um câncer de próstata. A árdua batalha o matou por três minutos e meio, ele conta, curto período que o levou a uma experiência transcendental para ouvir um recado da falecida mãe: ‘Vá para o Brasil’.

continua após a publicidade

Valentino acatou a mensagem do além e se curou no país com o qual nutre uma relação especial. Hoje, ele namora uma brasileira, a influenciadora digital Flávia Romani, a quem escuta antes de tomar qualquer decisão. Prudência redobrada após o mágico ter sido enganado por empresários brasileiros e perdido muito dinheiro nos últimos anos. O novo casal, que mora na capital paulista, gosta de frequentar os bons restaurantes que a metrópole oferece.

Após o papo com o Estadão, o “Mago dos Magos”, “Príncipe Negro” ou “Paladino Mascarado”, como anunciava a épica voz de Cid Moreira, saiu acompanhado da reportagem para uma sessão de fotos na Avenida Paulista. Sob múltiplos olhares curiosos, o ilusionista tirou selfies com fãs e saudou motoristas que gritavam seu nome com alegria. Algumas crianças ficaram intrigadas pela figura misteriosa que desconheciam.

continua após a publicidade

- ‘Ele é mágico, né? Pede para ele fazer uma mágica então!’, cobrou uma delas ao repórter.

- ‘Sim, mas ele não faz esse tipo de mágica, com baralhos ou coisas simples’, respondi.

- ‘Ué, que tipo de mágica ele faz?’, retrucou o garotinho.

continua após a publicidade

- ‘Ele corta pessoas no meio e faz elefantes desaparecerem’, expliquei, para um olhar surpreso a aterrorizado da criança.

Estou em uma missão. Não vou desistir. Às vezes há problemas no caminho, mas você passa por cima ou por baixo do problema. E continua. Não é sobre mim. É sobre o que eu posso dar e o que eu posso compartilhar para mudar e melhorar a vida das pessoas”

Mister M

Como surgiu seu interesse pela mágica?

continua após a publicidade

Acredito que remonta à minha família. Sou metade mexicano e metade irlandês. Do lado mexicano, minha avó era uma curandeira em Albuquerque, Novo México. Então, acredito que tenho o DNA dela para curar, para a mágica. E essa é a única explicação que eu tenho de como a mágica é tão interessante na minha vida.

Val Valentino, conhecido como Mister M, na Avenida Paulista; ilusionista está vivendo em São Paulo Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Certo, mas quando você descobriu que esse era o caminho que iria seguir?

continua após a publicidade

Com três anos, eu sabia que era um mágico. Minhas únicas influências vinham da televisão. Houdini é uma grande influência para todos. Fiz muitos dos truques do Houdini que eram perigosos, e por causa deles eu quase poderia ter perdido a minha vida. No jardim de infância, quando eu estava na primeira série, minha professora falava: ‘Escreva o que você quer ser quando crescer’. Eu escrevi: ‘Não é que eu queira ser um mágico. Eu já sou um mágico aos seis anos’. Aquela era minha mentalidade.

Nos anos 90, você trabalhou em Las Vegas. Sei que o que acontece em Vegas fica em Vegas, mas você pode compartilhar alguma história maluca daqueles dias?

Las Vegas foi maravilhosa. Eu cresci no leste de Los Angeles, onde há muitas gangues e crime organizado. E a mágica foi uma saída para mim. Nenhum outro mágico teve essa experiência, mas eu tive. Há muitas histórias loucas (risos). Um dos cassinos em que eu trabalhei foi o Sands Hotel Copa Room, onde cantaram Frank Sinatra, The Rat Pack... Havia assinaturas deles na parede. Eu trabalhei nesse teatro por cinco anos. E houve uma vez em que eu estava segurando dois patos no fim do meu ato. E as luzes se apagam. Fim do meu show. Eu caí do palco com dois patos. Tentando salvar os patos, caí na parte de trás de uma cadeira e quebrei minhas costelas. Foi um desastre. Mas sabe de uma coisa? Eu ainda fiz o próximo show, o próximo e o próximo. Eu não parei de me apresentar. Isso é dedicação.

continua após a publicidade
Mister M optou por dar a entrevista mascarado, no bar The View, na região da Paulista Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Como o personagem Mister M ganhou vida?

Foi um processo longo. A Fox Network queria fazer um programa revelando segredos da mágica. Eles tinham uma ideia mais ou menos. Viajaram o mundo procurando pelo mágico certo. Quando me encontraram, foi como mágica. Eu sabia no meu coração que isso seria incrível. E demorou um tempo para fechar o acordo com a Fox. Então, tive uma grande participação para torná-lo completamente diferente do que as pessoas estavam acostumadas a ver mágicos fazerem naquela época. E se tornou um sucesso. O especial de TV mais assistido na Fox, mais visto do que a World Series de Baseball. Sou conhecido apenas no Brasil como Mister M. No resto do mundo, sou The Masked Magician [O Mágico Mascarado]. Mas no dialeto brasileiro, a língua, é complicado dizer isso. Então, para facilitar, virou Mister M.

E como começou sua relação com o ‘Fantástico’?

A Globo comprou os programas da Fox e fez uma série incrível no Fantástico durante o ano todo. Eles fizeram um trabalho maravilhoso, todo domingo. Era meio tarde, mas as famílias se reuniam sempre. E a voz de Cid Moreira... Eu amo ele. Deus os abençoe. Não havia muita mágica acontecendo no Brasil. Até hoje não há, mas estou aqui para mudar isso.

