Xuxa faz 60 anos com eventos e firma posição: “Cultura machista do Brasil tem que ser derrubada”


Apresentadora, que fará festa em um navio temático, busca não ter contato com apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro: “Elas me fariam um grande favor de não estar perto de mim”

Por Ubiratan Brasil

Maria da Graça Meneghel, mais conhecida como Xuxa, completa 60 anos no dia 27 de março, mas os festejos já vêm acontecendo ao longo dos meses, graças à profusão de eventos que ela já tinha agendado.

Até o final de 2023 (e ainda sobrando um pouco para 2024), a apresentadora será tema de documentário, protagonista de séries (como Tarã), comandará caravana de drags, voltará ao cinema (Uma Fada Veio me Visitar) e, ponto alto, terá sua famosa nave espacial pousando em um navio totalmente adaptado ao seu universo e que será palco de shows de Claudia Leitte, Gloria Groove, Daniela Mercury, Junno, Ana Carolina, KLB e os stand-ups de Eri Johnson e Sergio Malandro, além de um show inédito que Xuxa preparou para comemorar suas seis décadas. A festa será transmitida pelo Multishow.

Xuxa prepara sua comemoração dos 60 anos, que terá um documentário produzido por Pedro Bial Foto: Blad Meneghel
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“O que era para ser um evento comum, com apresentações e, no máximo, uma surpresa, se transformou em um navio temático”, comenta Xuxa, em entrevista ao Estadão. Na verdade, tudo que rodeia Xuxa parece ser superlativo. Nos anos 1980, por exemplo, ela conseguiu vender 3,6 milhões de cópias com o disco Xou da Xuxa 4. As marias-chiquinhas e sua eterna disposição encantavam as crianças do Brasil e de outros países. A Rainha dos Baixinhos fascinava milhões de pessoas.

O sucesso, no entanto, teve um custo: sua privacidade. “Não fui preparada, pois comecei a trabalhar como modelo com 16 anos acreditando que pararia no máximo em quatro anos para estudar veterinária”, conta. “Mas, aos 20 anos, entrei na TV (Manchete) e, aos 23, fui convidada para assumir um programa na Globo. Aí minha vida virou de cabeça para baixo, porque não tinha como separar a vida pública da vida privada.”

Xuxa em 1992, no seu programa de auditório  Foto: Chicão / Estadão
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Xuxa entrou em um ritmo frenético, trabalhando de terça a domingo. “As pessoas que viviam ao meu lado acabaram virando minha família”, observa ela que, na entrevista, preferiu não citar nominalmente Marlene Mattos, que se tornou empresária e diretora, cuidando ferrenhamente de todos os assuntos relacionados à apresentadora.

“Dei poderes aos poucos para minha diretora, minha empresária, minha produtora e amiga”, relembra. “Esse poder me aprisionou e me tirou a liberdade de ter uma vida íntima por muito tempo. Foi um preço muito alto e infelizmente eu não tinha como separar os assuntos, porque eu havia dado esse poder e, para tirar, só foi possível com nossa separação. Só assim consegui distinguir a vida profissional da pessoal.”

Mas não ficaram ressentimentos e Marlene participa do documentário que Pedro Bial dirige para o Globoplay, que também produz Rainha, série em que Xuxa é interpretada por outros artistas.

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Com Xou da Xuxa, que estreou em junho de 1986 e ficou mais de seis anos em cartaz, ela inaugurou uma fórmula de programa de auditório para crianças no Brasil. A apresentadora conta que não esperava tamanho sucesso, pois se baseava em seus próprios gostos. “Eu observava o Michael Jackson e queria copiar a roupa dele. Assistia aos clipes da Madonna e queria copiar suas caras e bocas. Via quem estava fazendo sucesso lá fora e trazia as coreografias para meus shows e clipes.”

A empresária e diretora Marlene Mattos, que trabalho com Xuxa, em 1996 Foto: Eraldo Platz / Estadão

Curiosamente, Xuxa às vezes se incomodava quando outras pessoas a copiavam. “Eu estudava, ralava, viajava e trazia ideias, como uma tiara de sol que coloquei na cabeça para fazer mais volume, pois sempre tive pouco cabelo”, conta. “Uma semana depois, a Angélica e a Mara Maravilha, que tinham muito cabelo, também estavam com uma tiara. Não que eu não gostasse, mas poderiam ter buscado em outra fonte, como eu fazia.”

