Alegre, irreverente, visionário, indiscreto. Vários são os adjetivos usados para descrever Silvio Santos, mas poucos compreendem toda a complexidade do dono do SBT. Afinal, além de artista, ele também é pai de família, empresário, político. Um homem de várias camadas e que tenta ser desvendado pelas três biografias que começam a chegar às livrarias brasileiras a partir desta semana.
O jornalista Fernando Morgado, por exemplo, começou a se interessar por Silvio há 15 anos, quando decidiu se dedicar a estudar personagens marcantes da TV. A pesquisa sobre o dono do SBT, porém, foi se arrastando ao longo dos anos e a dificuldade em conversar com Silvio fez com que o material só começasse a sair do papel, de fato, em 2014. “Ele é um personagem com uma complexidade impressionante”, diz o jornalista ao Estado.
Seu livro, Silvio Santos – A Trajetória do Mito (Ed. Matrix, 208 págs., R$ 39,90), acaba de chegar às livrarias do País e se divide em cinco grandes perfis de Silvio: empresário, artista, dono de televisão, político e pai de família. Em cada capítulo, Morgado introduz o tema com um pequeno texto descritivo e, em seguida, compila frases ditas por Silvio desde 1950. “Queria fazer um livro com a voz dele presente”, conta. “Por isso, reuni todo o material que coletei sobre ele ao longo dos últimos anos e dividi em capítulos que, juntos, compõem a figura completa de Silvio.”
Segundo Morgado, o objetivo é atualizar a vida do apresentador para as pessoas – afinal, o último livro biográfico sobre o “patrão” é A Fantástica História de Silvio Santos, publicada pelo jornalista Arlindo Silva, em 2000. “Quis mostrar as vitórias, os fracassos, as derrotas”, diz o autor. Além de entender mais a figura de Silvio, também é possível se divertir com algumas histórias inéditas. Em uma delas, Silvio era apresentador da Rádio Continental e, durante um anúncio, um outro locutor trocou as palavras e falou “cueca de alumínio” ao invés de caneca. Silvio não aguentou e se trancou no banheiro de tanto que gargalhava – deixando a rádio sem programação por alguns minutos. O diretor, bravo com a interrupção, demitiu Silvio sem pensar duas vezes.
Em outra história, conta-se que Silvio recebeu proposta de emprego na Rádio Guanabara, mas que, ao fazer as contas, viu que ganhava seu salário como locutor trabalhando apenas um dia como camelô. Não deu outra: abandonou o rádio e voltou às ruas do Rio para vender canetas, fogos de artifício e até coelhos de chocolate na época de Páscoa.
Apesar do empenho de Morgado, ele não conseguiu se aproximar de seu biografado. “Não conheço Silvio, nem cheguei perto dele”, diz, aos risos, o biógrafo carioca. Mesmo não autorizado, porém, o livro parece ter caído nas graças do apresentador. Ao longo das últimas semanas, o SBT está veiculando um anúncio misterioso sobre a biografia. “A trajetória do mito está chegando”, diz a voz do locutor oficial da emissora.
Procurado pelo Estado, o apresentador não respondeu aos pedidos de entrevista. Morgado, porém, está confiante na possibilidade de conhecer Silvio ao vivo. “Só com o anúncio do SBT, já me sinto satisfeito. Mas, se conseguir conhecer Silvio, terei o sentimento de dever cumprido”, revela.
Ritmo de festa. O trabalho de pesquisa de Fernando Morgado não é o único a retratar a vida de Silvio. Em agosto deste ano, a editora gaúcha Avec deverá relançar Silvio Santos: Luta e Glória, uma história em quadrinhos sobre o “patrão”. Escrita por R. F. Lucchetti e publicada originalmente em 1979, a história vendeu mais de 200 mil exemplares em bancas de jornal de todo o País.
“Quando foi publicada, a HQ foi um sucesso”, afirma o editor da Avec, Artur Vecchi. A publicação foi a primeira a contar em detalhes a trajetória de Silvio, narrando seus dias como camelô até as primeiras negociações para comprar o Baú. Segundo Vecchi, nada será alterado dos originais. “Alunos da Faculdade Rio Branco estão restaurando a HQ”, informa. “A história chegará às livrarias como foi vendida em 1979.”
Além dos quadrinhos, a Companhia das Letras promete trazer uma biografia de Silvio ainda em 2018, escrita pelo jornalista Ricardo Valladares e com entrevistas inéditas com Silvio. Procurado pelo Estado, Valladares preferiu não comentar sobre a biografia.