Um herói à brasileira. É assim que a HBO quer levar ao público a história de Santos Dumont, famoso inventor que ganhou a alcunha de pai da aviação (apesar da história dar o crédito aos irmãos Wright). A minissérie, que faz todo um resgate histórico do próprio Brasil na reta final da escravidão, estreia no próximo domingo, 10, e vai apresentar ao público um lado mais humano do ícone brasileiro, mostrando suas falhas, erros, tentativas e, obviamente, os acertos.
Aliás, essa é a tônica deste novo projeto: como tornar o icônico aviador em alguém de carne e osso, assim como quem o assistir. "Desde o princípio, o aspecto mais interessante nesta produção é que nós sempre tentamos humanizar ao máximo o personagem", explica João Pedro Zappa, ator que interpreta nas telas o famoso Alberto Santos Dumont, durante entrevista ao Estado.
"Não é muito difícil construir a personalidade de um herói, daquela pessoa que nunca erra. Porém, eu acredito que principalmente no caso dos trabalhos biográficos, o mais relevante é mostrar essa figura em seu aspecto mais íntimo e pessoal, pois seu legado jamais poderá ser anulado", completa um orgulhoso Zappa, que em momento algum escondeu o quanto estava satisfeito com o projeto.
E essa busca por construir as diversas camadas do seu personagem principal, é algo que fica evidente desde o primeiro capítulo da produção. O cuidado, segundo Roberto Rios, vice-presidente corporativo de Produções Originais da HBO América Latina, foi amplamente redobrado entre todos os membros da equipe, já que tudo que eles não queriam era apresentar uma caricatura do inventor brasileiro.
"É fácil fazer uma fantasia de Santos Dumont para o Halloween. Basta o bigode, o chapéu Panamá e em poucos instantes, qualquer pessoa com o mínimo de fisionomia vai conseguir se parecer com ele. Colocar alguém caracterizado a rigor, ao lado do 14-Bis, não é fazer o Santos Dumont, mas sim, criar uma caricatura dele", explica Rios ao Estado.
Não à toa, o projeto levou quase três anos apenas para seguir adiante da fase inicial de pesquisas. Nesse meio tempo, os diretores Estevão Ciavatta e Fernando Acquarone foram de Ribeirão Preto a Champs-Elysées em Paris, onde visitaram a casa do inventor na cidade francesa e a fazenda de café da família Dumont na região do interior de São Paulo. Livros, biografias e fotos também serviram como material de apoio nesse processo.
E talvez seja toda essa complexidade, em conseguir fazer este resgate histórico, que tenha impossibilitado Santos Dumont de chegar às telas antes. "É uma série histórica, da virada do século, com aeronaves, balões e todo um cenário da época. Ao todo, quatro idiomas serão utilizados no decorrer dos capítulos", diz Estevão Ciavatta. Para ele, as pesquisas renderam outros bons frutos, pois ainda no mês passado ele divulgou Mais Leve Que o Ar - A Infância de Alberto Santos Dumont, livro que leva aos pequenos a história do inventor.
Invenções
Aos que estiverem se perguntando, sim, todas as invenções de Santos Dumont serão cuidadosamente retratadas na televisão, em um longo processo de criação que envolveram o empréstimo de algumas réplicas, como é o caso do 14-Bis. O famoso avião, que será mostrado em toda a sua glória, veio de Alan Calassa, admirador incondicional do ícone brasileiro, que gentilmente cedeu sua réplica perfeita - feita com bambus, madeira e metal, para os diretores. Dele também veio o Demoiselle, outra criação extremamente popular do inventor.
No entanto, muito do que se vê nas telas, foram criações feitas pela própria produção. "Seus desenhos técnicos, que hoje em dia já não existem mais, foram recriados pelo nosso departamento de arte, em um trabalho muito minucioso", conta Acquarone. Além dos esboços, a equipe também reconstruiu outras importantes invenções de Dumont, como o Dirigível nº6, por exemplo. Nesse aspecto, é interessante destacar que muito pouco do que será visto foi fruto de efeitos especiais, uma vez que a equipe teve o cuidado de reconstruir manualmente as principais criações do brasileiro.
Já para recriar as inúmeras cenas de voo, foram necessárias uma série de experimentações por parte da equipe - algo mais Santos Dumont, impossível. "Os voos de balão foram feitos com o auxílio de um guindaste - e ficaram incrivelmente parecidos. No entanto, precisamos de muitos testes com todos: com a equipe de construção, de efeito, de segurança a até mesmo do apoio dos dublês, sempre que fosse necessário", explica Ciavatta.
Todo esse esforço segundo Rios, que não deixa de contar sua profunda relação com a história de Dumont, tem um propósito ainda maior: "O mundo inteiro conta a história de seus personagens, de sua cultura e de seus heróis, enquanto isso, nós aqui temos o histórico de simplesmente esquecer. Será que as pessoas sabem o porque o nome do aeroporto é Santos Dumont?".
Tendo isto em mente, restará ao público apenas se encantar com as inúmeras facetas e mistérios que rondam a personalidade de Dumont, que será retratado em toda a sua brasilidade. "Queremos que as pessoas fiquem apaixonadas por ele como a gente ficou e que deem o merecido crédito a ele, como o inventor do avião, pois ele de fato o é", finaliza Ciavatta.