Uma vela para Deus e outra para o Diabo


Como antropólogo, aprendi a duvidar de tudo, pois na casa de meu pai existem muitas moradas

Por Roberto DaMatta

Um irlandês na beira da morte pediu a um padre para ouvir sua confissão. O sacerdote tocou-lhe a testa e disse: filho, estás disposto a renunciar ao Demônio e às suas obras?

Ao ouvir essa solene intenção de escolha e renuncia ao Diabo, o moribundo ponderou: “Reverendo, no presente momento eu não estou numa situação confortável para fazer escolhas e renúncias...”

Nós, brasileiros, sabemos, desde criancinhas, que devemos acender velas ao Bom Deus e ao Diabo. Como ser leal a um, abandonando o outro que – diz nossa inconsciente precaução – pode nos ajudar? Afinal de contas, somos no fundo contrarreformistas e, assim sendo, não abolimos imagens, Nossa Senhora, santos padroeiros e, acima de tudo, o Purgatório. Esse espaço intermediário que é o lugar no qual seguramente todos nós vamos nos encontrar, além de ser um recurso jurídico que, neste mundo, nos livra das prisões e, no além, quita os nossos pecados, assegurando nossa salvação...

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Numa pesquisa que realizei, 90% dos entrevistados afirmaram que iriam para o Purgatório porque Deus entendia o Diabo melhor do que o próprio Demo.

Se você duvida, leia A Igreja do Diabo, do bruxo sábio que entendeu o Brasil, Machado de Assis, para ver como a Igreja devotada ao pecado, a hipocrisia e ao populismo que, convenhamos, é o sal de nossas vidas, acabou engendrando uma multidão de “pecadores” – gente honesta, sincera e pura – que, na calada da noite, praticava virtudes e realizava boas ações. Ou seja: pecava contra os malfeitos pregados como virtudes pela Igreja do Diabo. Ao se descobrir enganado, um Demônio frustrado com seus fiéis e ansioso como um político, foi ao Criador, que simplesmente lhe ensinou: “Que queres tu, meu pobre Diabo? As capas de algodão têm agora franjas de seda, como as de veludo tiveram franjas de algodão. Que queres tu? É ́ a eterna contradição humana”.

No Brasil, é costume acender duas velas Foto: Ri Butov/Pixabay
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Todos acendemos duas velas e queremos estar bem com todo mundo e tirar vantagem de tudo. Sobretudo em momentos de transição, quando somos e ainda não somos o que esperamos e merecemos ser.

É claro que a recusa dessa ambiguidade também tenha o seu poder de atrair adeptos. Não sendo vidente, mas um modesto e idoso antropólogo social, eu aprendi a duvidar de tudo, pois na casa de meu pai existem muitas moradas. E neste nosso Brasil, a nítida ambiguidade e a mentira sincera são mais do que possibilidades: são valores...

Só um Diabo ou um tolo não enxergam que na malandragem da malandragem, existe um irresistível cheque em branco.

Um irlandês na beira da morte pediu a um padre para ouvir sua confissão. O sacerdote tocou-lhe a testa e disse: filho, estás disposto a renunciar ao Demônio e às suas obras?

Ao ouvir essa solene intenção de escolha e renuncia ao Diabo, o moribundo ponderou: “Reverendo, no presente momento eu não estou numa situação confortável para fazer escolhas e renúncias...”

Nós, brasileiros, sabemos, desde criancinhas, que devemos acender velas ao Bom Deus e ao Diabo. Como ser leal a um, abandonando o outro que – diz nossa inconsciente precaução – pode nos ajudar? Afinal de contas, somos no fundo contrarreformistas e, assim sendo, não abolimos imagens, Nossa Senhora, santos padroeiros e, acima de tudo, o Purgatório. Esse espaço intermediário que é o lugar no qual seguramente todos nós vamos nos encontrar, além de ser um recurso jurídico que, neste mundo, nos livra das prisões e, no além, quita os nossos pecados, assegurando nossa salvação...

Numa pesquisa que realizei, 90% dos entrevistados afirmaram que iriam para o Purgatório porque Deus entendia o Diabo melhor do que o próprio Demo.

Se você duvida, leia A Igreja do Diabo, do bruxo sábio que entendeu o Brasil, Machado de Assis, para ver como a Igreja devotada ao pecado, a hipocrisia e ao populismo que, convenhamos, é o sal de nossas vidas, acabou engendrando uma multidão de “pecadores” – gente honesta, sincera e pura – que, na calada da noite, praticava virtudes e realizava boas ações. Ou seja: pecava contra os malfeitos pregados como virtudes pela Igreja do Diabo. Ao se descobrir enganado, um Demônio frustrado com seus fiéis e ansioso como um político, foi ao Criador, que simplesmente lhe ensinou: “Que queres tu, meu pobre Diabo? As capas de algodão têm agora franjas de seda, como as de veludo tiveram franjas de algodão. Que queres tu? É ́ a eterna contradição humana”.

