Quem é Brian Cox, o magnata Logan Roy de Succession? ‘Acho que sou um vilão de James Bond enrustido’


Entrevista ao ‘Estadão’ revela muitas diferenças e algumas semelhanças do ator escocês com seu personagem mais famoso. Ele também fala sobre novo reality inspirado em 007 e conta quem é seu James Bond preferido; leia

Por Dora Guerra

Assim como seus personagens, Brian Cox não é uma figura simples de ser resumida.

Uma boa forma de começar a descrever o ator de 77 anos é, simplesmente, “britânico”. Do Reino Unido, ele tem o sarcasmo. Tem a série de chaleiras (na entrevista feita por chamada de vídeo, vejo-as cuidadosamente iluminadas, na prateleira da cozinha atrás dele). E tem a etiqueta.

“Bom dia, boa tarde ou seja lá qual for o horário aí no Brasil”, diz ele ao me cumprimentar, com um sorriso de canto.

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Ele é um senhor escocês de expressão rabugenta e senso de humor afiado. É fácil ver porque Brian pôde ser Logan Roy em Succession: sua mera presença – e olhar – carregam a imponência de um poderoso patriarca. Mas ele não é Logan, como descubro rapidamente. É um homem de piadas sinceras, roupas coloridas e até leveza.

Brian Cox Foto: Caitlin Ochs / REUTERS

Cox tem meio século de carreira e, quando você espera que ele desacelere, ele dobra a aposta. Foi depois dos 70 anos que deu vida – e depois morte – ao magnata da série da HBO, criando um dos personagens mais interessantes da televisão recente. O tipo de papel que, se fosse o primeiro, já satisfaria um ator de grandes ambições.

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Mas não foi o primeiro, tampouco o último de Brian: uma vez encerrado o trabalho, ele se recusa a olhar para trás e, confessa, sequer revê suas próprias cenas. Logan é provavelmente o maior papel de sua vida, mas de certa forma, é só um papel. Com o final da série em maio de 2023, Brian fez o que só um apaixonado pela arte de atuar – não por si mesmo – faria: seguiu em frente.

“Estou fazendo uma peça maravilhosa sobre Johann Sebastian Bach [The Score], e no próximo ano, farei outro espetáculo em Londres. E se tudo der certo, vou dirigir um filme ano que vem”.

Shakespeariano de formação, Brian ressalta ter amor absoluto pelo teatro, onde ele se consagrou. Um dos seus papéis mais aclamados na juventude foi como o rei Lear – curiosamente, a história de Shakespeare que inspirou Succession.

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Brian Cox como Logan Roy Foto: Reprodução/HBO

A decisão de voltar aos teatros teve a ver com a greve que tomou Hollywood neste ano, mas também é pessoal. “Meu trabalho sempre esteve no teatro, então decidi voltar para lá. Tinha passado da hora”, conta. “De certa forma, é um teste, se ainda consigo lembrar as minhas falas”.

(Dessa vez, ele não sorri, mas eu rio. É claro que ele lembra suas falas: o cara está em plena atividade.)

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Por que tanta coisa aos 77? “A mente sempre quer desafiar a si mesma”, diz. “Mas no momento, estou até pensando: ‘Isso foi uma boa ideia?’”, brincou. “Porque, na verdade, estou até bastante exausto”.

Não à toa. Brian se envolveu até com um reality show: está em 007: Road to a Million, que estreia no próximo dia 10 no Prime Video. No programa, participantes passam por missões intrincadas estilo James Bond, com o auxílio do “Controlador” (Cox). É ele quem “observa” e “comanda” os competidores. Um misto do diretor de Show de Truman com a figura de M, do espião inglês.

“Essa parte foi muito divertida”, ressaltou. “Poder ver os participantes tomando suas decisões e dizer: ‘Por que ele está fazendo isso?’, ‘Não, não faça isso!’”.

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Agora, ele também tem um pé na franquia 007, feito dos sonhos para qualquer britânico. No que diz respeito à paixão por Bond, Brian não é exceção, mas prefere o modelo mais clássico do espião.

“Eu adorava os filmes de James Bond. Sempre adorei. Sou da geração de Sean Connery e Roger Moore. Então há um elemento sarcástico, que já não é mais tão presente. O irônico, cômico James Bond. Esse é o meu”.

