O real está entre as moedas do mundo que mais perderam valor em relação ao dólar neste ano, segundo levantamento da agência classificadora de risco Austin Rating. Segundo o estudo, o real teve variação negativa de 11,4% até esta quarta-feira, 19, e ocupa a quinta posição no ranking das dez moedas que tiveram maiores desvalorizações em 2024.
Na América Latina, a moeda brasileira é a que mais perdeu valor no comparativo com a moeda norte-americana, ficando atrás inclusive da Argentina, que registrou queda de 10,8% do peso argentino frente ao dólar. Até o dia 13 deste mês o real ocupava a sexta posição - ou seja, subiu uma posição no ranking geral, ultrapassando justamente o peso argentino.
O pior desempenho mundial entre as 118 moedas analisadas é da naira nigeriana, da Nigéria, que desvalorizou 41,3% neste ano em relação ao dólar. Segundo o The New York Times, a queda livre da moeda nigeriana é reflexo da pior crise econômica em décadas. Há dois anos, o país era a segunda maior economia da África, e deve cair para quarto neste ano, segundo o jornal.
Depois da Nigéria aparecem a libra (Egito), com queda de 35,2%; a libra sudanesa (Sudão do Sul) com retração de 29,9%; e o cedi ganês (Gana), que desvalorizou 20,9% em relação ao dólar neste ano.
O levantamento da Austin Rating é feito a partir dos dados da Ptax, a taxa de câmbio calculada pelo Banco Central, indica que, na última semana, o Brasil caiu de sexto para quinto no ranking. “Mais de 70 moedas se desvalorizaram em relação ao dólar. É um fenômeno global”, afirma Alex Agostini, economista-chefe da agência de classificação de risco.
Os dados indicam que 21 moedas permaneceram com valores estáveis frente ao dólar, e outras 20 valorizaram. O topo do ranking de variação positiva é do xelim, do Quênia, com valorização de 22,1% no comparativo com o dólar, seguida do rublo (Rússia), com 7,3%, e da rupia (Sri Lanka), com 6,2%.
Confira abaixo o ranking das 10 moedas que mais se desvalorizaram neste ano frente ao dólar.
- 1º - Naira (Nigéria): -41,3%
- 2º - Libra (Egito): -35,2%
- 3º - Libra sudanesa (Sudão do Sul): -29,9%
- 4º - Cedi ganês (Gana): -20,9%
- 5º - Real (Brasil): -11,4%
- 6º - Peso (Argentina): -10,8%
- 7º - Iene (Japão): -10.4%
- 8º - Lira turca (Turquia): -9,2%
- 9º - Peso (México): - 7,9%
- 10º - Peso (Colômbia): -7,1%
Leia Também:
Juros dos EUA e conflitos geopolíticos
Segundo Alex Agostini, um dos principais motivos da desvalorização das moedas está relacionado aos juros nos Estados Unidos, que subiram muito e permanecem em nível muito elevado, sem perspectiva de redução. “Obviamente que investidores acabam migrando os seus recursos para títulos do tesouro norte-americano, que são mais seguros, mesmo tendo uma rentabilidade muito menor do que a do Brasil”, afirma.
Os conflitos geopolíticos também ajudam a explicar a situação, sobretudo os conflitos entre Rússia e Ucrânia e o ataque do grupo terrorista Hamas a Israel. “Acaba elevando os ânimos também em nível global, já que existe uma preocupação de outras nações se envolverem, o que dá mais combustível para as desvalorizações das moedas em geral”, afirma.
O economista-chefe da Austin Rating afirma que, neste contexto, o Brasil acaba sendo mais impactado. “O Brasil, sendo um país emergente com o nível de taxas de juros ainda bastante elevado, é uma democracia e tem boas instituições, os investidores acabam alocando o recurso para cá ao longo do tempo, seja no setor produtivo ou no mercado financeiro. Porém, em momentos de crise, como a crise de confiança, os investidores retiram recursos do Brasil e levam para economias mais seguras, tais como os Estados Unidos, Europa, entre outras”, afirma.
Além disso, ele explica que o problema adicional que tem feito o Brasil disparar e ser ali a quinta moeda que mais desvaloriza no mundo frente ao dólar, é um grande risco de descontrole fiscal. “O governo já vem dando sinais de que não está muito disposto a ter um controle de gastos, né? O governo não apresenta nenhum plano de redução de despesa, nenhum plano de privatizações que seria a venda de ativos para tentar equilibrar o gasto público”, diz.
Paralelo a isso, ele questiona a elevação de gastos públicos, citando como exemplo o pé-de-meia, um programa de incentivo financeiro-educacional, e o aumento do salário mínimo. “A assistência social, ela é importante até pelas diferenças regionais que existem no Brasil, país que tem uma grave concentração de renda. Então é preciso o governo fazer o assistencialismo. O ponto é que só pode fazer isso se tiver as contas em dia. Se não tem, precisa vender ativos, privatizar. Ele [Lula] já falou que não vai. Até quer rever para reverter o que foi feito na Eletrobras. Então, é uma sinalização muito negativa para os investidores, para os empresários”, afirma o economista-chefe.
Ele afirma que o descontrole nas contas públicas, em um primeiro momento, eleva a inflação, depois, eleva a taxa de juros, e no terceiro momento, desacelera atividade econômica. “No quarto momento, a gente tem o risco de entrar numa recessão repetindo o que aconteceu em 2015 e 2016. A gente sabe que a economia a história pode se repetir e a gente sabe quais são as consequências”, afirma.