Acordo de R$ 167 bi de Mariana prevê criação de cinco fundos e programa de distribuição de renda


Mineradoras devem destinar R$ 100 bi à União, a Estados e a municípios ao longo de 20 anos; termo deve ser assinado até o fim deste mês, com o primeiro pagamento, no valor de R$ 5 bi, ainda em 2024

Por Bianca Lima
Atualização:

BRASÍLIA - O acordo de R$ 167 bilhões para reparação de danos decorrentes do rompimento da barragem do Fundão, em Mariana (MG), em 2015, inclui R$ 100 bilhões a serem destinados ao poder público ao longo de 20 anos. Cada real desta cifra ― que será desembolsada pelas mineradoras Vale, BHP e Samarco ― já tem destino certo, segundo apresentação realizada pela Advocacia-Geral da União (AGU) na última sexta-feira, 18, e à qual o Estadão teve acesso.

Dentre as aplicações, está prevista a criação de um novo fundo administrado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e de um programa de transferência de renda a pescadores e agricultores atingidos pela tragédia. Há, ainda, investimentos na duplicação de duas rodovias (BR-262 e BR-356) que cruzam os Estados do Espírito Santo e Minas Gerais e verbas para a Agência Nacional de Mineração (ANM).

Também está prevista a criação de outros quatro fundos: dois perpétuos (para saúde e enfrentamento às consequências das enchentes) e dois ambientais, sendo um gerido pela União e outro, pelos Estados.

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A expectativa é de que o acordo seja assinado até o fim de outubro. O primeiro pagamento, de cerca de R$ 5 bilhões, acontecerá 30 dias após a assinatura do termo, segundo a AGU. Os outros desembolsos dependem de cronograma ainda em aberto. Na semana passada, tanto a Vale como a mineradora anglo-australiana BHP (sócias no controle da Samarco) comentaram as linhas gerais do acordo, frisando que ele segue em negociação ― as empresas, porém, citam um montante ligeiramente maior do que o do governo: R$ 170 bilhões.

A premissa do acordo é de que as companhias realizarão a maior parte dos pagamentos (R$ 100 bilhões) à União e aos Estados de Minas Gerais e Espírito Santo, que realizarão as políticas públicas pré-estabelecidas e os repasses aos municípios. Obrigações da ordem de R$ 30 bilhões, porém, seguirão sob responsabilidade das mineradoras.

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Um terço disso diz respeito às indenizações diretas aos atingidos. Serão R$ 30 mil aos atingidos em geral e R$ 95 mil a pescadores e agricultores. A expectativa é de que 300 mil pessoas sejam contempladas. Elas também serão elegíveis a um pagamento de R$ 13 mil por danos à água. Outros R$ 37 bilhões já foram desembolsados pelas empresas ao longo dos últimos nove anos por meio da Fundação Renova.

Município de Bento Rodrigues, um dos locais mais impactados pelo rompimento da barragem da Samarco, em 2015 Foto: Tiago Queiroz/Estadão

A barragem do Fundão, em Mariana (MG), de propriedade da Samarco, se rompeu em 2015. Na ocasião, dezenas de milhões de metros cúbicos de rejeitos foram despejados no solo e nas águas, contaminando a bacia do Rio Doce e matando 19 pessoas. Além da negociação no Brasil, as mineradoras também são rés em ação que corre na Justiça inglesa e que começa a ser julgada neste segunda-feira, 21.

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Fundo Popular da Bacia do Rio Doce, gerido pelo BNDES

Batizado de Fundo Popular da Bacia do Rio Doce, o novo fundo do BNDES receberá R$ 5,1 bilhões e estará atrelado à Secretaria-Geral da Presidência da República. O objetivo, segundo o governo, será investir em “projetos de retomada econômica e produtiva por deliberação direta das comunidades atingidas, em áreas por elas consideradas prioritárias”.

“Serão sete áreas de acesso (ao fundo), que vão desde economia solidária a ação de esporte, lazer, recuperação econômica e saúde”, afirmou o ministro da Secretaria-Geral, Márcio Macêdo, após reunião com os atingidos pela tragédia, na sexta-feira, 18, em Belo Horizonte (MG).