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Para ele, trata-se de uma franquia “brilhantemente administrada”. No conceito de Brian, isso significa ter a capacidade de se adaptar com as décadas – como ele mesmo fez com sua carreira. “Os filmes 007 sempre refletiram o tempo em que foram feitos. Acho isso admirável”.

Cox tem a aura da franquia, e sabe disso. “Acho que sou um vilão de James Bond enrustido. É uma coisa que eu adoraria ter feito”, diz. “Aquele que grita: ‘Você deve morrer, Mr. Bond!’”.

Apesar da cara de vilão, a trajetória de Brian é mais do tipo “personagem batalhador de filme dramático”. Natural da cidade costeira de Dundee, na Escócia, ele é uma criança pós-guerra, filho caçula de cinco e criado por suas irmãs mais velhas. É um fruto da working class britânica, de criação católica. Em outras palavras, em sua vida, nada foi ganho; tudo foi conquistado.

Treinado na London Academy of Music and Dramatic Art, Cox mergulhou na atuação ainda menor de idade e, em poucos anos, se tornou um dos nomes proeminentes do teatro britânico. Foi de Londres à Broadway (e off-Broadway), dos palcos à direção e chegou até a ensinar atuação em Moscou. Foi o primeiro ator a trazer Dr. Hannibal Lecter às telonas (Manhunter, 1968), interpretou o “criador” de Jason Bourne na franquia estrelada por Matt Damon e já foi até Hermann Göring, em uma interpretação criticamente aclamada. A essa altura, ele tem dois Laurence Olivier Awards, um Emmy e um Globo de Ouro, além de ter sido convidado à Ordem do Império Britânico.

Tudo isso é consequência, não causa: Brian é um ator com profundo interesse na arte, na humanidade e sua história. Tem interesse na gente, também.

“Sempre quis ir para o Brasil, fico intrigado por seu país. Vocês passaram por muito politicamente”, disse, sem entrar em detalhes. O ator já se posicionou algumas vezes contra Trump, Putin e até Bolsonaro – então é possível imaginar a que ele se refere. No quesito político, ele é o oposto do conservador Logan.

“Estou, inclusive, preocupado com a Floresta Amazônica”, ressalta. Coisa que nenhum Roy jamais diria.

Ele nunca veio à América do Sul, o que confessa cabisbaixo. Mas de todos os motivos para querer visitar os latinos, Brian tem um mais surpreendente. “Eu dançava tango”, conta, sorridente. “Sempre quis ir a Buenos Aires e dançar a milonga”.

Cara de vilão de 007, dançarino de tango, Bach nos teatros. Como, então, resumir Brian Cox? Talvez pela única coisa que ele tem em comum com seu personagem mais icônico: a franqueza de quem não tem tempo a perder.

“Quando alguém pergunta ‘Por que você quer fazer tal coisa?’, eu imediatamente quero fazer”, conta. “Porque, para mim, essa é uma pergunta estúpida. Não existe um porquê, no sentido filosófico. Tudo que eu faço é porque quero fazer”.

Já isso, Logan Roy também diria.

Assim como seus personagens, Brian Cox não é uma figura simples de ser resumida.

Uma boa forma de começar a descrever o ator de 77 anos é, simplesmente, “britânico”. Do Reino Unido, ele tem o sarcasmo. Tem a série de chaleiras (na entrevista feita por chamada de vídeo, vejo-as cuidadosamente iluminadas, na prateleira da cozinha atrás dele). E tem a etiqueta.

“Bom dia, boa tarde ou seja lá qual for o horário aí no Brasil”, diz ele ao me cumprimentar, com um sorriso de canto.

Ele é um senhor escocês de expressão rabugenta e senso de humor afiado. É fácil ver porque Brian pôde ser Logan Roy em Succession: sua mera presença – e olhar – carregam a imponência de um poderoso patriarca. Mas ele não é Logan, como descubro rapidamente. É um homem de piadas sinceras, roupas coloridas e até leveza.

Brian Cox Foto: Caitlin Ochs / REUTERS

Cox tem meio século de carreira e, quando você espera que ele desacelere, ele dobra a aposta. Foi depois dos 70 anos que deu vida – e depois morte – ao magnata da série da HBO, criando um dos personagens mais interessantes da televisão recente. O tipo de papel que, se fosse o primeiro, já satisfaria um ator de grandes ambições.

