Na nova temporada de Por trás das Prisões mais severas do mundo, recém-lançada na Netflix, podemos acompanhar o jornalista Raphael Rowe em sua exploração pelos sistemas prisionais de países, desta vez, visitando prisões da Finlândia, Indonésia, República Tcheca e Ilhas Salomão.
Durante os episódios, Raphael não apenas observa, mas se imerge completamente na vida carcerária pelos sete dias em que fica detido, submetendo-se voluntariamente a procedimentos rigorosos e invasivos de revista íntima, que incluem ficar nu, agachar-se e seguir uma série de instruções detalhadas para garantir uma inspeção minuciosa. “É uma busca completa”, comenta o apresentador no episódio da República Tcheca.
Mas o destaque do programa está na forma como o funcionamento e a estrutura dos sistemas carcerários em diferentes contextos socioeconômicos ao redor do mundo são explorados.
Humanização e reabilitação: Um olhar sobre a prisão Kyilmakoski na Finlândia
No episódio dedicado à Finlândia, por exemplo, os espectadores têm a oportunidade de compreender a abordagem progressista do país em relação à punição. Lá, a ênfase está em penas comunitárias e prisões abertas (sim, onde os presos têm as chaves, mas escolhem continuar lá para encerrar a pena), reservando as instituições de segurança máxima, como a Kyilmakoski — explorada por Raphael —, para aqueles que cometeram crimes de alta gravidade.
A prisão Kyilmakoski, por exemplo, possui uma política de revistas mais branda e oferece um centro de reabilitação com diversas atividades para os detentos, incluindo suporte psicológico e comunicação facilitada com familiares através de correspondências diárias.
Ao explorar a rotina da prisão Kyilmakoski, o programa revela práticas que se desviam substancialmente do que é comum em muitos outros sistemas carcerários. Um dos pontos destacados é a política de revistas mais branda, que, apesar de preservar a dignidade dos detentos, enfrenta desafios no controle e prevenção do contrabando de substâncias ilícitas.
A prisão oferece um centro de reabilitação onde a participação é voluntária, permitindo aos detentos engajar-se em uma variedade de atividades, desde a confecção de tapetes tradicionais finlandeses até a participação em cultos religiosos e sessões de exercícios físicos. Além disso, os presos têm acesso a suporte psicológico através de uma conselheira disponível na instituição.
A estrutura permite uma convivência maior entre os presos, com áreas sociais onde os detentos podem interagir. Curiosamente, há uma preferência por parte de alguns em permanecer em suas celas, um espaço não monitorado por câmeras, o que permitiu a Raphael testemunhar práticas como a tatuagem improvisada utilizando materiais disponíveis na prisão, que eram passíveis de punição.
Reabilitação e rigor: O sistema prisional de Pilsen na República Tcheca
O episódio que explora a República Tcheca mostra a prisão de Pilsen, um lugar onde as revistas íntimas são notavelmente invasivas, refletindo a luta contínua contra o grave problema de abuso de metanfetaminas no país, conhecido como a capital europeia dessa droga — uma crise tão severa que até mesmo os peixes locais apresentam traços de dependência química, segundo estudos.
Diferentemente da abordagem finlandesa, Pilsen adota um sistema estruturado e rigoroso para a reabilitação de seus detentos. Apenas 80 indivíduos são selecionados para uma ala exclusiva, para participar de um programa intensivo de 10 meses que inclui testes de drogas frequentes e duas revistas diárias em seus quartos.
Os que se destacam positivamente durante este período não apenas concluem o programa, mas também recebem a responsabilidade de orientar os novatos, promovendo assim um ciclo de mentoria e apoio mútuo. No entanto, qualquer infração às regras é tratada com seriedade, podendo resultar em suspensão do programa e até mesmo em tempo na solitária.
Apesar da rigidez, o programa oferece oportunidades para o desenvolvimento pessoal e profissional, incluindo o trabalho em uma horta e a aprendizagem de habilidades profissionais variadas. E, assim como na Finlândia, os detentos têm a liberdade de praticar sua fé através de cultos religiosos, proporcionando um espaço para reflexão e crescimento espiritual.
Contrastes carcerários: da rigidez na Indonésia à negligência nas Ilhas Salomão
Nos últimos episódios da temporada, a série volta seu foco para as prisões de Bangli Narkotika, na Indonésia, e Rove Central, nas Ilhas Salomão, oferecendo uma análise profunda dos efeitos da cultura e dos valores da sociedade no ambiente carcerário.
Na Indonésia, a prisão de Bangli Narkotika é dedicada exclusivamente a infratores relacionados a drogas, refletindo a postura extremamente rígida do país em relação a crimes de consumo e tráfico de drogas — sendo este último punível com a pena de morte.
A prisão está no processo de implementação de um programa de reabilitação que busca “reprogramar a mente dos infratores”. Este estabelecimento se destaca não apenas por sua limpeza e organização meticulosa, mas também pelo silêncio predominante, mesmo estando superlotada, abrigando mais de 1000 detentos, mais do que o dobro de sua capacidade.
A disciplina rigorosa é mantida através de uma série de medidas, incluindo testes de drogas obrigatórios para todos os novos internos e a ameaça constante de confinamento solitário — um aspecto da prisão que permaneceu fora dos limites para as câmeras da série. Apesar das condições estritas, existem oportunidades para reabilitação e conexão humana, como terapia em grupo e a possibilidade de comunicação com familiares via videochamada. O episódio ainda destaca um momento de alívio e expressão através da música, apresentando uma banda de rock formada por detentos.
Por último, na prisão Rove Central, nas Ilhas Salomão, somos confrontados com condições extremamente precárias, marcadas por instalações abandonadas que misturam indivíduos com problemas mentais e detentos que violam as regras da prisão. Neste ambiente, a reabilitação é praticamente inexistente, sendo a única forma de apoio a presença esporádica de um pastor que oferece conselhos espirituais aos detentos.
A religião desempenha um papel significativo na vida dos prisioneiros, embora seja apresentada com uma dose de ironia, dado que o líder especial da ala onde Raphael se alojou está encarcerado por estupro, um tipo de crime infelizmente predominante na região.
As condições gerais da prisão são desumanas, com espaços sujos, mal conservados e escuros, destacando uma negligência gritante com o bem-estar dos detentos. No entanto, um ponto que se difere é a ala feminina, que, apesar de abrigar apenas seis ocupantes, oferece condições substancialmente melhores. Neste espaço mais cuidado, as detentas realizam atividades manuais e artesanato.
Por Dentro das Prisões Mais Severas do Mundo
Por Dentro das Prisões Mais Severas do Mundo é uma série documental que leva os espectadores a uma jornada pelos sistemas carcerários ao redor do globo, sob a condução do jornalista Raphael Rowe, que tem em seu histórico pessoal a experiência de ter sido encarcerado injustamente por 12 anos.
A cada temporada, a produção explora quatro diferentes prisões, oferecendo um olhar sem filtros sobre a vida atrás das grades, as condições das instalações e a psicologia dos detentos e funcionários. A temporada atual destaca tanto ambientes marcados pela violência e condições desumanas quanto iniciativas de reabilitação e humanização.
Por Dentro das Prisões Mais Severas do Mundo está disponível na Netflix.