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Posição política

Xuxa perdeu 800 mil seguidores nas redes sociais quando, no ano passado, no auge da divisão política que marcou a eleição presidencial, disse ao jornal O Globo que, “se você não se posiciona, concorda com o que está errado”. Contribuiu para aquela fuga maciça o fato de Xuxa ter declarado seu apoio a Lula.

“Na verdade, acho que nunca foram meus seguidores, pois não entenderam nada do que defendi minha vida toda, que é ter respeito pela natureza, pelas diferenças, pela necessidade da inclusão e pela aceitação das diferentes escolhas. Foi bom que tenham saído e espero que nunca voltem - só se mudarem.”

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Mais do que apoiar o candidato do PT, Xuxa pretendeu tornar pública sua posição contrária à presidência de Jair Bolsonaro, cujo nome prefere não pronunciar e a quem trata como machista, racista, homofóbico.

Xuxa acredita que o político deveria pagar criminalmente por seus atos, porque atentou contra a dignidade de mulheres, homossexuais, indígenas e ainda não se posicionou abertamente contra a pedofilia e a devastação da natureza. “Sabemos que o mundo (e o Brasil em particular) tem uma cultura machista, mas isso tem de ser derrubado.”

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Tal posicionamento convenceu Xuxa a se afastar de artistas simpáticos ao pensamento do ex-presidente - aí incluídos de sertanejos a roqueiros, passando por funqueiros. “Na minha opinião, são pessoas que deveriam se beijar, se abraçar e fazer o show para quem é parecido com elas”, diz. “Elas me fariam um grande favor de não estar perto de mim. Não gostaria de dizer ‘Não quero chegar perto de você’. Eu apenas gostaria que nem chegassem, não trabalhassem, não falassem, não se dirigissem a mim, não ficassem perto de mim.”

Mas, como a eleição presidencial teve um resultado muito pareado, literalmente dividindo o País ao meio, Xuxa sabe que, inevitavelmente, terá contato com pessoas que discordam de seu pensamento político. “Trabalho com o público, vivo da minha imagem e não moro em uma fazendinha só cuidando dos meus bichos. Com certeza, terei de falar e, infelizmente, trabalhar com essas pessoas - espero que nunca queiram conversar comigo sobre esse assunto.”

A convicção com que fala é fruto de processo de amadurecimento, que nem sempre foi tranquilo, mas que ajudou a formar a cidadã Maria da Graça Meneghel. A ponto de ela responder às críticas com fatos - como a recente, do senador Ciro Nogueira (PP-PI), que não aprovou sua escolha como nova embaixadora de vacinação no País. “Quando fiz a campanha ‘Beijin, beijin, tchau, tchau paralisia infantil’, 93% das crianças foram vacinadas e a poliomielite foi praticamente erradicada.”

Os eventos do aniversário

1) Xuxa comemora seus 60 anos em alto mar. A nave pousa no navio da Xuxa de 24 a 27 de março com muitas atrações, entre elas os shows de Claudia Leitte, Gloria Groove, Daniela Mercury, Junno, Ana Carolina, KLB e os stand-ups de Eri Johnson e Sergio Malandro, além de um show inédito que Xuxa preparou para comemorar o aniversário ao lado de amigos, família e público. O show será transmitido com exclusividade pelo Multishow na TV e redes sociais.

2) Nas férias de julho, Xuxa volta às telonas do cinema em circuito nacional com o filme escrito por Thalita Rebouças, Uma Fada Veio Me Visitar.

3) Para o segundo semestre, o Globoplay lança um documentário sobre a Xuxa, produzido por Pedro Bial, com depoimentos e encontro com pessoas que fizeram parte de sua vida e carreira.

A jovem Xuxa Meneghel, na carreira de modelo Foto: Carlos Chicarino / Estadão

4) Ainda sem data de lançamento, estreia Tarã, série da Disney Plus na qual Xuxa interpreta uma história de ficção que conta muito sobre a realidade da ganância dos homens, a luta dos povos originários. Uma história que ela ajudou a construir.