No Brasil, é costume acender duas velas Foto: Ri Butov/Pixabay

Todos acendemos duas velas e queremos estar bem com todo mundo e tirar vantagem de tudo. Sobretudo em momentos de transição, quando somos e ainda não somos o que esperamos e merecemos ser.

É claro que a recusa dessa ambiguidade também tenha o seu poder de atrair adeptos. Não sendo vidente, mas um modesto e idoso antropólogo social, eu aprendi a duvidar de tudo, pois na casa de meu pai existem muitas moradas. E neste nosso Brasil, a nítida ambiguidade e a mentira sincera são mais do que possibilidades: são valores...

Só um Diabo ou um tolo não enxergam que na malandragem da malandragem, existe um irresistível cheque em branco.

Um irlandês na beira da morte pediu a um padre para ouvir sua confissão. O sacerdote tocou-lhe a testa e disse: filho, estás disposto a renunciar ao Demônio e às suas obras?

Ao ouvir essa solene intenção de escolha e renuncia ao Diabo, o moribundo ponderou: “Reverendo, no presente momento eu não estou numa situação confortável para fazer escolhas e renúncias...”

Nós, brasileiros, sabemos, desde criancinhas, que devemos acender velas ao Bom Deus e ao Diabo. Como ser leal a um, abandonando o outro que – diz nossa inconsciente precaução – pode nos ajudar? Afinal de contas, somos no fundo contrarreformistas e, assim sendo, não abolimos imagens, Nossa Senhora, santos padroeiros e, acima de tudo, o Purgatório. Esse espaço intermediário que é o lugar no qual seguramente todos nós vamos nos encontrar, além de ser um recurso jurídico que, neste mundo, nos livra das prisões e, no além, quita os nossos pecados, assegurando nossa salvação...

Numa pesquisa que realizei, 90% dos entrevistados afirmaram que iriam para o Purgatório porque Deus entendia o Diabo melhor do que o próprio Demo.

Se você duvida, leia A Igreja do Diabo, do bruxo sábio que entendeu o Brasil, Machado de Assis, para ver como a Igreja devotada ao pecado, a hipocrisia e ao populismo que, convenhamos, é o sal de nossas vidas, acabou engendrando uma multidão de “pecadores” – gente honesta, sincera e pura – que, na calada da noite, praticava virtudes e realizava boas ações. Ou seja: pecava contra os malfeitos pregados como virtudes pela Igreja do Diabo. Ao se descobrir enganado, um Demônio frustrado com seus fiéis e ansioso como um político, foi ao Criador, que simplesmente lhe ensinou: “Que queres tu, meu pobre Diabo? As capas de algodão têm agora franjas de seda, como as de veludo tiveram franjas de algodão. Que queres tu? É ́ a eterna contradição humana”.

No Brasil, é costume acender duas velas Foto: Ri Butov/Pixabay

Todos acendemos duas velas e queremos estar bem com todo mundo e tirar vantagem de tudo. Sobretudo em momentos de transição, quando somos e ainda não somos o que esperamos e merecemos ser.

É claro que a recusa dessa ambiguidade também tenha o seu poder de atrair adeptos. Não sendo vidente, mas um modesto e idoso antropólogo social, eu aprendi a duvidar de tudo, pois na casa de meu pai existem muitas moradas. E neste nosso Brasil, a nítida ambiguidade e a mentira sincera são mais do que possibilidades: são valores...

Só um Diabo ou um tolo não enxergam que na malandragem da malandragem, existe um irresistível cheque em branco.

Um irlandês na beira da morte pediu a um padre para ouvir sua confissão. O sacerdote tocou-lhe a testa e disse: filho, estás disposto a renunciar ao Demônio e às suas obras?

Ao ouvir essa solene intenção de escolha e renuncia ao Diabo, o moribundo ponderou: “Reverendo, no presente momento eu não estou numa situação confortável para fazer escolhas e renúncias...”

Nós, brasileiros, sabemos, desde criancinhas, que devemos acender velas ao Bom Deus e ao Diabo. Como ser leal a um, abandonando o outro que – diz nossa inconsciente precaução – pode nos ajudar? Afinal de contas, somos no fundo contrarreformistas e, assim sendo, não abolimos imagens, Nossa Senhora, santos padroeiros e, acima de tudo, o Purgatório. Esse espaço intermediário que é o lugar no qual seguramente todos nós vamos nos encontrar, além de ser um recurso jurídico que, neste mundo, nos livra das prisões e, no além, quita os nossos pecados, assegurando nossa salvação...

