A reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) desta semana terá audiência bem maior e mais atenta do que as últimas. Não tanto pela decisão que será adotada a respeito da famosa taxa Selic (taxa de juros que o governo paga para os seus credores, compradores dos papagaios que ele emite, e que determina o nível de todas as taxas de juros do mercado). É quase certo que ela seja reduzida em 0,25 ponto de porcentagem. Mas não é isso o que mais importa. A expectativa maior é sobre o rumo futuro, digamos assim, da política do Copom, que poderá vir indicado nas entrelinhas da Ata da reunião desta semana, que só será divulgada na semana que vem. A Selic poderá ser reduzida agora e, depois, permanecer durante um bom tempo no mesmo nível. Poderá continuar sendo reduzida parcimoniosamente. Ou o Copom poderá retornar a uma política de elevação da Selic. Do ponto de vista do rigor monetarista que prevaleceu entre os membros do Copom durante bom tempo - mas que dizem ter diminuído um pouco, depois das mudanças na sua composição -, há bons motivos para que a última hipótese ganhe força na reunião que começa amanhã. A começar da revalorização do dólar no mercado interno que já está empurrando para cima os preços de muitos produtos finais importados e, mais grave que isso, os preços de bens intermediários e insumos que entram na fabricação de grande número de produtos da nossa indústria. Além disso, também é um fator de encarecimento dos preços de produtos agrícolas, dado o impacto nos preços dos pesticidas, fungicidas e adubos importados; nos das máquinas, peças e componentes usados na produção agropecuária; e nos seus combustíveis e lubrificantes. O preço do dólar, portanto, já é, sozinho, um fator nada desprezível de aceleração da inflação, cujo controle é a missão e a preocupação maior do Copom. O que importa é avaliar se essa alta do dólar é apenas episódica e de curta duração; se pode refluir, mas terá uma duração algo prolongada; ou se é uma nova tendência com caráter de perenidade. Por enquanto não é possível um prognóstico seguro. O feeling é que orienta as expectativas numa situação destas. E muito de um feeling de qualidade depende de experiência e de vivência. (*) A outra face desconfortável da turbulência externa é a elevação das taxas de juros em toda parte, promovida pelo enxugamento da liquidez internacional e pela crise de inadimplência nos EUA. Muitas empresas brasileiras se aproveitavam de financiamentos externos com juros mais baratos do que aqui dentro. Com isso tinham preços melhores para os seus produtos, na exportação e nas vendas internas, enfrentavam bem a competição lá fora e a competição, aqui dentro, de produtos que vinham do exterior. Agora, terão de pagar juros mais caros, lá fora ou aqui dentro, de preferência aqui dentro porque o risco cambial também aumentou, isto é, se o dólar continua a se valorizar, os custos de financiamentos externos ficarão proibitivos. Portanto, temos aí um outro fator de encarecimento da produção em geral e de alimentação da inflação. Ora, essa situação de encarecimento da produção e do crédito resulta, necessariamente, em retração de demanda, que era o que vinha alimentando o fraco crescimento do PIB que temos tido, mas que vinha melhorando - com mais emprego, melhores salários, maior formalização do emprego, aumento das vendas do comércio, enfim, os vários sinais positivos que a economia apresentava, inclusive o aumento do grau de confiança dos consumidores. Uma retração da demanda cria o contrário de tudo isso: menos crescimento, menos salários, menos vendas do comércio e, principalmente, quebra da confiança dos consumidores. Vê-se que é rematada tolice ficar dizendo, como nossas autoridades, que a crise externa não nos afeta, que o Brasil está bem protegido. Não é verdade. E o Copom estará diante de um dilema: se volta a aumentar os juros, derruba a demanda, as exportações e até contribui para pressionar a inflação; se diminui os juros, pode dar alguma sobrevida ao empuxo da demanda, mas derruba parte do saldo em conta corrente - produzido por capitais que entram no Brasil em busca de juros mais altos - e não se livra da ameaça da inflação. Um complicador é que a decisão tomada agora só terá efeito bem mais tarde. Então, se a tendência de alta da inflação é uma tendência firme, o Copom tem de aumentar os juros agora. Se acha que a retração da demanda tem fôlego longo, tem de diminuir os juros agora. Mas, mais do que nunca, sua Ata terá de ter credibilidade e inspirar confiança no mercado. (*) Aproveito para uma digressão sobre uma das possíveis causas desses surtos de altíssimo risco que vivem hoje os mercados financeiros e de papéis. São muito jovens os operadores desses mercados e instantâneos os seus comandos sobre movimentações de ativos. Os seus ''''feelings'''' não se baseiam nem em experiência nem em vivência, como o de um Alan Greenspan, por exemplo. Não tinham nascido ou não sabiam nem ler, quando essas turbulências desestabilizadoras tiveram início nos anos 70. A maior parte deles tem menos de dez anos ''''de mercado''''. Conheceu no máximo a crise da Rússia de 98. O ''''feeling'''' que os anima é o de cuidar da própria pele a cada dia: evitar perdas e, havendo chance, maximizar ganhos, pois é só isso que lhes garante o emprego. Nada mais. Daí porque uma análise criteriosa do potencial de mercado, um balanço cuidadoso das possibilidades futuras, coisas do velho capitalismo, caíram de moda. Um Henry Ford não teria a menor chance no capitalismo online. Graham Bell também não. O que é isso? - pensariam os de hoje - geeente!... os caras tinham de convencer o comprador de que valia a pena comprar o produto, tinham de fabricá-lo, tinham de esperar anos para as vendas aumentarem e os lucros apareceram... vige Maria!!! Eu hein, sai dessa!!! Muito melhor e mais rápido ser manipulador de terminais. *Marco Antonio Rocha é jornalista. E-mail: marcoantonio.rocha @grupoestado.com.br