Um pacto de fidelidade


Enquanto muitos querem inovar linguagens, Izaías e seus Chorões preservam uma tradição intacta

Por BOLÍVAR TORRES

São nada menos do que 60 anos a serviço do choro. O bandolinista Izaías Bueno de Almeida passou por diversas gerações fazendo de tudo para manter a integridade e a pureza musical. Capitaneando, desde 1978, o grupo mais antigo de São Paulo, Izaías e seus Chorões, resistiu bravamente àquilo que considera "deturpações" ou "distorções" do gênero. Aos 75 anos, mantém-se como uma espécie de guardião do regional. Mas foi preciso esperar até 2012 para que realizasse um sonho antigo: gravar com seu grupo a célebre suíte Retratos, uma fusão entre o choro e o erudito que Radamés Gnatalli compôs especialmente para Jacob do Bandolim. Mantendo os arranjos de cordas originais do compositor gaúcho e contando com a parceria do Quintal Brasileiro, quinteto de formação erudita liderado por Luiz Amato, Izaías e Seus Chorões apresentam o conteúdo do disco (que conta ainda com outras composições de Radamés para Jacob, como as Valsas e duas peças inéditas) no Sesc Belenzinho para marcar as comemorações do aniversário de São Paulo, no próximo dia 25."A suíte Retratos representa para mim a inovação saudável do choro", explica Izaías. "Radamés foi um dos poucos a querer enriquecer o gênero cruzando com o erudito. Por outro lado, os chorões de hoje fogem da essência do choro, preferem serem virtuoses a serem chorões. Tocam com muita velocidade porque a plateia gosta do que é espetacular. Nós ficamos assustados com isso. Nós nos mantemos há quase 30 anos procurando tocar com arranjos que não deturpem o gênero."Izaías e seu irmão, o violonista e arranjador Israel, são os únicos remanescentes da formação original do grupo. A gravação de Retratos representa muito para os dois, que praticamente receberam a partitura da suíte das mãos de Jacob do Bandolim. Izaías conviveu com o mestre (foi justamente ao ouvi-lo que se decidiu pelo instrumento), e conheceu um pouco da sua intransigência, disciplina e teimosia. "Uma vez, Jacob me viu improvisar sobre o tema de uma composição sua, Doce de Coco, e me deu uma bronca", lembra Izaías. "Disse que não precisava de parceria e que eu estava mudando a música dele. Era uma pessoa que não admitia concorrência, chegou a se tornar inimigo mortal do Waldir Azevedo. Quem tocava bandolim tinha muita dificuldade na época, as pessoas diziam 'pô, você quer tocar bandolim, mas já tem o Jacob...'" No fim dos anos 50, Izaías testemunhou os esforços de Jacob para dominar a partitura de Retratos. O bandolinista passou cinco anos estudando a composição, de uma exigência extrema para o solista. Assim que o mestre a gravou, foi a vez de Izaías estudá-la, como uma espécie de sucessão. Até este ano, a suíte tinha sido regravada em diferentes formações, do violão ao piano, mas nunca mais em seu conceito original, com orquestra e grupo regional de choro. "Para tocá-la é preciso obedecer a convenções que não estão nos padrões do choro, certos fraseados e harmonias. Daí a dificuldade", avalia Izaías. "Como se trata de uma composição erudita, não há espaço para o solista improvisar, embora o Jacob tenha feito algumas adaptações. Procuramos a maior fidelidade possível aos arranjos originais. O que muda para mim em relação ao Jacob são apenas os acertos na interpretação, a maneira como fluímos em cima do ritmo."Assim como Jacob, Izaías é um exímio improvisador. Quando iniciou, o líder do grupo paulista não tinha acesso a partituras, nem a discos. Por isso aprendeu a tocar de memória, improvisando desde cedo. Seu estilo, no entanto, é bem diferente do de Jacob."Izaías tem um fraseado único. Está mais para o bandolim napolitano, que não tem muito a ver com o bandolim carioca do Jacob", compara o violinista Luiz Amato, que gravou a parte de cordas do disco com seu grupo Quintal Brasileiro. "É uma linguagem de São Paulo, um pouco mais melancólica. Em sua versão de Retrato, o Izaías viaja muito mais na parte melódica e rítmica do que o Jacob, que por sua vez gravou uma versão mais reta. Jacob não saía tanto do ritmo, talvez pela necessidade de gravar rápido e também pelo estilo do choro carioca."Quando criança, Amato costumava assistir às rodas de choro de Izaías. Era levado por seu pai, um grande admirador do bandolinista. Anos depois, encontrou Izaías e seu irmão Israel pesquisando partituras no acervo da Record e começaram elaborar um disco que juntasse regional e cordas. Atualmente, trabalham em cima do repertório de um novo disco, com composições e arranjos de Israel."Izaías e Israel são os ilustres obscuros da nossa música", afirma Amato. "O Izaías brilha como solista, mas não brilharia tanto sem o seu irmão por trás. Israel é um arranjador maravilhoso. Eu queria fazer traduções de peças de violão para cordas, e ele me mandou um arranjo para quinteto de cordas de Abismo de Rosas em dois dias."Amato acredita que a atitude de Izaías pela preservação da essência do choro é fundamental. "É que nem o Paulinho da Viola em relação ao samba", acredita. "Com o tempo, ele viu a coisa degringolar. É só você pegar a programação do festival de Jericoacara para ver que não tem quase nada de choro por lá. Acredito que, pela idade dele e pela experiência, a atitude do Izaías em reclamar e segurar a onda é louvável."

