‘Succession’ entrega episódio histórico e HBO mostra por que está em outro patamar


Na era do streaming, o canal ainda consegue prender milhões à frente da TV a cada domingo. Com capítulo brutal e inesperado, série de Jesse Armstrong se consolida como fenômeno e favorita às premiações da temporada; leia análise

Por João Abel
Atualização:

Uma hora de puro catatonismo à frente da televisão. Succession, que se despede do público nesta temporada, precisou apenas de seu excepcional elenco e uma reviravolta inesperada para consagrar O Casamento de Connor como um dos episódios mais emblemáticos da TV norte-americana nos últimos anos. ⚠️ Atenção! A partir daqui o texto contém spoilers.

Brian Cox em cena de Succession Foto: HBO

Logan Roy: um fim antiépico, mas épico

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Mais um embate familiar de grandes proporções estava traçado no final do episódio da última semana. Foi quando os irmãos Kendall (Jeremy Strong), Shiv (Sarah Snook) e Roman (Kieran Culkin) se reencontraram com o pai, Logan Roy (Brian Cox), em uma sala privada de karaokê durante a excêntrica e desalentada despedida de solteiro do primogênito Connor (Alan Ruck).

Mas chegou o domingo de Páscoa e tudo desmoronou. Succession atravessou nossas esperanças na contramão e trouxe à tela uma quebra de expectativa avassaladora. O casamento de Connor? Virou nota de rodapé. O conflito? Não veio. Ken, Shiv e Roman não tiveram tempo de um último confronto com o pai, quando a finitude da vida se colocou à frente de tudo. A morte de Logan é tão inesperada que o espectador se pergunta: ela é real? É mais um truque? Isso está realmente acontecendo?

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A partida do protagonista, no entanto, acontece como deve ser. Porque ninguém pode dizer quando a morte chega. Ela simplesmente chega. Jesse Armstrong, diretor da série, decidiu fazê-la da maneira mais improvável. E acertou.

“Se vamos fazer isso, simplesmente não queremos ver as pessoas chorando e depois ter um funeral e acabar com a série. Queremos ver como a morte de alguém significativo repercute em uma família”, afirmou Armstrong no vídeo de bastidores do episódio. Assista (em inglês):

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O cartaz oficial da quarta temporada já trazia uma mensagem subliminar sobre a morte de Logan: reparem no avião. É durante um voo que o bilionário dono do conglomerado Waystar Royco sofre uma parada cardíaca.

A morte (e a repercussão) minuto a minuto

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A grande sacada de Armstrong é simplesmente não mostrar os minutos finais do protagonista. Sem saber de fato o que aconteceu com ele, o cenário é quase como o da partida de uma pessoa real.

O que vemos ali é a fiel representação de como as coberturas de morte de grandes figuras ocorrem hoje em dia. Um burburinho começa… ninguém confirma… mensagens começam a pipocar nas redes sociais… pode ser fake news... Ou será que não? O mundo inteiro para em suspense: morreu ou não? Como ficou Roman, sem se deixar acreditar antes que realmente pudesse ver o corpo do pai.

É aquele intervalo de tempo em que fica a torcida para que um milagre aconteça, mesmo quando se trata de alguém tão inescrupuloso quanto Logan. Até que a notícia é confirmada.

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“Acho que é assim que ele gostaria de morrer, em um avião particular, voando para fazer o maior negócio da vida, bem rápido e indolor, e com seus filhos sussurrando em seu ouvido que o amam. Eu acho que é um episódio muito feliz”, diz Armstrong.

Jeremy Strong como Kendall Roy, Sarah Snook como Shiv Roy, e Kieran Culkin como Roman Roy Foto: HBO

No fundo, o primeiro episódio de Succession lá em 2018 já dava a letra. Nele, Logan também estava voando (mas num helicóptero) quando sofreu um derrame. A ideia inicial do criador da série era matar o personagem de Brian Cox logo no começo da trama e deixar os herdeiros brigando em meio ao ninho de cobras bilionárias. A brilhante atuação do veterano ator fez com que, felizmente, sua morte fosse adiada. Mas a gente sabia que, uma hora, ela chegaria.

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Agora, depois de quase quatro temporadas, o pilar fundamental da série vai embora e deixa um ponto de interrogação na cabeça dos filhos, dos funcionários… e do público, que, atônito, assistiu ao episódio deste domingo, entre aplausos e bocas abertas de incredulidade.

HBO continua acertando

Ao entregar uma experiência de vida real em tempo real, na melhor ficção de seu atual catálogo, a HBO conseguiu novamente o que vem fazendo com maestria: segurar milhões à frente da televisão, domingo após domingo, mesmo no auge do streaming.