Mas não foi o primeiro, tampouco o último de Brian: uma vez encerrado o trabalho, ele se recusa a olhar para trás e, confessa, sequer revê suas próprias cenas. Logan é provavelmente o maior papel de sua vida, mas de certa forma, é só um papel. Com o final da série em maio de 2023, Brian fez o que só um apaixonado pela arte de atuar – não por si mesmo – faria: seguiu em frente.

“Estou fazendo uma peça maravilhosa sobre Johann Sebastian Bach [The Score], e no próximo ano, farei outro espetáculo em Londres. E se tudo der certo, vou dirigir um filme ano que vem”.

Shakespeariano de formação, Brian ressalta ter amor absoluto pelo teatro, onde ele se consagrou. Um dos seus papéis mais aclamados na juventude foi como o rei Lear – curiosamente, a história de Shakespeare que inspirou Succession.

Brian Cox como Logan Roy Foto: Reprodução/HBO

A decisão de voltar aos teatros teve a ver com a greve que tomou Hollywood neste ano, mas também é pessoal. “Meu trabalho sempre esteve no teatro, então decidi voltar para lá. Tinha passado da hora”, conta. “De certa forma, é um teste, se ainda consigo lembrar as minhas falas”.

(Dessa vez, ele não sorri, mas eu rio. É claro que ele lembra suas falas: o cara está em plena atividade.)

Por que tanta coisa aos 77? “A mente sempre quer desafiar a si mesma”, diz. “Mas no momento, estou até pensando: ‘Isso foi uma boa ideia?’”, brincou. “Porque, na verdade, estou até bastante exausto”.

Não à toa. Brian se envolveu até com um reality show: está em 007: Road to a Million, que estreia no próximo dia 10 no Prime Video. No programa, participantes passam por missões intrincadas estilo James Bond, com o auxílio do “Controlador” (Cox). É ele quem “observa” e “comanda” os competidores. Um misto do diretor de Show de Truman com a figura de M, do espião inglês.

“Essa parte foi muito divertida”, ressaltou. “Poder ver os participantes tomando suas decisões e dizer: ‘Por que ele está fazendo isso?’, ‘Não, não faça isso!’”.

Agora, ele também tem um pé na franquia 007, feito dos sonhos para qualquer britânico. No que diz respeito à paixão por Bond, Brian não é exceção, mas prefere o modelo mais clássico do espião.

“Eu adorava os filmes de James Bond. Sempre adorei. Sou da geração de Sean Connery e Roger Moore. Então há um elemento sarcástico, que já não é mais tão presente. O irônico, cômico James Bond. Esse é o meu”.

Para ele, trata-se de uma franquia “brilhantemente administrada”. No conceito de Brian, isso significa ter a capacidade de se adaptar com as décadas – como ele mesmo fez com sua carreira. “Os filmes 007 sempre refletiram o tempo em que foram feitos. Acho isso admirável”.

Cox tem a aura da franquia, e sabe disso. “Acho que sou um vilão de James Bond enrustido. É uma coisa que eu adoraria ter feito”, diz. “Aquele que grita: ‘Você deve morrer, Mr. Bond!’”.

Apesar da cara de vilão, a trajetória de Brian é mais do tipo “personagem batalhador de filme dramático”. Natural da cidade costeira de Dundee, na Escócia, ele é uma criança pós-guerra, filho caçula de cinco e criado por suas irmãs mais velhas. É um fruto da working class britânica, de criação católica. Em outras palavras, em sua vida, nada foi ganho; tudo foi conquistado.

Treinado na London Academy of Music and Dramatic Art, Cox mergulhou na atuação ainda menor de idade e, em poucos anos, se tornou um dos nomes proeminentes do teatro britânico. Foi de Londres à Broadway (e off-Broadway), dos palcos à direção e chegou até a ensinar atuação em Moscou. Foi o primeiro ator a trazer Dr. Hannibal Lecter às telonas (Manhunter, 1968), interpretou o “criador” de Jason Bourne na franquia estrelada por Matt Damon e já foi até Hermann Göring, em uma interpretação criticamente aclamada. A essa altura, ele tem dois Laurence Olivier Awards, um Emmy e um Globo de Ouro, além de ter sido convidado à Ordem do Império Britânico.

Tudo isso é consequência, não causa: Brian é um ator com profundo interesse na arte, na humanidade e sua história. Tem interesse na gente, também.