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“O BNDES já tem hoje sob sua gestão fundos importantes, como o Fundo Amazônia e o Fundo Clima. Ou seja, tem muita expertise e o presidente Lula pediu que o BNDES criasse uma estrutura especial para acompanhar esses projetos”, afirmou o advogado-geral da União, Jorge Messias, durante o mesmo evento.

No mês passado, reportagem especial do Estadão mostrou que o governo Lula tem ampliado o uso de fundos públicos e privados, sobretudo atrelados ao BNDES, para turbinar a concessão de crédito barato e elevar os gastos sem esbarrar nas travas orçamentárias.

O acordo, segundo a apresentação da AGU, também prevê outros quatro fundos, que somam R$ 24 bilhões: Fundo Perpétuo da Saúde, com R$ 8 bilhões e gestão compartilhada entre União e Estados; Fundo Ambiental da União, também com R$ 8 bilhões; Fundo Ambiental dos Estados, com R$ 6 bilhões; e Fundo Perpétuo para Enchentes, de administração estadual e aporte de R$ 2 bilhões.

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Transferência de renda e duplicação de rodovias

Os ministérios da Pesca e Aquicultura (MPA) e Desenvolvimento Agrário (MDA) ficarão responsáveis pelo novo programa de transferência de renda, que realizará pagamentos mensais a pescadores e agricultores atingidos pelo rompimento da barragem em Mariana. Ainda não está definida a data de início dos pagamentos.

Rejeitos de minério de ferro da Samarco invadiram o oceano 17 dias após o rompimento da barragem em Mariana, em 2015 Foto: Gabriela Biló/Estadão
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Segundo a AGU, o auxílio terá duração de até quatro anos e será maior no início da vigência. Começará com o valor de um salário mínimo e meio e, nos últimos 12 meses, será reduzido para um salário. A transferência será realizada por meio do cartão do governo federal operado pela Caixa Econômica Federal.

O acordo também prevê R$ 4,6 bilhões de investimentos na duplicação e realização de melhorias nas rodovias federais BR-262, no Espírito Santo, e BR-356, em Minas Gerais ― essa última liga a BR-040 (na saída de BH) até as cidades de Ouro Preto e Mariana.

“Pouca coisa (no âmbito do acordo) fugiu à bacia do Rio Doce. Dentre elas, a obra de duplicação do entroncamento da BR-040 até Mariana, a BR-356, em Minas Gerais. E, no Espírito Santo, a BR-262 até Vitória”, afirmou o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, neste sábado, 19, durante agenda de campanha do prefeito de Belo Horizonte e candidato à reeleição, Fuad Noman (PSD).

BRASÍLIA - O acordo de R$ 167 bilhões para reparação de danos decorrentes do rompimento da barragem do Fundão, em Mariana (MG), em 2015, inclui R$ 100 bilhões a serem destinados ao poder público ao longo de 20 anos. Cada real desta cifra ― que será desembolsada pelas mineradoras Vale, BHP e Samarco ― já tem destino certo, segundo apresentação realizada pela Advocacia-Geral da União (AGU) na última sexta-feira, 18, e à qual o Estadão teve acesso.

Dentre as aplicações, está prevista a criação de um novo fundo administrado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e de um programa de transferência de renda a pescadores e agricultores atingidos pela tragédia. Há, ainda, investimentos na duplicação de duas rodovias (BR-262 e BR-356) que cruzam os Estados do Espírito Santo e Minas Gerais e verbas para a Agência Nacional de Mineração (ANM).

Também está prevista a criação de outros quatro fundos: dois perpétuos (para saúde e enfrentamento às consequências das enchentes) e dois ambientais, sendo um gerido pela União e outro, pelos Estados.