São nada menos do que 60 anos a serviço do choro. O bandolinista Izaías Bueno de Almeida passou por diversas gerações fazendo de tudo para manter a integridade e a pureza musical. Capitaneando, desde 1978, o grupo mais antigo de São Paulo, Izaías e seus Chorões, resistiu bravamente àquilo que considera "deturpações" ou "distorções" do gênero. Aos 75 anos, mantém-se como uma espécie de guardião do regional. Mas foi preciso esperar até 2012 para que realizasse um sonho antigo: gravar com seu grupo a célebre suíte Retratos, uma fusão entre o choro e o erudito que Radamés Gnatalli compôs especialmente para Jacob do Bandolim. Mantendo os arranjos de cordas originais do compositor gaúcho e contando com a parceria do Quintal Brasileiro, quinteto de formação erudita liderado por Luiz Amato, Izaías e Seus Chorões apresentam o conteúdo do disco (que conta ainda com outras composições de Radamés para Jacob, como as Valsas e duas peças inéditas) no Sesc Belenzinho para marcar as comemorações do aniversário de São Paulo, no próximo dia 25."A suíte Retratos representa para mim a inovação saudável do choro", explica Izaías. "Radamés foi um dos poucos a querer enriquecer o gênero cruzando com o erudito. Por outro lado, os chorões de hoje fogem da essência do choro, preferem serem virtuoses a serem chorões. Tocam com muita velocidade porque a plateia gosta do que é espetacular. Nós ficamos assustados com isso. Nós nos mantemos há quase 30 anos procurando tocar com arranjos que não deturpem o gênero."Izaías e seu irmão, o violonista e arranjador Israel, são os únicos remanescentes da formação original do grupo. A gravação de Retratos representa muito para os dois, que praticamente receberam a partitura da suíte das mãos de Jacob do Bandolim. Izaías conviveu com o mestre (foi justamente ao ouvi-lo que se decidiu pelo instrumento), e conheceu um pouco da sua intransigência, disciplina e teimosia. "Uma vez, Jacob me viu improvisar sobre o tema de uma composição sua, Doce de Coco, e me deu uma bronca", lembra Izaías. "Disse que não precisava de parceria e que eu estava mudando a música dele. Era uma pessoa que não admitia concorrência, chegou a se tornar inimigo mortal do Waldir Azevedo. Quem tocava bandolim tinha muita dificuldade na época, as pessoas diziam 'pô, você quer tocar bandolim, mas já tem o Jacob...'" No fim dos anos 50, Izaías testemunhou os esforços de Jacob para dominar a partitura de Retratos. O bandolinista passou cinco anos estudando a composição, de uma exigência extrema para o solista. Assim que o mestre a gravou, foi a vez de Izaías estudá-la, como uma espécie de sucessão. Até este ano, a suíte tinha sido regravada em diferentes formações, do violão ao piano, mas nunca mais em seu conceito original, com orquestra e grupo regional de choro. "Para tocá-la é preciso obedecer a convenções que não estão nos padrões do choro, certos fraseados e harmonias. Daí a dificuldade", avalia Izaías. "Como se trata de uma composição erudita, não há espaço para o solista improvisar, embora o Jacob tenha feito algumas adaptações. Procuramos a maior fidelidade possível aos arranjos originais. O que muda para mim em relação ao Jacob são apenas os acertos na interpretação, a maneira como fluímos em cima do ritmo."Assim como Jacob, Izaías é um exímio improvisador. Quando iniciou, o líder do grupo paulista não tinha acesso a partituras, nem a discos. Por isso aprendeu a tocar de memória, improvisando desde cedo. Seu