Você se distinguiu por revelar os segredos por trás de seus truques. Por que fez essa escolha?

Meu show foi provavelmente um dos últimos programas que as famílias se reuniam. Por causa da internet. Depois disso, todo mundo teve seus próprios celulares, inclusive as crianças. Agora as famílias estão separadas, assistindo a seus próprios programas. Por algum motivo, tive uma visão de que seria gigantesco para a mágica. E eu sabia que era a coisa certa. A hora era a certa. Foi como um download do céu que dizia: ‘você tem que fazer isso pela humanidade’.

As críticas dos outros mágicos por causa disso te incomodaram?

Sim, porque foi um momento triste. Os mágicos não conseguiam ver a visão que eu tinha. E muitos mágicos me diziam: ‘eu ainda sou seu amigo, nós ainda te amamos, mas não podemos contar a ninguém’. Então, muitos dos meus amigos foram deixados para trás. Foi um momento muito interessante, especialmente para os mágicos que queriam me matar.

Val Valentino, o Mister M, chamou atenção de pedestres e motoristas na Avenida Paulista Foto: Tiago Queiroz/Estadão

É verdade que um gângster foi contratado para te matar?

Sim, sei que juntaram dinheiro para fazer isso. Publicaram isso em revistas de mágicos. E eu fiquei surpreso. Mas, no meu coração, eu sabia que estava fazendo a coisa certa. E a longo prazo, era a coisa certa a fazer: revelar os segredos da magia.

Por que seus truques eram tão populares e fascinantes?

Escolhi ilusões que eram grandiosas, como fazer um elefante desaparecer. Ilusões que mágicos normalmente não faziam, porque exigiam muita ajuda técnica e pessoas. Isso não prejudicou os mágicos de forma alguma, pois eu explicava truques antigos, e então os mágicos bolavam uma nova maneira de fazer. Esse era o meu plano.

Depois, você trocou a Globo pelo SBT e fez outros programas...

Bem, foi apenas um progresso natural aqui no Brasil. Teve a Eliana, com o Domingo Legal. Depois veio a Ana Hickmann. Cada país têm seus programas famosos e tal.

Negócios?

Negócios, sim.

Mister M se mudou para São Paulo depois de uma experiência transcendental com a mãe, que havia morrido pouco antes Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Você passou por sérios problemas de saúde. Como foi a batalha contra o câncer?

Quando eu descobri, minha mãe estava doente. Fiquei com minha mãe por dois anos, apenas ajudando-a. Era minha principal prioridade. Então eu descobri que tinha um tumor na minha próstata. Era perigoso e não contei para muitas pessoas, nem para minha mãe, enquanto ela ainda estava viva. Foi interessante porque eu não tinha medo e acho que isso teve muito a ver com a minha cura. E a minha cura envolveu principalmente a dieta, o psicológico e a meditação. E graças a Deus ainda estou aqui hoje. Mais do que isso, não sei se você sabe, eu morri por três minutos e meio.

Sim, eu li sobre isso. Você estava no Brasil?

Não, eu estava em Los Angeles. Eu caí no chão, quebrei meu tornozelo. Fui para outra dimensão e lá eu vejo minha mãe. E ela está falando comigo. A mensagem que eu recebi [dela] foi: ‘Vá para o Brasil’. E eu precisava de um novo passaporte. Levou sete meses para conseguir um, em fevereiro de 2020. Daí eu vim para o Brasil. Três ou quatro semanas depois, a pandemia estourou. Não pude sair, porque não havia aviões voando para lugar nenhum. Então, tive que fazer uma cirurgia da próstata aqui, em 2021. Até agora está tudo bem.

Você temeu a morte?

Não, especialmente depois da experiência que eu tive. A única forma de explicar a outra dimensão é que era linda, sem medo, sem dor, somente amor. E o entendimento de que estamos aqui, mas vamos para outro lugar depois. Acredito 100% nisso. Vamos para um lugar lindo. Aguardo com expectativa a próxima vida. Acredito que continua, e continua...

E agora você está morando em São Paulo...

Sim. Primeiramente, eu amo o Brasil e o povo do Brasil. Há algo sobre a energia, onde o Brasil está na terra, perto do Equador. Eu simplesmente me apaixonei pelo Brasil. Descobri que os mágicos realmente precisavam de ajuda. Fora do Brasil, ninguém conhece os mágicos brasileiros. Então, como minha mãe me disse para vir ao Brasil, decidi ficar. Estou trabalhando em alguns projetos incríveis, que envolvem ensinar mágica para crianças. E também em relação ao turismo, para atrair muitos olhares ao Brasil, unir mágicos e o público em geral.

Pra finalizar: como o sucesso do Mister M afetou a vida do homem Val Valentino?

Me fez uma pessoa melhor. Eu vejo a vida de maneira completamente diferente. Estou em uma missão, tenho uma missão de Deus para estar aqui e fazer os projetos que estou fazendo. Não vou desistir. Às vezes há problemas no caminho, mas você passa por cima ou por baixo do problema. E continua. Não é sobre mim. É sobre o que eu posso dar e o que eu posso compartilhar para mudar e melhorar a vida das pessoas.

Val Valentino, o Mister M, ficou conhecido no Brasil nos anos 1990, com um quadro no 'Fantástico' Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Mister M esteve no céu – de maneira física e metafísica. Isso porque o famoso mágico, sucesso do Fantástico no fim dos anos 90 e lembrado até hoje por seus truques mirabolantes de ilusionismo, deu uma entrevista ao Estadão nas alturas de São Paulo, no 30º andar de um prédio na região da Paulista, no bar The View.