Numa pesquisa que realizei, 90% dos entrevistados afirmaram que iriam para o Purgatório porque Deus entendia o Diabo melhor do que o próprio Demo.

Se você duvida, leia A Igreja do Diabo, do bruxo sábio que entendeu o Brasil, Machado de Assis, para ver como a Igreja devotada ao pecado, a hipocrisia e ao populismo que, convenhamos, é o sal de nossas vidas, acabou engendrando uma multidão de “pecadores” – gente honesta, sincera e pura – que, na calada da noite, praticava virtudes e realizava boas ações. Ou seja: pecava contra os malfeitos pregados como virtudes pela Igreja do Diabo. Ao se descobrir enganado, um Demônio frustrado com seus fiéis e ansioso como um político, foi ao Criador, que simplesmente lhe ensinou: “Que queres tu, meu pobre Diabo? As capas de algodão têm agora franjas de seda, como as de veludo tiveram franjas de algodão. Que queres tu? É ́ a eterna contradição humana”.

No Brasil, é costume acender duas velas Foto: Ri Butov/Pixabay

Todos acendemos duas velas e queremos estar bem com todo mundo e tirar vantagem de tudo. Sobretudo em momentos de transição, quando somos e ainda não somos o que esperamos e merecemos ser.

É claro que a recusa dessa ambiguidade também tenha o seu poder de atrair adeptos. Não sendo vidente, mas um modesto e idoso antropólogo social, eu aprendi a duvidar de tudo, pois na casa de meu pai existem muitas moradas. E neste nosso Brasil, a nítida ambiguidade e a mentira sincera são mais do que possibilidades: são valores...

Só um Diabo ou um tolo não enxergam que na malandragem da malandragem, existe um irresistível cheque em branco.

Um irlandês na beira da morte pediu a um padre para ouvir sua confissão. O sacerdote tocou-lhe a testa e disse: filho, estás disposto a renunciar ao Demônio e às suas obras?

Ao ouvir essa solene intenção de escolha e renuncia ao Diabo, o moribundo ponderou: “Reverendo, no presente momento eu não estou numa situação confortável para fazer escolhas e renúncias...”

Nós, brasileiros, sabemos, desde criancinhas, que devemos acender velas ao Bom Deus e ao Diabo. Como ser leal a um, abandonando o outro que – diz nossa inconsciente precaução – pode nos ajudar? Afinal de contas, somos no fundo contrarreformistas e, assim sendo, não abolimos imagens, Nossa Senhora, santos padroeiros e, acima de tudo, o Purgatório. Esse espaço intermediário que é o lugar no qual seguramente todos nós vamos nos encontrar, além de ser um recurso jurídico que, neste mundo, nos livra das prisões e, no além, quita os nossos pecados, assegurando nossa salvação...

Numa pesquisa que realizei, 90% dos entrevistados afirmaram que iriam para o Purgatório porque Deus entendia o Diabo melhor do que o próprio Demo.

Se você duvida, leia A Igreja do Diabo, do bruxo sábio que entendeu o Brasil, Machado de Assis, para ver como a Igreja devotada ao pecado, a hipocrisia e ao populismo que, convenhamos, é o sal de nossas vidas, acabou engendrando uma multidão de “pecadores” – gente honesta, sincera e pura – que, na calada da noite, praticava virtudes e realizava boas ações. Ou seja: pecava contra os malfeitos pregados como virtudes pela Igreja do Diabo. Ao se descobrir enganado, um Demônio frustrado com seus fiéis e ansioso como um político, foi ao Criador, que simplesmente lhe ensinou: “Que queres tu, meu pobre Diabo? As capas de algodão têm agora franjas de seda, como as de veludo tiveram franjas de algodão. Que queres tu? É ́ a eterna contradição humana”.

No Brasil, é costume acender duas velas Foto: Ri Butov/Pixabay

Todos acendemos duas velas e queremos estar bem com todo mundo e tirar vantagem de tudo. Sobretudo em momentos de transição, quando somos e ainda não somos o que esperamos e merecemos ser.

É claro que a recusa dessa ambiguidade também tenha o seu poder de atrair adeptos. Não sendo vidente, mas um modesto e idoso antropólogo social, eu aprendi a duvidar de tudo, pois na casa de meu pai existem muitas moradas. E neste nosso Brasil, a nítida ambiguidade e a mentira sincera são mais do que possibilidades: são valores...

Só um Diabo ou um tolo não enxergam que na malandragem da malandragem, existe um irresistível cheque em branco.

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