A expectativa é de que o acordo seja assinado até o fim de outubro. O primeiro pagamento, de cerca de R$ 5 bilhões, acontecerá 30 dias após a assinatura do termo, segundo a AGU. Os outros desembolsos dependem de cronograma ainda em aberto. Na semana passada, tanto a Vale como a mineradora anglo-australiana BHP (sócias no controle da Samarco) comentaram as linhas gerais do acordo, frisando que ele segue em negociação ― as empresas, porém, citam um montante ligeiramente maior do que o do governo: R$ 170 bilhões.

A premissa do acordo é de que as companhias realizarão a maior parte dos pagamentos (R$ 100 bilhões) à União e aos Estados de Minas Gerais e Espírito Santo, que realizarão as políticas públicas pré-estabelecidas e os repasses aos municípios. Obrigações da ordem de R$ 30 bilhões, porém, seguirão sob responsabilidade das mineradoras.

Um terço disso diz respeito às indenizações diretas aos atingidos. Serão R$ 30 mil aos atingidos em geral e R$ 95 mil a pescadores e agricultores. A expectativa é de que 300 mil pessoas sejam contempladas. Elas também serão elegíveis a um pagamento de R$ 13 mil por danos à água. Outros R$ 37 bilhões já foram desembolsados pelas empresas ao longo dos últimos nove anos por meio da Fundação Renova.

Município de Bento Rodrigues, um dos locais mais impactados pelo rompimento da barragem da Samarco, em 2015 Foto: Tiago Queiroz/Estadão

A barragem do Fundão, em Mariana (MG), de propriedade da Samarco, se rompeu em 2015. Na ocasião, dezenas de milhões de metros cúbicos de rejeitos foram despejados no solo e nas águas, contaminando a bacia do Rio Doce e matando 19 pessoas. Além da negociação no Brasil, as mineradoras também são rés em ação que corre na Justiça inglesa e que começa a ser julgada neste segunda-feira, 21.

Fundo Popular da Bacia do Rio Doce, gerido pelo BNDES

Batizado de Fundo Popular da Bacia do Rio Doce, o novo fundo do BNDES receberá R$ 5,1 bilhões e estará atrelado à Secretaria-Geral da Presidência da República. O objetivo, segundo o governo, será investir em “projetos de retomada econômica e produtiva por deliberação direta das comunidades atingidas, em áreas por elas consideradas prioritárias”.

“Serão sete áreas de acesso (ao fundo), que vão desde economia solidária a ação de esporte, lazer, recuperação econômica e saúde”, afirmou o ministro da Secretaria-Geral, Márcio Macêdo, após reunião com os atingidos pela tragédia, na sexta-feira, 18, em Belo Horizonte (MG).

“O BNDES já tem hoje sob sua gestão fundos importantes, como o Fundo Amazônia e o Fundo Clima. Ou seja, tem muita expertise e o presidente Lula pediu que o BNDES criasse uma estrutura especial para acompanhar esses projetos”, afirmou o advogado-geral da União, Jorge Messias, durante o mesmo evento.

No mês passado, reportagem especial do Estadão mostrou que o governo Lula tem ampliado o uso de fundos públicos e privados, sobretudo atrelados ao BNDES, para turbinar a concessão de crédito barato e elevar os gastos sem esbarrar nas travas orçamentárias.

O acordo, segundo a apresentação da AGU, também prevê outros quatro fundos, que somam R$ 24 bilhões: Fundo Perpétuo da Saúde, com R$ 8 bilhões e gestão compartilhada entre União e Estados; Fundo Ambiental da União, também com R$ 8 bilhões; Fundo Ambiental dos Estados, com R$ 6 bilhões; e Fundo Perpétuo para Enchentes, de administração estadual e aporte de R$ 2 bilhões.

Transferência de renda e duplicação de rodovias

Os ministérios da Pesca e Aquicultura (MPA) e Desenvolvimento Agrário (MDA) ficarão responsáveis pelo novo programa de transferência de renda, que realizará pagamentos mensais a pescadores e agricultores atingidos pelo rompimento da barragem em Mariana. Ainda não está definida a data de início dos pagamentos.

