Votação popular e júri técnico divergem em prêmios


Diferença alimenta debates nas redes sociais e enfatiza os diferentes critérios usados pelo público e pelos especialistas nos festivais brasileiros

Por Diego Cardoso e Érica Teruel

Enquanto a votação popular do prêmio Multishow 2012 consagrou Paula Fernandes, Michel Teló e Thiaguinho, o júri técnico premiou artistas do circuito alternativo nacional, como Cícero e O Terno. A diferença alimentou debates (nem sempre polidos) nas redes sociais, o que enfatizou os diferentes critérios usados pelo público e pelos especialistas nos festivais brasileiros. A participação direta do público nas escolhas dos campeões é algo recente nos festivais nacionais. O crítico musical Marcelo Costa relembra, por exemplo, os Festivais da Música Popular Brasileira, transmitidos na TV brasileira de 1965 a 1985: "Não havia júri popular, mas havia torcida organizada, que apoiava e vaiava". As manifestações da plateia - mais ou menos amigáveis - acabavam interferindo até na reação dos músicos frente à plateia. Quem não lembra de Sérgio Ricardo, sob vaias, quebrando o violão em 1967? "Os jurados acabavam levemente influenciados, mas a opinião final era deles, o que não queria dizer que música vencedora seria um sucesso." Quando foi criado, em 1994, o Prêmio Multishow contava apenas com júri popular. Em 2011 foi formado um júri especializado, o que, para Guilherme Zattar, diretor do canal, traz uma visão mais eclética do cenário musical. "Nos últimos anos temos notado que o voto popular na verdade é o voto dos fã clubes, o que muitas vezes distorce o retrato". Se a voz do povo é a voz de Deus, muitas vezes os especialistas fazem o papel de hereges, contrariando a unanimidade. No cinema isso é perceptível na relação bilheteria/prêmios: o vencedor do Oscar 2012 de melhor filme, O Artista, não figurou nem entre os 10 mais lucrativos do ano anterior. O crítico de cinema Carlos Alberto Mattos, que também participou de júris em festivais como os de Moscou, Veneza e Berlim, diz que há diferença de demanda. “O público costuma preferir filmes de fácil comunicação, com referências conhecidas. Já a crítica foca mais seu interesse em formas narrativas, tratamentos ousados de certos temas, qualidades técnicas, empenho autoral do realizador”. Já para Guilherme Zattar, os críticos podem ser uma ponte entre artistas e público: “A crítica traz essa leitura especializada, pois são pessoas que estão atentas e abertas ao novo”. O também crítico de cinema Marcelo Hessel acredita que essa diferenciação está na concepção de sucesso, que varia entre público e especialistas. “O público é a massa que dilui o individual, então a formação do consenso e a propensão a responder emocionalmente aos filmes é maior, daí a ideia do filme bem-sucedido”. Para ele, o perigo está quando um filme torna-se consenso entre os próprios críticos: “Nossa função é colocar as coisas em perspectiva, colocar os filmes em crise, e isso não tem nada a ver com o conceito de sucesso. A unanimidade se torna um limitador do trabalho crítico”.