Na era em que adoramos maratonar séries, em que queremos assistir a tudo em todo lugar o tempo inteiro, eles mantêm o segredo: o ritual dominical de deixar a respiração do público suspensa, até que um grande episódio esteja disponível para encher a tela. Game of Thrones, The Last of Us, Succession, apenas alguns exemplos mais recentes. Sopranos, finalizada em 2007, se quisermos retroceder um pouco mais, a um momento anterior aos conteúdos on demand.

Com os episódios divulgados semanalmente, a HBO obriga seu espectador mais fiel a assisti-los rapidamente para fugir dos possíveis spoilers e entrar na discussão.

Neste domingo, a série conseguiu sua maior audiência: 2,5 milhões de pessoas assistiram ao capítulo nas plataformas disponíveis, ultrapassando os 2,3 milhões do primeiro episódio desta última temporada, que eram a melhor marca até o momento.

Succession também esteve entre os principais assuntos comentados no Twitter aqui no Brasil. Ainda que a disputa com BBB e as finais dos campeonatos estaduais fosse difícil, a série estava lá na lista dos trending topics. Nos Estados Unidos, dominou totalmente o assunto da rede.

Sem apostar numa produção de escala histriônica e global, como a principal concorrente Netflix, a HBO segue construindo atrações com qualidade e cuidado. Em muitos casos, sem a preocupação com renovações desnecessárias. Com exceção a Game of Thrones, que se tornou um universo de alcance gigantesco e acabou sendo esticada por demais (até ganhar um bom spin-off), as principais séries do canal geralmente acertam no tempero da trama e na duração. The White Lotus, Euphoria, I May Destroy You, Mare of Easttown, Chernobyl. Para citar apenas algumas das produções recentes mais bem acabadas.

Jesse Armstrong recebeu o prêmio de melhor direção em série de drama no Emmy 2022 por 'Succession' 

Entreguem todos os Emmys

Séries com grande sucesso na crítica costumam ser consagradas no Emmy em sua temporada final. E se isso ocorrer com Succession, não será nada mais que merecido. Até agora, já são 13 estatuetas da maior premiação da televisão norte-americana, sendo duas de Melhor Série de Drama. E outras virão por aí.

Falta espaço para tanta atuação de classe. Se pudessem, Strong, Cox e Culkin deveriam dividir o prêmio de Melhor Ator. Sarah Snook já se consolida para finalmente vencer Melhor Atriz de Drama, que merece desde a temporada passada.

É a interpretação primorosa de cada personagem do elenco, incluindo o maravilhoso coadjuvante Matthew Macfadyen (no papel de Tom Wambsgans), que fizeram do último episódio um primor televisivo. Acompanhamos sem piscar um capítulo basicamente construído no diálogo. O mensageiro entre os dois núcleos - o navio do casamento de Connor e o avião da morte de Logan - eram celulares em viva-voz.

O cenário mais frio possível para o anúncio de uma morte se tornou o mais familiar possível para o espectador graças à emoção entregue por cada um dos atores.

Mesmo sem Brian Cox, os capítulos finais devem manter o nível de roteiro e atuação. Armstrong promete que eles serão chocantes, em especial o de número 8. Succession tem novos episódios disponíveis todos os domingos, às 22h, na HBO Max.

Uma hora de puro catatonismo à frente da televisão. Succession, que se despede do público nesta temporada, precisou apenas de seu excepcional elenco e uma reviravolta inesperada para consagrar O Casamento de Connor como um dos episódios mais emblemáticos da TV norte-americana nos últimos anos. ⚠️ Atenção! A partir daqui o texto contém spoilers.

Brian Cox em cena de Succession Foto: HBO

Logan Roy: um fim antiépico, mas épico

Mais um embate familiar de grandes proporções estava traçado no final do episódio da última semana. Foi quando os irmãos Kendall (Jeremy Strong), Shiv (Sarah Snook) e Roman (Kieran Culkin) se reencontraram com o pai, Logan Roy (Brian Cox), em uma sala privada de karaokê durante a excêntrica e desalentada despedida de solteiro do primogênito Connor (Alan Ruck).

Mas chegou o domingo de Páscoa e tudo desmoronou. Succession atravessou nossas esperanças na contramão e trouxe à tela uma quebra de expectativa avassaladora. O casamento de Connor? Virou nota de rodapé. O conflito? Não veio. Ken, Shiv e Roman não tiveram tempo de um último confronto com o pai, quando a finitude da vida se colocou à frente de tudo. A morte de Logan é tão inesperada que o espectador se pergunta: ela é real? É mais um truque? Isso está realmente acontecendo?