O homem por trás da máscara, o norte-americano Val Valentino, de 68 anos, no entanto, já havia visitado o “céu” quando fazia o tratamento contra um câncer de próstata. A árdua batalha o matou por três minutos e meio, ele conta, curto período que o levou a uma experiência transcendental para ouvir um recado da falecida mãe: ‘Vá para o Brasil’.

Valentino acatou a mensagem do além e se curou no país com o qual nutre uma relação especial. Hoje, ele namora uma brasileira, a influenciadora digital Flávia Romani, a quem escuta antes de tomar qualquer decisão. Prudência redobrada após o mágico ter sido enganado por empresários brasileiros e perdido muito dinheiro nos últimos anos. O novo casal, que mora na capital paulista, gosta de frequentar os bons restaurantes que a metrópole oferece.

Após o papo com o Estadão, o “Mago dos Magos”, “Príncipe Negro” ou “Paladino Mascarado”, como anunciava a épica voz de Cid Moreira, saiu acompanhado da reportagem para uma sessão de fotos na Avenida Paulista. Sob múltiplos olhares curiosos, o ilusionista tirou selfies com fãs e saudou motoristas que gritavam seu nome com alegria. Algumas crianças ficaram intrigadas pela figura misteriosa que desconheciam.

- ‘Ele é mágico, né? Pede para ele fazer uma mágica então!’, cobrou uma delas ao repórter.

- ‘Sim, mas ele não faz esse tipo de mágica, com baralhos ou coisas simples’, respondi.

- ‘Ué, que tipo de mágica ele faz?’, retrucou o garotinho.

- ‘Ele corta pessoas no meio e faz elefantes desaparecerem’, expliquei, para um olhar surpreso a aterrorizado da criança.

Estou em uma missão. Não vou desistir. Às vezes há problemas no caminho, mas você passa por cima ou por baixo do problema. E continua. Não é sobre mim. É sobre o que eu posso dar e o que eu posso compartilhar para mudar e melhorar a vida das pessoas”

Mister M

Como surgiu seu interesse pela mágica?

Acredito que remonta à minha família. Sou metade mexicano e metade irlandês. Do lado mexicano, minha avó era uma curandeira em Albuquerque, Novo México. Então, acredito que tenho o DNA dela para curar, para a mágica. E essa é a única explicação que eu tenho de como a mágica é tão interessante na minha vida.

Val Valentino, conhecido como Mister M, na Avenida Paulista; ilusionista está vivendo em São Paulo Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Certo, mas quando você descobriu que esse era o caminho que iria seguir?

Com três anos, eu sabia que era um mágico. Minhas únicas influências vinham da televisão. Houdini é uma grande influência para todos. Fiz muitos dos truques do Houdini que eram perigosos, e por causa deles eu quase poderia ter perdido a minha vida. No jardim de infância, quando eu estava na primeira série, minha professora falava: ‘Escreva o que você quer ser quando crescer’. Eu escrevi: ‘Não é que eu queira ser um mágico. Eu já sou um mágico aos seis anos’. Aquela era minha mentalidade.

Nos anos 90, você trabalhou em Las Vegas. Sei que o que acontece em Vegas fica em Vegas, mas você pode compartilhar alguma história maluca daqueles dias?

Las Vegas foi maravilhosa. Eu cresci no leste de Los Angeles, onde há muitas gangues e crime organizado. E a mágica foi uma saída para mim. Nenhum outro mágico teve essa experiência, mas eu tive. Há muitas histórias loucas (risos). Um dos cassinos em que eu trabalhei foi o Sands Hotel Copa Room, onde cantaram Frank Sinatra, The Rat Pack... Havia assinaturas deles na parede. Eu trabalhei nesse teatro por cinco anos. E houve uma vez em que eu estava segurando dois patos no fim do meu ato. E as luzes se apagam. Fim do meu show. Eu caí do palco com dois patos. Tentando salvar os patos, caí na parte de trás de uma cadeira e quebrei minhas costelas. Foi um desastre. Mas sabe de uma coisa? Eu ainda fiz o próximo show, o próximo e o próximo. Eu não parei de me apresentar. Isso é dedicação.

Mister M optou por dar a entrevista mascarado, no bar The View, na região da Paulista Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Como o personagem Mister M ganhou vida?

Foi um processo longo. A Fox Network queria fazer um programa revelando segredos da mágica. Eles tinham uma ideia mais ou menos. Viajaram o mundo procurando pelo mágico certo. Quando me encontraram, foi como mágica. Eu sabia no meu coração que isso seria incrível. E demorou um tempo para fechar o acordo com a Fox. Então, tive uma grande participação para torná-lo completamente diferente do que as pessoas estavam acostumadas a ver mágicos fazerem naquela época. E se tornou um sucesso. O especial de TV mais assistido na Fox, mais visto do que a World Series de Baseball. Sou conhecido apenas no Brasil como Mister M. No resto do mundo, sou The Masked Magician [O Mágico Mascarado]. Mas no dialeto brasileiro, a língua, é complicado dizer isso. Então, para facilitar, virou Mister M.

E como começou sua relação com o ‘Fantástico’?

A Globo comprou os programas da Fox e fez uma série incrível no Fantástico durante o ano todo. Eles fizeram um trabalho maravilhoso, todo domingo. Era meio tarde, mas as famílias se reuniam sempre. E a voz de Cid Moreira... Eu amo ele. Deus os abençoe. Não havia muita mágica acontecendo no Brasil. Até hoje não há, mas estou aqui para mudar isso.

