A indústria brasileira e as ações pela sustentabilidade


Sob liderança da CNI, setor apresentará na COP-28 iniciativas na agenda de descarbonização

Por CNI e Estadão Blue Studio
Atualização:

A indústria brasileira terá participação recorde na COP-28, a 28ª edição da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, que será realizada em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, entre 30 de novembro e 12 de dezembro. Além da presença de mais de cem empresários do setor, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) terá, pela primeira vez, um estande próprio na Área Azul, gerenciada pela Organização das Nações Unidas (ONU), onde ocorrem as negociações.

A inovação é essencial para enfrentar os desafios da agenda do clima Foto: Divulgação CNI

A estrutura da CNI sediará debates, painéis e apresentações de empresas parceiras e convidadas. Terá também plantas com explicações detalhadas sobre a produção de hidrogênio de baixo carbono, no qual o Brasil é uma potência em ascensão, e de biocombustível a partir da semente de macaúba, palmeira nativa e disseminada pelo território brasileiro.

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A CNI elaborou um documento com a síntese das expectativas do setor para o evento, a Visão da Indústria para a COP-28. “O posicionamento considera os temas globais pautados para as conferências e os anseios da nossa base”, diz o presidente da CNI, Ricardo Alban.

Alban enfatiza que a COP-28 será uma oportunidade de mostrar como a indústria brasileira já faz parte da solução quando o assunto é sustentabilidade e adaptação às mudanças climáticas. “Fizemos há tempo o que muitos setores industriais de outros países estão correndo para fazer agora. A nossa indústria, principalmente aquela intensiva em uso de energia, tem muito a compartilhar com o mundo.” Ele cita, como exemplo, a redução das emissões de gases de efeito estufa pelos fabricantes de cimento instalados no País, que são 10% menores do que a média mundial.

Exemplos brasileiros

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A indústria brasileira vem trabalhando com uma agenda de baixo carbono estruturada em quatro frentes: transição energética (por meio da utilização de fontes de energia limpa); e regulamentação do mercado de carbono; promoção das práticas de economia circular; conservação florestal e com apoio à bioeconomia.

Um dos entraves para a expansão ainda mais rápida dessas práticas, observa o presidente da CNI, é o financiamento. “São necessárias políticas voltadas à descarbonização dos processos industriais, com instrumentos financeiros que estimulem esse processo, a exemplo da criação de um mercado regulado de carbono, com reciclagem de receitas. Outros instrumentos financeiros devem ser estruturados e estimulados, como a taxonomia e linhas de financiamento específicas para tecnologias de baixo carbono.”

Jorge Viana, presidente da ApexBrasil, diz que os principais objetivos na COP-28 são posicionar o compromisso do Brasil com a agenda de sustentabilidade e o potencial do País para atração de investimentos verdes. “O Brasil chega à COP-28 com o dever de casa feito: redução do desmatamento na Amazônia e políticas ambientais transversais presentes em todos os programas do governo federal. O Brasil está pronto para se tornar, novamente, protagonista no debate e nas ações para o enfrentamento da mudança climática global.”

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Viana ressalta o quanto o setor privado brasileiro tem a mostrar sobre mitigação dos riscos climáticos, a exemplo de adaptação de políticas e compromisso das empresas com as iniciativas em sustentabilidade, além do monitoramento do inventário de carbono. A CNI desenvolveu uma estratégia para uma economia de baixo carbono para a redução de emissão de GEE nos curto e médio prazos, e a neutralidade climática, em 2050″, lembra o executivo.

A BRF, uma das maiores companhias de alimentos do mundo, com produção anual acima de 5 milhões de toneladas, será uma das empresas brasileiras presentes na COP-28. “Vamos acompanhar as negociações, compartilhar os nossos avanços na agenda de descarbonização, trocar conhecimento e aprender com as melhores práticas globais”, diz Alessandro Bonorino, vice-presidente de Gente, Sustentabilidade e Digital da empresa.

Um dos destaques da pauta da COP-28 será a divulgação do primeiro Balanço Global (Global Stocktake–GST). Trata-se de um mecanismo de transparência do Acordo de Paris, celebrado em 2015, que tem o objetivo de avaliar e divulgar o progresso coletivo das partes em relação ao cumprimento dos objetivos e das metas de longo prazo estabelecidas no acordo. Espera-se que esse primeiro GST se torne um parâmetro de tomada de decisões e investimentos pelos países, fortalecendo, assim, o cumprimento das metas domésticas.

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É um balanço global da ONU para acompanhar e avaliar a implementação das metas do Acordo de Paris no longo prazo. A ferramenta começou a ser utilizada durante a COP-26, na Escócia, com a expectativa de que seja concluída durante a COP-28, nos Emirados Árabes Unidos.

Ricardo Alban, presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI) Foto: Divulgação CNI
Fizemos há tempo o que muitos setores industriais de outros países estão correndo para fazer agora.

Ricardo Alban, presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI)

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A descarbonização como pilar central para a indústria

Em condições competitivas, Brasil precisa aproveitar as janelas que se abrem com a agenda de descarbonização para obter protagonismo global

O diagnóstico, em termos gerais, aponta para um contexto positivo. O setor industrial brasileiro já trabalha com uma agenda de baixo carbono, como relata Davi Bomtempo, gerente-executivo de Meio Ambiente e Sustentabilidade da CNI. “A atuação envolve quatro frentes: transição energética, mercado doméstico de carbono, economia circular e conservação florestal”, explica o executivo. Se no primeiro ponto as fontes de energia limpa estarão cada vez mais presentes no horizonte, a regulação do mercado de carbono, o ponto central do segundo conjunto de ações, segue em discussão no Congresso Nacional. Além disso, economia circular é algo que cresce de forma vigorosa, enquanto a questão do desmatamento – fora do contexto industrial – ainda é o principal problema que o governo precisa equacionar, apesar da melhora registrada nos índices de destruição da Amazônia a partir de janeiro.

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Matrizes energéticas mais limpas, como as placas solares, tendem a atrair mais investimentos Foto: Divulgação CNI

“Os esforços feitos pela indústria e as janelas de oportunidades que se abrem para o Brasil com o desenvolvimento do hidrogênio de baixo carbono, da energia eólica offshore e dos biocombustíveis, além do empenho do governo federal com a redução do desmatamento, nos colocam de volta no protagonismo das discussões de sustentabilidade. Tudo isso é fundamental para atrair investimentos, novas plantas industriais e ajudar o País na criação de empregos”, ratifica Bomtempo.

O fato de o quadro geral fazer emergir certo otimismo, entretanto, não significa que não existam pontos de atenção que precisam estar sempre no radar. No caso do desenvolvimento de novas energias, como a questão do hidrogênio, ou mesmo na implementação de projetos robustos de bioeconomia, em que as populações locais são peças-chave, existem políticas transversais que precisam ser postas em prática, atestam os executivos do setor industrial.

“Temos diversos desafios, como requalificação da força de trabalho, estabelecimento de uma infraestrutura adequada e disponibilização de financiamento”, explica o gerente-executivo de Meio Ambiente e Sustentabilidade da CNI.

A questão torna-se mais complexa, segundo Bomtempo, quando se olha para a diversidade do setor privado nacional. “O desafio é particularmente grande para empresas de pequeno e médio portes, que lidam com limitações tanto financeiras quanto técnicas para a adoção dessas novas tecnologias”, comenta.

Se, de um lado, existe um custo alto para a implementação de fontes renováveis de energia nos processos industriais, de outro, assuntos como bioeconomia e matriz limpa tendem a atrair mais investimentos, desde que as condições basilares e transversais para elas decolarem estejam presentes. Em evento recente na CNI, Marcelo Miterhof, assessor do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), ressaltou essa questão.

“A bioeconomia e a estratégia brasileira têm uma questão óbvia: para um país continuar tendo o peso geopolítico que tem e que pode crescer, ele precisa cumprir a meta de desmatamento legal zero até 2030. Essa é a nossa chance de continuarmos nos posicionando no mundo e exigir contrapartidas, fazendo investimentos que tragam desenvolvimento para nós. Para isso, o papel da bioeconomia é muito relevante, mas não acho que seja um problema de financiamento, mas de demanda”, diz Miterhof.

Política industrial focada em enfrentar desafios da sociedade

A agenda climática e uma nova configuração das cadeias globais de valor exigem esforços coordenados para que o Brasil aproveite as oportunidades nesse novo cenário. Por isso, O Plano de Retomada da Indústria, recém-lançado pela CNI, está centrado na elaboração de políticas orientadas por missões prioritárias que visam encaminhar respostas para os principais desafios que a sociedade brasileira enfrenta.

