Wagner Moura interpreta Pablo Escobar em série: 'Ele tinha dois lados'


José Padilha faz série sobre a caçada dos EUA e da Colômbia ao narcotraficante

Por Pedro Antunes

Wagner Moura anda em uma corda bamba imaginária. A complexidade de seus personagens, nunca tão mocinhos ou tão vilões, o levaram para a indústria. Capitão Nascimento, de Tropa de Elite, era um policial, sim, comandante do Batalhão de Operações Especiais (Bope), mas na briga com o tráfico, adotava métodos pouco humanitários – e também não era dos melhores exemplos como marido e pai. Página a página do roteiro, cena a cena, o ator baiano constrói esses homens que não são dicotômicos. Não há branco ou preto. Há, nas escolhas de Moura, uma predileção por essa área cinzenta na qual certo e errado não são distinguíveis.

No caso do mais novo personagem de Wagner Moura, a distinção parece ser mais fácil. Trata-se, simplesmente, do maior criminoso do século 20, responsável pela distribuição de cocaína em nível mundial, por sequestrar o parlamento colombiano e criar o narcoterrorismo – até então desconhecido. Há complicações nesse estereótipo, contudo, como ele mesmo ressalta em entrevista ao Estado. “O mesmo homem poderia estar ali, conversando com a filha ao telefone, enquanto torturava alguém”, disse o ator, ao explicar as camadas que compõem Escobar. 

Wagner Moura interpreta Pablo Escobar em Narcos Foto: Divulgação
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Para viver o personagem em Narcos, nova série da Netflix, criada pelo parceiro José Padilha, o ator passou uma temporada em Medellín, onde também aprendeu espanhol. Se, para ouvidos brasileiros, o sotaque pode soar curioso, jornalistas latinos, que também se enfileiraram para cinco minutos de entrevista com o ator em São Paulo, no início do mês, elogiaram longamente a pronúncia do brasileiro. A vivência na cidade marcada pelo narcotraficante ajudou a entender mais a complexidade dele. “Bem-vindos ao bairro Pablo Escobar. Aqui se respira paz”, diz um mural da cidade. “É um personagem muito interessante”, resume. “Você chega ao bairro e encontra uma foto dele e outra de Jesus.”

Como gato e rato

José Padilha já dialogou com a luta entre crime e a lei de forma local, com Tropa de Elite (2007), e até num futuro não tão distante, com Robocop (2014). Agora, ele volta no tempo, aos anos 1980, aumenta a escala do duelo e deixa a máscara dos estereótipos. Com Narcos, nova série do serviço de TV sob demanda Netflix, cuja estreia será no dia 28 de agosto, ele resgata a caçada ao homem mais perigoso que o narcotráfico já viu. Pablo Escobar é o rato, caçado por um batalhão de gatos colombianos e norte-americanos. 

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O fim da história, convenhamos, o mundo já sabe. A Padilha coube a vontade de contar a história da ascensão e queda de Pablo Emilio Escobar Gaviria, interpretado pelo companheiro de Tropa Wagner Moura, e dos bastidores de sua caçada, sob os olhares do policial Steve Murphy, interpretado pelo pouco conhecido Boyd Holbrook (Garota Exemplar, 2014). 

Embora a história seja sobre Escobar e o nome de Moura seja o primeiro a surgir na abertura de Narcos, é Holbrook quem narra a história – como foi o Capitão Nascimento em Tropa de Elite. É a visão deste agente do DEA (Drug Enforcement Administration, ou Departamento de Combate às Drogas, em português), vindo de Miami para a Colômbia para buscar a fonte dos incontáveis quilos diários de droga que entravam nos Estados Unidos naqueles anos 1980, a responsável por levar o público a conhecer Escobar, todo o Cartel de Medellín e o início do narcoterrorismo.  Padilha contou com Moura para interpretar um personagem complexo como Escobar, que, apesar de ter mais de 4 mil mortes em sua conta (obviamente não de forma direta), é ainda querido em Medellín, cidade onde se fixou e construiu casas populares em lugares de favelas. O bairro criado por ele, chamado oficialmente de Medellín sin Tugurios, leva informalmente o nome do narcotraficante. 

