A Europa ficou atrás dos EUA e da China. Ela pode alcançá-los?


Uma “crise de competitividade” está alarmando autoridades e líderes empresariais na União Europeia, onde o investimento, a renda e a produtividade estão atrasados

Por Patricia Cohen

A participação da Europa na economia global está encolhendo, e aumenta o temor de que o continente não consiga mais acompanhar o ritmo dos Estados Unidos e da China.

“Somos muito pequenos”, disse Enrico Letta, ex-primeiro-ministro italiano que recentemente entregou um relatório sobre o futuro do mercado único para a União Europeia.

“Não somos muito ambiciosos”, disse Nicolai Tangen, chefe do fundo soberano da Noruega, o maior do mundo, ao The Financial Times. “Os americanos simplesmente trabalham mais”.

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“As empresas europeias precisam recuperar a autoconfiança”, declarou a associação de câmaras de comércio da Europa.

Carga no Sena, na França; grande parte da organização econômica da Europa foi criada para “o mundo de ontem”, disse Mario Draghi, ex-presidente do Banco Central Europeu Foto: James Hill/NYT

A lista de motivos para o que tem sido chamado de “crise de competitividade” continua: a União Europeia tem muitas regulamentações e sua liderança em Bruxelas tem muito pouco poder. Os mercados financeiros são muito fragmentados; os investimentos públicos e privados são muito baixos; e as empresas, muito pequenas para competir em escala global.

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“Nossa organização, tomada de decisões e financiamento foram projetados para ‘o mundo de ontem’, pré-covid, pré-Ucrânia, pré-conflagração no Oriente Médio, pré-retorno da rivalidade entre as grandes potências”, disse Mario Draghi, ex-presidente do Banco Central Europeu, que está liderando um estudo sobre a competitividade da Europa.

A energia barata da Rússia, as exportações baratas da China e a dependência fundamental da proteção militar dos Estados Unidos não podem mais ser consideradas garantidas.

Ao mesmo tempo, Pequim e Washington estão canalizando centenas de bilhões de dólares para a expansão de seus próprios setores de semicondutores, energia alternativa e carros elétricos, além de derrubar o regime de livre comércio do mundo.

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Uma fazenda de energia solar na China. Os governos de Pequim e Washington gastaram enormes quantias para desenvolver setores de energia alternativa Foto: Gilles Sabrie/NYT

O investimento privado também está defasado. As grandes corporações, por exemplo, investiram 60% menos em 2022 do que suas contrapartes americanas e cresceram a dois terços do ritmo, de acordo com um relatório do McKinsey Global Institute. Quanto à renda per capita, ela é, em média, 27% menor do que a dos Estados Unidos. E o crescimento da produtividade é mais lento do que em outras grandes economias, enquanto os preços da energia são muito mais altos.

O relatório de Draghi só será divulgado depois que os eleitores dos 27 Estados da União Europeia forem às urnas nesta semana para eleger seus representantes parlamentares.

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Mas ele já declarou que é necessária uma “mudança radical”. Em sua opinião, isso significa um enorme aumento nos gastos conjuntos, uma revisão do financiamento e das regulamentações da Europa e uma consolidação de empresas menores.

Os desafios internos de fazer com que mais de duas dúzias de países ajam como uma única unidade se intensificaram diante do rápido avanço tecnológico, dos crescentes conflitos internacionais e do uso crescente de políticas nacionais para orientar os negócios. Imagine se cada Estado dos Estados Unidos tivesse soberania nacional e houvesse apenas um poder federal limitado para arrecadar dinheiro para financiar coisas como as forças armadas.

A Europa já tomou algumas medidas para acompanhar esse ritmo. No ano passado, a União Europeia aprovou um Plano Industrial do Acordo Verde para acelerar a transição energética e, nesta primavera, propôs pela primeira vez uma política de defesa industrial. Mas esses esforços foram ofuscados pelos recursos que os Estados Unidos e a China estão empregando.

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O bloco “está prestes a ficar muito aquém de suas ambiciosas metas de transição energética para energia renovável, capacidade de tecnologia limpa e investimentos na cadeia de suprimentos doméstica”, afirmou a empresa de pesquisa Rystad Energy em uma análise realizada esta semana.

Na opinião de Draghi, o investimento público e privado na União Europeia precisa aumentar em mais meio trilhão de euros por ano (US$ 542 bilhões, ou R$ 2,8 trilhõe ) somente nas transições digital e verde para manter o ritmo.

Tanto o seu relatório quanto o de Letta foram encomendados pela Comissão Europeia, o órgão executivo da União Europeia, para orientar os formuladores de políticas quando eles se reunirem no outono para elaborar o próximo plano estratégico de cinco anos do bloco.

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Ainda há um contingente considerável na Europa - e em outros lugares - que prefere mercados abertos e desconfia das intervenções governamentais. Mas muitas das principais autoridades, mandarins políticos e líderes empresariais da Europa estão falando cada vez mais sobre a necessidade de uma ação coletiva mais agressiva.

Sem reunir o financiamento público e criar um único mercado de capitais, eles argumentam que a Europa não poderá fazer o tipo de investimento em defesa, energia, supercomputação e outros necessários para competir de forma eficaz.

E sem consolidar empresas menores, não será possível igualar as economias de escala disponíveis para as gigantescas empresas estrangeiras, que estão mais bem posicionadas para abocanhar participação de mercado e lucros.