5) A série da Xuxa interpretada por outros artistas chamada Rainha será lançada pelo Globoplay.

6) As reprises do Xou da Xuxa vão estrear no canal Viva no dia 4 de março, sábado, as 16h15.

Maria da Graça Meneghel, mais conhecida como Xuxa, completa 60 anos no dia 27 de março, mas os festejos já vêm acontecendo ao longo dos meses, graças à profusão de eventos que ela já tinha agendado.

Até o final de 2023 (e ainda sobrando um pouco para 2024), a apresentadora será tema de documentário, protagonista de séries (como Tarã), comandará caravana de drags, voltará ao cinema (Uma Fada Veio me Visitar) e, ponto alto, terá sua famosa nave espacial pousando em um navio totalmente adaptado ao seu universo e que será palco de shows de Claudia Leitte, Gloria Groove, Daniela Mercury, Junno, Ana Carolina, KLB e os stand-ups de Eri Johnson e Sergio Malandro, além de um show inédito que Xuxa preparou para comemorar suas seis décadas. A festa será transmitida pelo Multishow.

Xuxa prepara sua comemoração dos 60 anos, que terá um documentário produzido por Pedro Bial Foto: Blad Meneghel

“O que era para ser um evento comum, com apresentações e, no máximo, uma surpresa, se transformou em um navio temático”, comenta Xuxa, em entrevista ao Estadão. Na verdade, tudo que rodeia Xuxa parece ser superlativo. Nos anos 1980, por exemplo, ela conseguiu vender 3,6 milhões de cópias com o disco Xou da Xuxa 4. As marias-chiquinhas e sua eterna disposição encantavam as crianças do Brasil e de outros países. A Rainha dos Baixinhos fascinava milhões de pessoas.

O sucesso, no entanto, teve um custo: sua privacidade. “Não fui preparada, pois comecei a trabalhar como modelo com 16 anos acreditando que pararia no máximo em quatro anos para estudar veterinária”, conta. “Mas, aos 20 anos, entrei na TV (Manchete) e, aos 23, fui convidada para assumir um programa na Globo. Aí minha vida virou de cabeça para baixo, porque não tinha como separar a vida pública da vida privada.”

Xuxa em 1992, no seu programa de auditório  Foto: Chicão / Estadão

Xuxa entrou em um ritmo frenético, trabalhando de terça a domingo. “As pessoas que viviam ao meu lado acabaram virando minha família”, observa ela que, na entrevista, preferiu não citar nominalmente Marlene Mattos, que se tornou empresária e diretora, cuidando ferrenhamente de todos os assuntos relacionados à apresentadora.

“Dei poderes aos poucos para minha diretora, minha empresária, minha produtora e amiga”, relembra. “Esse poder me aprisionou e me tirou a liberdade de ter uma vida íntima por muito tempo. Foi um preço muito alto e infelizmente eu não tinha como separar os assuntos, porque eu havia dado esse poder e, para tirar, só foi possível com nossa separação. Só assim consegui distinguir a vida profissional da pessoal.”

Mas não ficaram ressentimentos e Marlene participa do documentário que Pedro Bial dirige para o Globoplay, que também produz Rainha, série em que Xuxa é interpretada por outros artistas.

Com Xou da Xuxa, que estreou em junho de 1986 e ficou mais de seis anos em cartaz, ela inaugurou uma fórmula de programa de auditório para crianças no Brasil. A apresentadora conta que não esperava tamanho sucesso, pois se baseava em seus próprios gostos. “Eu observava o Michael Jackson e queria copiar a roupa dele. Assistia aos clipes da Madonna e queria copiar suas caras e bocas. Via quem estava fazendo sucesso lá fora e trazia as coreografias para meus shows e clipes.”

A empresária e diretora Marlene Mattos, que trabalho com Xuxa, em 1996 Foto: Eraldo Platz / Estadão

Curiosamente, Xuxa às vezes se incomodava quando outras pessoas a copiavam. “Eu estudava, ralava, viajava e trazia ideias, como uma tiara de sol que coloquei na cabeça para fazer mais volume, pois sempre tive pouco cabelo”, conta. “Uma semana depois, a Angélica e a Mara Maravilha, que tinham muito cabelo, também estavam com uma tiara. Não que eu não gostasse, mas poderiam ter buscado em outra fonte, como eu fazia.”

