Análise|Acordo Mercosul-UE vai além do comércio e é resposta à nova ordem internacional


Europa busca novas mercados, áreas de influência e promoção dos valores de democracia, liberdade e direitos humanos em cenário geopolítico conturbado

Por Regiane Nitsch Bressan
Atualização:

A 65ª Cúpula do Mercosul, realizada nesta sexta-feira, 6, em Montevidéu, foi palco de um momento histórico: a conclusão das negociações do acordo entre o Mercosul e a União Europeia, marcada pela presença da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen. Esse passo crucial, após 25 anos de complexas negociações, representa um novo capítulo nas relações entre os dois blocos e abre caminho para uma maior integração econômica e política.

A assinatura do acordo em 2019, após duas décadas de debates, marcou o início de um processo desafiador. Cinco anos de intensas revisões e negociações foram necessários para superar os obstáculos e divergências que permearam esse longo caminho, envolvendo a diplomacia e políticos de ambos os lados.

O Mercosul enfrentou obstáculos significativos. A crise ambiental no Brasil, com o aumento do desmatamento e das queimadas, gerou forte desaprovação dos países europeus, impactando a imagem do país e a confiança no compromisso ambiental do Mercosul, desagradando sobretudo a França e os financiadores do Fundo Amazônia. A busca por consenso entre as lideranças do Mercosul em relação a novos acordos de livre comércio e a postura inicialmente reticente do governo argentino de Javier Milei à integração regional também representaram desafios a serem superados. No entanto, a diplomacia brasileira, liderada pelo presidente Lula, que buscou ativamente o consenso entre empresários e elites econômicas brasileiras, bem como a percepção da Argentina de que o acordo poderia gerar benefícios econômicos e auxiliar na superação de suas crises internas, foram cruciais para a continuidade das negociações.

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Do lado europeu, as divergências se concentraram em duas frentes principais: a proteção da agricultura europeia, garantida pela Política Agrícola Comum (PAC), e as preocupações com as questões ambientais. Após intensas negociações, a agenda de cooperação ambiental foi consolidada, com a inclusão de compromissos ambiciosos e mecanismos de monitoramento, respondendo às preocupações europeias e reforçando a importância da sustentabilidade no acordo.

Presidente da Comissão Europeia Ursula von der Leyen anuncia acordo com o Mercosul na Cúpula de Montevidéu, Uruguai. Foto: Matilde Campodonico/Associated Press

É fundamental analisar o acordo sob a ótica do contexto geopolítico atual. A guerra na Ucrânia impôs à Europa uma série de desafios, como o aumento dos gastos militares, as questões migratórias, a elevação do preço da energia e a dificuldade de acesso a alguns produtos. O fortalecimento da aliança dos países não ocidentais, como os BRICS, também causa apreensão na Europa, tensionando as relações entre o Leste e o Oeste. Nesse cenário, o acordo com o Mercosul transcende a esfera comercial e assume um caráter estratégico para a União Europeia, buscando ampliar sua área de influência e fortalecer laços com novos mercados, diversificando parcerias e reduzindo dependências geopolíticas.

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A vitória de Trump nos Estados Unidos adiciona uma camada de complexidade ao cenário geopolítico. Sua postura contrária ao multilateralismo e a imposição de barreiras econômicas podem impactar as relações internacionais e a dinâmica da guerra na Ucrânia. A possível redução dos gastos americanos com a guerra pode fortalecer a Rússia, gerando temor na Europa como um todo. Nesse contexto, o acordo Mercosul-União Europeia reforça a importância do multilateralismo e da cooperação internacional como instrumentos para enfrentar os desafios globais que se impõem.

A busca por novos mercados e áreas de influência se entrelaça com o objetivo da União Europeia de promover seus valores de democracia, liberdade e direitos humanos. O acordo com o Mercosul representa oportunidade para a União Europeia expandir sua influência em uma região estratégica, apesar das complexidades e desafios inerentes a esse processo.

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Para além de relações comerciais, o acordo assume um significado geopolítico crucial em um contexto global marcado por incertezas e desafios. A superação das divergências e a convergência de interesses demonstram a importância da integração regional e da cooperação internacional mediante a interdependência. O acordo abre caminho para uma nova era de relações entre o Mercosul e a União Europeia, com potencial para gerar crescimento econômico, promover o desenvolvimento sustentável e fortalecer a cooperação em áreas estratégicas.