Rejeitos de minério de ferro da Samarco invadiram o oceano 17 dias após o rompimento da barragem em Mariana, em 2015 Foto: Gabriela Biló/Estadão

Segundo a AGU, o auxílio terá duração de até quatro anos e será maior no início da vigência. Começará com o valor de um salário mínimo e meio e, nos últimos 12 meses, será reduzido para um salário. A transferência será realizada por meio do cartão do governo federal operado pela Caixa Econômica Federal.

O acordo também prevê R$ 4,6 bilhões de investimentos na duplicação e realização de melhorias nas rodovias federais BR-262, no Espírito Santo, e BR-356, em Minas Gerais ― essa última liga a BR-040 (na saída de BH) até as cidades de Ouro Preto e Mariana.

“Pouca coisa (no âmbito do acordo) fugiu à bacia do Rio Doce. Dentre elas, a obra de duplicação do entroncamento da BR-040 até Mariana, a BR-356, em Minas Gerais. E, no Espírito Santo, a BR-262 até Vitória”, afirmou o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, neste sábado, 19, durante agenda de campanha do prefeito de Belo Horizonte e candidato à reeleição, Fuad Noman (PSD).

BRASÍLIA - O acordo de R$ 167 bilhões para reparação de danos decorrentes do rompimento da barragem do Fundão, em Mariana (MG), em 2015, inclui R$ 100 bilhões a serem destinados ao poder público ao longo de 20 anos. Cada real desta cifra ― que será desembolsada pelas mineradoras Vale, BHP e Samarco ― já tem destino certo, segundo apresentação realizada pela Advocacia-Geral da União (AGU) na última sexta-feira, 18, e à qual o Estadão teve acesso.

Dentre as aplicações, está prevista a criação de um novo fundo administrado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e de um programa de transferência de renda a pescadores e agricultores atingidos pela tragédia. Há, ainda, investimentos na duplicação de duas rodovias (BR-262 e BR-356) que cruzam os Estados do Espírito Santo e Minas Gerais e verbas para a Agência Nacional de Mineração (ANM).

Também está prevista a criação de outros quatro fundos: dois perpétuos (para saúde e enfrentamento às consequências das enchentes) e dois ambientais, sendo um gerido pela União e outro, pelos Estados.

A expectativa é de que o acordo seja assinado até o fim de outubro. O primeiro pagamento, de cerca de R$ 5 bilhões, acontecerá 30 dias após a assinatura do termo, segundo a AGU. Os outros desembolsos dependem de cronograma ainda em aberto. Na semana passada, tanto a Vale como a mineradora anglo-australiana BHP (sócias no controle da Samarco) comentaram as linhas gerais do acordo, frisando que ele segue em negociação ― as empresas, porém, citam um montante ligeiramente maior do que o do governo: R$ 170 bilhões.

A premissa do acordo é de que as companhias realizarão a maior parte dos pagamentos (R$ 100 bilhões) à União e aos Estados de Minas Gerais e Espírito Santo, que realizarão as políticas públicas pré-estabelecidas e os repasses aos municípios. Obrigações da ordem de R$ 30 bilhões, porém, seguirão sob responsabilidade das mineradoras.

Um terço disso diz respeito às indenizações diretas aos atingidos. Serão R$ 30 mil aos atingidos em geral e R$ 95 mil a pescadores e agricultores. A expectativa é de que 300 mil pessoas sejam contempladas. Elas também serão elegíveis a um pagamento de R$ 13 mil por danos à água. Outros R$ 37 bilhões já foram desembolsados pelas empresas ao longo dos últimos nove anos por meio da Fundação Renova.

Município de Bento Rodrigues, um dos locais mais impactados pelo rompimento da barragem da Samarco, em 2015 Foto: Tiago Queiroz/Estadão

A barragem do Fundão, em Mariana (MG), de propriedade da Samarco, se rompeu em 2015. Na ocasião, dezenas de milhões de metros cúbicos de rejeitos foram despejados no solo e nas águas, contaminando a bacia do Rio Doce e matando 19 pessoas. Além da negociação no Brasil, as mineradoras também são rés em ação que corre na Justiça inglesa e que começa a ser julgada neste segunda-feira, 21.