Posição política

Xuxa perdeu 800 mil seguidores nas redes sociais quando, no ano passado, no auge da divisão política que marcou a eleição presidencial, disse ao jornal O Globo que, “se você não se posiciona, concorda com o que está errado”. Contribuiu para aquela fuga maciça o fato de Xuxa ter declarado seu apoio a Lula.

“Na verdade, acho que nunca foram meus seguidores, pois não entenderam nada do que defendi minha vida toda, que é ter respeito pela natureza, pelas diferenças, pela necessidade da inclusão e pela aceitação das diferentes escolhas. Foi bom que tenham saído e espero que nunca voltem - só se mudarem.”

Mais do que apoiar o candidato do PT, Xuxa pretendeu tornar pública sua posição contrária à presidência de Jair Bolsonaro, cujo nome prefere não pronunciar e a quem trata como machista, racista, homofóbico.

Xuxa acredita que o político deveria pagar criminalmente por seus atos, porque atentou contra a dignidade de mulheres, homossexuais, indígenas e ainda não se posicionou abertamente contra a pedofilia e a devastação da natureza. “Sabemos que o mundo (e o Brasil em particular) tem uma cultura machista, mas isso tem de ser derrubado.”

Tal posicionamento convenceu Xuxa a se afastar de artistas simpáticos ao pensamento do ex-presidente - aí incluídos de sertanejos a roqueiros, passando por funqueiros. “Na minha opinião, são pessoas que deveriam se beijar, se abraçar e fazer o show para quem é parecido com elas”, diz. “Elas me fariam um grande favor de não estar perto de mim. Não gostaria de dizer ‘Não quero chegar perto de você’. Eu apenas gostaria que nem chegassem, não trabalhassem, não falassem, não se dirigissem a mim, não ficassem perto de mim.”

Mas, como a eleição presidencial teve um resultado muito pareado, literalmente dividindo o País ao meio, Xuxa sabe que, inevitavelmente, terá contato com pessoas que discordam de seu pensamento político. “Trabalho com o público, vivo da minha imagem e não moro em uma fazendinha só cuidando dos meus bichos. Com certeza, terei de falar e, infelizmente, trabalhar com essas pessoas - espero que nunca queiram conversar comigo sobre esse assunto.”

A convicção com que fala é fruto de processo de amadurecimento, que nem sempre foi tranquilo, mas que ajudou a formar a cidadã Maria da Graça Meneghel. A ponto de ela responder às críticas com fatos - como a recente, do senador Ciro Nogueira (PP-PI), que não aprovou sua escolha como nova embaixadora de vacinação no País. “Quando fiz a campanha ‘Beijin, beijin, tchau, tchau paralisia infantil’, 93% das crianças foram vacinadas e a poliomielite foi praticamente erradicada.”

Os eventos do aniversário

1) Xuxa comemora seus 60 anos em alto mar. A nave pousa no navio da Xuxa de 24 a 27 de março com muitas atrações, entre elas os shows de Claudia Leitte, Gloria Groove, Daniela Mercury, Junno, Ana Carolina, KLB e os stand-ups de Eri Johnson e Sergio Malandro, além de um show inédito que Xuxa preparou para comemorar o aniversário ao lado de amigos, família e público. O show será transmitido com exclusividade pelo Multishow na TV e redes sociais.

2) Nas férias de julho, Xuxa volta às telonas do cinema em circuito nacional com o filme escrito por Thalita Rebouças, Uma Fada Veio Me Visitar.

3) Para o segundo semestre, o Globoplay lança um documentário sobre a Xuxa, produzido por Pedro Bial, com depoimentos e encontro com pessoas que fizeram parte de sua vida e carreira.

A jovem Xuxa Meneghel, na carreira de modelo Foto: Carlos Chicarino / Estadão

4) Ainda sem data de lançamento, estreia Tarã, série da Disney Plus na qual Xuxa interpreta uma história de ficção que conta muito sobre a realidade da ganância dos homens, a luta dos povos originários. Uma história que ela ajudou a construir.

5) A série da Xuxa interpretada por outros artistas chamada Rainha será lançada pelo Globoplay.