O documento está estruturado em quatro missões: Descarbonização; Transformação Digital; Saúde e Segurança Sanitária ; e, a última, mas igualmente importante, Defesa e Segurança Nacional.

O mapa do caminho para a reindustrialização brasileira prevê ainda o desenvolvimento de ações transversais voltadas para o aumento da produtividade e da competitividade da produção brasileira. É a combinação das missões com uma visão integrada que dá robustez ao plano, segundo os seus autores.

As ações transversais têm como objetivo equalizar as condições competitivas do Brasil com os demais países. O texto do documento enumera 60 propostas, divididas em 9 eixos temáticos, que abrangem as seguintes áreas: tributação; ambiente regulatório e segurança jurídica; financiamento; comércio e integração internacional; infraestrutura; inovação e desenvolvimento produtivo; educação; e relações de trabalho, além de desenvolvimento regional.

A falta de uma indústria pungente no Brasil, e com uma visão transversal, é o que explica, segundo o plano da CNI, a crise que se tem hoje no setor de informática, por exemplo. Como apenas cinco países (China, Taiwan, Singapura, Coreia do Sul e Malásia) respondem por três quartos das exportações globais de semicondutores e circuitos integrados, as fragilidades dessa cadeia de valor aparecem com facilidade e, por isso, há interrupções no fornecimento dessas matérias-primas essenciais para o segmento eletrônico.

A sinergia entre governo e setores industriais, como vem ocorrendo no Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial (CNDI), colegiado vinculado à Presidência da República, é um passo importante para que um plano moderno de reindustrialização nacional seja, de fato, implementado. As principais economias mundiais já empregam pelo menos US$ 12 trilhões em políticas semelhantes. Ao contrário do passado, são estratégias que englobam uma visão moderna de mundo, voltada para inovação, sustentabilidade e competitividade internacional.

Rumo à economia de baixo carbono

CNI desenhou quatro grandes linhas de ação para que a indústria brasileira se torne cada vez mais sustentável e contribua para que o Brasil aproveite as oportunidades trazidas pela agenda do clima .

A indústria brasileira tem clareza sobre os caminhos que precisam ser percorridos para que o setor siga em direção à economia verde. Essas ações estão descritas na Missão Descarbonização da CNI, subdividida em quatro programas: mercado de carbono, transição energética, economia circular e conservação florestal e bioeconomia.

A Confederação espera que a COP-28 seja bem-sucedida no encaminhamento de avanços ligados aos pilares da Missão Descarbonização. Alguns desses avanços são a atração de investimentos internacionais, a expansão da oferta de fontes mais limpas de energia e com menor custo, a implementação da cadeia de valor do hidrogênio e o fomento a novos mercados para bioeconomia.

“Considerando a importância de o setor empresarial conhecer e gerir as oportunidades e os riscos que os eventos climáticos extremos podem acarretar aos negócios, a CNI entende que a COP-28 será estratégica para avançar na definição da meta global de adaptação à mudança do clima”, diz o diretor de Relações Institucionais da Confederação, Roberto Muniz. “Na última COP, o progresso nas negociações da agenda de adaptação à mudança do clima ficou abaixo do esperado, apesar dos relatórios do IPCC demostrarem, de forma robusta, que os impactos das mudanças do clima serão cada vez mais frequentes e severos”, lembra.

Ações em cada pilar

Em junho, a CNI apresentou ao governo federal e à sociedade sua proposta para regulamentar o mercado de carbono no País, baseada na análise dos modelos praticados em vários outros países. O instrumento é uma importante medida para reduzir as emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) e tem potencial de movimentar até R$ 128 bilhões em receitas, segundo estimativas do projeto Partnership for

Market Readiness (PMR).

Em termos de transição energética, o Brasil já parte de uma posição privilegiada, com matriz predominantemente limpa: 84% de participação de fontes renováveis na matriz elétrica e 47% na matriz energética. Há, no entanto, oportunidades na ampliação de fontes como a eólica — especialmente projetos offshore, que representam uma nova fronteira para a expansão da energia dos ventos no país —, solar e bioenergia, além de novas tecnologias como o hidrogênio sustentável, obtido a partir de fontes renováveis.

Os biocombustíveis também integram o pacote de soluções à brasileira, know-how que o País exercita desde o Proálcool, na década de 1970. Há espaço para avançar nos biocombustíveis de segunda geração, obtidos a partir de resíduos. A aviação, por exemplo, tem buscado nos biocombustíveis uma solução para descarbonizar o setor – já que, a partir de 2027, os aviões não poderão levantar voo entre vários destinos internacionais se não compensarem as emissões de GEE.

Circularidade

No pilar Economia Circular, espera-se a elaboração de uma política nacional, com organização de uma base de dados que contemple todo o Brasil e mapeie as melhores práticas, simplifique e desburocratize a logística reversa e incorpore critérios de sustentabilidade nas compras públicas. A CNI lidera a delegação brasileira que participa da elaboração de normas técnicas sobre economia circular que estão sendo criadas pela Organização Internacional de Normatização (ISO, na sigla em inglês).

Já o pilar de Conservação Florestal propõe o fortalecimento da gestão de florestas públicas, o uso sustentável da biodiversidade e o estabelecimento das bases técnicas para o desenvolvimento e avanço da agenda de bioeconomia do País.

A CNI considera que tratar as florestas e a biodiversidade sob a ótica econômica, vendo os recursos naturais como ativos, é fundamental para o avanço econômico nacional.

CNI marca presença nos debates

Os pilares da Missão Descarbonização, concebida pela CNI, permearão a pauta da participação das empresas brasileiras na COP-28. Além do estande da Confederação, a indústria brasileira marcará presença nos debates que ocorrerão no pavilhão do governo brasileiro. A própria CNI e organizações como Petrobras, Suzano e Vale terão painéis para falar sobre os impactos da mudança do clima e as adaptações necessárias na indústria.

“A importância da CNI nesse processo é a liderança estruturada, organizando os esforços da indústria nacional para descarbonizar, visando ao desenvolvimento econômico e social do País”, diz Vivian MacKnight, gerente-geral de Mudanças Climáticas da Vale. “A CNI entende a realidade do setor industrial do Brasil e tem articulação institucional para ajudar a construir políticas públicas que permitam o desenvolvimento de uma economia de baixo carbono ou carbono zero.”

O potencial das eólicas ‘offshore’ no Brasil

Mesmo sem um marco regulatório definido, investidores já sinalizaram disposição para triplicar a capacidade de geração elétrica instalada no Brasil; País pode gerar até 700 GW de energia explorando o oceano

O Brasil tem tudo para se tornar uma grande potência da geração eólica offshore. Um mapeamento feito pelo Ibama mostra que, até meados de julho, havia 78 projetos na fila à espera de licenciamento ambiental. Juntos, eles somam 189 gigawatts (GW) em capacidade, o que praticamente iguala os 196,7 GW instalados na matriz elétrica brasileira como um todo. Tudo isso antes mesmo que o País conte com o arcabouço legal necessário para que o setor possa, de fato, sair do papel.

E o potencial é ainda maior. Um levantamento de 2020 feito pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE) apontou que o Brasil poderia gerar até 700 GW de energia eólica em águas com 50 metros de profundidade ou menos. São números tão expressivos que, em setembro, a CNI lançou um estudo intitulado “Oportunidades e desafios para geração eólica offshore no Brasil e a produção de hidrogênio de baixo carbono”, no qual mapeia como o setor offshore pode se tornar uma alavanca para a reindustrialização do País.

Brasil é um dos poucos países que tem competência para explorar a captação de energia pelo mar Foto: Holger Leue
Percebemos que com tamanha quantidade de energia limpa disponível, podemos criar uma política industrial para atrair empresas para cá

Jefferson de Oliveira Gomes, diretor de Inovação da CNI

Marco regulatório

No momento, no entanto, o setor ainda precisa ter segurança jurídica para ganhar tração. Isso depende de um um marco legal equilibrado — hoje em discussão no Congresso Nacional — que crie um ambiente propício para fomentar os investimentos e permitir que os projetos com pedidos de outorga saiam do papel.

Segundo a presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica), Elbia Gannoum, só com um marco regulatório devidamente aprovado seria possível começar a fazer a fila de projetos andar. Mesmo assim, não seria tudo do dia para a noite. “Se o primeiro leilão para cessão de áreas offshore acontecer no ano que vem, os vencedores precisariam de cerca de três anos para realizar estudos e mais três anos para desenvolver os projetos. Só em 2030 teríamos turbinas rodando”, avalia.

Isso não significa que o Brasil vá perder a onda. Além de ventos muito bons para a geração de energia, o País tem uma das competências-chave para viabilizar projetos offshore. “São poucos países no mundo que têm capacidade para utilizar o oceano, e o Brasil tem essa competência”, pontua Gomes.