“Sempre quis ir para o Brasil, fico intrigado por seu país. Vocês passaram por muito politicamente”, disse, sem entrar em detalhes. O ator já se posicionou algumas vezes contra Trump, Putin e até Bolsonaro – então é possível imaginar a que ele se refere. No quesito político, ele é o oposto do conservador Logan.

“Estou, inclusive, preocupado com a Floresta Amazônica”, ressalta. Coisa que nenhum Roy jamais diria.

Ele nunca veio à América do Sul, o que confessa cabisbaixo. Mas de todos os motivos para querer visitar os latinos, Brian tem um mais surpreendente. “Eu dançava tango”, conta, sorridente. “Sempre quis ir a Buenos Aires e dançar a milonga”.

Cara de vilão de 007, dançarino de tango, Bach nos teatros. Como, então, resumir Brian Cox? Talvez pela única coisa que ele tem em comum com seu personagem mais icônico: a franqueza de quem não tem tempo a perder.

“Quando alguém pergunta ‘Por que você quer fazer tal coisa?’, eu imediatamente quero fazer”, conta. “Porque, para mim, essa é uma pergunta estúpida. Não existe um porquê, no sentido filosófico. Tudo que eu faço é porque quero fazer”.

Já isso, Logan Roy também diria.

Assim como seus personagens, Brian Cox não é uma figura simples de ser resumida.

Uma boa forma de começar a descrever o ator de 77 anos é, simplesmente, “britânico”. Do Reino Unido, ele tem o sarcasmo. Tem a série de chaleiras (na entrevista feita por chamada de vídeo, vejo-as cuidadosamente iluminadas, na prateleira da cozinha atrás dele). E tem a etiqueta.

“Bom dia, boa tarde ou seja lá qual for o horário aí no Brasil”, diz ele ao me cumprimentar, com um sorriso de canto.

Ele é um senhor escocês de expressão rabugenta e senso de humor afiado. É fácil ver porque Brian pôde ser Logan Roy em Succession: sua mera presença – e olhar – carregam a imponência de um poderoso patriarca. Mas ele não é Logan, como descubro rapidamente. É um homem de piadas sinceras, roupas coloridas e até leveza.

Brian Cox Foto: Caitlin Ochs / REUTERS

Cox tem meio século de carreira e, quando você espera que ele desacelere, ele dobra a aposta. Foi depois dos 70 anos que deu vida – e depois morte – ao magnata da série da HBO, criando um dos personagens mais interessantes da televisão recente. O tipo de papel que, se fosse o primeiro, já satisfaria um ator de grandes ambições.

Mas não foi o primeiro, tampouco o último de Brian: uma vez encerrado o trabalho, ele se recusa a olhar para trás e, confessa, sequer revê suas próprias cenas. Logan é provavelmente o maior papel de sua vida, mas de certa forma, é só um papel. Com o final da série em maio de 2023, Brian fez o que só um apaixonado pela arte de atuar – não por si mesmo – faria: seguiu em frente.

“Estou fazendo uma peça maravilhosa sobre Johann Sebastian Bach [The Score], e no próximo ano, farei outro espetáculo em Londres. E se tudo der certo, vou dirigir um filme ano que vem”.

Shakespeariano de formação, Brian ressalta ter amor absoluto pelo teatro, onde ele se consagrou. Um dos seus papéis mais aclamados na juventude foi como o rei Lear – curiosamente, a história de Shakespeare que inspirou Succession.

Brian Cox como Logan Roy Foto: Reprodução/HBO

A decisão de voltar aos teatros teve a ver com a greve que tomou Hollywood neste ano, mas também é pessoal. “Meu trabalho sempre esteve no teatro, então decidi voltar para lá. Tinha passado da hora”, conta. “De certa forma, é um teste, se ainda consigo lembrar as minhas falas”.

(Dessa vez, ele não sorri, mas eu rio. É claro que ele lembra suas falas: o cara está em plena atividade.)

Por que tanta coisa aos 77? “A mente sempre quer desafiar a si mesma”, diz. “Mas no momento, estou até pensando: ‘Isso foi uma boa ideia?’”, brincou. “Porque, na verdade, estou até bastante exausto”.

Não à toa. Brian se envolveu até com um reality show: está em 007: Road to a Million, que estreia no próximo dia 10 no Prime Video. No programa, participantes passam por missões intrincadas estilo James Bond, com o auxílio do “Controlador” (Cox). É ele quem “observa” e “comanda” os competidores. Um misto do diretor de Show de Truman com a figura de M, do espião inglês.