6) As reprises do Xou da Xuxa vão estrear no canal Viva no dia 4 de março, sábado, as 16h15.

Maria da Graça Meneghel, mais conhecida como Xuxa, completa 60 anos no dia 27 de março, mas os festejos já vêm acontecendo ao longo dos meses, graças à profusão de eventos que ela já tinha agendado.

Até o final de 2023 (e ainda sobrando um pouco para 2024), a apresentadora será tema de documentário, protagonista de séries (como Tarã), comandará caravana de drags, voltará ao cinema (Uma Fada Veio me Visitar) e, ponto alto, terá sua famosa nave espacial pousando em um navio totalmente adaptado ao seu universo e que será palco de shows de Claudia Leitte, Gloria Groove, Daniela Mercury, Junno, Ana Carolina, KLB e os stand-ups de Eri Johnson e Sergio Malandro, além de um show inédito que Xuxa preparou para comemorar suas seis décadas. A festa será transmitida pelo Multishow.

Xuxa prepara sua comemoração dos 60 anos, que terá um documentário produzido por Pedro Bial Foto: Blad Meneghel

“O que era para ser um evento comum, com apresentações e, no máximo, uma surpresa, se transformou em um navio temático”, comenta Xuxa, em entrevista ao Estadão. Na verdade, tudo que rodeia Xuxa parece ser superlativo. Nos anos 1980, por exemplo, ela conseguiu vender 3,6 milhões de cópias com o disco Xou da Xuxa 4. As marias-chiquinhas e sua eterna disposição encantavam as crianças do Brasil e de outros países. A Rainha dos Baixinhos fascinava milhões de pessoas.

O sucesso, no entanto, teve um custo: sua privacidade. “Não fui preparada, pois comecei a trabalhar como modelo com 16 anos acreditando que pararia no máximo em quatro anos para estudar veterinária”, conta. “Mas, aos 20 anos, entrei na TV (Manchete) e, aos 23, fui convidada para assumir um programa na Globo. Aí minha vida virou de cabeça para baixo, porque não tinha como separar a vida pública da vida privada.”

Xuxa em 1992, no seu programa de auditório  Foto: Chicão / Estadão

Xuxa entrou em um ritmo frenético, trabalhando de terça a domingo. “As pessoas que viviam ao meu lado acabaram virando minha família”, observa ela que, na entrevista, preferiu não citar nominalmente Marlene Mattos, que se tornou empresária e diretora, cuidando ferrenhamente de todos os assuntos relacionados à apresentadora.

“Dei poderes aos poucos para minha diretora, minha empresária, minha produtora e amiga”, relembra. “Esse poder me aprisionou e me tirou a liberdade de ter uma vida íntima por muito tempo. Foi um preço muito alto e infelizmente eu não tinha como separar os assuntos, porque eu havia dado esse poder e, para tirar, só foi possível com nossa separação. Só assim consegui distinguir a vida profissional da pessoal.”

Mas não ficaram ressentimentos e Marlene participa do documentário que Pedro Bial dirige para o Globoplay, que também produz Rainha, série em que Xuxa é interpretada por outros artistas.

Com Xou da Xuxa, que estreou em junho de 1986 e ficou mais de seis anos em cartaz, ela inaugurou uma fórmula de programa de auditório para crianças no Brasil. A apresentadora conta que não esperava tamanho sucesso, pois se baseava em seus próprios gostos. “Eu observava o Michael Jackson e queria copiar a roupa dele. Assistia aos clipes da Madonna e queria copiar suas caras e bocas. Via quem estava fazendo sucesso lá fora e trazia as coreografias para meus shows e clipes.”

A empresária e diretora Marlene Mattos, que trabalho com Xuxa, em 1996 Foto: Eraldo Platz / Estadão

Curiosamente, Xuxa às vezes se incomodava quando outras pessoas a copiavam. “Eu estudava, ralava, viajava e trazia ideias, como uma tiara de sol que coloquei na cabeça para fazer mais volume, pois sempre tive pouco cabelo”, conta. “Uma semana depois, a Angélica e a Mara Maravilha, que tinham muito cabelo, também estavam com uma tiara. Não que eu não gostasse, mas poderiam ter buscado em outra fonte, como eu fazia.”