A 65ª Cúpula do Mercosul, realizada nesta sexta-feira, 6, em Montevidéu, foi palco de um momento histórico: a conclusão das negociações do acordo entre o Mercosul e a União Europeia, marcada pela presença da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen. Esse passo crucial, após 25 anos de complexas negociações, representa um novo capítulo nas relações entre os dois blocos e abre caminho para uma maior integração econômica e política.

A assinatura do acordo em 2019, após duas décadas de debates, marcou o início de um processo desafiador. Cinco anos de intensas revisões e negociações foram necessários para superar os obstáculos e divergências que permearam esse longo caminho, envolvendo a diplomacia e políticos de ambos os lados.

O Mercosul enfrentou obstáculos significativos. A crise ambiental no Brasil, com o aumento do desmatamento e das queimadas, gerou forte desaprovação dos países europeus, impactando a imagem do país e a confiança no compromisso ambiental do Mercosul, desagradando sobretudo a França e os financiadores do Fundo Amazônia. A busca por consenso entre as lideranças do Mercosul em relação a novos acordos de livre comércio e a postura inicialmente reticente do governo argentino de Javier Milei à integração regional também representaram desafios a serem superados. No entanto, a diplomacia brasileira, liderada pelo presidente Lula, que buscou ativamente o consenso entre empresários e elites econômicas brasileiras, bem como a percepção da Argentina de que o acordo poderia gerar benefícios econômicos e auxiliar na superação de suas crises internas, foram cruciais para a continuidade das negociações.

Do lado europeu, as divergências se concentraram em duas frentes principais: a proteção da agricultura europeia, garantida pela Política Agrícola Comum (PAC), e as preocupações com as questões ambientais. Após intensas negociações, a agenda de cooperação ambiental foi consolidada, com a inclusão de compromissos ambiciosos e mecanismos de monitoramento, respondendo às preocupações europeias e reforçando a importância da sustentabilidade no acordo.

Presidente da Comissão Europeia Ursula von der Leyen anuncia acordo com o Mercosul na Cúpula de Montevidéu, Uruguai. Foto: Matilde Campodonico/Associated Press

É fundamental analisar o acordo sob a ótica do contexto geopolítico atual. A guerra na Ucrânia impôs à Europa uma série de desafios, como o aumento dos gastos militares, as questões migratórias, a elevação do preço da energia e a dificuldade de acesso a alguns produtos. O fortalecimento da aliança dos países não ocidentais, como os BRICS, também causa apreensão na Europa, tensionando as relações entre o Leste e o Oeste. Nesse cenário, o acordo com o Mercosul transcende a esfera comercial e assume um caráter estratégico para a União Europeia, buscando ampliar sua área de influência e fortalecer laços com novos mercados, diversificando parcerias e reduzindo dependências geopolíticas.

A vitória de Trump nos Estados Unidos adiciona uma camada de complexidade ao cenário geopolítico. Sua postura contrária ao multilateralismo e a imposição de barreiras econômicas podem impactar as relações internacionais e a dinâmica da guerra na Ucrânia. A possível redução dos gastos americanos com a guerra pode fortalecer a Rússia, gerando temor na Europa como um todo. Nesse contexto, o acordo Mercosul-União Europeia reforça a importância do multilateralismo e da cooperação internacional como instrumentos para enfrentar os desafios globais que se impõem.

A busca por novos mercados e áreas de influência se entrelaça com o objetivo da União Europeia de promover seus valores de democracia, liberdade e direitos humanos. O acordo com o Mercosul representa oportunidade para a União Europeia expandir sua influência em uma região estratégica, apesar das complexidades e desafios inerentes a esse processo.

Para além de relações comerciais, o acordo assume um significado geopolítico crucial em um contexto global marcado por incertezas e desafios. A superação das divergências e a convergência de interesses demonstram a importância da integração regional e da cooperação internacional mediante a interdependência. O acordo abre caminho para uma nova era de relações entre o Mercosul e a União Europeia, com potencial para gerar crescimento econômico, promover o desenvolvimento sustentável e fortalecer a cooperação em áreas estratégicas.