“Essa parte foi muito divertida”, ressaltou. “Poder ver os participantes tomando suas decisões e dizer: ‘Por que ele está fazendo isso?’, ‘Não, não faça isso!’”.

Agora, ele também tem um pé na franquia 007, feito dos sonhos para qualquer britânico. No que diz respeito à paixão por Bond, Brian não é exceção, mas prefere o modelo mais clássico do espião.

“Eu adorava os filmes de James Bond. Sempre adorei. Sou da geração de Sean Connery e Roger Moore. Então há um elemento sarcástico, que já não é mais tão presente. O irônico, cômico James Bond. Esse é o meu”.

Para ele, trata-se de uma franquia “brilhantemente administrada”. No conceito de Brian, isso significa ter a capacidade de se adaptar com as décadas – como ele mesmo fez com sua carreira. “Os filmes 007 sempre refletiram o tempo em que foram feitos. Acho isso admirável”.

Cox tem a aura da franquia, e sabe disso. “Acho que sou um vilão de James Bond enrustido. É uma coisa que eu adoraria ter feito”, diz. “Aquele que grita: ‘Você deve morrer, Mr. Bond!’”.

Apesar da cara de vilão, a trajetória de Brian é mais do tipo “personagem batalhador de filme dramático”. Natural da cidade costeira de Dundee, na Escócia, ele é uma criança pós-guerra, filho caçula de cinco e criado por suas irmãs mais velhas. É um fruto da working class britânica, de criação católica. Em outras palavras, em sua vida, nada foi ganho; tudo foi conquistado.

Treinado na London Academy of Music and Dramatic Art, Cox mergulhou na atuação ainda menor de idade e, em poucos anos, se tornou um dos nomes proeminentes do teatro britânico. Foi de Londres à Broadway (e off-Broadway), dos palcos à direção e chegou até a ensinar atuação em Moscou. Foi o primeiro ator a trazer Dr. Hannibal Lecter às telonas (Manhunter, 1968), interpretou o “criador” de Jason Bourne na franquia estrelada por Matt Damon e já foi até Hermann Göring, em uma interpretação criticamente aclamada. A essa altura, ele tem dois Laurence Olivier Awards, um Emmy e um Globo de Ouro, além de ter sido convidado à Ordem do Império Britânico.

Tudo isso é consequência, não causa: Brian é um ator com profundo interesse na arte, na humanidade e sua história. Tem interesse na gente, também.

“Sempre quis ir para o Brasil, fico intrigado por seu país. Vocês passaram por muito politicamente”, disse, sem entrar em detalhes. O ator já se posicionou algumas vezes contra Trump, Putin e até Bolsonaro – então é possível imaginar a que ele se refere. No quesito político, ele é o oposto do conservador Logan.

“Estou, inclusive, preocupado com a Floresta Amazônica”, ressalta. Coisa que nenhum Roy jamais diria.

Ele nunca veio à América do Sul, o que confessa cabisbaixo. Mas de todos os motivos para querer visitar os latinos, Brian tem um mais surpreendente. “Eu dançava tango”, conta, sorridente. “Sempre quis ir a Buenos Aires e dançar a milonga”.

Cara de vilão de 007, dançarino de tango, Bach nos teatros. Como, então, resumir Brian Cox? Talvez pela única coisa que ele tem em comum com seu personagem mais icônico: a franqueza de quem não tem tempo a perder.

“Quando alguém pergunta ‘Por que você quer fazer tal coisa?’, eu imediatamente quero fazer”, conta. “Porque, para mim, essa é uma pergunta estúpida. Não existe um porquê, no sentido filosófico. Tudo que eu faço é porque quero fazer”.

Já isso, Logan Roy também diria.

Assim como seus personagens, Brian Cox não é uma figura simples de ser resumida.

Uma boa forma de começar a descrever o ator de 77 anos é, simplesmente, “britânico”. Do Reino Unido, ele tem o sarcasmo. Tem a série de chaleiras (na entrevista feita por chamada de vídeo, vejo-as cuidadosamente iluminadas, na prateleira da cozinha atrás dele). E tem a etiqueta.

“Bom dia, boa tarde ou seja lá qual for o horário aí no Brasil”, diz ele ao me cumprimentar, com um sorriso de canto.