Ele acrescenta que, no mundo todo, o segmento offshore ainda é incipiente. “Pelo lado da engenharia e da estrutura empresarial, todo mundo está parecido. Resolvida a regulação, conseguiremos nos aproximar”, prossegue.

E nem tudo nessa espera é, necessariamente, negativo. Os custos da eólica offshore têm caído rapidamente. “Em média, 40% a cada três anos”, diz Elbia.

Não quer dizer que todos os 78 projetos que estão no Ibama venham a se tornar realidade um dia. “O número grande é importante porque indica que os investidores estão muito interessados no Brasil, mas o número que será construído vai depender das condições do mercado”, completa a presidente da ABEEólica.

Hidrogênio de baixo carbono

A revolução da eólica offshore seria só um primeiro passo. O estudo da CNI aponta que essa nova fonte tem grande potencial para alimentar um segundo salto tecnológico: a produção de hidrogênio renovável. A molécula que hoje é obtiva a partir do carvão e do gás natural, poderia ser produzida pela hidrólise da água — chamado hidrogênio de baixo carbono. No entanto, consome muita energia que precisa vir de fontes renováveis.

Embora alerte que haja um “equívoco” nessa identificação entre e hidrogênio de baixo carbono e eólica offshore,

Elbia aponta que a demanda da produção de hidrogênio será uma grande oportunidade para todas as renováveis. “Incluindo a offshore”, diz.

Gomes se mostra otimista em relação a essas novas oportunidades. “O Brasil pode ser muito grande mesmo nesse processo de desenvolvimento de nova industrialização do mundo”, encerra.

Percebemos que tendo tamanha quantidade de energia limpa disponível podemos criar uma política industrial para atrair empresas para cá

Jefferson de Oliveira Gomes, diretor de Inovação da Confederação Nacional da Indústria (CNI)

O Brasil no comando da economia global

Com a presidência no G-20 e liderança no B-20, País se destaca na agenda para enfrentamento das mudanças climáticas

Em 1º de dezembro, o Brasil assumiu a presidência do G-20, o que lhe confere posição de protagonismo no grupo composto pelas 19 maiores economias do mundo e pela União Europeia. No mesmo dia, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) passou a comandar o B-20, grupo formado por representações empresariais dos mesmos países que formam o G-20, criado para defender os interesses da iniciativa privada em cada um dos temas debatidos no fórum mundial.

Essa coincidência de presença em cargos de comando confere ao Brasil, e especificamente à indústria brasileira, a oportunidade de conduzir discussões e influenciar políticas econômicas globais, recomendando ações concretas para influenciar a agenda do bloco. Agora, à frente do B-20, a indústria brasileira tem a oportunidade de impulsionar as suas prioridades.

O B-20 Brasil é composto pelo chair Dan Ioschpe, presidente da Ioschpe-Maxion. Ele tem o papel de liderar e de representar grupo empresarial na comunidade internacional, definindo as principais diretrizes. Quem também compõe o B-20 é a sherpa Constanza Negri, gerente de Comércio e Integração Internacional da CNI. Ela coordenará os trabalhos do secretariado e apoiará o chair e a liderança empresarial nas funções-chave no secretariado do grupo.

Dan Ioschpe, chair do B-20 Brasil, diz que grupo vai propor recomendações inovadoras e de impacto para as maiores economias do mundo Foto: Divulgação CNI

“Assumir a liderança como chair do B-20 Brasil é uma responsabilidade de grande magnitude. Minha missão é estruturar um processo que una líderes empresariais dos países do G-20 para formular recomendações que reflitam os desafios e as oportunidades atuais. As expectativas são altas para que o B-20 Brasil desenvolva recomendações inovadoras e de impacto. Esperamos que essas discussões fomentem a cooperação internacional no enfrentamento dos principais desafios globais, contribuindo para um crescimento global sustentável e inclusivo”, afirma Ioschpe.

Como destaca o diretor de Desenvolvimento Industrial e Economia da CNI, Rafael Lucchesi, essa é a oportunidade, também, de desempenhar um papel de destaque na promoção da sustentabilidade e na luta contra as mudanças climáticas, alinhando-se aos temas que marcarão os encontros entre membros de governos e representantes da indústria na COP-28. “A agenda climática e a necessária descarbonização da economia mundial são uma grande oportunidade para o Brasil se tornar referência mundial, especialmente neste momento em que o País assume a presidência do G-20 e do B-20″, diz.

Essa possibilidade, na visão de Lucchesi, é reforçada por uma atuação do setor industrial brasileiro que já vem sendo pautada pela união entre a busca por produtividade por meio da adoção de boas práticas, em uma agenda focada na promoção da sustentabilidade. E com a importância do combate às mudanças climáticas e da descarbonização da economia mundial, a indústria brasileira se posiciona como uma referência global.

“O Brasil tem apostado em uma agenda de promoção da sustentabilidade e de luta contra as mudanças climáticas, sem deixar de lado o avanço da produtividade e o desenvolvimento econômico, conduzidos por meio de temas transversais, como tecnologia e inovação, inclusão e financiamento”, comenta.

A intersecção entre G-20 e B-20 também se dá pela estreita relação comercial entre a indústria nacional e os países que compõem o grupo. Para o setor industrial brasileiro, no comércio de bens industriais, em 2022, o G-20 representou 67% das exportações brasileiras (US$ 121,5 bilhões) e 83,8% das importações (US$ 203,1 bilhões) de bens da indústria de transformação, o que evidencia a relevância das discussões e dos acordos que acontecem dentro desse fórum global para o setor produtivo nacional.

Agora, à frente do B-20, a indústria brasileira tem a oportunidade de impulsionar as suas prioridades, como destaca o diretor da CNI. “Nos próximos meses, a indústria terá um papel central para liderar e guiar a construção de consensos e prioridades de políticas econômicas globais a fim de subsidiar as discussões do G-20 com as maiores economias do mundo”, diz.

A indústria brasileira terá participação recorde na COP-28, a 28ª edição da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, que será realizada em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, entre 30 de novembro e 12 de dezembro. Além da presença de mais de cem empresários do setor, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) terá, pela primeira vez, um estande próprio na Área Azul, gerenciada pela Organização das Nações Unidas (ONU), onde ocorrem as negociações.

A inovação é essencial para enfrentar os desafios da agenda do clima Foto: Divulgação CNI

A estrutura da CNI sediará debates, painéis e apresentações de empresas parceiras e convidadas. Terá também plantas com explicações detalhadas sobre a produção de hidrogênio de baixo carbono, no qual o Brasil é uma potência em ascensão, e de biocombustível a partir da semente de macaúba, palmeira nativa e disseminada pelo território brasileiro.

A CNI elaborou um documento com a síntese das expectativas do setor para o evento, a Visão da Indústria para a COP-28. “O posicionamento considera os temas globais pautados para as conferências e os anseios da nossa base”, diz o presidente da CNI, Ricardo Alban.

Alban enfatiza que a COP-28 será uma oportunidade de mostrar como a indústria brasileira já faz parte da solução quando o assunto é sustentabilidade e adaptação às mudanças climáticas. “Fizemos há tempo o que muitos setores industriais de outros países estão correndo para fazer agora. A nossa indústria, principalmente aquela intensiva em uso de energia, tem muito a compartilhar com o mundo.” Ele cita, como exemplo, a redução das emissões de gases de efeito estufa pelos fabricantes de cimento instalados no País, que são 10% menores do que a média mundial.

Exemplos brasileiros

A indústria brasileira vem trabalhando com uma agenda de baixo carbono estruturada em quatro frentes: transição energética (por meio da utilização de fontes de energia limpa); e regulamentação do mercado de carbono; promoção das práticas de economia circular; conservação florestal e com apoio à bioeconomia.

Um dos entraves para a expansão ainda mais rápida dessas práticas, observa o presidente da CNI, é o financiamento. “São necessárias políticas voltadas à descarbonização dos processos industriais, com instrumentos financeiros que estimulem esse processo, a exemplo da criação de um mercado regulado de carbono, com reciclagem de receitas. Outros instrumentos financeiros devem ser estruturados e estimulados, como a taxonomia e linhas de financiamento específicas para tecnologias de baixo carbono.”

Jorge Viana, presidente da ApexBrasil, diz que os principais objetivos na COP-28 são posicionar o compromisso do Brasil com a agenda de sustentabilidade e o potencial do País para atração de investimentos verdes. “O Brasil chega à COP-28 com o dever de casa feito: redução do desmatamento na Amazônia e políticas ambientais transversais presentes em todos os programas do governo federal. O Brasil está pronto para se tornar, novamente, protagonista no debate e nas ações para o enfrentamento da mudança climática global.”

