Nas últimas semanas, Ted Bundy, Suzane von Richthofen, Maníaco do Parque, Alexandre Nardoni e outros conhecidos assassinos condenados deixaram as páginas policiais para ilustrar um outro tipo de conteúdo: séries documentais sobre criminosos. Sucesso absoluto na plataforma de streaming da Netflix, elas dividem espaço com produções juvenis e sagas de heróis para mergulhar um pouco mais fundo na mente de serial killers, psicopatas e assassinos, dando um aspecto pop para essas histórias policiais e tentando, por meio de documentos e entrevistas, compreender a mente dessas pessoas.
Uma das que mais chamam a atenção no catálogo é a Investigação Criminal, que acabou de ganhar sua 4ª temporada no streaming. Produzida originalmente para o canal pago A&E, a série foi licenciada para a Netflix, ainda em 2018, junto com outros sete títulos, como Anatomia de um Crime, Divisão de Homicídios e P.O.L.I.C.I.A. Mas é Investigação Criminal a que ganhou a atenção do público, que ficou interessado em saber mais sobre os métodos policiais para identificar e prender os responsáveis de alguns dos mais conhecidos crimes no País. Apesar do aspecto amador dos primeiros episódios, a série ganha o público pelo roteiro amarrado e pelos fortes detalhes de transformam a série documental numa espécie de thriller.
“A ideia de fazer o Investigação Criminal nasceu em 2010, quando estreamos o programa Operação Policial. Naquela ocasião, tínhamos um público consolidado que começou a querer saber como a polícia trabalhou nos casos de repercussão. Percebemos que ali havia um espaço de conteúdo a ser preenchido”, explica Beto Ribeiro, produtor de Investigação Criminal ao Estado. O percurso da produtora até o material final, hoje exibido pela Netflix, não foi fácil: só o programa sobre a morte de Isabella Nardoni, por exemplo, levou um ano e meio para ser finalizado por conta da dificuldade de realizar as três entrevistas e de obter o material da perícia. Hoje, já são 32 episódios no catálogo do streaming sobre casos de todo o Brasil, como de Suzane von Richthofen, Maníaco do Parque, Mércia Nakashima e outros.
Para Ribeiro, o momento é excelente para a produção de conteúdo sobre histórias reais de crimes por dar um olhar mais “seco” e completo sobre casos que, antes, eram tratados com descaso ou distanciamento. “O crime e a trama policial sempre atraíram audiência. Todos gostamos de saber os detalhes, brincar de investigadores. Mas tem de gostar mesmo de produzir série policial, em que a polícia é a heroína da história”, diz Ribeiro, da Medialand. “Hoje, as pessoas gostam de ver que temos um CSI nacional. Conteúdos genuinamente policiais, em que o produtor conta uma história policial sem viés político.”
Não são só casos criminais brasileiros que fazem sucesso na Netflix. Dentre os mais de 35 produtos disponíveis na aba de séries criminais, segundo levantamento do site Filmes Netflix, existe de tudo: detalhamento de um dos casos policiais mais bizarros da história dos EUA, em Gênio Diabólico, a vida de pessoas que foram abusadas por padres, na recente Exame de Consciência; e biografia de crimes famosos, como do serial killer Ted Bundy, em Conversando com um serial killer. “A Netflix sempre investiu em originais de crimes, agora essas produções estão em alta”, diz o responsável pelo site, Ricardo Ferreira. “Dos 112 lançamentos de fevereiro, 16 são sobre crimes. Seis deles são originais.”
A série de Ted Bundy, condenado à morte nos EUA pelo assassinato de mais de 30 garotas, aliás, mostra um dos motivos pelos quais as pessoas ficam obcecadas pelas produções criminais. A Netflix, percebendo a relativização da vida do criminoso, alertou pelas redes que é importante lembrar o passado dele. “Vi pessoas falando que Ted Bundy é sexy. Gostaria de lembrar gentilmente que há milhares de homens sexies na plataforma. Quase todos não são assassinos condenados”, alertou a empresa em post em rede social.