Ele é um senhor escocês de expressão rabugenta e senso de humor afiado. É fácil ver porque Brian pôde ser Logan Roy em Succession: sua mera presença – e olhar – carregam a imponência de um poderoso patriarca. Mas ele não é Logan, como descubro rapidamente. É um homem de piadas sinceras, roupas coloridas e até leveza.

Brian Cox Foto: Caitlin Ochs / REUTERS

Cox tem meio século de carreira e, quando você espera que ele desacelere, ele dobra a aposta. Foi depois dos 70 anos que deu vida – e depois morte – ao magnata da série da HBO, criando um dos personagens mais interessantes da televisão recente. O tipo de papel que, se fosse o primeiro, já satisfaria um ator de grandes ambições.

Mas não foi o primeiro, tampouco o último de Brian: uma vez encerrado o trabalho, ele se recusa a olhar para trás e, confessa, sequer revê suas próprias cenas. Logan é provavelmente o maior papel de sua vida, mas de certa forma, é só um papel. Com o final da série em maio de 2023, Brian fez o que só um apaixonado pela arte de atuar – não por si mesmo – faria: seguiu em frente.

“Estou fazendo uma peça maravilhosa sobre Johann Sebastian Bach [The Score], e no próximo ano, farei outro espetáculo em Londres. E se tudo der certo, vou dirigir um filme ano que vem”.

Shakespeariano de formação, Brian ressalta ter amor absoluto pelo teatro, onde ele se consagrou. Um dos seus papéis mais aclamados na juventude foi como o rei Lear – curiosamente, a história de Shakespeare que inspirou Succession.

Brian Cox como Logan Roy Foto: Reprodução/HBO

A decisão de voltar aos teatros teve a ver com a greve que tomou Hollywood neste ano, mas também é pessoal. “Meu trabalho sempre esteve no teatro, então decidi voltar para lá. Tinha passado da hora”, conta. “De certa forma, é um teste, se ainda consigo lembrar as minhas falas”.

(Dessa vez, ele não sorri, mas eu rio. É claro que ele lembra suas falas: o cara está em plena atividade.)

Por que tanta coisa aos 77? “A mente sempre quer desafiar a si mesma”, diz. “Mas no momento, estou até pensando: ‘Isso foi uma boa ideia?’”, brincou. “Porque, na verdade, estou até bastante exausto”.

Não à toa. Brian se envolveu até com um reality show: está em 007: Road to a Million, que estreia no próximo dia 10 no Prime Video. No programa, participantes passam por missões intrincadas estilo James Bond, com o auxílio do “Controlador” (Cox). É ele quem “observa” e “comanda” os competidores. Um misto do diretor de Show de Truman com a figura de M, do espião inglês.

“Essa parte foi muito divertida”, ressaltou. “Poder ver os participantes tomando suas decisões e dizer: ‘Por que ele está fazendo isso?’, ‘Não, não faça isso!’”.

Agora, ele também tem um pé na franquia 007, feito dos sonhos para qualquer britânico. No que diz respeito à paixão por Bond, Brian não é exceção, mas prefere o modelo mais clássico do espião.

“Eu adorava os filmes de James Bond. Sempre adorei. Sou da geração de Sean Connery e Roger Moore. Então há um elemento sarcástico, que já não é mais tão presente. O irônico, cômico James Bond. Esse é o meu”.

Para ele, trata-se de uma franquia “brilhantemente administrada”. No conceito de Brian, isso significa ter a capacidade de se adaptar com as décadas – como ele mesmo fez com sua carreira. “Os filmes 007 sempre refletiram o tempo em que foram feitos. Acho isso admirável”.

Cox tem a aura da franquia, e sabe disso. “Acho que sou um vilão de James Bond enrustido. É uma coisa que eu adoraria ter feito”, diz. “Aquele que grita: ‘Você deve morrer, Mr. Bond!’”.

Apesar da cara de vilão, a trajetória de Brian é mais do tipo “personagem batalhador de filme dramático”. Natural da cidade costeira de Dundee, na Escócia, ele é uma criança pós-guerra, filho caçula de cinco e criado por suas irmãs mais velhas. É um fruto da working class britânica, de criação católica. Em outras palavras, em sua vida, nada foi ganho; tudo foi conquistado.