A Europa, por exemplo, tem pelo menos 34 redes móveis importantes, disse Draghi, enquanto a China tem quatro e os Estados Unidos, três.

Letta disse que experimentou em primeira mão as deficiências competitivas peculiares da Europa quando passou seis meses visitando 65 cidades europeias para pesquisar seu relatório. Era impossível viajar “de trem de alta velocidade entre as capitais europeias”, disse ele. “Essa é uma profunda contradição, emblemática dos problemas do Mercado Único.”

As soluções propostas, no entanto, podem ir contra a corrente política. Muitos líderes e eleitores de todo o continente estão profundamente preocupados com empregos, padrões de vida e poder aquisitivo.

Mas eles têm receio de dar a Bruxelas mais controle e poder financeiro. E, muitas vezes, relutam em assistir à fusão de marcas nacionais com rivais ou ao desaparecimento de práticas comerciais e regras administrativas conhecidas. A criação de um novo pântano de burocracia é outra preocupação.

Agricultores furiosos na França e na Bélgica bloquearam estradas e despejaram caminhões de esterco este ano para protestar contra a proliferação de regulamentações ambientais da UE que regem o uso de pesticidas e fertilizantes, cronogramas de plantio, zoneamento e muito mais.

Culpar Bruxelas também é uma tática conveniente para os partidos políticos de extrema-direita que buscam explorar as ansiedades econômicas. O partido anti-imigração National Rally, na França, chamou a União Europeia de “inimiga do povo”.

No momento, as pesquisas mostram que os partidos de direita devem ganhar mais assentos no Parlamento Europeu, deixando o órgão legislativo ainda mais fragmentado.

Em nível nacional, os líderes governamentais podem ser protetores de suas prerrogativas. Na última década, a União Europeia tentou criar um mercado de capitais único para facilitar o investimento internacional.

Mas muitas nações menores, incluindo Irlanda, Romênia e Suécia, se opuseram a ceder poder a Bruxelas ou a mudar suas leis, preocupadas em colocar seus setores financeiros nacionais em desvantagem.

As organizações da sociedade civil também estão preocupadas com a concentração de poder. No mês passado, 13 grupos na Europa escreveram uma carta aberta alertando que uma maior consolidação do mercado prejudicaria os consumidores, os trabalhadores e as pequenas empresas e daria aos gigantes corporativos muita influência, causando o aumento dos preços. Além disso, eles temem que outras prioridades econômicas, sociais e ambientais sejam deixadas de lado.

Há mais de uma década, a Europa vem ficando para trás em várias medidas de competitividade, incluindo investimentos de capital, pesquisa e desenvolvimento e crescimento da produtividade. Mas é líder mundial em redução de emissões, limitação da desigualdade de renda e expansão da mobilidade social, de acordo com a McKinsey.

E algumas das disparidades econômicas com os Estados Unidos são resultados de escolhas. Metade da diferença no Produto Interno Bruto (PIB) per capita entre a Europa e os Estados Unidos é resultado do fato de os europeus optarem por trabalhar menos horas, em média, ao longo da vida.

Essas escolhas podem ser um luxo que os europeus não terão mais se quiserem manter seus padrões de vida, alertam outros. As políticas que regem a energia, os mercados e os bancos são muito díspares, disse Simone Tagliapietra, membro sênior da Bruegel, uma organização de pesquisa em Bruxelas.

“Se continuarmos a ter 27 mercados que não estão bem integrados”, disse ele, “não poderemos competir com os chineses ou os americanos”.

A participação da Europa na economia global está encolhendo, e aumenta o temor de que o continente não consiga mais acompanhar o ritmo dos Estados Unidos e da China.

“Somos muito pequenos”, disse Enrico Letta, ex-primeiro-ministro italiano que recentemente entregou um relatório sobre o futuro do mercado único para a União Europeia.

“Não somos muito ambiciosos”, disse Nicolai Tangen, chefe do fundo soberano da Noruega, o maior do mundo, ao The Financial Times. “Os americanos simplesmente trabalham mais”.

“As empresas europeias precisam recuperar a autoconfiança”, declarou a associação de câmaras de comércio da Europa.

Carga no Sena, na França; grande parte da organização econômica da Europa foi criada para “o mundo de ontem”, disse Mario Draghi, ex-presidente do Banco Central Europeu Foto: James Hill/NYT

A lista de motivos para o que tem sido chamado de “crise de competitividade” continua: a União Europeia tem muitas regulamentações e sua liderança em Bruxelas tem muito pouco poder. Os mercados financeiros são muito fragmentados; os investimentos públicos e privados são muito baixos; e as empresas, muito pequenas para competir em escala global.

“Nossa organização, tomada de decisões e financiamento foram projetados para ‘o mundo de ontem’, pré-covid, pré-Ucrânia, pré-conflagração no Oriente Médio, pré-retorno da rivalidade entre as grandes potências”, disse Mario Draghi, ex-presidente do Banco Central Europeu, que está liderando um estudo sobre a competitividade da Europa.

A energia barata da Rússia, as exportações baratas da China e a dependência fundamental da proteção militar dos Estados Unidos não podem mais ser consideradas garantidas.

Ao mesmo tempo, Pequim e Washington estão canalizando centenas de bilhões de dólares para a expansão de seus próprios setores de semicondutores, energia alternativa e carros elétricos, além de derrubar o regime de livre comércio do mundo.