Posição política

Xuxa perdeu 800 mil seguidores nas redes sociais quando, no ano passado, no auge da divisão política que marcou a eleição presidencial, disse ao jornal O Globo que, “se você não se posiciona, concorda com o que está errado”. Contribuiu para aquela fuga maciça o fato de Xuxa ter declarado seu apoio a Lula.

“Na verdade, acho que nunca foram meus seguidores, pois não entenderam nada do que defendi minha vida toda, que é ter respeito pela natureza, pelas diferenças, pela necessidade da inclusão e pela aceitação das diferentes escolhas. Foi bom que tenham saído e espero que nunca voltem - só se mudarem.”

Mais do que apoiar o candidato do PT, Xuxa pretendeu tornar pública sua posição contrária à presidência de Jair Bolsonaro, cujo nome prefere não pronunciar e a quem trata como machista, racista, homofóbico.

Xuxa acredita que o político deveria pagar criminalmente por seus atos, porque atentou contra a dignidade de mulheres, homossexuais, indígenas e ainda não se posicionou abertamente contra a pedofilia e a devastação da natureza. “Sabemos que o mundo (e o Brasil em particular) tem uma cultura machista, mas isso tem de ser derrubado.”

Tal posicionamento convenceu Xuxa a se afastar de artistas simpáticos ao pensamento do ex-presidente - aí incluídos de sertanejos a roqueiros, passando por funqueiros. “Na minha opinião, são pessoas que deveriam se beijar, se abraçar e fazer o show para quem é parecido com elas”, diz. “Elas me fariam um grande favor de não estar perto de mim. Não gostaria de dizer ‘Não quero chegar perto de você’. Eu apenas gostaria que nem chegassem, não trabalhassem, não falassem, não se dirigissem a mim, não ficassem perto de mim.”

Mas, como a eleição presidencial teve um resultado muito pareado, literalmente dividindo o País ao meio, Xuxa sabe que, inevitavelmente, terá contato com pessoas que discordam de seu pensamento político. “Trabalho com o público, vivo da minha imagem e não moro em uma fazendinha só cuidando dos meus bichos. Com certeza, terei de falar e, infelizmente, trabalhar com essas pessoas - espero que nunca queiram conversar comigo sobre esse assunto.”

A convicção com que fala é fruto de processo de amadurecimento, que nem sempre foi tranquilo, mas que ajudou a formar a cidadã Maria da Graça Meneghel. A ponto de ela responder às críticas com fatos - como a recente, do senador Ciro Nogueira (PP-PI), que não aprovou sua escolha como nova embaixadora de vacinação no País. “Quando fiz a campanha ‘Beijin, beijin, tchau, tchau paralisia infantil’, 93% das crianças foram vacinadas e a poliomielite foi praticamente erradicada.”

Os eventos do aniversário

1) Xuxa comemora seus 60 anos em alto mar. A nave pousa no navio da Xuxa de 24 a 27 de março com muitas atrações, entre elas os shows de Claudia Leitte, Gloria Groove, Daniela Mercury, Junno, Ana Carolina, KLB e os stand-ups de Eri Johnson e Sergio Malandro, além de um show inédito que Xuxa preparou para comemorar o aniversário ao lado de amigos, família e público. O show será transmitido com exclusividade pelo Multishow na TV e redes sociais.

2) Nas férias de julho, Xuxa volta às telonas do cinema em circuito nacional com o filme escrito por Thalita Rebouças, Uma Fada Veio Me Visitar.

3) Para o segundo semestre, o Globoplay lança um documentário sobre a Xuxa, produzido por Pedro Bial, com depoimentos e encontro com pessoas que fizeram parte de sua vida e carreira.

A jovem Xuxa Meneghel, na carreira de modelo Foto: Carlos Chicarino / Estadão

4) Ainda sem data de lançamento, estreia Tarã, série da Disney Plus na qual Xuxa interpreta uma história de ficção que conta muito sobre a realidade da ganância dos homens, a luta dos povos originários. Uma história que ela ajudou a construir.

5) A série da Xuxa interpretada por outros artistas chamada Rainha será lançada pelo Globoplay.

6) As reprises do Xou da Xuxa vão estrear no canal Viva no dia 4 de março, sábado, as 16h15.

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