O ano de 2022 será sempre lembrado pela crise de energia, trazida, em grande parte, pela guerra da Rússia com a Ucrânia. Com certeza esta crise é a mais grave pela qual passou o mundo. Nada comparável aos dois choques do petróleo dos anos 1970 nem à crise de 2008.
Na crise dos choques do petróleo, o preço do barril caiu quando os Estados Unidos resolveram aumentar os juros (21%), promovendo uma grande recessão e levando ao que ficou conhecido como o contrachoque do petróleo. A crise de 2008, a do subprime, mexeu com o preço do barril por motivos especulativos por causa de movimentos bruscos na Bolsa de Nova York, que levaram à quebra de bancos como o Lehman Brothers, e não por razões de oferta e demanda física de petróleo. A crise de 2022 começa em 2021, quando a demanda de energia aumentou com o advento das vacinas, mostrando que o mundo ainda dependia muito dos combustíveis fósseis. No final de 2021, o barril do petróleo já estava ao redor dos US$ 80.
É nesse cenário de petróleo, gás natural e mesmo carvão subindo de preço que, em fevereiro de 2022, a Rússia invade a Ucrânia, fazendo o setor de energia em nível mundial ficar de cabeça para baixo. Há quatro grandes diferenças da atual crise para a dos choques e a do subprime: a existência de uma guerra sem previsão de fim; a transição energética, que reduziu investimentos em exploração/produção de petróleo nos último seis anos, em particular das grandes petroleiras; esgotamento da capacidade de refino em escala mundial; e o fato da presença significativa do gás natural na matriz energética mundial.
Em relação ao gás natural, é preciso entender que, nos últimos anos, o seu preço tinha se descolado do preço do petróleo em razão de um aumento da oferta em função da tecnologia da liquefação e da descoberta do shale gas americano. Com isso, o gás acabou sendo chamado de energia da transição energética. Esse movimento de acelerar a transição energética fez com que a Europa estabelecesse uma política de fornecimento de energia baseada em renováveis e no gás russo. Com a guerra, ficou claro o erro de planejamento da Europa, ficando refém das renováveis intermitentes e do gás russo.
E 2023? Parece que a saída clássica utilizada pós-choques do petróleo nos anos 1970 voltou. Ou seja, para combater a inflação provocada pelo aumento dos combustíveis, os Estados Unidos já estão aumentando os juros, e o preço do petróleo e de outras commodities já começou a cair. A elevação dos juros será suficiente para levar o barril de volta para US$ 70? Desta vez será mais difícil e o desenrolar da guerra, determinante. Mas, com certeza, o mundo passou a entender melhor a importância e o papel dos combustíveis fósseis e da energia nuclear para garantir a segurança de suprimento energético.