Moura cita a imagem vista por ele, de uma fotografia do rosto de Escobar ao lado de Jesus Cristo, em Medellín, ao explicar a complexidade do papel que lhe foi entregue por Padilha. “Sem julgar o que ele fez, o fato de ter sido o bandido mais conhecido do século 20, ele tinha dois lados. O que, para um ator, é muito bom. Pablo, até hoje, é um personagem muito amado em Medellín. Ao mesmo tempo, ele colocou a Colômbia de joelhos. É interessante ter esse arco enorme para trabalhar”, afirma o ator. 

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Moura foi a Medellín por conta própria para aprender espanhol – língua que ele não dominava. É mais um passo nesta aproximação do ator com o mercado internacional. Tropa de Elite rodou o mundo e deu a ele visibilidade. Viver o personagem Spider, em Elysium, protagonizado por Matt Damon e dirigido por Neill Blomkamp, testou a versatilidade do ator em uma língua não nativa. O currículo de Moura é elogiável: Serra Pelada, Praia do Futuro, Rio, Eu Te Amo e Trash. Então chegou Narcos, um projeto ao qual Moura se dedicou em boa parte de 2014. “Acho que li tudo o que foi escrito sobre Pablo Escobar, em português, inglês e espanhol”, explica. “Mais interessante foi ir a Medellín aprender a falar espanhol. O sotaque de lá é muito particular. Eles falam de um jeito bem diferente. A Colômbia, apesar de ser um país pequeno se comparado ao nosso, tem uma diversidade geográfica e cultural bastante grande.” 

Caçado pela polícia colombiana e norte-americana, o Escobar de Moura sobrevive longe da dicotomia de herói e vilão. “Ele era uma mistura dessas duas coisas (herói e vilão). E elas não estavam tão separadas assim”, completa o ator. 

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Wagner Moura anda em uma corda bamba imaginária. A complexidade de seus personagens, nunca tão mocinhos ou tão vilões, o levaram para a indústria. Capitão Nascimento, de Tropa de Elite, era um policial, sim, comandante do Batalhão de Operações Especiais (Bope), mas na briga com o tráfico, adotava métodos pouco humanitários – e também não era dos melhores exemplos como marido e pai. Página a página do roteiro, cena a cena, o ator baiano constrói esses homens que não são dicotômicos. Não há branco ou preto. Há, nas escolhas de Moura, uma predileção por essa área cinzenta na qual certo e errado não são distinguíveis.

No caso do mais novo personagem de Wagner Moura, a distinção parece ser mais fácil. Trata-se, simplesmente, do maior criminoso do século 20, responsável pela distribuição de cocaína em nível mundial, por sequestrar o parlamento colombiano e criar o narcoterrorismo – até então desconhecido. Há complicações nesse estereótipo, contudo, como ele mesmo ressalta em entrevista ao Estado. “O mesmo homem poderia estar ali, conversando com a filha ao telefone, enquanto torturava alguém”, disse o ator, ao explicar as camadas que compõem Escobar. 

Wagner Moura interpreta Pablo Escobar em Narcos Foto: Divulgação

Para viver o personagem em Narcos, nova série da Netflix, criada pelo parceiro José Padilha, o ator passou uma temporada em Medellín, onde também aprendeu espanhol. Se, para ouvidos brasileiros, o sotaque pode soar curioso, jornalistas latinos, que também se enfileiraram para cinco minutos de entrevista com o ator em São Paulo, no início do mês, elogiaram longamente a pronúncia do brasileiro. A vivência na cidade marcada pelo narcotraficante ajudou a entender mais a complexidade dele. “Bem-vindos ao bairro Pablo Escobar. Aqui se respira paz”, diz um mural da cidade. “É um personagem muito interessante”, resume. “Você chega ao bairro e encontra uma foto dele e outra de Jesus.”

Como gato e rato

José Padilha já dialogou com a luta entre crime e a lei de forma local, com Tropa de Elite (2007), e até num futuro não tão distante, com Robocop (2014). Agora, ele volta no tempo, aos anos 1980, aumenta a escala do duelo e deixa a máscara dos estereótipos. Com Narcos, nova série do serviço de TV sob demanda Netflix, cuja estreia será no dia 28 de agosto, ele resgata a caçada ao homem mais perigoso que o narcotráfico já viu. Pablo Escobar é o rato, caçado por um batalhão de gatos colombianos e norte-americanos. 