Você se distinguiu por revelar os segredos por trás de seus truques. Por que fez essa escolha?

Meu show foi provavelmente um dos últimos programas que as famílias se reuniam. Por causa da internet. Depois disso, todo mundo teve seus próprios celulares, inclusive as crianças. Agora as famílias estão separadas, assistindo a seus próprios programas. Por algum motivo, tive uma visão de que seria gigantesco para a mágica. E eu sabia que era a coisa certa. A hora era a certa. Foi como um download do céu que dizia: ‘você tem que fazer isso pela humanidade’.

As críticas dos outros mágicos por causa disso te incomodaram?

Sim, porque foi um momento triste. Os mágicos não conseguiam ver a visão que eu tinha. E muitos mágicos me diziam: ‘eu ainda sou seu amigo, nós ainda te amamos, mas não podemos contar a ninguém’. Então, muitos dos meus amigos foram deixados para trás. Foi um momento muito interessante, especialmente para os mágicos que queriam me matar.

Val Valentino, o Mister M, chamou atenção de pedestres e motoristas na Avenida Paulista Foto: Tiago Queiroz/Estadão

É verdade que um gângster foi contratado para te matar?

Sim, sei que juntaram dinheiro para fazer isso. Publicaram isso em revistas de mágicos. E eu fiquei surpreso. Mas, no meu coração, eu sabia que estava fazendo a coisa certa. E a longo prazo, era a coisa certa a fazer: revelar os segredos da magia.

Por que seus truques eram tão populares e fascinantes?

Escolhi ilusões que eram grandiosas, como fazer um elefante desaparecer. Ilusões que mágicos normalmente não faziam, porque exigiam muita ajuda técnica e pessoas. Isso não prejudicou os mágicos de forma alguma, pois eu explicava truques antigos, e então os mágicos bolavam uma nova maneira de fazer. Esse era o meu plano.

Depois, você trocou a Globo pelo SBT e fez outros programas...

Bem, foi apenas um progresso natural aqui no Brasil. Teve a Eliana, com o Domingo Legal. Depois veio a Ana Hickmann. Cada país têm seus programas famosos e tal.

Negócios?

Negócios, sim.

Mister M se mudou para São Paulo depois de uma experiência transcendental com a mãe, que havia morrido pouco antes Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Você passou por sérios problemas de saúde. Como foi a batalha contra o câncer?

Quando eu descobri, minha mãe estava doente. Fiquei com minha mãe por dois anos, apenas ajudando-a. Era minha principal prioridade. Então eu descobri que tinha um tumor na minha próstata. Era perigoso e não contei para muitas pessoas, nem para minha mãe, enquanto ela ainda estava viva. Foi interessante porque eu não tinha medo e acho que isso teve muito a ver com a minha cura. E a minha cura envolveu principalmente a dieta, o psicológico e a meditação. E graças a Deus ainda estou aqui hoje. Mais do que isso, não sei se você sabe, eu morri por três minutos e meio.

Sim, eu li sobre isso. Você estava no Brasil?

Não, eu estava em Los Angeles. Eu caí no chão, quebrei meu tornozelo. Fui para outra dimensão e lá eu vejo minha mãe. E ela está falando comigo. A mensagem que eu recebi [dela] foi: ‘Vá para o Brasil’. E eu precisava de um novo passaporte. Levou sete meses para conseguir um, em fevereiro de 2020. Daí eu vim para o Brasil. Três ou quatro semanas depois, a pandemia estourou. Não pude sair, porque não havia aviões voando para lugar nenhum. Então, tive que fazer uma cirurgia da próstata aqui, em 2021. Até agora está tudo bem.

Você temeu a morte?

Não, especialmente depois da experiência que eu tive. A única forma de explicar a outra dimensão é que era linda, sem medo, sem dor, somente amor. E o entendimento de que estamos aqui, mas vamos para outro lugar depois. Acredito 100% nisso. Vamos para um lugar lindo. Aguardo com expectativa a próxima vida. Acredito que continua, e continua...

E agora você está morando em São Paulo...

Sim. Primeiramente, eu amo o Brasil e o povo do Brasil. Há algo sobre a energia, onde o Brasil está na terra, perto do Equador. Eu simplesmente me apaixonei pelo Brasil. Descobri que os mágicos realmente precisavam de ajuda. Fora do Brasil, ninguém conhece os mágicos brasileiros. Então, como minha mãe me disse para vir ao Brasil, decidi ficar. Estou trabalhando em alguns projetos incríveis, que envolvem ensinar mágica para crianças. E também em relação ao turismo, para atrair muitos olhares ao Brasil, unir mágicos e o público em geral.

Pra finalizar: como o sucesso do Mister M afetou a vida do homem Val Valentino?

Me fez uma pessoa melhor. Eu vejo a vida de maneira completamente diferente. Estou em uma missão, tenho uma missão de Deus para estar aqui e fazer os projetos que estou fazendo. Não vou desistir. Às vezes há problemas no caminho, mas você passa por cima ou por baixo do problema. E continua. Não é sobre mim. É sobre o que eu posso dar e o que eu posso compartilhar para mudar e melhorar a vida das pessoas.

Val Valentino, o Mister M, ficou conhecido no Brasil nos anos 1990, com um quadro no 'Fantástico' Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Mister M esteve no céu – de maneira física e metafísica. Isso porque o famoso mágico, sucesso do Fantástico no fim dos anos 90 e lembrado até hoje por seus truques mirabolantes de ilusionismo, deu uma entrevista ao Estadão nas alturas de São Paulo, no 30º andar de um prédio na região da Paulista, no bar The View.