estilo, no entanto, é bem diferente do de Jacob."Izaías tem um fraseado único. Está mais para o bandolim napolitano, que não tem muito a ver com o bandolim carioca do Jacob", compara o violinista Luiz Amato, que gravou a parte de cordas do disco com seu grupo Quintal Brasileiro. "É uma linguagem de São Paulo, um pouco mais melancólica. Em sua versão de Retrato, o Izaías viaja muito mais na parte melódica e rítmica do que o Jacob, que por sua vez gravou uma versão mais reta. Jacob não saía tanto do ritmo, talvez pela necessidade de gravar rápido e também pelo estilo do choro carioca."Quando criança, Amato costumava assistir às rodas de choro de Izaías. Era levado por seu pai, um grande admirador do bandolinista. Anos depois, encontrou Izaías e seu irmão Israel pesquisando partituras no acervo da Record e começaram elaborar um disco que juntasse regional e cordas. Atualmente, trabalham em cima do repertório de um novo disco, com composições e arranjos de Israel."Izaías e Israel são os ilustres obscuros da nossa música", afirma Amato. "O Izaías brilha como solista, mas não brilharia tanto sem o seu irmão por trás. Israel é um arranjador maravilhoso. Eu queria fazer traduções de peças de violão para cordas, e ele me mandou um arranjo para quinteto de cordas de Abismo de Rosas em dois dias."Amato acredita que a atitude de Izaías pela preservação da essência do choro é fundamental. "É que nem o Paulinho da Viola em relação ao samba", acredita. "Com o tempo, ele viu a coisa degringolar. É só você pegar a programação do festival de Jericoacara para ver que não tem quase nada de choro por lá. Acredito que, pela idade dele e pela experiência, a atitude do Izaías em reclamar e segurar a onda é louvável."

São nada menos do que 60 anos a serviço do choro. O bandolinista Izaías Bueno de Almeida passou por diversas gerações fazendo de tudo para manter a integridade e a pureza musical. Capitaneando, desde 1978, o grupo mais antigo de São Paulo, Izaías e seus Chorões, resistiu bravamente àquilo que considera "deturpações" ou "distorções" do gênero. Aos 75 anos, mantém-se como uma espécie de guardião do regional. Mas foi preciso esperar até 2012 para que realizasse um sonho antigo: gravar com seu grupo a célebre suíte Retratos, uma fusão entre o choro e o erudito que Radamés Gnatalli compôs especialmente para Jacob do Bandolim. Mantendo os arranjos de cordas originais do compositor gaúcho e contando com a parceria do Quintal Brasileiro, quinteto de formação erudita liderado por Luiz Amato, Izaías e Seus Chorões apresentam o conteúdo do disco (que conta ainda com outras composições de Radamés para Jacob, como as Valsas e duas peças inéditas) no Sesc Belenzinho para marcar as comemorações do aniversário de São Paulo, no próximo dia 25."A suíte Retratos representa para mim a inovação saudável do choro", explica Izaías. "Radamés foi um dos poucos a querer enriquecer o gênero cruzando com o erudito. Por outro lado, os chorões de hoje fogem da essência do choro, preferem serem virtuoses a serem chorões. Tocam com muita velocidade porque a plateia gosta do que é espetacular. Nós ficamos assustados com isso. Nós nos mantemos há quase 30 anos procurando tocar com arranjos que não deturpem o gênero."Izaías e seu irmão, o violonista e arranjador Israel, são os únicos remanescentes da formação original do grupo. A gravação de Retratos representa muito para os dois, que praticamente receberam a partitura da suíte das