NOVA YORK E SÃO PAULO - Um novo foco de tensão mantém o setor bancário global nos holofotes. Desta vez, o temor vem da Alemanha, com o Deutsche Bank reacendendo as preocupações de investidores na esteira da venda do Credit Suisse ao UBS e do colapso de três bancos nos Estados Unidos. Agora, a piora começou com investidores do mercado financeiro elevando em muito o custo dos instrumentos financeiros que protegem contra calotes do maior banco alemão, o que fez suas ações, ao longo do dia, caírem mais de 15% em Frankfurt e contaminou os papéis de outros bancos europeus e em Wall Street, como JPMorgan Chase e Citigroup. No fechamento do mercado, as ações do banco registraram queda de 8,5%.
O Credit Default Swap (CDS) do Deutsche Bank, um instrumento de proteção contra calotes, bateu a máxima em quatro anos, encostando em 200 pontos. Com a piora da percepção sobre o banco, o chanceler alemão Olaf Scholz disse à imprensa europeia que o banco, após uma reestruturação e modernização de seus negócios, passou a ser “muito lucrativo e não há razão para preocupação”. De fato, o Deutsche tem dado lucros nos últimos dez trimestres, segundo a CNBC.
A nova onda de nervosismo com o sistema bancário vem na esteira de novas elevações de juros de bancos centrais, a despeito da turbulência que ronda os bancos. Nesta semana, os juros foram elevados na Europa e nos Estados Unidos. Isso após a rápida quebra do Silicon Valley Bank (SVB) e do Signature Bank nos EUA e de o governo suíço correr contra o tempo para fazer o UBS comprar o Credit Suisse.
“As preocupações com o setor bancário continuam a influenciar a narrativa dos mercados, com investidores mudando a atenção para o Deutsche Bank”, comenta o estrategista do banco canadense BMO Capital, Ian Lyngen. “O setor bancário global parece estar em uma posição cada vez mais precária.”
Só este mês, o Deutsche Bank perdeu perto de 8 bilhões de euros em valor de mercado, com sua ação acumulando queda de 30% na Bolsa de Frankfurt. Nesta sexta-feira, o banco alemão era avaliado em 19 bilhões de euros.
Em Wall Street, ações de grandes bancos sofrem com a nova onda de preocupação com o setor desencadeada pelo maior banco da Alemanha. JPMorgan Chase, Citigroup, Goldman Sachs, Bank of America e Wells Fargo caem em bloco nesta sexta-feira.
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Para o diretor da TS Lombard para Europa, Davide Oneglia, a contínua turbulência bancária nos EUA estimula uma busca de investidores por elos fracos na Europa. O fato de o Deutsche Bank ser o próximo da linha de fogo “não surpreende” uma vez que o banco foi associado ao Credit Suisse no passado diversas vezes devido a falhas de estratégia e envolvimento em escândalos financeiros, na sua visão.
“Depois de uma longa e dolorosa reestruturação, agora o Deutsche Bank não é o mesmo de 2016 e, ironicamente, até registrou lucros recordes em 2022, mas é conhecido por ter uma exposição relativamente grande, de 16,8 bilhões de euros, ao setor imobiliário comercial dos EUA”, diz Oneglia, da TS Lombard.
Resultados
No ano passado, o Deutsche Bank reportou lucro antes de impostos 65% maior frente a 2021, para 5,6 bilhões de euros, o maior em 15 anos. “Nos últimos três anos e meio, transformamos com sucesso o Deutsche Bank”, disse o CEO do banco, Christian Sewing, ao anunciar os resultados, há cerca de um mês.
Na visão de especialistas, ainda é cedo para saber se o novo foco de tensão com os bancos tem por trás mais problemas à frente ou é apenas mais um capítulo de nervosismo dos investidores. Para Oneglia, da TS Lombard, parece ter mais relação com “falta de confiança” do que com os fundamentos do setor na Europa.
Nos EUA, os bancos regionais seguem no front após a quebra do SVB e do Signature Bank e o contínuo aumento de juros no país. Dentre eles, destaque para o First Republic Bank, com sede em São Francisco e focado na área private, cujas ações amargam novo dia de perdas em Wall Street. Em um mês, a queda é de quase 90%. O banco vem tentando enxugar suas operações enquanto tenta em paralelo estratégias para reforçar o seu capital, na qual conta com o apoio de pesos pesados como o JPMorgan Chase e o lendário banco de investimento Lazard.
A preocupação de investidores com o setor bancário persiste a despeito do coro uníssono de órgãos reguladores para assegurar a segurança do sistema financeiro internacional. De um ao outro lado do Atlântico, a mensagem é de que o setor bancário europeu e americano é “sólido e resiliente”.
“Nosso setor bancário é resiliente, com fortes posições de capital e liquidez”, disse a União Europeia, em comunicado publicado nesta sexta-feira.