O fim da história, convenhamos, o mundo já sabe. A Padilha coube a vontade de contar a história da ascensão e queda de Pablo Emilio Escobar Gaviria, interpretado pelo companheiro de Tropa Wagner Moura, e dos bastidores de sua caçada, sob os olhares do policial Steve Murphy, interpretado pelo pouco conhecido Boyd Holbrook (Garota Exemplar, 2014). 

Embora a história seja sobre Escobar e o nome de Moura seja o primeiro a surgir na abertura de Narcos, é Holbrook quem narra a história – como foi o Capitão Nascimento em Tropa de Elite. É a visão deste agente do DEA (Drug Enforcement Administration, ou Departamento de Combate às Drogas, em português), vindo de Miami para a Colômbia para buscar a fonte dos incontáveis quilos diários de droga que entravam nos Estados Unidos naqueles anos 1980, a responsável por levar o público a conhecer Escobar, todo o Cartel de Medellín e o início do narcoterrorismo.  Padilha contou com Moura para interpretar um personagem complexo como Escobar, que, apesar de ter mais de 4 mil mortes em sua conta (obviamente não de forma direta), é ainda querido em Medellín, cidade onde se fixou e construiu casas populares em lugares de favelas. O bairro criado por ele, chamado oficialmente de Medellín sin Tugurios, leva informalmente o nome do narcotraficante. 

Moura cita a imagem vista por ele, de uma fotografia do rosto de Escobar ao lado de Jesus Cristo, em Medellín, ao explicar a complexidade do papel que lhe foi entregue por Padilha. “Sem julgar o que ele fez, o fato de ter sido o bandido mais conhecido do século 20, ele tinha dois lados. O que, para um ator, é muito bom. Pablo, até hoje, é um personagem muito amado em Medellín. Ao mesmo tempo, ele colocou a Colômbia de joelhos. É interessante ter esse arco enorme para trabalhar”, afirma o ator. 

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Moura foi a Medellín por conta própria para aprender espanhol – língua que ele não dominava. É mais um passo nesta aproximação do ator com o mercado internacional. Tropa de Elite rodou o mundo e deu a ele visibilidade. Viver o personagem Spider, em Elysium, protagonizado por Matt Damon e dirigido por Neill Blomkamp, testou a versatilidade do ator em uma língua não nativa. O currículo de Moura é elogiável: Serra Pelada, Praia do Futuro, Rio, Eu Te Amo e Trash. Então chegou Narcos, um projeto ao qual Moura se dedicou em boa parte de 2014. “Acho que li tudo o que foi escrito sobre Pablo Escobar, em português, inglês e espanhol”, explica. “Mais interessante foi ir a Medellín aprender a falar espanhol. O sotaque de lá é muito particular. Eles falam de um jeito bem diferente. A Colômbia, apesar de ser um país pequeno se comparado ao nosso, tem uma diversidade geográfica e cultural bastante grande.” 

Caçado pela polícia colombiana e norte-americana, o Escobar de Moura sobrevive longe da dicotomia de herói e vilão. “Ele era uma mistura dessas duas coisas (herói e vilão). E elas não estavam tão separadas assim”, completa o ator. 

Wagner Moura anda em uma corda bamba imaginária. A complexidade de seus personagens, nunca tão mocinhos ou tão vilões, o levaram para a indústria. Capitão Nascimento, de Tropa de Elite, era um policial, sim, comandante do Batalhão de Operações Especiais (Bope), mas na briga com o tráfico, adotava métodos pouco humanitários – e também não era dos melhores exemplos como marido e pai. Página a página do roteiro, cena a cena, o ator baiano constrói esses homens que não são dicotômicos. Não há branco ou preto. Há, nas escolhas de Moura, uma predileção por essa área cinzenta na qual certo e errado não são distinguíveis.

