Depois de assumir o comando do CFDA (Conselho Americano de Designers de Moda), entidade que organiza a semana de moda americana, Tom Ford disse que reinventar a NYFW era a sua maior prioridade. Dito e feito. Na sua primeira semana de moda no posto antes ocupado por Diane Von Furstenberg nos últimos 13 anos, ele trouxe uma nova chancela, já compactando o calendário de 7 para 5 dias de desfiles – segundo o designer, para se encaixar no modelo das outras semanas internacionais e com a intenção de ter mais editores e compradores presentes. O resultado foi um novo respiro e animação do que a crítica norte-americana já fala em “renascimento da fashion week”.
Assim como o Brasil, o debate político amplificado nas redes sociais tomou conta da moda norte-americana. De um lado, estilistas como Prabal Gurung e Rag & Bone trocaram a locação dos seus shows, que seria no Hudson Yards, após Stephen Ross, diretor da construtora do empreendimento, ser relacionado com uma campanha para arrecadar fundos para a campanha de Donald Trump.
O próprio Prabal Gurung aproveitou também para celebrar os 10 anos de marca “tocando na ferida” da crise turbulenta de imigrantes com a pergunta: “Who gets to be American?”, reexaminando e dissecando as raízes da identidade americana.
Tom politizado também pode ser percebido nas escolhas do casting de modelos. Diversidade é o ponto-chave dos eventos de moda de hoje e os desfiles mais falados da semana foram, sem surpresas, os que traziam variedades de corpos, idades e nacionalidades. Seja nas passarelas ou nas festas que aconteciam em paralelo, a lista de convidados e celebridades não é mais dominada por modelos com padrão de beleza inalcançável. Os ícones mudaram. A comoção de fãs e paparazzi é voltada hoje para nomes como Ashley Graham, supermodelo plus size que cruzou a passarela da Tommy Hilfiger grávida do primeiro filho, Halima Aden, muçulmana nascida no Quênia, e JoAni Johnson, que aos 67 anos e longos cabelos brancos é a nova sensação das marcas mais bacanas. A mensagem é clara: não tem mais espaço para posers e para a opressão.
De fato, segundo Tyller McCall, o cool hoje é expor uma sinceridade única. “Os shows mais emocionantes vieram de designers que não tinham medo de mostrar seu coração.” Até mesmo para Marc Jacobs, que trouxe nostalgia ao passado e esperança para o futuro no seu desfile que sempre encerra a NYFW. Na passarela, uma celebração da individualidade, nostalgia e otimismo.
No espetáculo da Savage x Fenty, marca de lingeries da cantora Rihanna, mais variedade. As regras da moda foram redefinidas entre corpos de todos os tamanhos em um olhar otimista à abertura e à inclusão, mas sem perder a fórmula básica do sistema da moda: a exclusividade. Em tempos de redes sociais e superexposição, os convidados foram obrigados a deixar os celulares do lado de fora da sala de desfiles, pois nada poderia ser registrado. O show será transmitido apenas no dia 20 na plataforma de streaming Amazon Prime. O alvoroço pelo secreto e o exclusivo gera desejo, e moda é isso! A cobiça instiga o consumo e o não exposto causou mais comoção do que o superexposto. Segundo Tyller McCall, editor-chefe do Fashionista, “o desfile da SavageXFenty foi tudo o que a Victoria’s Secret sonharia em ser”.