A partida do protagonista, no entanto, acontece como deve ser. Porque ninguém pode dizer quando a morte chega. Ela simplesmente chega. Jesse Armstrong, diretor da série, decidiu fazê-la da maneira mais improvável. E acertou.

“Se vamos fazer isso, simplesmente não queremos ver as pessoas chorando e depois ter um funeral e acabar com a série. Queremos ver como a morte de alguém significativo repercute em uma família”, afirmou Armstrong no vídeo de bastidores do episódio. Assista (em inglês):

O cartaz oficial da quarta temporada já trazia uma mensagem subliminar sobre a morte de Logan: reparem no avião. É durante um voo que o bilionário dono do conglomerado Waystar Royco sofre uma parada cardíaca.

A morte (e a repercussão) minuto a minuto

A grande sacada de Armstrong é simplesmente não mostrar os minutos finais do protagonista. Sem saber de fato o que aconteceu com ele, o cenário é quase como o da partida de uma pessoa real.

O que vemos ali é a fiel representação de como as coberturas de morte de grandes figuras ocorrem hoje em dia. Um burburinho começa… ninguém confirma… mensagens começam a pipocar nas redes sociais… pode ser fake news... Ou será que não? O mundo inteiro para em suspense: morreu ou não? Como ficou Roman, sem se deixar acreditar antes que realmente pudesse ver o corpo do pai.

É aquele intervalo de tempo em que fica a torcida para que um milagre aconteça, mesmo quando se trata de alguém tão inescrupuloso quanto Logan. Até que a notícia é confirmada.

“Acho que é assim que ele gostaria de morrer, em um avião particular, voando para fazer o maior negócio da vida, bem rápido e indolor, e com seus filhos sussurrando em seu ouvido que o amam. Eu acho que é um episódio muito feliz”, diz Armstrong.

Jeremy Strong como Kendall Roy, Sarah Snook como Shiv Roy, e Kieran Culkin como Roman Roy Foto: HBO

No fundo, o primeiro episódio de Succession lá em 2018 já dava a letra. Nele, Logan também estava voando (mas num helicóptero) quando sofreu um derrame. A ideia inicial do criador da série era matar o personagem de Brian Cox logo no começo da trama e deixar os herdeiros brigando em meio ao ninho de cobras bilionárias. A brilhante atuação do veterano ator fez com que, felizmente, sua morte fosse adiada. Mas a gente sabia que, uma hora, ela chegaria.

Agora, depois de quase quatro temporadas, o pilar fundamental da série vai embora e deixa um ponto de interrogação na cabeça dos filhos, dos funcionários… e do público, que, atônito, assistiu ao episódio deste domingo, entre aplausos e bocas abertas de incredulidade.

HBO continua acertando

Ao entregar uma experiência de vida real em tempo real, na melhor ficção de seu atual catálogo, a HBO conseguiu novamente o que vem fazendo com maestria: segurar milhões à frente da televisão, domingo após domingo, mesmo no auge do streaming.

Na era em que adoramos maratonar séries, em que queremos assistir a tudo em todo lugar o tempo inteiro, eles mantêm o segredo: o ritual dominical de deixar a respiração do público suspensa, até que um grande episódio esteja disponível para encher a tela. Game of Thrones, The Last of Us, Succession, apenas alguns exemplos mais recentes. Sopranos, finalizada em 2007, se quisermos retroceder um pouco mais, a um momento anterior aos conteúdos on demand.

Com os episódios divulgados semanalmente, a HBO obriga seu espectador mais fiel a assisti-los rapidamente para fugir dos possíveis spoilers e entrar na discussão.

Neste domingo, a série conseguiu sua maior audiência: 2,5 milhões de pessoas assistiram ao capítulo nas plataformas disponíveis, ultrapassando os 2,3 milhões do primeiro episódio desta última temporada, que eram a melhor marca até o momento.

Succession também esteve entre os principais assuntos comentados no Twitter aqui no Brasil. Ainda que a disputa com BBB e as finais dos campeonatos estaduais fosse difícil, a série estava lá na lista dos trending topics. Nos Estados Unidos, dominou totalmente o assunto da rede.

Sem apostar numa produção de escala histriônica e global, como a principal concorrente Netflix, a HBO segue construindo atrações com qualidade e cuidado. Em muitos casos, sem a preocupação com renovações desnecessárias. Com exceção a Game of Thrones, que se tornou um universo de alcance gigantesco e acabou sendo esticada por demais (até ganhar um bom spin-off), as principais séries do canal geralmente acertam no tempero da trama e na duração. The White Lotus, Euphoria, I May Destroy You, Mare of Easttown, Chernobyl. Para citar apenas algumas das produções recentes mais bem acabadas.