No caso do mais novo personagem de Wagner Moura, a distinção parece ser mais fácil. Trata-se, simplesmente, do maior criminoso do século 20, responsável pela distribuição de cocaína em nível mundial, por sequestrar o parlamento colombiano e criar o narcoterrorismo – até então desconhecido. Há complicações nesse estereótipo, contudo, como ele mesmo ressalta em entrevista ao Estado. “O mesmo homem poderia estar ali, conversando com a filha ao telefone, enquanto torturava alguém”, disse o ator, ao explicar as camadas que compõem Escobar. 

Wagner Moura interpreta Pablo Escobar em Narcos Foto: Divulgação

Para viver o personagem em Narcos, nova série da Netflix, criada pelo parceiro José Padilha, o ator passou uma temporada em Medellín, onde também aprendeu espanhol. Se, para ouvidos brasileiros, o sotaque pode soar curioso, jornalistas latinos, que também se enfileiraram para cinco minutos de entrevista com o ator em São Paulo, no início do mês, elogiaram longamente a pronúncia do brasileiro. A vivência na cidade marcada pelo narcotraficante ajudou a entender mais a complexidade dele. “Bem-vindos ao bairro Pablo Escobar. Aqui se respira paz”, diz um mural da cidade. “É um personagem muito interessante”, resume. “Você chega ao bairro e encontra uma foto dele e outra de Jesus.”

Como gato e rato

José Padilha já dialogou com a luta entre crime e a lei de forma local, com Tropa de Elite (2007), e até num futuro não tão distante, com Robocop (2014). Agora, ele volta no tempo, aos anos 1980, aumenta a escala do duelo e deixa a máscara dos estereótipos. Com Narcos, nova série do serviço de TV sob demanda Netflix, cuja estreia será no dia 28 de agosto, ele resgata a caçada ao homem mais perigoso que o narcotráfico já viu. Pablo Escobar é o rato, caçado por um batalhão de gatos colombianos e norte-americanos. 

O fim da história, convenhamos, o mundo já sabe. A Padilha coube a vontade de contar a história da ascensão e queda de Pablo Emilio Escobar Gaviria, interpretado pelo companheiro de Tropa Wagner Moura, e dos bastidores de sua caçada, sob os olhares do policial Steve Murphy, interpretado pelo pouco conhecido Boyd Holbrook (Garota Exemplar, 2014). 

Embora a história seja sobre Escobar e o nome de Moura seja o primeiro a surgir na abertura de Narcos, é Holbrook quem narra a história – como foi o Capitão Nascimento em Tropa de Elite. É a visão deste agente do DEA (Drug Enforcement Administration, ou Departamento de Combate às Drogas, em português), vindo de Miami para a Colômbia para buscar a fonte dos incontáveis quilos diários de droga que entravam nos Estados Unidos naqueles anos 1980, a responsável por levar o público a conhecer Escobar, todo o Cartel de Medellín e o início do narcoterrorismo.  Padilha contou com Moura para interpretar um personagem complexo como Escobar, que, apesar de ter mais de 4 mil mortes em sua conta (obviamente não de forma direta), é ainda querido em Medellín, cidade onde se fixou e construiu casas populares em lugares de favelas. O bairro criado por ele, chamado oficialmente de Medellín sin Tugurios, leva informalmente o nome do narcotraficante. 

Moura cita a imagem vista por ele, de uma fotografia do rosto de Escobar ao lado de Jesus Cristo, em Medellín, ao explicar a complexidade do papel que lhe foi entregue por Padilha. “Sem julgar o que ele fez, o fato de ter sido o bandido mais conhecido do século 20, ele tinha dois lados. O que, para um ator, é muito bom. Pablo, até hoje, é um personagem muito amado em Medellín. Ao mesmo tempo, ele colocou a Colômbia de joelhos. É interessante ter esse arco enorme para trabalhar”, afirma o ator. 