Fundo Popular da Bacia do Rio Doce, gerido pelo BNDES

Batizado de Fundo Popular da Bacia do Rio Doce, o novo fundo do BNDES receberá R$ 5,1 bilhões e estará atrelado à Secretaria-Geral da Presidência da República. O objetivo, segundo o governo, será investir em “projetos de retomada econômica e produtiva por deliberação direta das comunidades atingidas, em áreas por elas consideradas prioritárias”.

“Serão sete áreas de acesso (ao fundo), que vão desde economia solidária a ação de esporte, lazer, recuperação econômica e saúde”, afirmou o ministro da Secretaria-Geral, Márcio Macêdo, após reunião com os atingidos pela tragédia, na sexta-feira, 18, em Belo Horizonte (MG).

“O BNDES já tem hoje sob sua gestão fundos importantes, como o Fundo Amazônia e o Fundo Clima. Ou seja, tem muita expertise e o presidente Lula pediu que o BNDES criasse uma estrutura especial para acompanhar esses projetos”, afirmou o advogado-geral da União, Jorge Messias, durante o mesmo evento.

No mês passado, reportagem especial do Estadão mostrou que o governo Lula tem ampliado o uso de fundos públicos e privados, sobretudo atrelados ao BNDES, para turbinar a concessão de crédito barato e elevar os gastos sem esbarrar nas travas orçamentárias.

O acordo, segundo a apresentação da AGU, também prevê outros quatro fundos, que somam R$ 24 bilhões: Fundo Perpétuo da Saúde, com R$ 8 bilhões e gestão compartilhada entre União e Estados; Fundo Ambiental da União, também com R$ 8 bilhões; Fundo Ambiental dos Estados, com R$ 6 bilhões; e Fundo Perpétuo para Enchentes, de administração estadual e aporte de R$ 2 bilhões.

Transferência de renda e duplicação de rodovias

Os ministérios da Pesca e Aquicultura (MPA) e Desenvolvimento Agrário (MDA) ficarão responsáveis pelo novo programa de transferência de renda, que realizará pagamentos mensais a pescadores e agricultores atingidos pelo rompimento da barragem em Mariana. Ainda não está definida a data de início dos pagamentos.

Rejeitos de minério de ferro da Samarco invadiram o oceano 17 dias após o rompimento da barragem em Mariana, em 2015 Foto: Gabriela Biló/Estadão

Segundo a AGU, o auxílio terá duração de até quatro anos e será maior no início da vigência. Começará com o valor de um salário mínimo e meio e, nos últimos 12 meses, será reduzido para um salário. A transferência será realizada por meio do cartão do governo federal operado pela Caixa Econômica Federal.

O acordo também prevê R$ 4,6 bilhões de investimentos na duplicação e realização de melhorias nas rodovias federais BR-262, no Espírito Santo, e BR-356, em Minas Gerais ― essa última liga a BR-040 (na saída de BH) até as cidades de Ouro Preto e Mariana.

“Pouca coisa (no âmbito do acordo) fugiu à bacia do Rio Doce. Dentre elas, a obra de duplicação do entroncamento da BR-040 até Mariana, a BR-356, em Minas Gerais. E, no Espírito Santo, a BR-262 até Vitória”, afirmou o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, neste sábado, 19, durante agenda de campanha do prefeito de Belo Horizonte e candidato à reeleição, Fuad Noman (PSD).

BRASÍLIA - O acordo de R$ 167 bilhões para reparação de danos decorrentes do rompimento da barragem do Fundão, em Mariana (MG), em 2015, inclui R$ 100 bilhões a serem destinados ao poder público ao longo de 20 anos. Cada real desta cifra ― que será desembolsada pelas mineradoras Vale, BHP e Samarco ― já tem destino certo, segundo apresentação realizada pela Advocacia-Geral da União (AGU) na última sexta-feira, 18, e à qual o Estadão teve acesso.