Viana ressalta o quanto o setor privado brasileiro tem a mostrar sobre mitigação dos riscos climáticos, a exemplo de adaptação de políticas e compromisso das empresas com as iniciativas em sustentabilidade, além do monitoramento do inventário de carbono. A CNI desenvolveu uma estratégia para uma economia de baixo carbono para a redução de emissão de GEE nos curto e médio prazos, e a neutralidade climática, em 2050″, lembra o executivo.

A BRF, uma das maiores companhias de alimentos do mundo, com produção anual acima de 5 milhões de toneladas, será uma das empresas brasileiras presentes na COP-28. “Vamos acompanhar as negociações, compartilhar os nossos avanços na agenda de descarbonização, trocar conhecimento e aprender com as melhores práticas globais”, diz Alessandro Bonorino, vice-presidente de Gente, Sustentabilidade e Digital da empresa.

Um dos destaques da pauta da COP-28 será a divulgação do primeiro Balanço Global (Global Stocktake–GST). Trata-se de um mecanismo de transparência do Acordo de Paris, celebrado em 2015, que tem o objetivo de avaliar e divulgar o progresso coletivo das partes em relação ao cumprimento dos objetivos e das metas de longo prazo estabelecidas no acordo. Espera-se que esse primeiro GST se torne um parâmetro de tomada de decisões e investimentos pelos países, fortalecendo, assim, o cumprimento das metas domésticas.

É um balanço global da ONU para acompanhar e avaliar a implementação das metas do Acordo de Paris no longo prazo. A ferramenta começou a ser utilizada durante a COP-26, na Escócia, com a expectativa de que seja concluída durante a COP-28, nos Emirados Árabes Unidos.

Ricardo Alban, presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI) Foto: Divulgação CNI
Fizemos há tempo o que muitos setores industriais de outros países estão correndo para fazer agora.

Ricardo Alban, presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI)

A descarbonização como pilar central para a indústria

Em condições competitivas, Brasil precisa aproveitar as janelas que se abrem com a agenda de descarbonização para obter protagonismo global

O diagnóstico, em termos gerais, aponta para um contexto positivo. O setor industrial brasileiro já trabalha com uma agenda de baixo carbono, como relata Davi Bomtempo, gerente-executivo de Meio Ambiente e Sustentabilidade da CNI. “A atuação envolve quatro frentes: transição energética, mercado doméstico de carbono, economia circular e conservação florestal”, explica o executivo. Se no primeiro ponto as fontes de energia limpa estarão cada vez mais presentes no horizonte, a regulação do mercado de carbono, o ponto central do segundo conjunto de ações, segue em discussão no Congresso Nacional. Além disso, economia circular é algo que cresce de forma vigorosa, enquanto a questão do desmatamento – fora do contexto industrial – ainda é o principal problema que o governo precisa equacionar, apesar da melhora registrada nos índices de destruição da Amazônia a partir de janeiro.

Matrizes energéticas mais limpas, como as placas solares, tendem a atrair mais investimentos Foto: Divulgação CNI

“Os esforços feitos pela indústria e as janelas de oportunidades que se abrem para o Brasil com o desenvolvimento do hidrogênio de baixo carbono, da energia eólica offshore e dos biocombustíveis, além do empenho do governo federal com a redução do desmatamento, nos colocam de volta no protagonismo das discussões de sustentabilidade. Tudo isso é fundamental para atrair investimentos, novas plantas industriais e ajudar o País na criação de empregos”, ratifica Bomtempo.

O fato de o quadro geral fazer emergir certo otimismo, entretanto, não significa que não existam pontos de atenção que precisam estar sempre no radar. No caso do desenvolvimento de novas energias, como a questão do hidrogênio, ou mesmo na implementação de projetos robustos de bioeconomia, em que as populações locais são peças-chave, existem políticas transversais que precisam ser postas em prática, atestam os executivos do setor industrial.

“Temos diversos desafios, como requalificação da força de trabalho, estabelecimento de uma infraestrutura adequada e disponibilização de financiamento”, explica o gerente-executivo de Meio Ambiente e Sustentabilidade da CNI.

A questão torna-se mais complexa, segundo Bomtempo, quando se olha para a diversidade do setor privado nacional. “O desafio é particularmente grande para empresas de pequeno e médio portes, que lidam com limitações tanto financeiras quanto técnicas para a adoção dessas novas tecnologias”, comenta.

Se, de um lado, existe um custo alto para a implementação de fontes renováveis de energia nos processos industriais, de outro, assuntos como bioeconomia e matriz limpa tendem a atrair mais investimentos, desde que as condições basilares e transversais para elas decolarem estejam presentes. Em evento recente na CNI, Marcelo Miterhof, assessor do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), ressaltou essa questão.

“A bioeconomia e a estratégia brasileira têm uma questão óbvia: para um país continuar tendo o peso geopolítico que tem e que pode crescer, ele precisa cumprir a meta de desmatamento legal zero até 2030. Essa é a nossa chance de continuarmos nos posicionando no mundo e exigir contrapartidas, fazendo investimentos que tragam desenvolvimento para nós. Para isso, o papel da bioeconomia é muito relevante, mas não acho que seja um problema de financiamento, mas de demanda”, diz Miterhof.

Política industrial focada em enfrentar desafios da sociedade

A agenda climática e uma nova configuração das cadeias globais de valor exigem esforços coordenados para que o Brasil aproveite as oportunidades nesse novo cenário. Por isso, O Plano de Retomada da Indústria, recém-lançado pela CNI, está centrado na elaboração de políticas orientadas por missões prioritárias que visam encaminhar respostas para os principais desafios que a sociedade brasileira enfrenta.

O documento está estruturado em quatro missões: Descarbonização; Transformação Digital; Saúde e Segurança Sanitária ; e, a última, mas igualmente importante, Defesa e Segurança Nacional.

O mapa do caminho para a reindustrialização brasileira prevê ainda o desenvolvimento de ações transversais voltadas para o aumento da produtividade e da competitividade da produção brasileira. É a combinação das missões com uma visão integrada que dá robustez ao plano, segundo os seus autores.

As ações transversais têm como objetivo equalizar as condições competitivas do Brasil com os demais países. O texto do documento enumera 60 propostas, divididas em 9 eixos temáticos, que abrangem as seguintes áreas: tributação; ambiente regulatório e segurança jurídica; financiamento; comércio e integração internacional; infraestrutura; inovação e desenvolvimento produtivo; educação; e relações de trabalho, além de desenvolvimento regional.

A falta de uma indústria pungente no Brasil, e com uma visão transversal, é o que explica, segundo o plano da CNI, a crise que se tem hoje no setor de informática, por exemplo. Como apenas cinco países (China, Taiwan, Singapura, Coreia do Sul e Malásia) respondem por três quartos das exportações globais de semicondutores e circuitos integrados, as fragilidades dessa cadeia de valor aparecem com facilidade e, por isso, há interrupções no fornecimento dessas matérias-primas essenciais para o segmento eletrônico.

A sinergia entre governo e setores industriais, como vem ocorrendo no Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial (CNDI), colegiado vinculado à Presidência da República, é um passo importante para que um plano moderno de reindustrialização nacional seja, de fato, implementado. As principais economias mundiais já empregam pelo menos US$ 12 trilhões em políticas semelhantes. Ao contrário do passado, são estratégias que englobam uma visão moderna de mundo, voltada para inovação, sustentabilidade e competitividade internacional.

Rumo à economia de baixo carbono

CNI desenhou quatro grandes linhas de ação para que a indústria brasileira se torne cada vez mais sustentável e contribua para que o Brasil aproveite as oportunidades trazidas pela agenda do clima .

A indústria brasileira tem clareza sobre os caminhos que precisam ser percorridos para que o setor siga em direção à economia verde. Essas ações estão descritas na Missão Descarbonização da CNI, subdividida em quatro programas: mercado de carbono, transição energética, economia circular e conservação florestal e bioeconomia.

A Confederação espera que a COP-28 seja bem-sucedida no encaminhamento de avanços ligados aos pilares da Missão Descarbonização. Alguns desses avanços são a atração de investimentos internacionais, a expansão da oferta de fontes mais limpas de energia e com menor custo, a implementação da cadeia de valor do hidrogênio e o fomento a novos mercados para bioeconomia.

“Considerando a importância de o setor empresarial conhecer e gerir as oportunidades e os riscos que os eventos climáticos extremos podem acarretar aos negócios, a CNI entende que a COP-28 será estratégica para avançar na definição da meta global de adaptação à mudança do clima”, diz o diretor de Relações Institucionais da Confederação, Roberto Muniz. “Na última COP, o progresso nas negociações da agenda de adaptação à mudança do clima ficou abaixo do esperado, apesar dos relatórios do IPCC demostrarem, de forma robusta, que os impactos das mudanças do clima serão cada vez mais frequentes e severos”, lembra.