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Moura foi a Medellín por conta própria para aprender espanhol – língua que ele não dominava. É mais um passo nesta aproximação do ator com o mercado internacional. Tropa de Elite rodou o mundo e deu a ele visibilidade. Viver o personagem Spider, em Elysium, protagonizado por Matt Damon e dirigido por Neill Blomkamp, testou a versatilidade do ator em uma língua não nativa. O currículo de Moura é elogiável: Serra Pelada, Praia do Futuro, Rio, Eu Te Amo e Trash. Então chegou Narcos, um projeto ao qual Moura se dedicou em boa parte de 2014. “Acho que li tudo o que foi escrito sobre Pablo Escobar, em português, inglês e espanhol”, explica. “Mais interessante foi ir a Medellín aprender a falar espanhol. O sotaque de lá é muito particular. Eles falam de um jeito bem diferente. A Colômbia, apesar de ser um país pequeno se comparado ao nosso, tem uma diversidade geográfica e cultural bastante grande.” 

Caçado pela polícia colombiana e norte-americana, o Escobar de Moura sobrevive longe da dicotomia de herói e vilão. “Ele era uma mistura dessas duas coisas (herói e vilão). E elas não estavam tão separadas assim”, completa o ator. 

Wagner Moura anda em uma corda bamba imaginária. A complexidade de seus personagens, nunca tão mocinhos ou tão vilões, o levaram para a indústria. Capitão Nascimento, de Tropa de Elite, era um policial, sim, comandante do Batalhão de Operações Especiais (Bope), mas na briga com o tráfico, adotava métodos pouco humanitários – e também não era dos melhores exemplos como marido e pai. Página a página do roteiro, cena a cena, o ator baiano constrói esses homens que não são dicotômicos. Não há branco ou preto. Há, nas escolhas de Moura, uma predileção por essa área cinzenta na qual certo e errado não são distinguíveis.

No caso do mais novo personagem de Wagner Moura, a distinção parece ser mais fácil. Trata-se, simplesmente, do maior criminoso do século 20, responsável pela distribuição de cocaína em nível mundial, por sequestrar o parlamento colombiano e criar o narcoterrorismo – até então desconhecido. Há complicações nesse estereótipo, contudo, como ele mesmo ressalta em entrevista ao Estado. “O mesmo homem poderia estar ali, conversando com a filha ao telefone, enquanto torturava alguém”, disse o ator, ao explicar as camadas que compõem Escobar. 

Wagner Moura interpreta Pablo Escobar em Narcos Foto: Divulgação

Para viver o personagem em Narcos, nova série da Netflix, criada pelo parceiro José Padilha, o ator passou uma temporada em Medellín, onde também aprendeu espanhol. Se, para ouvidos brasileiros, o sotaque pode soar curioso, jornalistas latinos, que também se enfileiraram para cinco minutos de entrevista com o ator em São Paulo, no início do mês, elogiaram longamente a pronúncia do brasileiro. A vivência na cidade marcada pelo narcotraficante ajudou a entender mais a complexidade dele. “Bem-vindos ao bairro Pablo Escobar. Aqui se respira paz”, diz um mural da cidade. “É um personagem muito interessante”, resume. “Você chega ao bairro e encontra uma foto dele e outra de Jesus.”

Como gato e rato

José Padilha já dialogou com a luta entre crime e a lei de forma local, com Tropa de Elite (2007), e até num futuro não tão distante, com Robocop (2014). Agora, ele volta no tempo, aos anos 1980, aumenta a escala do duelo e deixa a máscara dos estereótipos. Com Narcos, nova série do serviço de TV sob demanda Netflix, cuja estreia será no dia 28 de agosto, ele resgata a caçada ao homem mais perigoso que o narcotráfico já viu. Pablo Escobar é o rato, caçado por um batalhão de gatos colombianos e norte-americanos. 

O fim da história, convenhamos, o mundo já sabe. A Padilha coube a vontade de contar a história da ascensão e queda de Pablo Emilio Escobar Gaviria, interpretado pelo companheiro de Tropa Wagner Moura, e dos bastidores de sua caçada, sob os olhares do policial Steve Murphy, interpretado pelo pouco conhecido Boyd Holbrook (Garota Exemplar, 2014). 