Dentre as aplicações, está prevista a criação de um novo fundo administrado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e de um programa de transferência de renda a pescadores e agricultores atingidos pela tragédia. Há, ainda, investimentos na duplicação de duas rodovias (BR-262 e BR-356) que cruzam os Estados do Espírito Santo e Minas Gerais e verbas para a Agência Nacional de Mineração (ANM).

Também está prevista a criação de outros quatro fundos: dois perpétuos (para saúde e enfrentamento às consequências das enchentes) e dois ambientais, sendo um gerido pela União e outro, pelos Estados.

A expectativa é de que o acordo seja assinado até o fim de outubro. O primeiro pagamento, de cerca de R$ 5 bilhões, acontecerá 30 dias após a assinatura do termo, segundo a AGU. Os outros desembolsos dependem de cronograma ainda em aberto. Na semana passada, tanto a Vale como a mineradora anglo-australiana BHP (sócias no controle da Samarco) comentaram as linhas gerais do acordo, frisando que ele segue em negociação ― as empresas, porém, citam um montante ligeiramente maior do que o do governo: R$ 170 bilhões.

A premissa do acordo é de que as companhias realizarão a maior parte dos pagamentos (R$ 100 bilhões) à União e aos Estados de Minas Gerais e Espírito Santo, que realizarão as políticas públicas pré-estabelecidas e os repasses aos municípios. Obrigações da ordem de R$ 30 bilhões, porém, seguirão sob responsabilidade das mineradoras.

Um terço disso diz respeito às indenizações diretas aos atingidos. Serão R$ 30 mil aos atingidos em geral e R$ 95 mil a pescadores e agricultores. A expectativa é de que 300 mil pessoas sejam contempladas. Elas também serão elegíveis a um pagamento de R$ 13 mil por danos à água. Outros R$ 37 bilhões já foram desembolsados pelas empresas ao longo dos últimos nove anos por meio da Fundação Renova.

Município de Bento Rodrigues, um dos locais mais impactados pelo rompimento da barragem da Samarco, em 2015 Foto: Tiago Queiroz/Estadão

A barragem do Fundão, em Mariana (MG), de propriedade da Samarco, se rompeu em 2015. Na ocasião, dezenas de milhões de metros cúbicos de rejeitos foram despejados no solo e nas águas, contaminando a bacia do Rio Doce e matando 19 pessoas. Além da negociação no Brasil, as mineradoras também são rés em ação que corre na Justiça inglesa e que começa a ser julgada neste segunda-feira, 21.

Fundo Popular da Bacia do Rio Doce, gerido pelo BNDES

Batizado de Fundo Popular da Bacia do Rio Doce, o novo fundo do BNDES receberá R$ 5,1 bilhões e estará atrelado à Secretaria-Geral da Presidência da República. O objetivo, segundo o governo, será investir em “projetos de retomada econômica e produtiva por deliberação direta das comunidades atingidas, em áreas por elas consideradas prioritárias”.

“Serão sete áreas de acesso (ao fundo), que vão desde economia solidária a ação de esporte, lazer, recuperação econômica e saúde”, afirmou o ministro da Secretaria-Geral, Márcio Macêdo, após reunião com os atingidos pela tragédia, na sexta-feira, 18, em Belo Horizonte (MG).

“O BNDES já tem hoje sob sua gestão fundos importantes, como o Fundo Amazônia e o Fundo Clima. Ou seja, tem muita expertise e o presidente Lula pediu que o BNDES criasse uma estrutura especial para acompanhar esses projetos”, afirmou o advogado-geral da União, Jorge Messias, durante o mesmo evento.

No mês passado, reportagem especial do Estadão mostrou que o governo Lula tem ampliado o uso de fundos públicos e privados, sobretudo atrelados ao BNDES, para turbinar a concessão de crédito barato e elevar os gastos sem esbarrar nas travas orçamentárias.

O acordo, segundo a apresentação da AGU, também prevê outros quatro fundos, que somam R$ 24 bilhões: Fundo Perpétuo da Saúde, com R$ 8 bilhões e gestão compartilhada entre União e Estados; Fundo Ambiental da União, também com R$ 8 bilhões; Fundo Ambiental dos Estados, com R$ 6 bilhões; e Fundo Perpétuo para Enchentes, de administração estadual e aporte de R$ 2 bilhões.

