O alcance e o tom da reação negativa ao veto do presidente Lula à prorrogação da desoneração da folha antecipam os próximos capítulos desse enredo. O Congresso caminha para derrubar o veto presidencial e o caso deve parar no STF.
Justo o Supremo, que está em pé de guerra com o Senado, o qual aprovou nesta semana uma PEC que limita os poderes da Corte em decisões monocráticas - inclusive com o polêmico voto a favor do líder do governo no Senado, Jaques Wagner.
A provável judicialização da desoneração deve exacerbar o antagonismo entre os parlamentares que querem conter a ação dos ministros do Supremo e o movimento do Executivo de, no aperto, buscar soluções via STF ao invés do Congresso.
Na pauta econômica, esse ponto já tinha sido motivo de atritos com a Câmara, quando Haddad tentou um acordo no Supremo para fazer as mudanças no Carf. O Congresso reagiu e o governo teve que enviar um projeto.
A confirmar a derrubada do veto, o próximo tema em debate será a compensação da desoneração com medidas de corte de despesas ou aumento de receitas. O mais provável é que a equipe econômica diga que não poderá fazer a desoneração porque o projeto foi aprovado sem medida compensatória, exigida pela Lei de Responsabilidade Fiscal.
Os defensores da prorrogação dizem que ela nem fere a Constituição e nem precisa de compensação, porque é um benefício que já existia.
Essa polêmica não é de hoje. Na virada de 2021 para 2022, o ex-presidente Bolsonaro sancionou a lei que prorrogava por dois anos a desoneração da folha.
Com a eleição presidencial a caminho, ele não atendeu seu ministro da Economia, Paulo Guedes, e garantiu que o benefício, que acabaria em 31 de dezembro, vigorasse até o fim de 2023. O ato foi publicado na noite de ano novo.
A polêmica voltou porque o Executivo não entendeu o quanto o tema é sensível, uma vez que o próprio PT criou a desoneração e depois a ampliou.
A opção do governo Lula foi deixar para discutir a desoneração da folha de salário das empresas na segunda fase da reforma tributária, que não acontecerá neste ano.
Mas os empresários, que agora batem bumbo contra o veto, não querem nem ouvir falar neste momento da proposta do secretário Bernard Appy - de começar a revisão das regras de tributação sobre a folha de pagamento com a desoneração de pelo menos uma parcela equivalente a um salário mínimo da remuneração do trabalhador.
O ponto central para os empresários é que o ano já acabou e a alternativa prometida agora na reta final de 2023, seja qual for, não resolverá o problema, pois deveria ter sido discutida no início do governo, quando todo mundo já sabia que a desoneração iria acabar. As críticas ao veto uniram gregos e troianos: empresários, parlamentares, prefeitos e trabalhadores.