Embora a história seja sobre Escobar e o nome de Moura seja o primeiro a surgir na abertura de Narcos, é Holbrook quem narra a história – como foi o Capitão Nascimento em Tropa de Elite. É a visão deste agente do DEA (Drug Enforcement Administration, ou Departamento de Combate às Drogas, em português), vindo de Miami para a Colômbia para buscar a fonte dos incontáveis quilos diários de droga que entravam nos Estados Unidos naqueles anos 1980, a responsável por levar o público a conhecer Escobar, todo o Cartel de Medellín e o início do narcoterrorismo.  Padilha contou com Moura para interpretar um personagem complexo como Escobar, que, apesar de ter mais de 4 mil mortes em sua conta (obviamente não de forma direta), é ainda querido em Medellín, cidade onde se fixou e construiu casas populares em lugares de favelas. O bairro criado por ele, chamado oficialmente de Medellín sin Tugurios, leva informalmente o nome do narcotraficante. 

Moura cita a imagem vista por ele, de uma fotografia do rosto de Escobar ao lado de Jesus Cristo, em Medellín, ao explicar a complexidade do papel que lhe foi entregue por Padilha. “Sem julgar o que ele fez, o fato de ter sido o bandido mais conhecido do século 20, ele tinha dois lados. O que, para um ator, é muito bom. Pablo, até hoje, é um personagem muito amado em Medellín. Ao mesmo tempo, ele colocou a Colômbia de joelhos. É interessante ter esse arco enorme para trabalhar”, afirma o ator. 

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Moura foi a Medellín por conta própria para aprender espanhol – língua que ele não dominava. É mais um passo nesta aproximação do ator com o mercado internacional. Tropa de Elite rodou o mundo e deu a ele visibilidade. Viver o personagem Spider, em Elysium, protagonizado por Matt Damon e dirigido por Neill Blomkamp, testou a versatilidade do ator em uma língua não nativa. O currículo de Moura é elogiável: Serra Pelada, Praia do Futuro, Rio, Eu Te Amo e Trash. Então chegou Narcos, um projeto ao qual Moura se dedicou em boa parte de 2014. “Acho que li tudo o que foi escrito sobre Pablo Escobar, em português, inglês e espanhol”, explica. “Mais interessante foi ir a Medellín aprender a falar espanhol. O sotaque de lá é muito particular. Eles falam de um jeito bem diferente. A Colômbia, apesar de ser um país pequeno se comparado ao nosso, tem uma diversidade geográfica e cultural bastante grande.” 

Caçado pela polícia colombiana e norte-americana, o Escobar de Moura sobrevive longe da dicotomia de herói e vilão. “Ele era uma mistura dessas duas coisas (herói e vilão). E elas não estavam tão separadas assim”, completa o ator. 

Wagner Moura anda em uma corda bamba imaginária. A complexidade de seus personagens, nunca tão mocinhos ou tão vilões, o levaram para a indústria. Capitão Nascimento, de Tropa de Elite, era um policial, sim, comandante do Batalhão de Operações Especiais (Bope), mas na briga com o tráfico, adotava métodos pouco humanitários – e também não era dos melhores exemplos como marido e pai. Página a página do roteiro, cena a cena, o ator baiano constrói esses homens que não são dicotômicos. Não há branco ou preto. Há, nas escolhas de Moura, uma predileção por essa área cinzenta na qual certo e errado não são distinguíveis.

No caso do mais novo personagem de Wagner Moura, a distinção parece ser mais fácil. Trata-se, simplesmente, do maior criminoso do século 20, responsável pela distribuição de cocaína em nível mundial, por sequestrar o parlamento colombiano e criar o narcoterrorismo – até então desconhecido. Há complicações nesse estereótipo, contudo, como ele mesmo ressalta em entrevista ao Estado. “O mesmo homem poderia estar ali, conversando com a filha ao telefone, enquanto torturava alguém”, disse o ator, ao explicar as camadas que compõem Escobar. 