mãos de Jacob do Bandolim. Izaías conviveu com o mestre (foi justamente ao ouvi-lo que se decidiu pelo instrumento), e conheceu um pouco da sua intransigência, disciplina e teimosia. "Uma vez, Jacob me viu improvisar sobre o tema de uma composição sua, Doce de Coco, e me deu uma bronca", lembra Izaías. "Disse que não precisava de parceria e que eu estava mudando a música dele. Era uma pessoa que não admitia concorrência, chegou a se tornar inimigo mortal do Waldir Azevedo. Quem tocava bandolim tinha muita dificuldade na época, as pessoas diziam 'pô, você quer tocar bandolim, mas já tem o Jacob...'" No fim dos anos 50, Izaías testemunhou os esforços de Jacob para dominar a partitura de Retratos. O bandolinista passou cinco anos estudando a composição, de uma exigência extrema para o solista. Assim que o mestre a gravou, foi a vez de Izaías estudá-la, como uma espécie de sucessão. Até este ano, a suíte tinha sido regravada em diferentes formações, do violão ao piano, mas nunca mais em seu conceito original, com orquestra e grupo regional de choro. "Para tocá-la é preciso obedecer a convenções que não estão nos padrões do choro, certos fraseados e harmonias. Daí a dificuldade", avalia Izaías. "Como se trata de uma composição erudita, não há espaço para o solista improvisar, embora o Jacob tenha feito algumas adaptações. Procuramos a maior fidelidade possível aos arranjos originais. O que muda para mim em relação ao Jacob são apenas os acertos na interpretação, a maneira como fluímos em cima do ritmo."Assim como Jacob, Izaías é um exímio improvisador. Quando iniciou, o líder do grupo paulista não tinha acesso a partituras, nem a discos. Por isso aprendeu a tocar de memória, improvisando desde cedo. Seu estilo, no entanto, é bem diferente do de Jacob."Izaías tem um fraseado único. Está mais para o bandolim napolitano, que não tem muito a ver com o bandolim carioca do Jacob", compara o violinista Luiz Amato, que gravou a parte de cordas do disco com seu grupo Quintal Brasileiro. "É uma linguagem de São Paulo, um pouco mais melancólica. Em sua versão de Retrato, o Izaías viaja muito mais na parte melódica e rítmica do que o Jacob, que por sua vez gravou uma versão mais reta. Jacob não saía tanto do ritmo, talvez pela necessidade de gravar rápido e também pelo estilo do choro carioca."Quando criança, Amato costumava assistir às rodas de choro de Izaías. Era levado por seu pai, um grande admirador do bandolinista. Anos depois, encontrou Izaías e seu irmão Israel pesquisando partituras no acervo da Record e começaram elaborar um disco que juntasse regional e cordas. Atualmente, trabalham em cima do repertório de um novo disco, com composições e arranjos de Israel."Izaías e Israel são os ilustres obscuros da nossa música", afirma Amato. "O Izaías brilha como solista, mas não brilharia tanto sem o seu irmão por trás. Israel é um arranjador maravilhoso. Eu queria fazer traduções de peças de violão para cordas, e ele me mandou um arranjo para quinteto de cordas de Abismo de Rosas em dois dias."Amato acredita que a atitude de Izaías pela preservação da essência do choro é fundamental. "É que nem o Paulinho da Viola em relação ao samba", acredita. "Com o tempo, ele viu a coisa degringolar. É só você pegar a programação do festival de Jericoacara para ver que não tem quase nada de choro por lá. Acredito que, pela idade dele e pela experiência, a atitude do Izaías em reclamar e segurar a onda é louvável."