O homem por trás da máscara, o norte-americano Val Valentino, de 68 anos, no entanto, já havia visitado o “céu” quando fazia o tratamento contra um câncer de próstata. A árdua batalha o matou por três minutos e meio, ele conta, curto período que o levou a uma experiência transcendental para ouvir um recado da falecida mãe: ‘Vá para o Brasil’.

Valentino acatou a mensagem do além e se curou no país com o qual nutre uma relação especial. Hoje, ele namora uma brasileira, a influenciadora digital Flávia Romani, a quem escuta antes de tomar qualquer decisão. Prudência redobrada após o mágico ter sido enganado por empresários brasileiros e perdido muito dinheiro nos últimos anos. O novo casal, que mora na capital paulista, gosta de frequentar os bons restaurantes que a metrópole oferece.

Após o papo com o Estadão, o “Mago dos Magos”, “Príncipe Negro” ou “Paladino Mascarado”, como anunciava a épica voz de Cid Moreira, saiu acompanhado da reportagem para uma sessão de fotos na Avenida Paulista. Sob múltiplos olhares curiosos, o ilusionista tirou selfies com fãs e saudou motoristas que gritavam seu nome com alegria. Algumas crianças ficaram intrigadas pela figura misteriosa que desconheciam.

- ‘Ele é mágico, né? Pede para ele fazer uma mágica então!’, cobrou uma delas ao repórter.

- ‘Sim, mas ele não faz esse tipo de mágica, com baralhos ou coisas simples’, respondi.

- ‘Ué, que tipo de mágica ele faz?’, retrucou o garotinho.

- ‘Ele corta pessoas no meio e faz elefantes desaparecerem’, expliquei, para um olhar surpreso a aterrorizado da criança.

Estou em uma missão. Não vou desistir. Às vezes há problemas no caminho, mas você passa por cima ou por baixo do problema. E continua. Não é sobre mim. É sobre o que eu posso dar e o que eu posso compartilhar para mudar e melhorar a vida das pessoas”

Mister M

Como surgiu seu interesse pela mágica?

Acredito que remonta à minha família. Sou metade mexicano e metade irlandês. Do lado mexicano, minha avó era uma curandeira em Albuquerque, Novo México. Então, acredito que tenho o DNA dela para curar, para a mágica. E essa é a única explicação que eu tenho de como a mágica é tão interessante na minha vida.

Val Valentino, conhecido como Mister M, na Avenida Paulista; ilusionista está vivendo em São Paulo Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Certo, mas quando você descobriu que esse era o caminho que iria seguir?

Com três anos, eu sabia que era um mágico. Minhas únicas influências vinham da televisão. Houdini é uma grande influência para todos. Fiz muitos dos truques do Houdini que eram perigosos, e por causa deles eu quase poderia ter perdido a minha vida. No jardim de infância, quando eu estava na primeira série, minha professora falava: ‘Escreva o que você quer ser quando crescer’. Eu escrevi: ‘Não é que eu queira ser um mágico. Eu já sou um mágico aos seis anos’. Aquela era minha mentalidade.

Nos anos 90, você trabalhou em Las Vegas. Sei que o que acontece em Vegas fica em Vegas, mas você pode compartilhar alguma história maluca daqueles dias?

Las Vegas foi maravilhosa. Eu cresci no leste de Los Angeles, onde há muitas gangues e crime organizado. E a mágica foi uma saída para mim. Nenhum outro mágico teve essa experiência, mas eu tive. Há muitas histórias loucas (risos). Um dos cassinos em que eu trabalhei foi o Sands Hotel Copa Room, onde cantaram Frank Sinatra, The Rat Pack... Havia assinaturas deles na parede. Eu trabalhei nesse teatro por cinco anos. E houve uma vez em que eu estava segurando dois patos no fim do meu ato. E as luzes se apagam. Fim do meu show. Eu caí do palco com dois patos. Tentando salvar os patos, caí na parte de trás de uma cadeira e quebrei minhas costelas. Foi um desastre. Mas sabe de uma coisa? Eu ainda fiz o próximo show, o próximo e o próximo. Eu não parei de me apresentar. Isso é dedicação.

Mister M optou por dar a entrevista mascarado, no bar The View, na região da Paulista Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Como o personagem Mister M ganhou vida?

Foi um processo longo. A Fox Network queria fazer um programa revelando segredos da mágica. Eles tinham uma ideia mais ou menos. Viajaram o mundo procurando pelo mágico certo. Quando me encontraram, foi como mágica. Eu sabia no meu coração que isso seria incrível. E demorou um tempo para fechar o acordo com a Fox. Então, tive uma grande participação para torná-lo completamente diferente do que as pessoas estavam acostumadas a ver mágicos fazerem naquela época. E se tornou um sucesso. O especial de TV mais assistido na Fox, mais visto do que a World Series de Baseball. Sou conhecido apenas no Brasil como Mister M. No resto do mundo, sou The Masked Magician [O Mágico Mascarado]. Mas no dialeto brasileiro, a língua, é complicado dizer isso. Então, para facilitar, virou Mister M.

E como começou sua relação com o ‘Fantástico’?

A Globo comprou os programas da Fox e fez uma série incrível no Fantástico durante o ano todo. Eles fizeram um trabalho maravilhoso, todo domingo. Era meio tarde, mas as famílias se reuniam sempre. E a voz de Cid Moreira... Eu amo ele. Deus os abençoe. Não havia muita mágica acontecendo no Brasil. Até hoje não há, mas estou aqui para mudar isso.