Ações em cada pilar

Em junho, a CNI apresentou ao governo federal e à sociedade sua proposta para regulamentar o mercado de carbono no País, baseada na análise dos modelos praticados em vários outros países. O instrumento é uma importante medida para reduzir as emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) e tem potencial de movimentar até R$ 128 bilhões em receitas, segundo estimativas do projeto Partnership for

Market Readiness (PMR).

Em termos de transição energética, o Brasil já parte de uma posição privilegiada, com matriz predominantemente limpa: 84% de participação de fontes renováveis na matriz elétrica e 47% na matriz energética. Há, no entanto, oportunidades na ampliação de fontes como a eólica — especialmente projetos offshore, que representam uma nova fronteira para a expansão da energia dos ventos no país —, solar e bioenergia, além de novas tecnologias como o hidrogênio sustentável, obtido a partir de fontes renováveis.

Os biocombustíveis também integram o pacote de soluções à brasileira, know-how que o País exercita desde o Proálcool, na década de 1970. Há espaço para avançar nos biocombustíveis de segunda geração, obtidos a partir de resíduos. A aviação, por exemplo, tem buscado nos biocombustíveis uma solução para descarbonizar o setor – já que, a partir de 2027, os aviões não poderão levantar voo entre vários destinos internacionais se não compensarem as emissões de GEE.

Circularidade

No pilar Economia Circular, espera-se a elaboração de uma política nacional, com organização de uma base de dados que contemple todo o Brasil e mapeie as melhores práticas, simplifique e desburocratize a logística reversa e incorpore critérios de sustentabilidade nas compras públicas. A CNI lidera a delegação brasileira que participa da elaboração de normas técnicas sobre economia circular que estão sendo criadas pela Organização Internacional de Normatização (ISO, na sigla em inglês).

Já o pilar de Conservação Florestal propõe o fortalecimento da gestão de florestas públicas, o uso sustentável da biodiversidade e o estabelecimento das bases técnicas para o desenvolvimento e avanço da agenda de bioeconomia do País.

A CNI considera que tratar as florestas e a biodiversidade sob a ótica econômica, vendo os recursos naturais como ativos, é fundamental para o avanço econômico nacional.

CNI marca presença nos debates

Os pilares da Missão Descarbonização, concebida pela CNI, permearão a pauta da participação das empresas brasileiras na COP-28. Além do estande da Confederação, a indústria brasileira marcará presença nos debates que ocorrerão no pavilhão do governo brasileiro. A própria CNI e organizações como Petrobras, Suzano e Vale terão painéis para falar sobre os impactos da mudança do clima e as adaptações necessárias na indústria.

“A importância da CNI nesse processo é a liderança estruturada, organizando os esforços da indústria nacional para descarbonizar, visando ao desenvolvimento econômico e social do País”, diz Vivian MacKnight, gerente-geral de Mudanças Climáticas da Vale. “A CNI entende a realidade do setor industrial do Brasil e tem articulação institucional para ajudar a construir políticas públicas que permitam o desenvolvimento de uma economia de baixo carbono ou carbono zero.”

O potencial das eólicas ‘offshore’ no Brasil

Mesmo sem um marco regulatório definido, investidores já sinalizaram disposição para triplicar a capacidade de geração elétrica instalada no Brasil; País pode gerar até 700 GW de energia explorando o oceano

O Brasil tem tudo para se tornar uma grande potência da geração eólica offshore. Um mapeamento feito pelo Ibama mostra que, até meados de julho, havia 78 projetos na fila à espera de licenciamento ambiental. Juntos, eles somam 189 gigawatts (GW) em capacidade, o que praticamente iguala os 196,7 GW instalados na matriz elétrica brasileira como um todo. Tudo isso antes mesmo que o País conte com o arcabouço legal necessário para que o setor possa, de fato, sair do papel.

E o potencial é ainda maior. Um levantamento de 2020 feito pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE) apontou que o Brasil poderia gerar até 700 GW de energia eólica em águas com 50 metros de profundidade ou menos. São números tão expressivos que, em setembro, a CNI lançou um estudo intitulado “Oportunidades e desafios para geração eólica offshore no Brasil e a produção de hidrogênio de baixo carbono”, no qual mapeia como o setor offshore pode se tornar uma alavanca para a reindustrialização do País.

Brasil é um dos poucos países que tem competência para explorar a captação de energia pelo mar Foto: Holger Leue
Percebemos que com tamanha quantidade de energia limpa disponível, podemos criar uma política industrial para atrair empresas para cá

Jefferson de Oliveira Gomes, diretor de Inovação da CNI

Marco regulatório

No momento, no entanto, o setor ainda precisa ter segurança jurídica para ganhar tração. Isso depende de um um marco legal equilibrado — hoje em discussão no Congresso Nacional — que crie um ambiente propício para fomentar os investimentos e permitir que os projetos com pedidos de outorga saiam do papel.

Segundo a presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica), Elbia Gannoum, só com um marco regulatório devidamente aprovado seria possível começar a fazer a fila de projetos andar. Mesmo assim, não seria tudo do dia para a noite. “Se o primeiro leilão para cessão de áreas offshore acontecer no ano que vem, os vencedores precisariam de cerca de três anos para realizar estudos e mais três anos para desenvolver os projetos. Só em 2030 teríamos turbinas rodando”, avalia.

Isso não significa que o Brasil vá perder a onda. Além de ventos muito bons para a geração de energia, o País tem uma das competências-chave para viabilizar projetos offshore. “São poucos países no mundo que têm capacidade para utilizar o oceano, e o Brasil tem essa competência”, pontua Gomes.

Ele acrescenta que, no mundo todo, o segmento offshore ainda é incipiente. “Pelo lado da engenharia e da estrutura empresarial, todo mundo está parecido. Resolvida a regulação, conseguiremos nos aproximar”, prossegue.

E nem tudo nessa espera é, necessariamente, negativo. Os custos da eólica offshore têm caído rapidamente. “Em média, 40% a cada três anos”, diz Elbia.

Não quer dizer que todos os 78 projetos que estão no Ibama venham a se tornar realidade um dia. “O número grande é importante porque indica que os investidores estão muito interessados no Brasil, mas o número que será construído vai depender das condições do mercado”, completa a presidente da ABEEólica.

Hidrogênio de baixo carbono

A revolução da eólica offshore seria só um primeiro passo. O estudo da CNI aponta que essa nova fonte tem grande potencial para alimentar um segundo salto tecnológico: a produção de hidrogênio renovável. A molécula que hoje é obtiva a partir do carvão e do gás natural, poderia ser produzida pela hidrólise da água — chamado hidrogênio de baixo carbono. No entanto, consome muita energia que precisa vir de fontes renováveis.

Embora alerte que haja um “equívoco” nessa identificação entre e hidrogênio de baixo carbono e eólica offshore,

Elbia aponta que a demanda da produção de hidrogênio será uma grande oportunidade para todas as renováveis. “Incluindo a offshore”, diz.

Gomes se mostra otimista em relação a essas novas oportunidades. “O Brasil pode ser muito grande mesmo nesse processo de desenvolvimento de nova industrialização do mundo”, encerra.

Percebemos que tendo tamanha quantidade de energia limpa disponível podemos criar uma política industrial para atrair empresas para cá

Jefferson de Oliveira Gomes, diretor de Inovação da Confederação Nacional da Indústria (CNI)

O Brasil no comando da economia global

Com a presidência no G-20 e liderança no B-20, País se destaca na agenda para enfrentamento das mudanças climáticas

Em 1º de dezembro, o Brasil assumiu a presidência do G-20, o que lhe confere posição de protagonismo no grupo composto pelas 19 maiores economias do mundo e pela União Europeia. No mesmo dia, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) passou a comandar o B-20, grupo formado por representações empresariais dos mesmos países que formam o G-20, criado para defender os interesses da iniciativa privada em cada um dos temas debatidos no fórum mundial.

Essa coincidência de presença em cargos de comando confere ao Brasil, e especificamente à indústria brasileira, a oportunidade de conduzir discussões e influenciar políticas econômicas globais, recomendando ações concretas para influenciar a agenda do bloco. Agora, à frente do B-20, a indústria brasileira tem a oportunidade de impulsionar as suas prioridades.