Transferência de renda e duplicação de rodovias

Os ministérios da Pesca e Aquicultura (MPA) e Desenvolvimento Agrário (MDA) ficarão responsáveis pelo novo programa de transferência de renda, que realizará pagamentos mensais a pescadores e agricultores atingidos pelo rompimento da barragem em Mariana. Ainda não está definida a data de início dos pagamentos.

Rejeitos de minério de ferro da Samarco invadiram o oceano 17 dias após o rompimento da barragem em Mariana, em 2015 Foto: Gabriela Biló/Estadão

Segundo a AGU, o auxílio terá duração de até quatro anos e será maior no início da vigência. Começará com o valor de um salário mínimo e meio e, nos últimos 12 meses, será reduzido para um salário. A transferência será realizada por meio do cartão do governo federal operado pela Caixa Econômica Federal.

O acordo também prevê R$ 4,6 bilhões de investimentos na duplicação e realização de melhorias nas rodovias federais BR-262, no Espírito Santo, e BR-356, em Minas Gerais ― essa última liga a BR-040 (na saída de BH) até as cidades de Ouro Preto e Mariana.

“Pouca coisa (no âmbito do acordo) fugiu à bacia do Rio Doce. Dentre elas, a obra de duplicação do entroncamento da BR-040 até Mariana, a BR-356, em Minas Gerais. E, no Espírito Santo, a BR-262 até Vitória”, afirmou o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, neste sábado, 19, durante agenda de campanha do prefeito de Belo Horizonte e candidato à reeleição, Fuad Noman (PSD).

BRASÍLIA - O acordo de R$ 167 bilhões para reparação de danos decorrentes do rompimento da barragem do Fundão, em Mariana (MG), em 2015, inclui R$ 100 bilhões a serem destinados ao poder público ao longo de 20 anos. Cada real desta cifra ― que será desembolsada pelas mineradoras Vale, BHP e Samarco ― já tem destino certo, segundo apresentação realizada pela Advocacia-Geral da União (AGU) na última sexta-feira, 18, e à qual o Estadão teve acesso.

Dentre as aplicações, está prevista a criação de um novo fundo administrado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e de um programa de transferência de renda a pescadores e agricultores atingidos pela tragédia. Há, ainda, investimentos na duplicação de duas rodovias (BR-262 e BR-356) que cruzam os Estados do Espírito Santo e Minas Gerais e verbas para a Agência Nacional de Mineração (ANM).

Também está prevista a criação de outros quatro fundos: dois perpétuos (para saúde e enfrentamento às consequências das enchentes) e dois ambientais, sendo um gerido pela União e outro, pelos Estados.

A expectativa é de que o acordo seja assinado até o fim de outubro. O primeiro pagamento, de cerca de R$ 5 bilhões, acontecerá 30 dias após a assinatura do termo, segundo a AGU. Os outros desembolsos dependem de cronograma ainda em aberto. Na semana passada, tanto a Vale como a mineradora anglo-australiana BHP (sócias no controle da Samarco) comentaram as linhas gerais do acordo, frisando que ele segue em negociação ― as empresas, porém, citam um montante ligeiramente maior do que o do governo: R$ 170 bilhões.

A premissa do acordo é de que as companhias realizarão a maior parte dos pagamentos (R$ 100 bilhões) à União e aos Estados de Minas Gerais e Espírito Santo, que realizarão as políticas públicas pré-estabelecidas e os repasses aos municípios. Obrigações da ordem de R$ 30 bilhões, porém, seguirão sob responsabilidade das mineradoras.

Um terço disso diz respeito às indenizações diretas aos atingidos. Serão R$ 30 mil aos atingidos em geral e R$ 95 mil a pescadores e agricultores. A expectativa é de que 300 mil pessoas sejam contempladas. Elas também serão elegíveis a um pagamento de R$ 13 mil por danos à água. Outros R$ 37 bilhões já foram desembolsados pelas empresas ao longo dos últimos nove anos por meio da Fundação Renova.