Uma fazenda de energia solar na China. Os governos de Pequim e Washington gastaram enormes quantias para desenvolver setores de energia alternativa Foto: Gilles Sabrie/NYT

O investimento privado também está defasado. As grandes corporações, por exemplo, investiram 60% menos em 2022 do que suas contrapartes americanas e cresceram a dois terços do ritmo, de acordo com um relatório do McKinsey Global Institute. Quanto à renda per capita, ela é, em média, 27% menor do que a dos Estados Unidos. E o crescimento da produtividade é mais lento do que em outras grandes economias, enquanto os preços da energia são muito mais altos.

O relatório de Draghi só será divulgado depois que os eleitores dos 27 Estados da União Europeia forem às urnas nesta semana para eleger seus representantes parlamentares.

Mas ele já declarou que é necessária uma “mudança radical”. Em sua opinião, isso significa um enorme aumento nos gastos conjuntos, uma revisão do financiamento e das regulamentações da Europa e uma consolidação de empresas menores.

Os desafios internos de fazer com que mais de duas dúzias de países ajam como uma única unidade se intensificaram diante do rápido avanço tecnológico, dos crescentes conflitos internacionais e do uso crescente de políticas nacionais para orientar os negócios. Imagine se cada Estado dos Estados Unidos tivesse soberania nacional e houvesse apenas um poder federal limitado para arrecadar dinheiro para financiar coisas como as forças armadas.

A Europa já tomou algumas medidas para acompanhar esse ritmo. No ano passado, a União Europeia aprovou um Plano Industrial do Acordo Verde para acelerar a transição energética e, nesta primavera, propôs pela primeira vez uma política de defesa industrial. Mas esses esforços foram ofuscados pelos recursos que os Estados Unidos e a China estão empregando.

O bloco “está prestes a ficar muito aquém de suas ambiciosas metas de transição energética para energia renovável, capacidade de tecnologia limpa e investimentos na cadeia de suprimentos doméstica”, afirmou a empresa de pesquisa Rystad Energy em uma análise realizada esta semana.

Na opinião de Draghi, o investimento público e privado na União Europeia precisa aumentar em mais meio trilhão de euros por ano (US$ 542 bilhões, ou R$ 2,8 trilhõe ) somente nas transições digital e verde para manter o ritmo.

Tanto o seu relatório quanto o de Letta foram encomendados pela Comissão Europeia, o órgão executivo da União Europeia, para orientar os formuladores de políticas quando eles se reunirem no outono para elaborar o próximo plano estratégico de cinco anos do bloco.

Ainda há um contingente considerável na Europa - e em outros lugares - que prefere mercados abertos e desconfia das intervenções governamentais. Mas muitas das principais autoridades, mandarins políticos e líderes empresariais da Europa estão falando cada vez mais sobre a necessidade de uma ação coletiva mais agressiva.

Sem reunir o financiamento público e criar um único mercado de capitais, eles argumentam que a Europa não poderá fazer o tipo de investimento em defesa, energia, supercomputação e outros necessários para competir de forma eficaz.

E sem consolidar empresas menores, não será possível igualar as economias de escala disponíveis para as gigantescas empresas estrangeiras, que estão mais bem posicionadas para abocanhar participação de mercado e lucros.

A Europa, por exemplo, tem pelo menos 34 redes móveis importantes, disse Draghi, enquanto a China tem quatro e os Estados Unidos, três.

Letta disse que experimentou em primeira mão as deficiências competitivas peculiares da Europa quando passou seis meses visitando 65 cidades europeias para pesquisar seu relatório. Era impossível viajar “de trem de alta velocidade entre as capitais europeias”, disse ele. “Essa é uma profunda contradição, emblemática dos problemas do Mercado Único.”

As soluções propostas, no entanto, podem ir contra a corrente política. Muitos líderes e eleitores de todo o continente estão profundamente preocupados com empregos, padrões de vida e poder aquisitivo.

Mas eles têm receio de dar a Bruxelas mais controle e poder financeiro. E, muitas vezes, relutam em assistir à fusão de marcas nacionais com rivais ou ao desaparecimento de práticas comerciais e regras administrativas conhecidas. A criação de um novo pântano de burocracia é outra preocupação.

Agricultores furiosos na França e na Bélgica bloquearam estradas e despejaram caminhões de esterco este ano para protestar contra a proliferação de regulamentações ambientais da UE que regem o uso de pesticidas e fertilizantes, cronogramas de plantio, zoneamento e muito mais.

Culpar Bruxelas também é uma tática conveniente para os partidos políticos de extrema-direita que buscam explorar as ansiedades econômicas. O partido anti-imigração National Rally, na França, chamou a União Europeia de “inimiga do povo”.

No momento, as pesquisas mostram que os partidos de direita devem ganhar mais assentos no Parlamento Europeu, deixando o órgão legislativo ainda mais fragmentado.

Em nível nacional, os líderes governamentais podem ser protetores de suas prerrogativas. Na última década, a União Europeia tentou criar um mercado de capitais único para facilitar o investimento internacional.

Mas muitas nações menores, incluindo Irlanda, Romênia e Suécia, se opuseram a ceder poder a Bruxelas ou a mudar suas leis, preocupadas em colocar seus setores financeiros nacionais em desvantagem.