O B-20 Brasil é composto pelo chair Dan Ioschpe, presidente da Ioschpe-Maxion. Ele tem o papel de liderar e de representar grupo empresarial na comunidade internacional, definindo as principais diretrizes. Quem também compõe o B-20 é a sherpa Constanza Negri, gerente de Comércio e Integração Internacional da CNI. Ela coordenará os trabalhos do secretariado e apoiará o chair e a liderança empresarial nas funções-chave no secretariado do grupo.

Dan Ioschpe, chair do B-20 Brasil, diz que grupo vai propor recomendações inovadoras e de impacto para as maiores economias do mundo Foto: Divulgação CNI

“Assumir a liderança como chair do B-20 Brasil é uma responsabilidade de grande magnitude. Minha missão é estruturar um processo que una líderes empresariais dos países do G-20 para formular recomendações que reflitam os desafios e as oportunidades atuais. As expectativas são altas para que o B-20 Brasil desenvolva recomendações inovadoras e de impacto. Esperamos que essas discussões fomentem a cooperação internacional no enfrentamento dos principais desafios globais, contribuindo para um crescimento global sustentável e inclusivo”, afirma Ioschpe.

Como destaca o diretor de Desenvolvimento Industrial e Economia da CNI, Rafael Lucchesi, essa é a oportunidade, também, de desempenhar um papel de destaque na promoção da sustentabilidade e na luta contra as mudanças climáticas, alinhando-se aos temas que marcarão os encontros entre membros de governos e representantes da indústria na COP-28. “A agenda climática e a necessária descarbonização da economia mundial são uma grande oportunidade para o Brasil se tornar referência mundial, especialmente neste momento em que o País assume a presidência do G-20 e do B-20″, diz.

Essa possibilidade, na visão de Lucchesi, é reforçada por uma atuação do setor industrial brasileiro que já vem sendo pautada pela união entre a busca por produtividade por meio da adoção de boas práticas, em uma agenda focada na promoção da sustentabilidade. E com a importância do combate às mudanças climáticas e da descarbonização da economia mundial, a indústria brasileira se posiciona como uma referência global.

“O Brasil tem apostado em uma agenda de promoção da sustentabilidade e de luta contra as mudanças climáticas, sem deixar de lado o avanço da produtividade e o desenvolvimento econômico, conduzidos por meio de temas transversais, como tecnologia e inovação, inclusão e financiamento”, comenta.

A intersecção entre G-20 e B-20 também se dá pela estreita relação comercial entre a indústria nacional e os países que compõem o grupo. Para o setor industrial brasileiro, no comércio de bens industriais, em 2022, o G-20 representou 67% das exportações brasileiras (US$ 121,5 bilhões) e 83,8% das importações (US$ 203,1 bilhões) de bens da indústria de transformação, o que evidencia a relevância das discussões e dos acordos que acontecem dentro desse fórum global para o setor produtivo nacional.

Agora, à frente do B-20, a indústria brasileira tem a oportunidade de impulsionar as suas prioridades, como destaca o diretor da CNI. “Nos próximos meses, a indústria terá um papel central para liderar e guiar a construção de consensos e prioridades de políticas econômicas globais a fim de subsidiar as discussões do G-20 com as maiores economias do mundo”, diz.

A indústria brasileira terá participação recorde na COP-28, a 28ª edição da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, que será realizada em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, entre 30 de novembro e 12 de dezembro. Além da presença de mais de cem empresários do setor, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) terá, pela primeira vez, um estande próprio na Área Azul, gerenciada pela Organização das Nações Unidas (ONU), onde ocorrem as negociações.

A inovação é essencial para enfrentar os desafios da agenda do clima Foto: Divulgação CNI

A estrutura da CNI sediará debates, painéis e apresentações de empresas parceiras e convidadas. Terá também plantas com explicações detalhadas sobre a produção de hidrogênio de baixo carbono, no qual o Brasil é uma potência em ascensão, e de biocombustível a partir da semente de macaúba, palmeira nativa e disseminada pelo território brasileiro.

A CNI elaborou um documento com a síntese das expectativas do setor para o evento, a Visão da Indústria para a COP-28. “O posicionamento considera os temas globais pautados para as conferências e os anseios da nossa base”, diz o presidente da CNI, Ricardo Alban.

Alban enfatiza que a COP-28 será uma oportunidade de mostrar como a indústria brasileira já faz parte da solução quando o assunto é sustentabilidade e adaptação às mudanças climáticas. “Fizemos há tempo o que muitos setores industriais de outros países estão correndo para fazer agora. A nossa indústria, principalmente aquela intensiva em uso de energia, tem muito a compartilhar com o mundo.” Ele cita, como exemplo, a redução das emissões de gases de efeito estufa pelos fabricantes de cimento instalados no País, que são 10% menores do que a média mundial.

Exemplos brasileiros

A indústria brasileira vem trabalhando com uma agenda de baixo carbono estruturada em quatro frentes: transição energética (por meio da utilização de fontes de energia limpa); e regulamentação do mercado de carbono; promoção das práticas de economia circular; conservação florestal e com apoio à bioeconomia.

Um dos entraves para a expansão ainda mais rápida dessas práticas, observa o presidente da CNI, é o financiamento. “São necessárias políticas voltadas à descarbonização dos processos industriais, com instrumentos financeiros que estimulem esse processo, a exemplo da criação de um mercado regulado de carbono, com reciclagem de receitas. Outros instrumentos financeiros devem ser estruturados e estimulados, como a taxonomia e linhas de financiamento específicas para tecnologias de baixo carbono.”

Jorge Viana, presidente da ApexBrasil, diz que os principais objetivos na COP-28 são posicionar o compromisso do Brasil com a agenda de sustentabilidade e o potencial do País para atração de investimentos verdes. “O Brasil chega à COP-28 com o dever de casa feito: redução do desmatamento na Amazônia e políticas ambientais transversais presentes em todos os programas do governo federal. O Brasil está pronto para se tornar, novamente, protagonista no debate e nas ações para o enfrentamento da mudança climática global.”

Viana ressalta o quanto o setor privado brasileiro tem a mostrar sobre mitigação dos riscos climáticos, a exemplo de adaptação de políticas e compromisso das empresas com as iniciativas em sustentabilidade, além do monitoramento do inventário de carbono. A CNI desenvolveu uma estratégia para uma economia de baixo carbono para a redução de emissão de GEE nos curto e médio prazos, e a neutralidade climática, em 2050″, lembra o executivo.

A BRF, uma das maiores companhias de alimentos do mundo, com produção anual acima de 5 milhões de toneladas, será uma das empresas brasileiras presentes na COP-28. “Vamos acompanhar as negociações, compartilhar os nossos avanços na agenda de descarbonização, trocar conhecimento e aprender com as melhores práticas globais”, diz Alessandro Bonorino, vice-presidente de Gente, Sustentabilidade e Digital da empresa.

Um dos destaques da pauta da COP-28 será a divulgação do primeiro Balanço Global (Global Stocktake–GST). Trata-se de um mecanismo de transparência do Acordo de Paris, celebrado em 2015, que tem o objetivo de avaliar e divulgar o progresso coletivo das partes em relação ao cumprimento dos objetivos e das metas de longo prazo estabelecidas no acordo. Espera-se que esse primeiro GST se torne um parâmetro de tomada de decisões e investimentos pelos países, fortalecendo, assim, o cumprimento das metas domésticas.

É um balanço global da ONU para acompanhar e avaliar a implementação das metas do Acordo de Paris no longo prazo. A ferramenta começou a ser utilizada durante a COP-26, na Escócia, com a expectativa de que seja concluída durante a COP-28, nos Emirados Árabes Unidos.

Ricardo Alban, presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI) Foto: Divulgação CNI
Fizemos há tempo o que muitos setores industriais de outros países estão correndo para fazer agora.

Ricardo Alban, presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI)

A descarbonização como pilar central para a indústria

Em condições competitivas, Brasil precisa aproveitar as janelas que se abrem com a agenda de descarbonização para obter protagonismo global

O diagnóstico, em termos gerais, aponta para um contexto positivo. O setor industrial brasileiro já trabalha com uma agenda de baixo carbono, como relata Davi Bomtempo, gerente-executivo de Meio Ambiente e Sustentabilidade da CNI. “A atuação envolve quatro frentes: transição energética, mercado doméstico de carbono, economia circular e conservação florestal”, explica o executivo. Se no primeiro ponto as fontes de energia limpa estarão cada vez mais presentes no horizonte, a regulação do mercado de carbono, o ponto central do segundo conjunto de ações, segue em discussão no Congresso Nacional. Além disso, economia circular é algo que cresce de forma vigorosa, enquanto a questão do desmatamento – fora do contexto industrial – ainda é o principal problema que o governo precisa equacionar, apesar da melhora registrada nos índices de destruição da Amazônia a partir de janeiro.