Jesse Armstrong recebeu o prêmio de melhor direção em série de drama no Emmy 2022 por 'Succession' 

Entreguem todos os Emmys

Séries com grande sucesso na crítica costumam ser consagradas no Emmy em sua temporada final. E se isso ocorrer com Succession, não será nada mais que merecido. Até agora, já são 13 estatuetas da maior premiação da televisão norte-americana, sendo duas de Melhor Série de Drama. E outras virão por aí.

Falta espaço para tanta atuação de classe. Se pudessem, Strong, Cox e Culkin deveriam dividir o prêmio de Melhor Ator. Sarah Snook já se consolida para finalmente vencer Melhor Atriz de Drama, que merece desde a temporada passada.

É a interpretação primorosa de cada personagem do elenco, incluindo o maravilhoso coadjuvante Matthew Macfadyen (no papel de Tom Wambsgans), que fizeram do último episódio um primor televisivo. Acompanhamos sem piscar um capítulo basicamente construído no diálogo. O mensageiro entre os dois núcleos - o navio do casamento de Connor e o avião da morte de Logan - eram celulares em viva-voz.

O cenário mais frio possível para o anúncio de uma morte se tornou o mais familiar possível para o espectador graças à emoção entregue por cada um dos atores.

Mesmo sem Brian Cox, os capítulos finais devem manter o nível de roteiro e atuação. Armstrong promete que eles serão chocantes, em especial o de número 8. Succession tem novos episódios disponíveis todos os domingos, às 22h, na HBO Max.

Uma hora de puro catatonismo à frente da televisão. Succession, que se despede do público nesta temporada, precisou apenas de seu excepcional elenco e uma reviravolta inesperada para consagrar O Casamento de Connor como um dos episódios mais emblemáticos da TV norte-americana nos últimos anos. ⚠️ Atenção! A partir daqui o texto contém spoilers.

Brian Cox em cena de Succession Foto: HBO

Logan Roy: um fim antiépico, mas épico

Mais um embate familiar de grandes proporções estava traçado no final do episódio da última semana. Foi quando os irmãos Kendall (Jeremy Strong), Shiv (Sarah Snook) e Roman (Kieran Culkin) se reencontraram com o pai, Logan Roy (Brian Cox), em uma sala privada de karaokê durante a excêntrica e desalentada despedida de solteiro do primogênito Connor (Alan Ruck).

Mas chegou o domingo de Páscoa e tudo desmoronou. Succession atravessou nossas esperanças na contramão e trouxe à tela uma quebra de expectativa avassaladora. O casamento de Connor? Virou nota de rodapé. O conflito? Não veio. Ken, Shiv e Roman não tiveram tempo de um último confronto com o pai, quando a finitude da vida se colocou à frente de tudo. A morte de Logan é tão inesperada que o espectador se pergunta: ela é real? É mais um truque? Isso está realmente acontecendo?

A partida do protagonista, no entanto, acontece como deve ser. Porque ninguém pode dizer quando a morte chega. Ela simplesmente chega. Jesse Armstrong, diretor da série, decidiu fazê-la da maneira mais improvável. E acertou.

“Se vamos fazer isso, simplesmente não queremos ver as pessoas chorando e depois ter um funeral e acabar com a série. Queremos ver como a morte de alguém significativo repercute em uma família”, afirmou Armstrong no vídeo de bastidores do episódio. Assista (em inglês):

O cartaz oficial da quarta temporada já trazia uma mensagem subliminar sobre a morte de Logan: reparem no avião. É durante um voo que o bilionário dono do conglomerado Waystar Royco sofre uma parada cardíaca.

A morte (e a repercussão) minuto a minuto

A grande sacada de Armstrong é simplesmente não mostrar os minutos finais do protagonista. Sem saber de fato o que aconteceu com ele, o cenário é quase como o da partida de uma pessoa real.

O que vemos ali é a fiel representação de como as coberturas de morte de grandes figuras ocorrem hoje em dia. Um burburinho começa… ninguém confirma… mensagens começam a pipocar nas redes sociais… pode ser fake news... Ou será que não? O mundo inteiro para em suspense: morreu ou não? Como ficou Roman, sem se deixar acreditar antes que realmente pudesse ver o corpo do pai.

É aquele intervalo de tempo em que fica a torcida para que um milagre aconteça, mesmo quando se trata de alguém tão inescrupuloso quanto Logan. Até que a notícia é confirmada.

