Desde 2021 paira pelo mundo uma crise de energia. O açodamento em realizar a transição para a energia limpa causou um desequilíbrio entre oferta e demanda com a retomada econômica pós-restrições da pandemia. A maior presença das fontes renováveis, sem o devido planejamento, deixou a matriz elétrica global vulnerável. No Hemisfério Norte, um inverno mais frio e prolongado, entre 2020 e 2021, reduziu os estoques de gás natural, o preço disparou e a energia vinda das eólicas ficou abaixo do esperado. Com a opção energética pelas fontes renováveis intermitentes e pelo fornecimento do gás da Rússia, o cenário de crise energética estava formado.
Chegamos a 2022, guerra entre Rússia e Ucrânia, verão na Europa com altas temperaturas. O cenário de crise, que se formou em 2021, se realizou em 2022. Os preços da eletricidade na França e na Alemanha estão 1.000% acima do valor médio negociado nos últimos dois anos. Com isso, a tarifa nesses dois países foi para algo em torno de 440 euros por megawatt-hora (MWh). E os contratos franceses futuros da energia de pico, para dezembro, estão em 2.186 euros por MWh.
Apesar do patamar astronômico dos preços, ainda existe uma grande probabilidade de racionamento de energia no próximo inverno. O descomissionamento de nucleares, em particular na Alemanha, e de térmicas a carvão exigirá o acionamento de usinas a gás, que estão ameaçadas pelas sanções russas. Com isso, a retomada da geração nuclear e a carvão volta para a pauta. Os preços do carvão na Europa estão em alta, e a preocupação com a emissão de gases de efeito estufa parece que ficou meio esquecida. Como os principais rios europeus estão em seus mais baixos níveis de água dos últimos 50 anos, o custo para transporte do carvão aumentou cerca de 400%.
No Brasil, a crise energética foi em 2021, quando o País enfrentou uma seca histórica e precisou acionar as térmicas a gás e mesmo a óleo para assegurar o fornecimento. Em 2021/2022, medidas adotadas pelo governo e a volta da boa hidrologia afastaram o risco de racionamento, mas o planejamento do setor precisa ficar atento. Nos últimos anos, o País tem flertado com o racionamento por causa de um regime de chuvas ruins e da entrada na matriz de fontes de energia intermitentes. Assim como a Europa, estamos dando atenção demasiada à transição energética e renunciando à segurança de fornecimento. E isso pode nos custar caro, como está ocorrendo na Europa.
No curto prazo, a melhor solução é a realização dos leilões para contratação de reserva de capacidade, como ocorreu em dezembro de 2021 e vai acontecer em setembro deste ano. Precisamos de térmicas a gás flexíveis e inflexíveis para trazer confiabilidade para o enfrentamento de qualquer situação de escassez hídrica. O Brasil não pode ser a Europa amanhã.