São nada menos do que 60 anos a serviço do choro. O bandolinista Izaías Bueno de Almeida passou por diversas gerações fazendo de tudo para manter a integridade e a pureza musical. Capitaneando, desde 1978, o grupo mais antigo de São Paulo, Izaías e seus Chorões, resistiu bravamente àquilo que considera "deturpações" ou "distorções" do gênero. Aos 75 anos, mantém-se como uma espécie de guardião do regional. Mas foi preciso esperar até 2012 para que realizasse um sonho antigo: gravar com seu grupo a célebre suíte Retratos, uma fusão entre o choro e o erudito que Radamés Gnatalli compôs especialmente para Jacob do Bandolim. Mantendo os arranjos de cordas originais do compositor gaúcho e contando com a parceria do Quintal Brasileiro, quinteto de formação erudita liderado por Luiz Amato, Izaías e Seus Chorões apresentam o conteúdo do disco (que conta ainda com outras composições de Radamés para Jacob, como as Valsas e duas peças inéditas) no Sesc Belenzinho para marcar as comemorações do aniversário de São Paulo, no próximo dia 25."A suíte Retratos representa para mim a inovação saudável do choro", explica Izaías. "Radamés foi um dos poucos a querer enriquecer o gênero cruzando com o erudito. Por outro lado, os chorões de hoje fogem da essência do choro, preferem serem virtuoses a serem chorões. Tocam com muita velocidade porque a plateia gosta do que é espetacular. Nós ficamos assustados com isso. Nós nos mantemos há quase 30 anos procurando tocar com arranjos que não deturpem o gênero."Izaías e seu irmão, o violonista e arranjador Israel, são os únicos remanescentes da formação original do grupo. A gravação de Retratos representa muito para os dois, que praticamente receberam a partitura da suíte das mãos de Jacob do Bandolim. Izaías conviveu com o mestre (foi justamente ao ouvi-lo que se decidiu pelo instrumento), e conheceu um pouco da sua intransigência, disciplina e teimosia. "Uma vez, Jacob me viu improvisar sobre o tema de uma composição sua, Doce de Coco, e me deu uma bronca", lembra Izaías. "Disse que não precisava de parceria e que eu estava mudando a música dele. Era uma pessoa que não admitia concorrência, chegou a se tornar inimigo mortal do Waldir Azevedo. Quem tocava bandolim tinha muita dificuldade na época, as pessoas diziam 'pô, você quer tocar bandolim, mas já tem o Jacob...'" No fim dos anos 50, Izaías testemunhou os esforços de Jacob para dominar a partitura de Retratos. O bandolinista passou cinco anos estudando a composição, de uma exigência extrema para o solista. Assim que o mestre a gravou, foi a vez de Izaías estudá-la, como uma espécie de sucessão. Até este ano, a suíte tinha sido regravada em diferentes formações, do violão ao piano, mas nunca mais em seu conceito original, com orquestra e grupo regional de choro. "Para tocá-la é preciso obedecer a convenções que não estão nos padrões do choro, certos fraseados e harmonias. Daí a dificuldade", avalia Izaías. "Como se trata de uma composição erudita, não há espaço para o solista improvisar, embora o Jacob tenha feito algumas adaptações. Procuramos a maior fidelidade possível aos arranjos originais. O que muda para mim em relação ao Jacob são apenas os acertos na interpretação, a maneira como fluímos em cima do ritmo."Assim como Jacob, Izaías é um exímio improvisador. Quando iniciou, o líder do grupo paulista não tinha acesso a partituras, nem a discos. Por isso aprendeu a tocar de memória, improvisando desde cedo. Seu estilo, no entanto, é bem diferente do de Jacob."Izaías tem um fraseado único. Está mais para o bandolim napolitano, que não tem muito a ver com o bandolim carioca do Jacob", compara o violinista Luiz Amato, que gravou a parte de cordas do disco com seu grupo Quintal Brasileiro. "É uma linguagem de São Paulo, um pouco mais melancólica. Em sua versão de Retrato, o Izaías viaja muito mais na parte melódica e rítmica do que o Jacob, que por sua vez gravou uma versão mais reta. Jacob não saía tanto do ritmo, talvez pela necessidade de gravar rápido e também pelo estilo do choro carioca."Quando criança, Amato costumava assistir às rodas de choro de Izaías. Era levado por seu pai, um grande admirador do bandolinista. Anos depois, encontrou Izaías e seu irmão Israel pesquisando partituras no acervo da Record e começaram elaborar um disco que juntasse regional e cordas. Atualmente, trabalham em cima do repertório de um novo disco, com composições e arranjos de Israel."Izaías e Israel são os ilustres obscuros da nossa música", afirma Amato. "O Izaías brilha como solista, mas não brilharia tanto sem o seu irmão por trás. Israel é um arranjador maravilhoso. Eu queria fazer traduções de peças de violão para cordas, e ele me mandou um arranjo para quinteto de cordas de Abismo de Rosas em dois dias."Amato acredita que a atitude de Izaías pela preservação da essência do choro é fundamental. "É que nem o Paulinho da Viola em relação ao samba", acredita. "Com o tempo, ele viu a coisa degringolar. É só você pegar a programação do festival de Jericoacara para ver que não tem quase nada de choro por lá. Acredito que, pela idade dele e pela experiência, a atitude do Izaías em reclamar e segurar a onda é louvável."

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