Matrizes energéticas mais limpas, como as placas solares, tendem a atrair mais investimentos Foto: Divulgação CNI

“Os esforços feitos pela indústria e as janelas de oportunidades que se abrem para o Brasil com o desenvolvimento do hidrogênio de baixo carbono, da energia eólica offshore e dos biocombustíveis, além do empenho do governo federal com a redução do desmatamento, nos colocam de volta no protagonismo das discussões de sustentabilidade. Tudo isso é fundamental para atrair investimentos, novas plantas industriais e ajudar o País na criação de empregos”, ratifica Bomtempo.

O fato de o quadro geral fazer emergir certo otimismo, entretanto, não significa que não existam pontos de atenção que precisam estar sempre no radar. No caso do desenvolvimento de novas energias, como a questão do hidrogênio, ou mesmo na implementação de projetos robustos de bioeconomia, em que as populações locais são peças-chave, existem políticas transversais que precisam ser postas em prática, atestam os executivos do setor industrial.

“Temos diversos desafios, como requalificação da força de trabalho, estabelecimento de uma infraestrutura adequada e disponibilização de financiamento”, explica o gerente-executivo de Meio Ambiente e Sustentabilidade da CNI.

A questão torna-se mais complexa, segundo Bomtempo, quando se olha para a diversidade do setor privado nacional. “O desafio é particularmente grande para empresas de pequeno e médio portes, que lidam com limitações tanto financeiras quanto técnicas para a adoção dessas novas tecnologias”, comenta.

Se, de um lado, existe um custo alto para a implementação de fontes renováveis de energia nos processos industriais, de outro, assuntos como bioeconomia e matriz limpa tendem a atrair mais investimentos, desde que as condições basilares e transversais para elas decolarem estejam presentes. Em evento recente na CNI, Marcelo Miterhof, assessor do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), ressaltou essa questão.

“A bioeconomia e a estratégia brasileira têm uma questão óbvia: para um país continuar tendo o peso geopolítico que tem e que pode crescer, ele precisa cumprir a meta de desmatamento legal zero até 2030. Essa é a nossa chance de continuarmos nos posicionando no mundo e exigir contrapartidas, fazendo investimentos que tragam desenvolvimento para nós. Para isso, o papel da bioeconomia é muito relevante, mas não acho que seja um problema de financiamento, mas de demanda”, diz Miterhof.

Política industrial focada em enfrentar desafios da sociedade

A agenda climática e uma nova configuração das cadeias globais de valor exigem esforços coordenados para que o Brasil aproveite as oportunidades nesse novo cenário. Por isso, O Plano de Retomada da Indústria, recém-lançado pela CNI, está centrado na elaboração de políticas orientadas por missões prioritárias que visam encaminhar respostas para os principais desafios que a sociedade brasileira enfrenta.

O documento está estruturado em quatro missões: Descarbonização; Transformação Digital; Saúde e Segurança Sanitária ; e, a última, mas igualmente importante, Defesa e Segurança Nacional.

O mapa do caminho para a reindustrialização brasileira prevê ainda o desenvolvimento de ações transversais voltadas para o aumento da produtividade e da competitividade da produção brasileira. É a combinação das missões com uma visão integrada que dá robustez ao plano, segundo os seus autores.

As ações transversais têm como objetivo equalizar as condições competitivas do Brasil com os demais países. O texto do documento enumera 60 propostas, divididas em 9 eixos temáticos, que abrangem as seguintes áreas: tributação; ambiente regulatório e segurança jurídica; financiamento; comércio e integração internacional; infraestrutura; inovação e desenvolvimento produtivo; educação; e relações de trabalho, além de desenvolvimento regional.

A falta de uma indústria pungente no Brasil, e com uma visão transversal, é o que explica, segundo o plano da CNI, a crise que se tem hoje no setor de informática, por exemplo. Como apenas cinco países (China, Taiwan, Singapura, Coreia do Sul e Malásia) respondem por três quartos das exportações globais de semicondutores e circuitos integrados, as fragilidades dessa cadeia de valor aparecem com facilidade e, por isso, há interrupções no fornecimento dessas matérias-primas essenciais para o segmento eletrônico.

A sinergia entre governo e setores industriais, como vem ocorrendo no Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial (CNDI), colegiado vinculado à Presidência da República, é um passo importante para que um plano moderno de reindustrialização nacional seja, de fato, implementado. As principais economias mundiais já empregam pelo menos US$ 12 trilhões em políticas semelhantes. Ao contrário do passado, são estratégias que englobam uma visão moderna de mundo, voltada para inovação, sustentabilidade e competitividade internacional.

Rumo à economia de baixo carbono

CNI desenhou quatro grandes linhas de ação para que a indústria brasileira se torne cada vez mais sustentável e contribua para que o Brasil aproveite as oportunidades trazidas pela agenda do clima .

A indústria brasileira tem clareza sobre os caminhos que precisam ser percorridos para que o setor siga em direção à economia verde. Essas ações estão descritas na Missão Descarbonização da CNI, subdividida em quatro programas: mercado de carbono, transição energética, economia circular e conservação florestal e bioeconomia.

A Confederação espera que a COP-28 seja bem-sucedida no encaminhamento de avanços ligados aos pilares da Missão Descarbonização. Alguns desses avanços são a atração de investimentos internacionais, a expansão da oferta de fontes mais limpas de energia e com menor custo, a implementação da cadeia de valor do hidrogênio e o fomento a novos mercados para bioeconomia.

“Considerando a importância de o setor empresarial conhecer e gerir as oportunidades e os riscos que os eventos climáticos extremos podem acarretar aos negócios, a CNI entende que a COP-28 será estratégica para avançar na definição da meta global de adaptação à mudança do clima”, diz o diretor de Relações Institucionais da Confederação, Roberto Muniz. “Na última COP, o progresso nas negociações da agenda de adaptação à mudança do clima ficou abaixo do esperado, apesar dos relatórios do IPCC demostrarem, de forma robusta, que os impactos das mudanças do clima serão cada vez mais frequentes e severos”, lembra.

Ações em cada pilar

Em junho, a CNI apresentou ao governo federal e à sociedade sua proposta para regulamentar o mercado de carbono no País, baseada na análise dos modelos praticados em vários outros países. O instrumento é uma importante medida para reduzir as emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) e tem potencial de movimentar até R$ 128 bilhões em receitas, segundo estimativas do projeto Partnership for

Market Readiness (PMR).

Em termos de transição energética, o Brasil já parte de uma posição privilegiada, com matriz predominantemente limpa: 84% de participação de fontes renováveis na matriz elétrica e 47% na matriz energética. Há, no entanto, oportunidades na ampliação de fontes como a eólica — especialmente projetos offshore, que representam uma nova fronteira para a expansão da energia dos ventos no país —, solar e bioenergia, além de novas tecnologias como o hidrogênio sustentável, obtido a partir de fontes renováveis.

Os biocombustíveis também integram o pacote de soluções à brasileira, know-how que o País exercita desde o Proálcool, na década de 1970. Há espaço para avançar nos biocombustíveis de segunda geração, obtidos a partir de resíduos. A aviação, por exemplo, tem buscado nos biocombustíveis uma solução para descarbonizar o setor – já que, a partir de 2027, os aviões não poderão levantar voo entre vários destinos internacionais se não compensarem as emissões de GEE.

Circularidade

No pilar Economia Circular, espera-se a elaboração de uma política nacional, com organização de uma base de dados que contemple todo o Brasil e mapeie as melhores práticas, simplifique e desburocratize a logística reversa e incorpore critérios de sustentabilidade nas compras públicas. A CNI lidera a delegação brasileira que participa da elaboração de normas técnicas sobre economia circular que estão sendo criadas pela Organização Internacional de Normatização (ISO, na sigla em inglês).

Já o pilar de Conservação Florestal propõe o fortalecimento da gestão de florestas públicas, o uso sustentável da biodiversidade e o estabelecimento das bases técnicas para o desenvolvimento e avanço da agenda de bioeconomia do País.

A CNI considera que tratar as florestas e a biodiversidade sob a ótica econômica, vendo os recursos naturais como ativos, é fundamental para o avanço econômico nacional.

CNI marca presença nos debates

Os pilares da Missão Descarbonização, concebida pela CNI, permearão a pauta da participação das empresas brasileiras na COP-28. Além do estande da Confederação, a indústria brasileira marcará presença nos debates que ocorrerão no pavilhão do governo brasileiro. A própria CNI e organizações como Petrobras, Suzano e Vale terão painéis para falar sobre os impactos da mudança do clima e as adaptações necessárias na indústria.