Wagner Moura interpreta Pablo Escobar em Narcos Foto: Divulgação

Para viver o personagem em Narcos, nova série da Netflix, criada pelo parceiro José Padilha, o ator passou uma temporada em Medellín, onde também aprendeu espanhol. Se, para ouvidos brasileiros, o sotaque pode soar curioso, jornalistas latinos, que também se enfileiraram para cinco minutos de entrevista com o ator em São Paulo, no início do mês, elogiaram longamente a pronúncia do brasileiro. A vivência na cidade marcada pelo narcotraficante ajudou a entender mais a complexidade dele. “Bem-vindos ao bairro Pablo Escobar. Aqui se respira paz”, diz um mural da cidade. “É um personagem muito interessante”, resume. “Você chega ao bairro e encontra uma foto dele e outra de Jesus.”

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José Padilha já dialogou com a luta entre crime e a lei de forma local, com Tropa de Elite (2007), e até num futuro não tão distante, com Robocop (2014). Agora, ele volta no tempo, aos anos 1980, aumenta a escala do duelo e deixa a máscara dos estereótipos. Com Narcos, nova série do serviço de TV sob demanda Netflix, cuja estreia será no dia 28 de agosto, ele resgata a caçada ao homem mais perigoso que o narcotráfico já viu. Pablo Escobar é o rato, caçado por um batalhão de gatos colombianos e norte-americanos. 

O fim da história, convenhamos, o mundo já sabe. A Padilha coube a vontade de contar a história da ascensão e queda de Pablo Emilio Escobar Gaviria, interpretado pelo companheiro de Tropa Wagner Moura, e dos bastidores de sua caçada, sob os olhares do policial Steve Murphy, interpretado pelo pouco conhecido Boyd Holbrook (Garota Exemplar, 2014). 

Embora a história seja sobre Escobar e o nome de Moura seja o primeiro a surgir na abertura de Narcos, é Holbrook quem narra a história – como foi o Capitão Nascimento em Tropa de Elite. É a visão deste agente do DEA (Drug Enforcement Administration, ou Departamento de Combate às Drogas, em português), vindo de Miami para a Colômbia para buscar a fonte dos incontáveis quilos diários de droga que entravam nos Estados Unidos naqueles anos 1980, a responsável por levar o público a conhecer Escobar, todo o Cartel de Medellín e o início do narcoterrorismo.  Padilha contou com Moura para interpretar um personagem complexo como Escobar, que, apesar de ter mais de 4 mil mortes em sua conta (obviamente não de forma direta), é ainda querido em Medellín, cidade onde se fixou e construiu casas populares em lugares de favelas. O bairro criado por ele, chamado oficialmente de Medellín sin Tugurios, leva informalmente o nome do narcotraficante. 

Moura cita a imagem vista por ele, de uma fotografia do rosto de Escobar ao lado de Jesus Cristo, em Medellín, ao explicar a complexidade do papel que lhe foi entregue por Padilha. “Sem julgar o que ele fez, o fato de ter sido o bandido mais conhecido do século 20, ele tinha dois lados. O que, para um ator, é muito bom. Pablo, até hoje, é um personagem muito amado em Medellín. Ao mesmo tempo, ele colocou a Colômbia de joelhos. É interessante ter esse arco enorme para trabalhar”, afirma o ator. 

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Moura foi a Medellín por conta própria para aprender espanhol – língua que ele não dominava. É mais um passo nesta aproximação do ator com o mercado internacional. Tropa de Elite rodou o mundo e deu a ele visibilidade. Viver o personagem Spider, em Elysium, protagonizado por Matt Damon e dirigido por Neill Blomkamp, testou a versatilidade do ator em uma língua não nativa. O currículo de Moura é elogiável: Serra Pelada, Praia do Futuro, Rio, Eu Te Amo e Trash. Então chegou Narcos, um projeto ao qual Moura se dedicou em boa parte de 2014. “Acho que li tudo o que foi escrito sobre Pablo Escobar, em português, inglês e espanhol”, explica. “Mais interessante foi ir a Medellín aprender a falar espanhol. O sotaque de lá é muito particular. Eles falam de um jeito bem diferente. A Colômbia, apesar de ser um país pequeno se comparado ao nosso, tem uma diversidade geográfica e cultural bastante grande.” 

Caçado pela polícia colombiana e norte-americana, o Escobar de Moura sobrevive longe da dicotomia de herói e vilão. “Ele era uma mistura dessas duas coisas (herói e vilão). E elas não estavam tão separadas assim”, completa o ator. 

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