Você se distinguiu por revelar os segredos por trás de seus truques. Por que fez essa escolha?

Meu show foi provavelmente um dos últimos programas que as famílias se reuniam. Por causa da internet. Depois disso, todo mundo teve seus próprios celulares, inclusive as crianças. Agora as famílias estão separadas, assistindo a seus próprios programas. Por algum motivo, tive uma visão de que seria gigantesco para a mágica. E eu sabia que era a coisa certa. A hora era a certa. Foi como um download do céu que dizia: ‘você tem que fazer isso pela humanidade’.

As críticas dos outros mágicos por causa disso te incomodaram?

Sim, porque foi um momento triste. Os mágicos não conseguiam ver a visão que eu tinha. E muitos mágicos me diziam: ‘eu ainda sou seu amigo, nós ainda te amamos, mas não podemos contar a ninguém’. Então, muitos dos meus amigos foram deixados para trás. Foi um momento muito interessante, especialmente para os mágicos que queriam me matar.

Val Valentino, o Mister M, chamou atenção de pedestres e motoristas na Avenida Paulista Foto: Tiago Queiroz/Estadão

É verdade que um gângster foi contratado para te matar?

Sim, sei que juntaram dinheiro para fazer isso. Publicaram isso em revistas de mágicos. E eu fiquei surpreso. Mas, no meu coração, eu sabia que estava fazendo a coisa certa. E a longo prazo, era a coisa certa a fazer: revelar os segredos da magia.

Por que seus truques eram tão populares e fascinantes?

Escolhi ilusões que eram grandiosas, como fazer um elefante desaparecer. Ilusões que mágicos normalmente não faziam, porque exigiam muita ajuda técnica e pessoas. Isso não prejudicou os mágicos de forma alguma, pois eu explicava truques antigos, e então os mágicos bolavam uma nova maneira de fazer. Esse era o meu plano.

Depois, você trocou a Globo pelo SBT e fez outros programas...

Bem, foi apenas um progresso natural aqui no Brasil. Teve a Eliana, com o Domingo Legal. Depois veio a Ana Hickmann. Cada país têm seus programas famosos e tal.

Negócios?

Negócios, sim.

Mister M se mudou para São Paulo depois de uma experiência transcendental com a mãe, que havia morrido pouco antes Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Você passou por sérios problemas de saúde. Como foi a batalha contra o câncer?

Quando eu descobri, minha mãe estava doente. Fiquei com minha mãe por dois anos, apenas ajudando-a. Era minha principal prioridade. Então eu descobri que tinha um tumor na minha próstata. Era perigoso e não contei para muitas pessoas, nem para minha mãe, enquanto ela ainda estava viva. Foi interessante porque eu não tinha medo e acho que isso teve muito a ver com a minha cura. E a minha cura envolveu principalmente a dieta, o psicológico e a meditação. E graças a Deus ainda estou aqui hoje. Mais do que isso, não sei se você sabe, eu morri por três minutos e meio.

Sim, eu li sobre isso. Você estava no Brasil?

Não, eu estava em Los Angeles. Eu caí no chão, quebrei meu tornozelo. Fui para outra dimensão e lá eu vejo minha mãe. E ela está falando comigo. A mensagem que eu recebi [dela] foi: ‘Vá para o Brasil’. E eu precisava de um novo passaporte. Levou sete meses para conseguir um, em fevereiro de 2020. Daí eu vim para o Brasil. Três ou quatro semanas depois, a pandemia estourou. Não pude sair, porque não havia aviões voando para lugar nenhum. Então, tive que fazer uma cirurgia da próstata aqui, em 2021. Até agora está tudo bem.

Você temeu a morte?

Não, especialmente depois da experiência que eu tive. A única forma de explicar a outra dimensão é que era linda, sem medo, sem dor, somente amor. E o entendimento de que estamos aqui, mas vamos para outro lugar depois. Acredito 100% nisso. Vamos para um lugar lindo. Aguardo com expectativa a próxima vida. Acredito que continua, e continua...

E agora você está morando em São Paulo...

Sim. Primeiramente, eu amo o Brasil e o povo do Brasil. Há algo sobre a energia, onde o Brasil está na terra, perto do Equador. Eu simplesmente me apaixonei pelo Brasil. Descobri que os mágicos realmente precisavam de ajuda. Fora do Brasil, ninguém conhece os mágicos brasileiros. Então, como minha mãe me disse para vir ao Brasil, decidi ficar. Estou trabalhando em alguns projetos incríveis, que envolvem ensinar mágica para crianças. E também em relação ao turismo, para atrair muitos olhares ao Brasil, unir mágicos e o público em geral.

Pra finalizar: como o sucesso do Mister M afetou a vida do homem Val Valentino?

Me fez uma pessoa melhor. Eu vejo a vida de maneira completamente diferente. Estou em uma missão, tenho uma missão de Deus para estar aqui e fazer os projetos que estou fazendo. Não vou desistir. Às vezes há problemas no caminho, mas você passa por cima ou por baixo do problema. E continua. Não é sobre mim. É sobre o que eu posso dar e o que eu posso compartilhar para mudar e melhorar a vida das pessoas.

Val Valentino, o Mister M, ficou conhecido no Brasil nos anos 1990, com um quadro no 'Fantástico' Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Mister M esteve no céu – de maneira física e metafísica. Isso porque o famoso mágico, sucesso do Fantástico no fim dos anos 90 e lembrado até hoje por seus truques mirabolantes de ilusionismo, deu uma entrevista ao Estadão nas alturas de São Paulo, no 30º andar de um prédio na região da Paulista, no bar The View.