As organizações da sociedade civil também estão preocupadas com a concentração de poder. No mês passado, 13 grupos na Europa escreveram uma carta aberta alertando que uma maior consolidação do mercado prejudicaria os consumidores, os trabalhadores e as pequenas empresas e daria aos gigantes corporativos muita influência, causando o aumento dos preços. Além disso, eles temem que outras prioridades econômicas, sociais e ambientais sejam deixadas de lado.

Há mais de uma década, a Europa vem ficando para trás em várias medidas de competitividade, incluindo investimentos de capital, pesquisa e desenvolvimento e crescimento da produtividade. Mas é líder mundial em redução de emissões, limitação da desigualdade de renda e expansão da mobilidade social, de acordo com a McKinsey.

E algumas das disparidades econômicas com os Estados Unidos são resultados de escolhas. Metade da diferença no Produto Interno Bruto (PIB) per capita entre a Europa e os Estados Unidos é resultado do fato de os europeus optarem por trabalhar menos horas, em média, ao longo da vida.

Essas escolhas podem ser um luxo que os europeus não terão mais se quiserem manter seus padrões de vida, alertam outros. As políticas que regem a energia, os mercados e os bancos são muito díspares, disse Simone Tagliapietra, membro sênior da Bruegel, uma organização de pesquisa em Bruxelas.

“Se continuarmos a ter 27 mercados que não estão bem integrados”, disse ele, “não poderemos competir com os chineses ou os americanos”.

A participação da Europa na economia global está encolhendo, e aumenta o temor de que o continente não consiga mais acompanhar o ritmo dos Estados Unidos e da China.

“Somos muito pequenos”, disse Enrico Letta, ex-primeiro-ministro italiano que recentemente entregou um relatório sobre o futuro do mercado único para a União Europeia.

“Não somos muito ambiciosos”, disse Nicolai Tangen, chefe do fundo soberano da Noruega, o maior do mundo, ao The Financial Times. “Os americanos simplesmente trabalham mais”.

“As empresas europeias precisam recuperar a autoconfiança”, declarou a associação de câmaras de comércio da Europa.

Carga no Sena, na França; grande parte da organização econômica da Europa foi criada para “o mundo de ontem”, disse Mario Draghi, ex-presidente do Banco Central Europeu Foto: James Hill/NYT

A lista de motivos para o que tem sido chamado de “crise de competitividade” continua: a União Europeia tem muitas regulamentações e sua liderança em Bruxelas tem muito pouco poder. Os mercados financeiros são muito fragmentados; os investimentos públicos e privados são muito baixos; e as empresas, muito pequenas para competir em escala global.

“Nossa organização, tomada de decisões e financiamento foram projetados para ‘o mundo de ontem’, pré-covid, pré-Ucrânia, pré-conflagração no Oriente Médio, pré-retorno da rivalidade entre as grandes potências”, disse Mario Draghi, ex-presidente do Banco Central Europeu, que está liderando um estudo sobre a competitividade da Europa.

A energia barata da Rússia, as exportações baratas da China e a dependência fundamental da proteção militar dos Estados Unidos não podem mais ser consideradas garantidas.

Ao mesmo tempo, Pequim e Washington estão canalizando centenas de bilhões de dólares para a expansão de seus próprios setores de semicondutores, energia alternativa e carros elétricos, além de derrubar o regime de livre comércio do mundo.

Uma fazenda de energia solar na China. Os governos de Pequim e Washington gastaram enormes quantias para desenvolver setores de energia alternativa Foto: Gilles Sabrie/NYT

O investimento privado também está defasado. As grandes corporações, por exemplo, investiram 60% menos em 2022 do que suas contrapartes americanas e cresceram a dois terços do ritmo, de acordo com um relatório do McKinsey Global Institute. Quanto à renda per capita, ela é, em média, 27% menor do que a dos Estados Unidos. E o crescimento da produtividade é mais lento do que em outras grandes economias, enquanto os preços da energia são muito mais altos.

O relatório de Draghi só será divulgado depois que os eleitores dos 27 Estados da União Europeia forem às urnas nesta semana para eleger seus representantes parlamentares.

Mas ele já declarou que é necessária uma “mudança radical”. Em sua opinião, isso significa um enorme aumento nos gastos conjuntos, uma revisão do financiamento e das regulamentações da Europa e uma consolidação de empresas menores.

Os desafios internos de fazer com que mais de duas dúzias de países ajam como uma única unidade se intensificaram diante do rápido avanço tecnológico, dos crescentes conflitos internacionais e do uso crescente de políticas nacionais para orientar os negócios. Imagine se cada Estado dos Estados Unidos tivesse soberania nacional e houvesse apenas um poder federal limitado para arrecadar dinheiro para financiar coisas como as forças armadas.

A Europa já tomou algumas medidas para acompanhar esse ritmo. No ano passado, a União Europeia aprovou um Plano Industrial do Acordo Verde para acelerar a transição energética e, nesta primavera, propôs pela primeira vez uma política de defesa industrial. Mas esses esforços foram ofuscados pelos recursos que os Estados Unidos e a China estão empregando.

O bloco “está prestes a ficar muito aquém de suas ambiciosas metas de transição energética para energia renovável, capacidade de tecnologia limpa e investimentos na cadeia de suprimentos doméstica”, afirmou a empresa de pesquisa Rystad Energy em uma análise realizada esta semana.

Na opinião de Draghi, o investimento público e privado na União Europeia precisa aumentar em mais meio trilhão de euros por ano (US$ 542 bilhões, ou R$ 2,8 trilhõe ) somente nas transições digital e verde para manter o ritmo.