Enquanto a votação popular do prêmio Multishow 2012 consagrou Paula Fernandes, Michel Teló e Thiaguinho, o júri técnico premiou artistas do circuito alternativo nacional, como Cícero e O Terno. A diferença alimentou debates (nem sempre polidos) nas redes sociais, o que enfatizou os diferentes critérios usados pelo público e pelos especialistas nos festivais brasileiros. A participação direta do público nas escolhas dos campeões é algo recente nos festivais nacionais. O crítico musical Marcelo Costa relembra, por exemplo, os Festivais da Música Popular Brasileira, transmitidos na TV brasileira de 1965 a 1985: "Não havia júri popular, mas havia torcida organizada, que apoiava e vaiava". As manifestações da plateia - mais ou menos amigáveis - acabavam interferindo até na reação dos músicos frente à plateia. Quem não lembra de Sérgio Ricardo, sob vaias, quebrando o violão em 1967? "Os jurados acabavam levemente influenciados, mas a opinião final era deles, o que não queria dizer que música vencedora seria um sucesso." Quando foi criado, em 1994, o Prêmio Multishow contava apenas com júri popular. Em 2011 foi formado um júri especializado, o que, para Guilherme Zattar, diretor do canal, traz uma visão mais eclética do cenário musical. "Nos últimos anos temos notado que o voto popular na verdade é o voto dos fã clubes, o que muitas vezes distorce o retrato". Se a voz do povo é a voz de Deus, muitas vezes os especialistas fazem o papel de hereges, contrariando a unanimidade. No cinema isso é perceptível na relação bilheteria/prêmios: o vencedor do Oscar 2012 de melhor filme, O Artista, não figurou nem entre os 10 mais lucrativos do ano anterior. O crítico de cinema Carlos Alberto Mattos, que também participou de júris em festivais como os de Moscou, Veneza e Berlim, diz que há diferença de demanda. “O público costuma preferir filmes de fácil comunicação, com referências conhecidas. Já a crítica foca mais seu interesse em formas narrativas, tratamentos ousados de certos temas, qualidades técnicas, empenho autoral do realizador”. Já para Guilherme Zattar, os críticos podem ser uma ponte entre artistas e público: “A crítica traz essa leitura especializada, pois são pessoas que estão atentas e abertas ao novo”. O também crítico de cinema Marcelo Hessel acredita que essa diferenciação está na concepção de sucesso, que varia entre público e especialistas. “O público é a massa que dilui o individual, então a formação do consenso e a propensão a responder emocionalmente aos filmes é maior, daí a ideia do filme bem-sucedido”. Para ele, o perigo está quando um filme torna-se consenso entre os próprios críticos: “Nossa função é colocar as coisas em perspectiva, colocar os filmes em crise, e isso não tem nada a ver com o conceito de sucesso. A unanimidade se torna um limitador do trabalho crítico”.

Enquanto a votação popular do prêmio Multishow 2012 consagrou Paula Fernandes, Michel Teló e Thiaguinho, o júri técnico premiou artistas do circuito alternativo nacional, como Cícero e O Terno. A diferença alimentou debates (nem sempre polidos) nas redes sociais, o que enfatizou os diferentes critérios usados pelo público e pelos especialistas nos festivais brasileiros. A participação direta do público nas escolhas dos campeões é algo recente nos festivais nacionais. O crítico musical Marcelo Costa relembra, por exemplo, os Festivais da Música Popular Brasileira, transmitidos na TV brasileira de 1965 a 1985: "Não havia júri popular, mas havia torcida organizada, que apoiava e vaiava". As manifestações da plateia - mais ou menos amigáveis - acabavam interferindo até na reação dos músicos frente à plateia. Quem não lembra de Sérgio Ricardo, sob vaias, quebrando o violão em 1967? "Os jurados acabavam levemente influenciados, mas a opinião final era deles, o que não queria dizer que música vencedora seria um sucesso." Quando foi criado, em 1994, o Prêmio Multishow contava apenas com júri popular. Em 2011 foi formado um júri especializado, o que, para Guilherme Zattar, diretor do canal, traz uma visão mais eclética do cenário musical. "Nos últimos anos temos notado que o voto popular na verdade é o voto dos fã clubes, o que muitas vezes distorce o retrato". Se a voz do povo é a voz de Deus, muitas vezes os especialistas fazem o papel de hereges, contrariando a unanimidade. No cinema isso é perceptível na relação bilheteria/prêmios: o vencedor do Oscar 2012 de melhor filme, O Artista, não figurou nem entre os 10 mais lucrativos do ano anterior. O crítico de cinema Carlos Alberto Mattos, que também participou de júris em festivais como os de Moscou, Veneza e Berlim, diz que há diferença de demanda. “O público costuma preferir filmes de fácil comunicação, com referências conhecidas. Já a crítica foca mais seu interesse em formas narrativas, tratamentos ousados de certos temas, qualidades técnicas, empenho autoral do realizador”. Já para Guilherme Zattar, os críticos podem ser uma ponte entre artistas e público: “A crítica traz essa leitura especializada, pois são pessoas que estão atentas e abertas ao novo”. O também crítico de cinema Marcelo Hessel acredita que essa diferenciação está na concepção de sucesso, que varia entre público e especialistas. “O público é a massa que dilui o individual, então a formação do consenso e a propensão a responder emocionalmente aos filmes é maior, daí a ideia do filme bem-sucedido”. Para ele, o perigo está quando um filme torna-se consenso entre os próprios críticos: “Nossa função é colocar as coisas em perspectiva, colocar os filmes em crise, e isso não tem nada a ver com o conceito de sucesso. A unanimidade se torna um limitador do trabalho crítico”.

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