Treinado na London Academy of Music and Dramatic Art, Cox mergulhou na atuação ainda menor de idade e, em poucos anos, se tornou um dos nomes proeminentes do teatro britânico. Foi de Londres à Broadway (e off-Broadway), dos palcos à direção e chegou até a ensinar atuação em Moscou. Foi o primeiro ator a trazer Dr. Hannibal Lecter às telonas (Manhunter, 1968), interpretou o “criador” de Jason Bourne na franquia estrelada por Matt Damon e já foi até Hermann Göring, em uma interpretação criticamente aclamada. A essa altura, ele tem dois Laurence Olivier Awards, um Emmy e um Globo de Ouro, além de ter sido convidado à Ordem do Império Britânico.

Tudo isso é consequência, não causa: Brian é um ator com profundo interesse na arte, na humanidade e sua história. Tem interesse na gente, também.

“Sempre quis ir para o Brasil, fico intrigado por seu país. Vocês passaram por muito politicamente”, disse, sem entrar em detalhes. O ator já se posicionou algumas vezes contra Trump, Putin e até Bolsonaro – então é possível imaginar a que ele se refere. No quesito político, ele é o oposto do conservador Logan.

“Estou, inclusive, preocupado com a Floresta Amazônica”, ressalta. Coisa que nenhum Roy jamais diria.

Ele nunca veio à América do Sul, o que confessa cabisbaixo. Mas de todos os motivos para querer visitar os latinos, Brian tem um mais surpreendente. “Eu dançava tango”, conta, sorridente. “Sempre quis ir a Buenos Aires e dançar a milonga”.

Cara de vilão de 007, dançarino de tango, Bach nos teatros. Como, então, resumir Brian Cox? Talvez pela única coisa que ele tem em comum com seu personagem mais icônico: a franqueza de quem não tem tempo a perder.

“Quando alguém pergunta ‘Por que você quer fazer tal coisa?’, eu imediatamente quero fazer”, conta. “Porque, para mim, essa é uma pergunta estúpida. Não existe um porquê, no sentido filosófico. Tudo que eu faço é porque quero fazer”.

Já isso, Logan Roy também diria.

Assim como seus personagens, Brian Cox não é uma figura simples de ser resumida.

Uma boa forma de começar a descrever o ator de 77 anos é, simplesmente, “britânico”. Do Reino Unido, ele tem o sarcasmo. Tem a série de chaleiras (na entrevista feita por chamada de vídeo, vejo-as cuidadosamente iluminadas, na prateleira da cozinha atrás dele). E tem a etiqueta.

“Bom dia, boa tarde ou seja lá qual for o horário aí no Brasil”, diz ele ao me cumprimentar, com um sorriso de canto.

Ele é um senhor escocês de expressão rabugenta e senso de humor afiado. É fácil ver porque Brian pôde ser Logan Roy em Succession: sua mera presença – e olhar – carregam a imponência de um poderoso patriarca. Mas ele não é Logan, como descubro rapidamente. É um homem de piadas sinceras, roupas coloridas e até leveza.

Brian Cox Foto: Caitlin Ochs / REUTERS

Cox tem meio século de carreira e, quando você espera que ele desacelere, ele dobra a aposta. Foi depois dos 70 anos que deu vida – e depois morte – ao magnata da série da HBO, criando um dos personagens mais interessantes da televisão recente. O tipo de papel que, se fosse o primeiro, já satisfaria um ator de grandes ambições.

Mas não foi o primeiro, tampouco o último de Brian: uma vez encerrado o trabalho, ele se recusa a olhar para trás e, confessa, sequer revê suas próprias cenas. Logan é provavelmente o maior papel de sua vida, mas de certa forma, é só um papel. Com o final da série em maio de 2023, Brian fez o que só um apaixonado pela arte de atuar – não por si mesmo – faria: seguiu em frente.

“Estou fazendo uma peça maravilhosa sobre Johann Sebastian Bach [The Score], e no próximo ano, farei outro espetáculo em Londres. E se tudo der certo, vou dirigir um filme ano que vem”.

Shakespeariano de formação, Brian ressalta ter amor absoluto pelo teatro, onde ele se consagrou. Um dos seus papéis mais aclamados na juventude foi como o rei Lear – curiosamente, a história de Shakespeare que inspirou Succession.

Brian Cox como Logan Roy Foto: Reprodução/HBO

A decisão de voltar aos teatros teve a ver com a greve que tomou Hollywood neste ano, mas também é pessoal. “Meu trabalho sempre esteve no teatro, então decidi voltar para lá. Tinha passado da hora”, conta. “De certa forma, é um teste, se ainda consigo lembrar as minhas falas”.

