BRASÍLIA - Dois de Geraldo Alckmin (André Lara Resende e Persio Arida) e dois do PT (Nelson Barbosa e Guilherme Mello) na formação do quarteto de economistas escalados pelo presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva para formar a equipe econômica da transição. Uma divisão que retrata de alguma forma a frente ampla que apoiou Lula na campanha contra Jair Bolsonaro. Simone Tebet vai para a transição para colaborar no grupo do desenvolvimento social, outra área sensível para o futuro governo.
Percebe-se o cuidado em passar equilíbrio de cada lado, mas também da balança entre o fiscal e o social, que marcou o tom da fala do vice-presidente eleito Geraldo Alckmin no anúncio do time econômico na tarde desta terça-feira no CCBB, o QG da transição. Os quatro economistas têm visões diferentes, mas podem convergir (ao menos essa é a intenção) para trazer, quem sabe, um pouco de ar fresco para a discussão embolorada que marca as negociações da PEC da Transição.
O filme das negociações não pode ser o repeteco do que ocorreu nos últimos três anos em torno dos sucessivos furos do teto de gastos sob o comando do Centrão.
Mas muitos dos negociadores políticos da equipe de Lula têm interesses diversos nas negociações, inclusive, de ocupar uma cadeira na Esplanada dos Ministérios de Lula, ou nas mesas da Câmara e do Senado na próxima legislatura. Isso dificulta as negociações e a definição dos caminhos, que não são excludentes.
Agora, com nomes econômicos escolhidos para o governo transição, será possível trazer luz para as prioridades de gastos que estão sendo elencadas e que envolvem o tamanho da licença para gastar que Lula vai pedir para 2023. Não dá para convencer com um programa de expansão de gastos bilionários se essas despesas não forem percebidas como essenciais para a máquina do governo e ajuste econômico para um crescimento saudável.
Três dos quatro economistas – Lara Resende, Arida e Barbosa – têm experiência no setor público e já trabalharam na formulação de políticas econômicas que foram executadas. Guilherme Mello é mais novo, do grupo jovem do PT oriundo da academia, mas com capacidade de diálogo, de acordo com colegas que trabalharam com ele. Terá um papel, portanto, de liga entre eles. Errou quem apostou que Arida e Lara Resende seriam apenas colaboradores voluntários na transição e não integrantes fixos.
Se Barbosa foi um dos primeiros a falar em “waiver” de aumento de gastos para um ajuste gradual, Arida, em documento do chamado “Grupo do Seis”, apostou num programa especial para financiar, fora do teto de gastos, despesas prioritárias. Lara Resende, por outro lado, pode trazer de fato para a definição da política econômica o que sempre foi periférico: as questões socioambientais. Arida também está focado em irrigar recursos para meio ambiente, ciência e tecnologia. Os quatros estão debruçados sobre propostas de regras fiscais para substituir o teto de gastos.
As recomendações do grupo de trabalho que eles formarão na transição poderão ser integradas ao novo regime fiscal. O grupo também deve discutir a agenda de investimentos. Eles têm esse tipo de perfil para fazer um mapeamento e tentar organizar o governo nessa área. Mas o que fazer dependerá do ministro escolhido por Lula. Por isso, a aflição do mercado. Só sossega quando sair o nome do ministro.