"Foi meu tio que abriu meus olhos para o mundo da imagem", conta Rubens Fernandes Junior, professor, crítico e pesquisador de fotografia. Na década de 1960, quando vivia em Rio Claro, Fernandes via as fotografias que seu tio, arquiteto, que trabalhou com Warchavchik, e integrante do Foto Cine Clube Bandeirante, criava, assim como as de outros fotógrafos. "A biblioteca dele foi minha referência", conta ainda o pesquisador, que, anos mais tarde, começou a criar, de forma natural, uma coleção de imagens que conta muito sobre a história moderna e contemporânea da fotografia brasileira. Uma parte desse acervo pode, agora, ser visto pelo público, em mostra que a Pinacoteca do Estado acaba de inaugurar.Processos e Afetos - Fotografias, 1928/2011 é o título da exposição, com 80 obras pertencentes a Rubens Fernandes Junior, reunidas em "mais de 30 anos de contato diário com a fotografia brasileira", diz o pesquisador. "Nunca tive o espírito de fazer uma coleção, foram trocas afetivas com fotógrafos que me presentearam com imagens os textos que fiz sobre eles", conta Fernandes. "Em paralelo, tenho também uma pesquisa de fotografias desconhecidas, fora do mainstream, que adquiro em idas a sebos e à (praça) Benedito Calixto". "De repente, descobri que tinha um pequeno tesouro", diz ainda o pesquisador.A exposição, com curadoria de Fernandes e de Diógenes Moura, ocorre, agora, em uma instituição especial para a história dessa coleção e da trajetória do pesquisador, já que ele criou, na década de 1980, o Gabinete Fotográfico na Pinacoteca. "Era para jovens fotógrafos da época, da minha geração, que cresceram comigo", diz Fernandes, citando, por exemplo, dentre os participantes do projeto, Antonio Saggese, Gal Oppido e Cristiano Mascaro. Esses fotógrafos estão em Processos e Afetos, mas a exposição traz uma gama bem ampla e diversa de criadores - para citar alguns, German Lorca, Pierre Verger, Claudio Edinger, Nair Benedicto e Rosângela Rennó. De todos, Mario Cravo Neto, morto em 2009, tornou-se destaque no acervo. Na exposição, assim, a modernidade e contemporaneidade, o convencional e experimental convivem em imagens (p&b e coloridas) reunidas em núcleos que aglutinam questões como a do corpo, da cidade e do retrato.