“A importância da CNI nesse processo é a liderança estruturada, organizando os esforços da indústria nacional para descarbonizar, visando ao desenvolvimento econômico e social do País”, diz Vivian MacKnight, gerente-geral de Mudanças Climáticas da Vale. “A CNI entende a realidade do setor industrial do Brasil e tem articulação institucional para ajudar a construir políticas públicas que permitam o desenvolvimento de uma economia de baixo carbono ou carbono zero.”

O potencial das eólicas ‘offshore’ no Brasil

Mesmo sem um marco regulatório definido, investidores já sinalizaram disposição para triplicar a capacidade de geração elétrica instalada no Brasil; País pode gerar até 700 GW de energia explorando o oceano

O Brasil tem tudo para se tornar uma grande potência da geração eólica offshore. Um mapeamento feito pelo Ibama mostra que, até meados de julho, havia 78 projetos na fila à espera de licenciamento ambiental. Juntos, eles somam 189 gigawatts (GW) em capacidade, o que praticamente iguala os 196,7 GW instalados na matriz elétrica brasileira como um todo. Tudo isso antes mesmo que o País conte com o arcabouço legal necessário para que o setor possa, de fato, sair do papel.

E o potencial é ainda maior. Um levantamento de 2020 feito pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE) apontou que o Brasil poderia gerar até 700 GW de energia eólica em águas com 50 metros de profundidade ou menos. São números tão expressivos que, em setembro, a CNI lançou um estudo intitulado “Oportunidades e desafios para geração eólica offshore no Brasil e a produção de hidrogênio de baixo carbono”, no qual mapeia como o setor offshore pode se tornar uma alavanca para a reindustrialização do País.

Brasil é um dos poucos países que tem competência para explorar a captação de energia pelo mar Foto: Holger Leue
Percebemos que com tamanha quantidade de energia limpa disponível, podemos criar uma política industrial para atrair empresas para cá

Jefferson de Oliveira Gomes, diretor de Inovação da CNI

Marco regulatório

No momento, no entanto, o setor ainda precisa ter segurança jurídica para ganhar tração. Isso depende de um um marco legal equilibrado — hoje em discussão no Congresso Nacional — que crie um ambiente propício para fomentar os investimentos e permitir que os projetos com pedidos de outorga saiam do papel.

Segundo a presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica), Elbia Gannoum, só com um marco regulatório devidamente aprovado seria possível começar a fazer a fila de projetos andar. Mesmo assim, não seria tudo do dia para a noite. “Se o primeiro leilão para cessão de áreas offshore acontecer no ano que vem, os vencedores precisariam de cerca de três anos para realizar estudos e mais três anos para desenvolver os projetos. Só em 2030 teríamos turbinas rodando”, avalia.

Isso não significa que o Brasil vá perder a onda. Além de ventos muito bons para a geração de energia, o País tem uma das competências-chave para viabilizar projetos offshore. “São poucos países no mundo que têm capacidade para utilizar o oceano, e o Brasil tem essa competência”, pontua Gomes.

Ele acrescenta que, no mundo todo, o segmento offshore ainda é incipiente. “Pelo lado da engenharia e da estrutura empresarial, todo mundo está parecido. Resolvida a regulação, conseguiremos nos aproximar”, prossegue.

E nem tudo nessa espera é, necessariamente, negativo. Os custos da eólica offshore têm caído rapidamente. “Em média, 40% a cada três anos”, diz Elbia.

Não quer dizer que todos os 78 projetos que estão no Ibama venham a se tornar realidade um dia. “O número grande é importante porque indica que os investidores estão muito interessados no Brasil, mas o número que será construído vai depender das condições do mercado”, completa a presidente da ABEEólica.

Hidrogênio de baixo carbono

A revolução da eólica offshore seria só um primeiro passo. O estudo da CNI aponta que essa nova fonte tem grande potencial para alimentar um segundo salto tecnológico: a produção de hidrogênio renovável. A molécula que hoje é obtiva a partir do carvão e do gás natural, poderia ser produzida pela hidrólise da água — chamado hidrogênio de baixo carbono. No entanto, consome muita energia que precisa vir de fontes renováveis.

Embora alerte que haja um “equívoco” nessa identificação entre e hidrogênio de baixo carbono e eólica offshore,

Elbia aponta que a demanda da produção de hidrogênio será uma grande oportunidade para todas as renováveis. “Incluindo a offshore”, diz.

Gomes se mostra otimista em relação a essas novas oportunidades. “O Brasil pode ser muito grande mesmo nesse processo de desenvolvimento de nova industrialização do mundo”, encerra.

Percebemos que tendo tamanha quantidade de energia limpa disponível podemos criar uma política industrial para atrair empresas para cá

Jefferson de Oliveira Gomes, diretor de Inovação da Confederação Nacional da Indústria (CNI)

O Brasil no comando da economia global

Com a presidência no G-20 e liderança no B-20, País se destaca na agenda para enfrentamento das mudanças climáticas

Em 1º de dezembro, o Brasil assumiu a presidência do G-20, o que lhe confere posição de protagonismo no grupo composto pelas 19 maiores economias do mundo e pela União Europeia. No mesmo dia, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) passou a comandar o B-20, grupo formado por representações empresariais dos mesmos países que formam o G-20, criado para defender os interesses da iniciativa privada em cada um dos temas debatidos no fórum mundial.

Essa coincidência de presença em cargos de comando confere ao Brasil, e especificamente à indústria brasileira, a oportunidade de conduzir discussões e influenciar políticas econômicas globais, recomendando ações concretas para influenciar a agenda do bloco. Agora, à frente do B-20, a indústria brasileira tem a oportunidade de impulsionar as suas prioridades.

O B-20 Brasil é composto pelo chair Dan Ioschpe, presidente da Ioschpe-Maxion. Ele tem o papel de liderar e de representar grupo empresarial na comunidade internacional, definindo as principais diretrizes. Quem também compõe o B-20 é a sherpa Constanza Negri, gerente de Comércio e Integração Internacional da CNI. Ela coordenará os trabalhos do secretariado e apoiará o chair e a liderança empresarial nas funções-chave no secretariado do grupo.

Dan Ioschpe, chair do B-20 Brasil, diz que grupo vai propor recomendações inovadoras e de impacto para as maiores economias do mundo Foto: Divulgação CNI

“Assumir a liderança como chair do B-20 Brasil é uma responsabilidade de grande magnitude. Minha missão é estruturar um processo que una líderes empresariais dos países do G-20 para formular recomendações que reflitam os desafios e as oportunidades atuais. As expectativas são altas para que o B-20 Brasil desenvolva recomendações inovadoras e de impacto. Esperamos que essas discussões fomentem a cooperação internacional no enfrentamento dos principais desafios globais, contribuindo para um crescimento global sustentável e inclusivo”, afirma Ioschpe.

Como destaca o diretor de Desenvolvimento Industrial e Economia da CNI, Rafael Lucchesi, essa é a oportunidade, também, de desempenhar um papel de destaque na promoção da sustentabilidade e na luta contra as mudanças climáticas, alinhando-se aos temas que marcarão os encontros entre membros de governos e representantes da indústria na COP-28. “A agenda climática e a necessária descarbonização da economia mundial são uma grande oportunidade para o Brasil se tornar referência mundial, especialmente neste momento em que o País assume a presidência do G-20 e do B-20″, diz.

Essa possibilidade, na visão de Lucchesi, é reforçada por uma atuação do setor industrial brasileiro que já vem sendo pautada pela união entre a busca por produtividade por meio da adoção de boas práticas, em uma agenda focada na promoção da sustentabilidade. E com a importância do combate às mudanças climáticas e da descarbonização da economia mundial, a indústria brasileira se posiciona como uma referência global.

“O Brasil tem apostado em uma agenda de promoção da sustentabilidade e de luta contra as mudanças climáticas, sem deixar de lado o avanço da produtividade e o desenvolvimento econômico, conduzidos por meio de temas transversais, como tecnologia e inovação, inclusão e financiamento”, comenta.

A intersecção entre G-20 e B-20 também se dá pela estreita relação comercial entre a indústria nacional e os países que compõem o grupo. Para o setor industrial brasileiro, no comércio de bens industriais, em 2022, o G-20 representou 67% das exportações brasileiras (US$ 121,5 bilhões) e 83,8% das importações (US$ 203,1 bilhões) de bens da indústria de transformação, o que evidencia a relevância das discussões e dos acordos que acontecem dentro desse fórum global para o setor produtivo nacional.

Agora, à frente do B-20, a indústria brasileira tem a oportunidade de impulsionar as suas prioridades, como destaca o diretor da CNI. “Nos próximos meses, a indústria terá um papel central para liderar e guiar a construção de consensos e prioridades de políticas econômicas globais a fim de subsidiar as discussões do G-20 com as maiores economias do mundo”, diz.

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