“Acho que é assim que ele gostaria de morrer, em um avião particular, voando para fazer o maior negócio da vida, bem rápido e indolor, e com seus filhos sussurrando em seu ouvido que o amam. Eu acho que é um episódio muito feliz”, diz Armstrong.

Jeremy Strong como Kendall Roy, Sarah Snook como Shiv Roy, e Kieran Culkin como Roman Roy Foto: HBO

No fundo, o primeiro episódio de Succession lá em 2018 já dava a letra. Nele, Logan também estava voando (mas num helicóptero) quando sofreu um derrame. A ideia inicial do criador da série era matar o personagem de Brian Cox logo no começo da trama e deixar os herdeiros brigando em meio ao ninho de cobras bilionárias. A brilhante atuação do veterano ator fez com que, felizmente, sua morte fosse adiada. Mas a gente sabia que, uma hora, ela chegaria.

Agora, depois de quase quatro temporadas, o pilar fundamental da série vai embora e deixa um ponto de interrogação na cabeça dos filhos, dos funcionários… e do público, que, atônito, assistiu ao episódio deste domingo, entre aplausos e bocas abertas de incredulidade.

HBO continua acertando

Ao entregar uma experiência de vida real em tempo real, na melhor ficção de seu atual catálogo, a HBO conseguiu novamente o que vem fazendo com maestria: segurar milhões à frente da televisão, domingo após domingo, mesmo no auge do streaming.

Na era em que adoramos maratonar séries, em que queremos assistir a tudo em todo lugar o tempo inteiro, eles mantêm o segredo: o ritual dominical de deixar a respiração do público suspensa, até que um grande episódio esteja disponível para encher a tela. Game of Thrones, The Last of Us, Succession, apenas alguns exemplos mais recentes. Sopranos, finalizada em 2007, se quisermos retroceder um pouco mais, a um momento anterior aos conteúdos on demand.

Com os episódios divulgados semanalmente, a HBO obriga seu espectador mais fiel a assisti-los rapidamente para fugir dos possíveis spoilers e entrar na discussão.

Neste domingo, a série conseguiu sua maior audiência: 2,5 milhões de pessoas assistiram ao capítulo nas plataformas disponíveis, ultrapassando os 2,3 milhões do primeiro episódio desta última temporada, que eram a melhor marca até o momento.

Succession também esteve entre os principais assuntos comentados no Twitter aqui no Brasil. Ainda que a disputa com BBB e as finais dos campeonatos estaduais fosse difícil, a série estava lá na lista dos trending topics. Nos Estados Unidos, dominou totalmente o assunto da rede.

Sem apostar numa produção de escala histriônica e global, como a principal concorrente Netflix, a HBO segue construindo atrações com qualidade e cuidado. Em muitos casos, sem a preocupação com renovações desnecessárias. Com exceção a Game of Thrones, que se tornou um universo de alcance gigantesco e acabou sendo esticada por demais (até ganhar um bom spin-off), as principais séries do canal geralmente acertam no tempero da trama e na duração. The White Lotus, Euphoria, I May Destroy You, Mare of Easttown, Chernobyl. Para citar apenas algumas das produções recentes mais bem acabadas.

Jesse Armstrong recebeu o prêmio de melhor direção em série de drama no Emmy 2022 por 'Succession' 

Entreguem todos os Emmys

Séries com grande sucesso na crítica costumam ser consagradas no Emmy em sua temporada final. E se isso ocorrer com Succession, não será nada mais que merecido. Até agora, já são 13 estatuetas da maior premiação da televisão norte-americana, sendo duas de Melhor Série de Drama. E outras virão por aí.

Falta espaço para tanta atuação de classe. Se pudessem, Strong, Cox e Culkin deveriam dividir o prêmio de Melhor Ator. Sarah Snook já se consolida para finalmente vencer Melhor Atriz de Drama, que merece desde a temporada passada.

É a interpretação primorosa de cada personagem do elenco, incluindo o maravilhoso coadjuvante Matthew Macfadyen (no papel de Tom Wambsgans), que fizeram do último episódio um primor televisivo. Acompanhamos sem piscar um capítulo basicamente construído no diálogo. O mensageiro entre os dois núcleos - o navio do casamento de Connor e o avião da morte de Logan - eram celulares em viva-voz.

O cenário mais frio possível para o anúncio de uma morte se tornou o mais familiar possível para o espectador graças à emoção entregue por cada um dos atores.

Mesmo sem Brian Cox, os capítulos finais devem manter o nível de roteiro e atuação. Armstrong promete que eles serão chocantes, em especial o de número 8. Succession tem novos episódios disponíveis todos os domingos, às 22h, na HBO Max.

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