Tanto o seu relatório quanto o de Letta foram encomendados pela Comissão Europeia, o órgão executivo da União Europeia, para orientar os formuladores de políticas quando eles se reunirem no outono para elaborar o próximo plano estratégico de cinco anos do bloco.

Ainda há um contingente considerável na Europa - e em outros lugares - que prefere mercados abertos e desconfia das intervenções governamentais. Mas muitas das principais autoridades, mandarins políticos e líderes empresariais da Europa estão falando cada vez mais sobre a necessidade de uma ação coletiva mais agressiva.

Sem reunir o financiamento público e criar um único mercado de capitais, eles argumentam que a Europa não poderá fazer o tipo de investimento em defesa, energia, supercomputação e outros necessários para competir de forma eficaz.

E sem consolidar empresas menores, não será possível igualar as economias de escala disponíveis para as gigantescas empresas estrangeiras, que estão mais bem posicionadas para abocanhar participação de mercado e lucros.

A Europa, por exemplo, tem pelo menos 34 redes móveis importantes, disse Draghi, enquanto a China tem quatro e os Estados Unidos, três.

Letta disse que experimentou em primeira mão as deficiências competitivas peculiares da Europa quando passou seis meses visitando 65 cidades europeias para pesquisar seu relatório. Era impossível viajar “de trem de alta velocidade entre as capitais europeias”, disse ele. “Essa é uma profunda contradição, emblemática dos problemas do Mercado Único.”

As soluções propostas, no entanto, podem ir contra a corrente política. Muitos líderes e eleitores de todo o continente estão profundamente preocupados com empregos, padrões de vida e poder aquisitivo.

Mas eles têm receio de dar a Bruxelas mais controle e poder financeiro. E, muitas vezes, relutam em assistir à fusão de marcas nacionais com rivais ou ao desaparecimento de práticas comerciais e regras administrativas conhecidas. A criação de um novo pântano de burocracia é outra preocupação.

Agricultores furiosos na França e na Bélgica bloquearam estradas e despejaram caminhões de esterco este ano para protestar contra a proliferação de regulamentações ambientais da UE que regem o uso de pesticidas e fertilizantes, cronogramas de plantio, zoneamento e muito mais.

Culpar Bruxelas também é uma tática conveniente para os partidos políticos de extrema-direita que buscam explorar as ansiedades econômicas. O partido anti-imigração National Rally, na França, chamou a União Europeia de “inimiga do povo”.

No momento, as pesquisas mostram que os partidos de direita devem ganhar mais assentos no Parlamento Europeu, deixando o órgão legislativo ainda mais fragmentado.

Em nível nacional, os líderes governamentais podem ser protetores de suas prerrogativas. Na última década, a União Europeia tentou criar um mercado de capitais único para facilitar o investimento internacional.

Mas muitas nações menores, incluindo Irlanda, Romênia e Suécia, se opuseram a ceder poder a Bruxelas ou a mudar suas leis, preocupadas em colocar seus setores financeiros nacionais em desvantagem.

As organizações da sociedade civil também estão preocupadas com a concentração de poder. No mês passado, 13 grupos na Europa escreveram uma carta aberta alertando que uma maior consolidação do mercado prejudicaria os consumidores, os trabalhadores e as pequenas empresas e daria aos gigantes corporativos muita influência, causando o aumento dos preços. Além disso, eles temem que outras prioridades econômicas, sociais e ambientais sejam deixadas de lado.

Há mais de uma década, a Europa vem ficando para trás em várias medidas de competitividade, incluindo investimentos de capital, pesquisa e desenvolvimento e crescimento da produtividade. Mas é líder mundial em redução de emissões, limitação da desigualdade de renda e expansão da mobilidade social, de acordo com a McKinsey.

E algumas das disparidades econômicas com os Estados Unidos são resultados de escolhas. Metade da diferença no Produto Interno Bruto (PIB) per capita entre a Europa e os Estados Unidos é resultado do fato de os europeus optarem por trabalhar menos horas, em média, ao longo da vida.

Essas escolhas podem ser um luxo que os europeus não terão mais se quiserem manter seus padrões de vida, alertam outros. As políticas que regem a energia, os mercados e os bancos são muito díspares, disse Simone Tagliapietra, membro sênior da Bruegel, uma organização de pesquisa em Bruxelas.

“Se continuarmos a ter 27 mercados que não estão bem integrados”, disse ele, “não poderemos competir com os chineses ou os americanos”.

A participação da Europa na economia global está encolhendo, e aumenta o temor de que o continente não consiga mais acompanhar o ritmo dos Estados Unidos e da China.

“Somos muito pequenos”, disse Enrico Letta, ex-primeiro-ministro italiano que recentemente entregou um relatório sobre o futuro do mercado único para a União Europeia.

“Não somos muito ambiciosos”, disse Nicolai Tangen, chefe do fundo soberano da Noruega, o maior do mundo, ao The Financial Times. “Os americanos simplesmente trabalham mais”.

“As empresas europeias precisam recuperar a autoconfiança”, declarou a associação de câmaras de comércio da Europa.

Carga no Sena, na França; grande parte da organização econômica da Europa foi criada para “o mundo de ontem”, disse Mario Draghi, ex-presidente do Banco Central Europeu Foto: James Hill/NYT

A lista de motivos para o que tem sido chamado de “crise de competitividade” continua: a União Europeia tem muitas regulamentações e sua liderança em Bruxelas tem muito pouco poder. Os mercados financeiros são muito fragmentados; os investimentos públicos e privados são muito baixos; e as empresas, muito pequenas para competir em escala global.