(Dessa vez, ele não sorri, mas eu rio. É claro que ele lembra suas falas: o cara está em plena atividade.)

Por que tanta coisa aos 77? “A mente sempre quer desafiar a si mesma”, diz. “Mas no momento, estou até pensando: ‘Isso foi uma boa ideia?’”, brincou. “Porque, na verdade, estou até bastante exausto”.

Não à toa. Brian se envolveu até com um reality show: está em 007: Road to a Million, que estreia no próximo dia 10 no Prime Video. No programa, participantes passam por missões intrincadas estilo James Bond, com o auxílio do “Controlador” (Cox). É ele quem “observa” e “comanda” os competidores. Um misto do diretor de Show de Truman com a figura de M, do espião inglês.

“Essa parte foi muito divertida”, ressaltou. “Poder ver os participantes tomando suas decisões e dizer: ‘Por que ele está fazendo isso?’, ‘Não, não faça isso!’”.

Agora, ele também tem um pé na franquia 007, feito dos sonhos para qualquer britânico. No que diz respeito à paixão por Bond, Brian não é exceção, mas prefere o modelo mais clássico do espião.

“Eu adorava os filmes de James Bond. Sempre adorei. Sou da geração de Sean Connery e Roger Moore. Então há um elemento sarcástico, que já não é mais tão presente. O irônico, cômico James Bond. Esse é o meu”.

Para ele, trata-se de uma franquia “brilhantemente administrada”. No conceito de Brian, isso significa ter a capacidade de se adaptar com as décadas – como ele mesmo fez com sua carreira. “Os filmes 007 sempre refletiram o tempo em que foram feitos. Acho isso admirável”.

Cox tem a aura da franquia, e sabe disso. “Acho que sou um vilão de James Bond enrustido. É uma coisa que eu adoraria ter feito”, diz. “Aquele que grita: ‘Você deve morrer, Mr. Bond!’”.

Apesar da cara de vilão, a trajetória de Brian é mais do tipo “personagem batalhador de filme dramático”. Natural da cidade costeira de Dundee, na Escócia, ele é uma criança pós-guerra, filho caçula de cinco e criado por suas irmãs mais velhas. É um fruto da working class britânica, de criação católica. Em outras palavras, em sua vida, nada foi ganho; tudo foi conquistado.

Treinado na London Academy of Music and Dramatic Art, Cox mergulhou na atuação ainda menor de idade e, em poucos anos, se tornou um dos nomes proeminentes do teatro britânico. Foi de Londres à Broadway (e off-Broadway), dos palcos à direção e chegou até a ensinar atuação em Moscou. Foi o primeiro ator a trazer Dr. Hannibal Lecter às telonas (Manhunter, 1968), interpretou o “criador” de Jason Bourne na franquia estrelada por Matt Damon e já foi até Hermann Göring, em uma interpretação criticamente aclamada. A essa altura, ele tem dois Laurence Olivier Awards, um Emmy e um Globo de Ouro, além de ter sido convidado à Ordem do Império Britânico.

Tudo isso é consequência, não causa: Brian é um ator com profundo interesse na arte, na humanidade e sua história. Tem interesse na gente, também.

“Sempre quis ir para o Brasil, fico intrigado por seu país. Vocês passaram por muito politicamente”, disse, sem entrar em detalhes. O ator já se posicionou algumas vezes contra Trump, Putin e até Bolsonaro – então é possível imaginar a que ele se refere. No quesito político, ele é o oposto do conservador Logan.

“Estou, inclusive, preocupado com a Floresta Amazônica”, ressalta. Coisa que nenhum Roy jamais diria.

Ele nunca veio à América do Sul, o que confessa cabisbaixo. Mas de todos os motivos para querer visitar os latinos, Brian tem um mais surpreendente. “Eu dançava tango”, conta, sorridente. “Sempre quis ir a Buenos Aires e dançar a milonga”.

Cara de vilão de 007, dançarino de tango, Bach nos teatros. Como, então, resumir Brian Cox? Talvez pela única coisa que ele tem em comum com seu personagem mais icônico: a franqueza de quem não tem tempo a perder.

“Quando alguém pergunta ‘Por que você quer fazer tal coisa?’, eu imediatamente quero fazer”, conta. “Porque, para mim, essa é uma pergunta estúpida. Não existe um porquê, no sentido filosófico. Tudo que eu faço é porque quero fazer”.

Já isso, Logan Roy também diria.

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