A 65ª Cúpula do Mercosul, realizada nesta sexta-feira, 6, em Montevidéu, foi palco de um momento histórico: a conclusão das negociações do acordo entre o Mercosul e a União Europeia, marcada pela presença da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen. Esse passo crucial, após 25 anos de complexas negociações, representa um novo capítulo nas relações entre os dois blocos e abre caminho para uma maior integração econômica e política.

A assinatura do acordo em 2019, após duas décadas de debates, marcou o início de um processo desafiador. Cinco anos de intensas revisões e negociações foram necessários para superar os obstáculos e divergências que permearam esse longo caminho, envolvendo a diplomacia e políticos de ambos os lados.

O Mercosul enfrentou obstáculos significativos. A crise ambiental no Brasil, com o aumento do desmatamento e das queimadas, gerou forte desaprovação dos países europeus, impactando a imagem do país e a confiança no compromisso ambiental do Mercosul, desagradando sobretudo a França e os financiadores do Fundo Amazônia. A busca por consenso entre as lideranças do Mercosul em relação a novos acordos de livre comércio e a postura inicialmente reticente do governo argentino de Javier Milei à integração regional também representaram desafios a serem superados. No entanto, a diplomacia brasileira, liderada pelo presidente Lula, que buscou ativamente o consenso entre empresários e elites econômicas brasileiras, bem como a percepção da Argentina de que o acordo poderia gerar benefícios econômicos e auxiliar na superação de suas crises internas, foram cruciais para a continuidade das negociações.

Do lado europeu, as divergências se concentraram em duas frentes principais: a proteção da agricultura europeia, garantida pela Política Agrícola Comum (PAC), e as preocupações com as questões ambientais. Após intensas negociações, a agenda de cooperação ambiental foi consolidada, com a inclusão de compromissos ambiciosos e mecanismos de monitoramento, respondendo às preocupações europeias e reforçando a importância da sustentabilidade no acordo.

Presidente da Comissão Europeia Ursula von der Leyen anuncia acordo com o Mercosul na Cúpula de Montevidéu, Uruguai. Foto: Matilde Campodonico/Associated Press

É fundamental analisar o acordo sob a ótica do contexto geopolítico atual. A guerra na Ucrânia impôs à Europa uma série de desafios, como o aumento dos gastos militares, as questões migratórias, a elevação do preço da energia e a dificuldade de acesso a alguns produtos. O fortalecimento da aliança dos países não ocidentais, como os BRICS, também causa apreensão na Europa, tensionando as relações entre o Leste e o Oeste. Nesse cenário, o acordo com o Mercosul transcende a esfera comercial e assume um caráter estratégico para a União Europeia, buscando ampliar sua área de influência e fortalecer laços com novos mercados, diversificando parcerias e reduzindo dependências geopolíticas.

A vitória de Trump nos Estados Unidos adiciona uma camada de complexidade ao cenário geopolítico. Sua postura contrária ao multilateralismo e a imposição de barreiras econômicas podem impactar as relações internacionais e a dinâmica da guerra na Ucrânia. A possível redução dos gastos americanos com a guerra pode fortalecer a Rússia, gerando temor na Europa como um todo. Nesse contexto, o acordo Mercosul-União Europeia reforça a importância do multilateralismo e da cooperação internacional como instrumentos para enfrentar os desafios globais que se impõem.

A busca por novos mercados e áreas de influência se entrelaça com o objetivo da União Europeia de promover seus valores de democracia, liberdade e direitos humanos. O acordo com o Mercosul representa oportunidade para a União Europeia expandir sua influência em uma região estratégica, apesar das complexidades e desafios inerentes a esse processo.

Para além de relações comerciais, o acordo assume um significado geopolítico crucial em um contexto global marcado por incertezas e desafios. A superação das divergências e a convergência de interesses demonstram a importância da integração regional e da cooperação internacional mediante a interdependência. O acordo abre caminho para uma nova era de relações entre o Mercosul e a União Europeia, com potencial para gerar crescimento econômico, promover o desenvolvimento sustentável e fortalecer a cooperação em áreas estratégicas.

Análise por Regiane Nitsch Bressan

Professora de Relações Internacionais da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp)

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