O homem por trás da máscara, o norte-americano Val Valentino, de 68 anos, no entanto, já havia visitado o “céu” quando fazia o tratamento contra um câncer de próstata. A árdua batalha o matou por três minutos e meio, ele conta, curto período que o levou a uma experiência transcendental para ouvir um recado da falecida mãe: ‘Vá para o Brasil’.

Valentino acatou a mensagem do além e se curou no país com o qual nutre uma relação especial. Hoje, ele namora uma brasileira, a influenciadora digital Flávia Romani, a quem escuta antes de tomar qualquer decisão. Prudência redobrada após o mágico ter sido enganado por empresários brasileiros e perdido muito dinheiro nos últimos anos. O novo casal, que mora na capital paulista, gosta de frequentar os bons restaurantes que a metrópole oferece.

Após o papo com o Estadão, o “Mago dos Magos”, “Príncipe Negro” ou “Paladino Mascarado”, como anunciava a épica voz de Cid Moreira, saiu acompanhado da reportagem para uma sessão de fotos na Avenida Paulista. Sob múltiplos olhares curiosos, o ilusionista tirou selfies com fãs e saudou motoristas que gritavam seu nome com alegria. Algumas crianças ficaram intrigadas pela figura misteriosa que desconheciam.

- ‘Ele é mágico, né? Pede para ele fazer uma mágica então!’, cobrou uma delas ao repórter.

- ‘Sim, mas ele não faz esse tipo de mágica, com baralhos ou coisas simples’, respondi.

- ‘Ué, que tipo de mágica ele faz?’, retrucou o garotinho.

- ‘Ele corta pessoas no meio e faz elefantes desaparecerem’, expliquei, para um olhar surpreso a aterrorizado da criança.

Estou em uma missão. Não vou desistir. Às vezes há problemas no caminho, mas você passa por cima ou por baixo do problema. E continua. Não é sobre mim. É sobre o que eu posso dar e o que eu posso compartilhar para mudar e melhorar a vida das pessoas”

Mister M

Como surgiu seu interesse pela mágica?

Acredito que remonta à minha família. Sou metade mexicano e metade irlandês. Do lado mexicano, minha avó era uma curandeira em Albuquerque, Novo México. Então, acredito que tenho o DNA dela para curar, para a mágica. E essa é a única explicação que eu tenho de como a mágica é tão interessante na minha vida.

Val Valentino, conhecido como Mister M, na Avenida Paulista; ilusionista está vivendo em São Paulo Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Certo, mas quando você descobriu que esse era o caminho que iria seguir?

Com três anos, eu sabia que era um mágico. Minhas únicas influências vinham da televisão. Houdini é uma grande influência para todos. Fiz muitos dos truques do Houdini que eram perigosos, e por causa deles eu quase poderia ter perdido a minha vida. No jardim de infância, quando eu estava na primeira série, minha professora falava: ‘Escreva o que você quer ser quando crescer’. Eu escrevi: ‘Não é que eu queira ser um mágico. Eu já sou um mágico aos seis anos’. Aquela era minha mentalidade.

Nos anos 90, você trabalhou em Las Vegas. Sei que o que acontece em Vegas fica em Vegas, mas você pode compartilhar alguma história maluca daqueles dias?

Las Vegas foi maravilhosa. Eu cresci no leste de Los Angeles, onde há muitas gangues e crime organizado. E a mágica foi uma saída para mim. Nenhum outro mágico teve essa experiência, mas eu tive. Há muitas histórias loucas (risos). Um dos cassinos em que eu trabalhei foi o Sands Hotel Copa Room, onde cantaram Frank Sinatra, The Rat Pack... Havia assinaturas deles na parede. Eu trabalhei nesse teatro por cinco anos. E houve uma vez em que eu estava segurando dois patos no fim do meu ato. E as luzes se apagam. Fim do meu show. Eu caí do palco com dois patos. Tentando salvar os patos, caí na parte de trás de uma cadeira e quebrei minhas costelas. Foi um desastre. Mas sabe de uma coisa? Eu ainda fiz o próximo show, o próximo e o próximo. Eu não parei de me apresentar. Isso é dedicação.

Mister M optou por dar a entrevista mascarado, no bar The View, na região da Paulista Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Como o personagem Mister M ganhou vida?

Foi um processo longo. A Fox Network queria fazer um programa revelando segredos da mágica. Eles tinham uma ideia mais ou menos. Viajaram o mundo procurando pelo mágico certo. Quando me encontraram, foi como mágica. Eu sabia no meu coração que isso seria incrível. E demorou um tempo para fechar o acordo com a Fox. Então, tive uma grande participação para torná-lo completamente diferente do que as pessoas estavam acostumadas a ver mágicos fazerem naquela época. E se tornou um sucesso. O especial de TV mais assistido na Fox, mais visto do que a World Series de Baseball. Sou conhecido apenas no Brasil como Mister M. No resto do mundo, sou The Masked Magician [O Mágico Mascarado]. Mas no dialeto brasileiro, a língua, é complicado dizer isso. Então, para facilitar, virou Mister M.

E como começou sua relação com o ‘Fantástico’?

A Globo comprou os programas da Fox e fez uma série incrível no Fantástico durante o ano todo. Eles fizeram um trabalho maravilhoso, todo domingo. Era meio tarde, mas as famílias se reuniam sempre. E a voz de Cid Moreira... Eu amo ele. Deus os abençoe. Não havia muita mágica acontecendo no Brasil. Até hoje não há, mas estou aqui para mudar isso.