Município de Bento Rodrigues, um dos locais mais impactados pelo rompimento da barragem da Samarco, em 2015 Foto: Tiago Queiroz/Estadão

A barragem do Fundão, em Mariana (MG), de propriedade da Samarco, se rompeu em 2015. Na ocasião, dezenas de milhões de metros cúbicos de rejeitos foram despejados no solo e nas águas, contaminando a bacia do Rio Doce e matando 19 pessoas. Além da negociação no Brasil, as mineradoras também são rés em ação que corre na Justiça inglesa e que começa a ser julgada neste segunda-feira, 21.

Fundo Popular da Bacia do Rio Doce, gerido pelo BNDES

Batizado de Fundo Popular da Bacia do Rio Doce, o novo fundo do BNDES receberá R$ 5,1 bilhões e estará atrelado à Secretaria-Geral da Presidência da República. O objetivo, segundo o governo, será investir em “projetos de retomada econômica e produtiva por deliberação direta das comunidades atingidas, em áreas por elas consideradas prioritárias”.

“Serão sete áreas de acesso (ao fundo), que vão desde economia solidária a ação de esporte, lazer, recuperação econômica e saúde”, afirmou o ministro da Secretaria-Geral, Márcio Macêdo, após reunião com os atingidos pela tragédia, na sexta-feira, 18, em Belo Horizonte (MG).

“O BNDES já tem hoje sob sua gestão fundos importantes, como o Fundo Amazônia e o Fundo Clima. Ou seja, tem muita expertise e o presidente Lula pediu que o BNDES criasse uma estrutura especial para acompanhar esses projetos”, afirmou o advogado-geral da União, Jorge Messias, durante o mesmo evento.

No mês passado, reportagem especial do Estadão mostrou que o governo Lula tem ampliado o uso de fundos públicos e privados, sobretudo atrelados ao BNDES, para turbinar a concessão de crédito barato e elevar os gastos sem esbarrar nas travas orçamentárias.

O acordo, segundo a apresentação da AGU, também prevê outros quatro fundos, que somam R$ 24 bilhões: Fundo Perpétuo da Saúde, com R$ 8 bilhões e gestão compartilhada entre União e Estados; Fundo Ambiental da União, também com R$ 8 bilhões; Fundo Ambiental dos Estados, com R$ 6 bilhões; e Fundo Perpétuo para Enchentes, de administração estadual e aporte de R$ 2 bilhões.

Transferência de renda e duplicação de rodovias

Os ministérios da Pesca e Aquicultura (MPA) e Desenvolvimento Agrário (MDA) ficarão responsáveis pelo novo programa de transferência de renda, que realizará pagamentos mensais a pescadores e agricultores atingidos pelo rompimento da barragem em Mariana. Ainda não está definida a data de início dos pagamentos.

Rejeitos de minério de ferro da Samarco invadiram o oceano 17 dias após o rompimento da barragem em Mariana, em 2015 Foto: Gabriela Biló/Estadão

Segundo a AGU, o auxílio terá duração de até quatro anos e será maior no início da vigência. Começará com o valor de um salário mínimo e meio e, nos últimos 12 meses, será reduzido para um salário. A transferência será realizada por meio do cartão do governo federal operado pela Caixa Econômica Federal.

O acordo também prevê R$ 4,6 bilhões de investimentos na duplicação e realização de melhorias nas rodovias federais BR-262, no Espírito Santo, e BR-356, em Minas Gerais ― essa última liga a BR-040 (na saída de BH) até as cidades de Ouro Preto e Mariana.

“Pouca coisa (no âmbito do acordo) fugiu à bacia do Rio Doce. Dentre elas, a obra de duplicação do entroncamento da BR-040 até Mariana, a BR-356, em Minas Gerais. E, no Espírito Santo, a BR-262 até Vitória”, afirmou o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, neste sábado, 19, durante agenda de campanha do prefeito de Belo Horizonte e candidato à reeleição, Fuad Noman (PSD).

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