A novela Cabocla, que será reprisada no Edição Especial, da Globo, a partir desta segunda, 26, traz à tona disputas entre coronéis por terras e o amor dificultado por diferenças sociais em 1918, com base na obra de Ribeiro Couto e adaptação de Benedito Ruy Barbosa.
Para Vanessa Giácomo, será um reencontro especial com sua primeira protagonista, a jovem Zuca, que andava de pés descalços, desafiava as exigências sociais da época e queria ter voz ativa em sua vida.
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"Quando um trabalho se eterniza, é uma experiência muito gostosa", diz a protagonista
Com duas décadas de carreira, a atriz conta, nesta entrevista ao Estadão, como encarou, aos 19 anos, a responsabilidade de fazer o papel da menina tímida e arredia em rede nacional. E afirma que não faria nada diferente: “Vejo com muito carinho o que eu fiz. Não assisto com olhar de crítica. Hoje, tenho um cuidado maior comigo, e generosidade com os trabalhos que realizei”.
Discreta sobre sua vida pessoal e hoje casada com o empresário Giuseppe Dioguardi, Vanessa Giácomo, de 41 anos, comenta como a conexão com Daniel Oliveira, seu par romântico na segunda metade da trama, transcendeu a novela: “Não misturo trabalho e vida pessoal, mas foi algo natural que aconteceu”.
Cabocla vai ao ar na faixa das 14h45 da Globo.
Leia a seguir a entrevista de Vanessa Giácomo sobre a novela, a personagem, a infância no campo, a maturidade e a relação com a fama.
Como você acredita que o público de hoje receberá essa novela de Benedito Ruy Barbosa?
A novela foi muito bem recebida e acolhida pelo público. Até hoje, possui um fã-clube forte. As pessoas falam com carinho sobre os personagens. A geração que ainda não assistiu gostará bastante e entenderá o contexto da história. Sempre brinco que as novelas do Benedito parecem ter magia, como se você pudesse sentir o aroma de café com um pão de queijo ou do feijão. Ele realmente valoriza essa vivência.
As novas gerações de jovens da cidade se interessam pelo que é ser cabocla? Entendem?
Acho que sim. Quem não entende vai passar a entender a partir do momento que assistir. Quando fiz a novela, já tinha experiência de viver no campo, descalça, na terra, porque meu pai é do sul de Minas, da cidade de Boa Esperança. Durante as férias, passava esses momentos com os meus primos, correndo, ordenhando vacas e montando a cavalo. Aqueles que são muito urbanos e tecnológicos terão um pouco mais de curiosidade, porque a simplicidade da vida traz momentos muito agradáveis. A trama começa com a rivalidade entre dois coronéis, interpretados por Tony Ramos e Mauro Mendonça, veteranos incríveis com quem tive a oportunidade de trabalhar. A história se aprofunda nas relações entre as pessoas, costurando essas interações.
Como é perceber que seu trabalho tem uma vida própria, talvez eterna, para o futuro e fora do contexto em que foi criado?
Acho que vai ser um prazer rever a novela. Embora não exibam a versão completa, será uma edição especial. Tentarei assisti-la do início ao fim. Quando você faz um trabalho que se eterniza, seja no cinema, em novelas ou no streaming, é muito gostoso e prazeroso. Vejo com muito carinho o que eu fiz, não assisto com olhar de crítica. Hoje, tenho um cuidado maior comigo, tenho generosidade com os trabalhos que fiz e a época que vivi.
No começo da novela, Zuca é tímida e arredia. Como foi acertar o tom da personagem?
Zuca é uma jovem muito corajosa. Ela expressava abertamente seus desejos e suas vontades. Era uma mulher à frente do seu tempo. A mãe tentava mudar o comportamento dela, para o que era esperado socialmente, mas Zuca encarava aquilo. Queria liberdade e ter voz em sua vida. Eu gosto muito dessa mocinha.
Quais são as diferenças da Vanessa de hoje e da que fez Zuca?
Hoje, aos 41 anos, penso de maneira diferente. Quando você é jovem, está mais desarmado para tudo, certo? Hoje sou uma mulher que diz “não” com mais frequência e só faço o que realmente quero. Aos 19, 20 anos, estava descobrindo a vida. Quando entrei para gravar, pensei: ‘não posso acreditar que estou cercada de atores incríveis’. Era a primeira vez que eu estava fazendo TV. É um aprendizado que eu carrego para a minha vida inteira.
Era uma grande responsabilidade...
Sim, sabia que tinha que fazer aquilo muito bem... Sabia do peso que era aquela personagem como protagonista e da responsabilidade. Porém, eu não pesei isso nas cenas. Me diverti. Era leve. Como eu não tinha nenhum outro trabalho para ser comparado, falei: ‘vou viver isso aqui porque também é o meu sonho’. Não fiquei me comparando com a Glória Pires que fez Zuca, na primeira versão de Cabocla. Decidi focar em me preparar. Tinha uma professora de prosódia, outra de equitação. Eu estava cercada mesmo por bons profissionais.
E como foi ir ao supermercado depois de Zuca?
Eu estranhava muito as pessoas me olhando. Eu pensava: será que estou com a roupa suja? Eu não era um rosto que todo mundo conhecia. Às vezes, as pessoas ficavam em dúvida. Teve uma que me abordou e falou: ‘você é prima do fulano?’
Gostou de virar celebridade?
Sou uma pessoa muito discreta. Não exponho muito a minha vida pessoal. Até para fazer capa de revista, se não for para falar sobre um personagem ou meu trabalho como atriz, eu não participo. É bom até para a minha mente, inclusive, para não acreditar nisso porque a fama pode te levar para lugares e você logo cair deles.
Quais lembranças você guarda de contracenar com o Daniel Oliveira? Por que alguns casais de folhetim conquistam o grande público e outros não?
Quando a novela começou o público torcia muito pelo Tobias, interpretado pelo Malvino Salvador, que também estava se lançando em Cabocla e foi um personagem impactante. A Zuca ficou com o Tobias até quase metade da história. Transferir a torcida do público do Tobias para o Luís Jerônimo era um desafio. A maioria das novelas tem esse triângulo amoroso no quais as pessoas precisam torcer para o outro lado. O que ocorreu foi mágico e muito bem escrito. A trama de Benedito cativou e os telespectadores se apaixonaram por esse casal. Foi muito gostoso ter experiência de ter essa virada na novela e da curva dramática do personagem.
Como você vê hoje o fato da relação com Daniel Oliveira ter pulado da ficção para a vida real?
Vejo com naturalidade e com muito carinho pela história que eu vivi. Tive dois filhos com ele. Não misturo trabalho e vida pessoal, mas foi algo natural que aconteceu. Não foi porque estávamos sempre juntos na novela; poderia ter acontecido em outra circunstância. São encontros entre pessoas, algo imprevisível...