“Nossa organização, tomada de decisões e financiamento foram projetados para ‘o mundo de ontem’, pré-covid, pré-Ucrânia, pré-conflagração no Oriente Médio, pré-retorno da rivalidade entre as grandes potências”, disse Mario Draghi, ex-presidente do Banco Central Europeu, que está liderando um estudo sobre a competitividade da Europa.

A energia barata da Rússia, as exportações baratas da China e a dependência fundamental da proteção militar dos Estados Unidos não podem mais ser consideradas garantidas.

Ao mesmo tempo, Pequim e Washington estão canalizando centenas de bilhões de dólares para a expansão de seus próprios setores de semicondutores, energia alternativa e carros elétricos, além de derrubar o regime de livre comércio do mundo.

Uma fazenda de energia solar na China. Os governos de Pequim e Washington gastaram enormes quantias para desenvolver setores de energia alternativa Foto: Gilles Sabrie/NYT

O investimento privado também está defasado. As grandes corporações, por exemplo, investiram 60% menos em 2022 do que suas contrapartes americanas e cresceram a dois terços do ritmo, de acordo com um relatório do McKinsey Global Institute. Quanto à renda per capita, ela é, em média, 27% menor do que a dos Estados Unidos. E o crescimento da produtividade é mais lento do que em outras grandes economias, enquanto os preços da energia são muito mais altos.

O relatório de Draghi só será divulgado depois que os eleitores dos 27 Estados da União Europeia forem às urnas nesta semana para eleger seus representantes parlamentares.

Mas ele já declarou que é necessária uma “mudança radical”. Em sua opinião, isso significa um enorme aumento nos gastos conjuntos, uma revisão do financiamento e das regulamentações da Europa e uma consolidação de empresas menores.

Os desafios internos de fazer com que mais de duas dúzias de países ajam como uma única unidade se intensificaram diante do rápido avanço tecnológico, dos crescentes conflitos internacionais e do uso crescente de políticas nacionais para orientar os negócios. Imagine se cada Estado dos Estados Unidos tivesse soberania nacional e houvesse apenas um poder federal limitado para arrecadar dinheiro para financiar coisas como as forças armadas.

A Europa já tomou algumas medidas para acompanhar esse ritmo. No ano passado, a União Europeia aprovou um Plano Industrial do Acordo Verde para acelerar a transição energética e, nesta primavera, propôs pela primeira vez uma política de defesa industrial. Mas esses esforços foram ofuscados pelos recursos que os Estados Unidos e a China estão empregando.

O bloco “está prestes a ficar muito aquém de suas ambiciosas metas de transição energética para energia renovável, capacidade de tecnologia limpa e investimentos na cadeia de suprimentos doméstica”, afirmou a empresa de pesquisa Rystad Energy em uma análise realizada esta semana.

Na opinião de Draghi, o investimento público e privado na União Europeia precisa aumentar em mais meio trilhão de euros por ano (US$ 542 bilhões, ou R$ 2,8 trilhõe ) somente nas transições digital e verde para manter o ritmo.

Tanto o seu relatório quanto o de Letta foram encomendados pela Comissão Europeia, o órgão executivo da União Europeia, para orientar os formuladores de políticas quando eles se reunirem no outono para elaborar o próximo plano estratégico de cinco anos do bloco.

Ainda há um contingente considerável na Europa - e em outros lugares - que prefere mercados abertos e desconfia das intervenções governamentais. Mas muitas das principais autoridades, mandarins políticos e líderes empresariais da Europa estão falando cada vez mais sobre a necessidade de uma ação coletiva mais agressiva.

Sem reunir o financiamento público e criar um único mercado de capitais, eles argumentam que a Europa não poderá fazer o tipo de investimento em defesa, energia, supercomputação e outros necessários para competir de forma eficaz.

E sem consolidar empresas menores, não será possível igualar as economias de escala disponíveis para as gigantescas empresas estrangeiras, que estão mais bem posicionadas para abocanhar participação de mercado e lucros.

A Europa, por exemplo, tem pelo menos 34 redes móveis importantes, disse Draghi, enquanto a China tem quatro e os Estados Unidos, três.

Letta disse que experimentou em primeira mão as deficiências competitivas peculiares da Europa quando passou seis meses visitando 65 cidades europeias para pesquisar seu relatório. Era impossível viajar “de trem de alta velocidade entre as capitais europeias”, disse ele. “Essa é uma profunda contradição, emblemática dos problemas do Mercado Único.”

As soluções propostas, no entanto, podem ir contra a corrente política. Muitos líderes e eleitores de todo o continente estão profundamente preocupados com empregos, padrões de vida e poder aquisitivo.

Mas eles têm receio de dar a Bruxelas mais controle e poder financeiro. E, muitas vezes, relutam em assistir à fusão de marcas nacionais com rivais ou ao desaparecimento de práticas comerciais e regras administrativas conhecidas. A criação de um novo pântano de burocracia é outra preocupação.

Agricultores furiosos na França e na Bélgica bloquearam estradas e despejaram caminhões de esterco este ano para protestar contra a proliferação de regulamentações ambientais da UE que regem o uso de pesticidas e fertilizantes, cronogramas de plantio, zoneamento e muito mais.