Você se distinguiu por revelar os segredos por trás de seus truques. Por que fez essa escolha?

Meu show foi provavelmente um dos últimos programas que as famílias se reuniam. Por causa da internet. Depois disso, todo mundo teve seus próprios celulares, inclusive as crianças. Agora as famílias estão separadas, assistindo a seus próprios programas. Por algum motivo, tive uma visão de que seria gigantesco para a mágica. E eu sabia que era a coisa certa. A hora era a certa. Foi como um download do céu que dizia: ‘você tem que fazer isso pela humanidade’.

As críticas dos outros mágicos por causa disso te incomodaram?

Sim, porque foi um momento triste. Os mágicos não conseguiam ver a visão que eu tinha. E muitos mágicos me diziam: ‘eu ainda sou seu amigo, nós ainda te amamos, mas não podemos contar a ninguém’. Então, muitos dos meus amigos foram deixados para trás. Foi um momento muito interessante, especialmente para os mágicos que queriam me matar.

Val Valentino, o Mister M, chamou atenção de pedestres e motoristas na Avenida Paulista Foto: Tiago Queiroz/Estadão

É verdade que um gângster foi contratado para te matar?

Sim, sei que juntaram dinheiro para fazer isso. Publicaram isso em revistas de mágicos. E eu fiquei surpreso. Mas, no meu coração, eu sabia que estava fazendo a coisa certa. E a longo prazo, era a coisa certa a fazer: revelar os segredos da magia.

Por que seus truques eram tão populares e fascinantes?

Escolhi ilusões que eram grandiosas, como fazer um elefante desaparecer. Ilusões que mágicos normalmente não faziam, porque exigiam muita ajuda técnica e pessoas. Isso não prejudicou os mágicos de forma alguma, pois eu explicava truques antigos, e então os mágicos bolavam uma nova maneira de fazer. Esse era o meu plano.

Depois, você trocou a Globo pelo SBT e fez outros programas...

Bem, foi apenas um progresso natural aqui no Brasil. Teve a Eliana, com o Domingo Legal. Depois veio a Ana Hickmann. Cada país têm seus programas famosos e tal.

Negócios?

Negócios, sim.

Mister M se mudou para São Paulo depois de uma experiência transcendental com a mãe, que havia morrido pouco antes Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Você passou por sérios problemas de saúde. Como foi a batalha contra o câncer?

Quando eu descobri, minha mãe estava doente. Fiquei com minha mãe por dois anos, apenas ajudando-a. Era minha principal prioridade. Então eu descobri que tinha um tumor na minha próstata. Era perigoso e não contei para muitas pessoas, nem para minha mãe, enquanto ela ainda estava viva. Foi interessante porque eu não tinha medo e acho que isso teve muito a ver com a minha cura. E a minha cura envolveu principalmente a dieta, o psicológico e a meditação. E graças a Deus ainda estou aqui hoje. Mais do que isso, não sei se você sabe, eu morri por três minutos e meio.

Sim, eu li sobre isso. Você estava no Brasil?

Não, eu estava em Los Angeles. Eu caí no chão, quebrei meu tornozelo. Fui para outra dimensão e lá eu vejo minha mãe. E ela está falando comigo. A mensagem que eu recebi [dela] foi: ‘Vá para o Brasil’. E eu precisava de um novo passaporte. Levou sete meses para conseguir um, em fevereiro de 2020. Daí eu vim para o Brasil. Três ou quatro semanas depois, a pandemia estourou. Não pude sair, porque não havia aviões voando para lugar nenhum. Então, tive que fazer uma cirurgia da próstata aqui, em 2021. Até agora está tudo bem.

Você temeu a morte?

Não, especialmente depois da experiência que eu tive. A única forma de explicar a outra dimensão é que era linda, sem medo, sem dor, somente amor. E o entendimento de que estamos aqui, mas vamos para outro lugar depois. Acredito 100% nisso. Vamos para um lugar lindo. Aguardo com expectativa a próxima vida. Acredito que continua, e continua...

E agora você está morando em São Paulo...

Sim. Primeiramente, eu amo o Brasil e o povo do Brasil. Há algo sobre a energia, onde o Brasil está na terra, perto do Equador. Eu simplesmente me apaixonei pelo Brasil. Descobri que os mágicos realmente precisavam de ajuda. Fora do Brasil, ninguém conhece os mágicos brasileiros. Então, como minha mãe me disse para vir ao Brasil, decidi ficar. Estou trabalhando em alguns projetos incríveis, que envolvem ensinar mágica para crianças. E também em relação ao turismo, para atrair muitos olhares ao Brasil, unir mágicos e o público em geral.

Pra finalizar: como o sucesso do Mister M afetou a vida do homem Val Valentino?

Me fez uma pessoa melhor. Eu vejo a vida de maneira completamente diferente. Estou em uma missão, tenho uma missão de Deus para estar aqui e fazer os projetos que estou fazendo. Não vou desistir. Às vezes há problemas no caminho, mas você passa por cima ou por baixo do problema. E continua. Não é sobre mim. É sobre o que eu posso dar e o que eu posso compartilhar para mudar e melhorar a vida das pessoas.

Val Valentino, o Mister M, ficou conhecido no Brasil nos anos 1990, com um quadro no 'Fantástico' Foto: Tiago Queiroz/Estadão
Entrevista por Gabriel Zorzetto

Repórter de Cultura do Estadão

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.