Nesta semana, fez 30 anos que vencemos a ameaça da hiperinflação com o lançamento do Plano Real. Entre 1980 e 1994, a inflação média no Brasil foi de 95.302.476% ao ano - e quem viveu essa época sabe da aflição que vivia sem saber os preços de amanhã. Antes do Plano Real, diversas tentativas de domar a inflação foram implementadas, geralmente via controle artificial dos preços (a exceção foi o Plano Collor, que confiscou a poupança em uma medida extrema de redução de liquidez). Todos derrubaram a inflação logo após a implantação mas fracassaram em seguida, gerando ceticismo e medo.
Mas o real mudou essa história, quebrando a inércia no reajuste de preços (com o mecanismo transitório da unidade real de valor - URV) e aplicando uma âncora cambial. Além disso, fazia parte do plano a identificação de reformas estruturais necessárias para dar sustentação à estabilidade da moeda em prazos maiores. Ajustes foram necessários ao longo do percurso e, no final da década de 1990, abandonamos o câmbio fixo ao estabelecer o tripé macroeconômico que vigorou na primeira década do século 21: câmbio flutuante, metas de inflação e superávit primário.
Mas podemos considerar que toda a missão foi cumprida? Se levarmos em consideração a realidade internacional, fica claro que há outra face nesta moeda.
Primeiramente, percebemos que, apesar de ter caído bastante e mudado de patamar, a inflação no Brasil permaneceu mais alta que nos EUA em boa parte do tempo. Em segundo lugar, o real perdeu valor com relação ao dólar. Em termos nominais, a taxa de câmbio no início do plano real era um pra um. Hoje, precisamos de mais de R$ 5,50 para comprar um dólar.
O resumo é que, sim, temos que comemorar com vontade os 30 anos do plano real e não poupar esforços para proteger a estabilidade de nossa moeda. Mas não podemos esquecer que ainda temos muito o que evoluir para que o fantasma da inflação fique definitivamente no passado e para que o real possa entrar no grupo das moedas fortes do mundo.