Culpar Bruxelas também é uma tática conveniente para os partidos políticos de extrema-direita que buscam explorar as ansiedades econômicas. O partido anti-imigração National Rally, na França, chamou a União Europeia de “inimiga do povo”.

No momento, as pesquisas mostram que os partidos de direita devem ganhar mais assentos no Parlamento Europeu, deixando o órgão legislativo ainda mais fragmentado.

Em nível nacional, os líderes governamentais podem ser protetores de suas prerrogativas. Na última década, a União Europeia tentou criar um mercado de capitais único para facilitar o investimento internacional.

Mas muitas nações menores, incluindo Irlanda, Romênia e Suécia, se opuseram a ceder poder a Bruxelas ou a mudar suas leis, preocupadas em colocar seus setores financeiros nacionais em desvantagem.

As organizações da sociedade civil também estão preocupadas com a concentração de poder. No mês passado, 13 grupos na Europa escreveram uma carta aberta alertando que uma maior consolidação do mercado prejudicaria os consumidores, os trabalhadores e as pequenas empresas e daria aos gigantes corporativos muita influência, causando o aumento dos preços. Além disso, eles temem que outras prioridades econômicas, sociais e ambientais sejam deixadas de lado.

Há mais de uma década, a Europa vem ficando para trás em várias medidas de competitividade, incluindo investimentos de capital, pesquisa e desenvolvimento e crescimento da produtividade. Mas é líder mundial em redução de emissões, limitação da desigualdade de renda e expansão da mobilidade social, de acordo com a McKinsey.

E algumas das disparidades econômicas com os Estados Unidos são resultados de escolhas. Metade da diferença no Produto Interno Bruto (PIB) per capita entre a Europa e os Estados Unidos é resultado do fato de os europeus optarem por trabalhar menos horas, em média, ao longo da vida.

Essas escolhas podem ser um luxo que os europeus não terão mais se quiserem manter seus padrões de vida, alertam outros. As políticas que regem a energia, os mercados e os bancos são muito díspares, disse Simone Tagliapietra, membro sênior da Bruegel, uma organização de pesquisa em Bruxelas.

“Se continuarmos a ter 27 mercados que não estão bem integrados”, disse ele, “não poderemos competir com os chineses ou os americanos”.

A participação da Europa na economia global está encolhendo, e aumenta o temor de que o continente não consiga mais acompanhar o ritmo dos Estados Unidos e da China.

“Somos muito pequenos”, disse Enrico Letta, ex-primeiro-ministro italiano que recentemente entregou um relatório sobre o futuro do mercado único para a União Europeia.

“Não somos muito ambiciosos”, disse Nicolai Tangen, chefe do fundo soberano da Noruega, o maior do mundo, ao The Financial Times. “Os americanos simplesmente trabalham mais”.

“As empresas europeias precisam recuperar a autoconfiança”, declarou a associação de câmaras de comércio da Europa.

Carga no Sena, na França; grande parte da organização econômica da Europa foi criada para “o mundo de ontem”, disse Mario Draghi, ex-presidente do Banco Central Europeu Foto: James Hill/NYT

A lista de motivos para o que tem sido chamado de “crise de competitividade” continua: a União Europeia tem muitas regulamentações e sua liderança em Bruxelas tem muito pouco poder. Os mercados financeiros são muito fragmentados; os investimentos públicos e privados são muito baixos; e as empresas, muito pequenas para competir em escala global.

“Nossa organização, tomada de decisões e financiamento foram projetados para ‘o mundo de ontem’, pré-covid, pré-Ucrânia, pré-conflagração no Oriente Médio, pré-retorno da rivalidade entre as grandes potências”, disse Mario Draghi, ex-presidente do Banco Central Europeu, que está liderando um estudo sobre a competitividade da Europa.

A energia barata da Rússia, as exportações baratas da China e a dependência fundamental da proteção militar dos Estados Unidos não podem mais ser consideradas garantidas.

Ao mesmo tempo, Pequim e Washington estão canalizando centenas de bilhões de dólares para a expansão de seus próprios setores de semicondutores, energia alternativa e carros elétricos, além de derrubar o regime de livre comércio do mundo.

Uma fazenda de energia solar na China. Os governos de Pequim e Washington gastaram enormes quantias para desenvolver setores de energia alternativa Foto: Gilles Sabrie/NYT

O investimento privado também está defasado. As grandes corporações, por exemplo, investiram 60% menos em 2022 do que suas contrapartes americanas e cresceram a dois terços do ritmo, de acordo com um relatório do McKinsey Global Institute. Quanto à renda per capita, ela é, em média, 27% menor do que a dos Estados Unidos. E o crescimento da produtividade é mais lento do que em outras grandes economias, enquanto os preços da energia são muito mais altos.

O relatório de Draghi só será divulgado depois que os eleitores dos 27 Estados da União Europeia forem às urnas nesta semana para eleger seus representantes parlamentares.

Mas ele já declarou que é necessária uma “mudança radical”. Em sua opinião, isso significa um enorme aumento nos gastos conjuntos, uma revisão do financiamento e das regulamentações da Europa e uma consolidação de empresas menores.

Os desafios internos de fazer com que mais de duas dúzias de países ajam como uma única unidade se intensificaram diante do rápido avanço tecnológico, dos crescentes conflitos internacionais e do uso crescente de políticas nacionais para orientar os negócios. Imagine se cada Estado dos Estados Unidos tivesse soberania nacional e houvesse apenas um poder federal limitado para arrecadar dinheiro para financiar coisas como as forças armadas.

A Europa já tomou algumas medidas para acompanhar esse ritmo. No ano passado, a União Europeia aprovou um Plano Industrial do Acordo Verde para acelerar a transição energética e, nesta primavera, propôs pela primeira vez uma política de defesa industrial. Mas esses esforços foram ofuscados pelos recursos que os Estados Unidos e a China estão empregando.

O bloco “está prestes a ficar muito aquém de suas ambiciosas metas de transição energética para energia renovável, capacidade de tecnologia limpa e investimentos na cadeia de suprimentos doméstica”, afirmou a empresa de pesquisa Rystad Energy em uma análise realizada esta semana.

Na opinião de Draghi, o investimento público e privado na União Europeia precisa aumentar em mais meio trilhão de euros por ano (US$ 542 bilhões, ou R$ 2,8 trilhõe ) somente nas transições digital e verde para manter o ritmo.

Tanto o seu relatório quanto o de Letta foram encomendados pela Comissão Europeia, o órgão executivo da União Europeia, para orientar os formuladores de políticas quando eles se reunirem no outono para elaborar o próximo plano estratégico de cinco anos do bloco.

Ainda há um contingente considerável na Europa - e em outros lugares - que prefere mercados abertos e desconfia das intervenções governamentais. Mas muitas das principais autoridades, mandarins políticos e líderes empresariais da Europa estão falando cada vez mais sobre a necessidade de uma ação coletiva mais agressiva.

Sem reunir o financiamento público e criar um único mercado de capitais, eles argumentam que a Europa não poderá fazer o tipo de investimento em defesa, energia, supercomputação e outros necessários para competir de forma eficaz.

E sem consolidar empresas menores, não será possível igualar as economias de escala disponíveis para as gigantescas empresas estrangeiras, que estão mais bem posicionadas para abocanhar participação de mercado e lucros.

A Europa, por exemplo, tem pelo menos 34 redes móveis importantes, disse Draghi, enquanto a China tem quatro e os Estados Unidos, três.

Letta disse que experimentou em primeira mão as deficiências competitivas peculiares da Europa quando passou seis meses visitando 65 cidades europeias para pesquisar seu relatório. Era impossível viajar “de trem de alta velocidade entre as capitais europeias”, disse ele. “Essa é uma profunda contradição, emblemática dos problemas do Mercado Único.”

As soluções propostas, no entanto, podem ir contra a corrente política. Muitos líderes e eleitores de todo o continente estão profundamente preocupados com empregos, padrões de vida e poder aquisitivo.

Mas eles têm receio de dar a Bruxelas mais controle e poder financeiro. E, muitas vezes, relutam em assistir à fusão de marcas nacionais com rivais ou ao desaparecimento de práticas comerciais e regras administrativas conhecidas. A criação de um novo pântano de burocracia é outra preocupação.

Agricultores furiosos na França e na Bélgica bloquearam estradas e despejaram caminhões de esterco este ano para protestar contra a proliferação de regulamentações ambientais da UE que regem o uso de pesticidas e fertilizantes, cronogramas de plantio, zoneamento e muito mais.

Culpar Bruxelas também é uma tática conveniente para os partidos políticos de extrema-direita que buscam explorar as ansiedades econômicas. O partido anti-imigração National Rally, na França, chamou a União Europeia de “inimiga do povo”.

No momento, as pesquisas mostram que os partidos de direita devem ganhar mais assentos no Parlamento Europeu, deixando o órgão legislativo ainda mais fragmentado.

Em nível nacional, os líderes governamentais podem ser protetores de suas prerrogativas. Na última década, a União Europeia tentou criar um mercado de capitais único para facilitar o investimento internacional.

Mas muitas nações menores, incluindo Irlanda, Romênia e Suécia, se opuseram a ceder poder a Bruxelas ou a mudar suas leis, preocupadas em colocar seus setores financeiros nacionais em desvantagem.

As organizações da sociedade civil também estão preocupadas com a concentração de poder. No mês passado, 13 grupos na Europa escreveram uma carta aberta alertando que uma maior consolidação do mercado prejudicaria os consumidores, os trabalhadores e as pequenas empresas e daria aos gigantes corporativos muita influência, causando o aumento dos preços. Além disso, eles temem que outras prioridades econômicas, sociais e ambientais sejam deixadas de lado.

Há mais de uma década, a Europa vem ficando para trás em várias medidas de competitividade, incluindo investimentos de capital, pesquisa e desenvolvimento e crescimento da produtividade. Mas é líder mundial em redução de emissões, limitação da desigualdade de renda e expansão da mobilidade social, de acordo com a McKinsey.

E algumas das disparidades econômicas com os Estados Unidos são resultados de escolhas. Metade da diferença no Produto Interno Bruto (PIB) per capita entre a Europa e os Estados Unidos é resultado do fato de os europeus optarem por trabalhar menos horas, em média, ao longo da vida.

Essas escolhas podem ser um luxo que os europeus não terão mais se quiserem manter seus padrões de vida, alertam outros. As políticas que regem a energia, os mercados e os bancos são muito díspares, disse Simone Tagliapietra, membro sênior da Bruegel, uma organização de pesquisa em Bruxelas.

“Se continuarmos a ter 27 mercados que não estão bem integrados”, disse ele, “não poderemos competir com os chineses ou os americanos”.

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