Os discursos de agentes do setor de energia no Brasil e no mundo apontam, cada vez mais, para uma ressignificação do papel das fontes fósseis no processo de transição energética. Isso ficou muito claro na COP-28. O cenário atual, altamente competitivo e volátil, é um reflexo de quase quatro anos consecutivos de crises de ordem sanitária, geopolítica e econômica. A mudança de prioridades, que acarretou a ressurgência dos fósseis, trouxe, também, o aumento da influência da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e seus aliados, como a Rússia (OPEP+) nos mercados de energia globais.
Nesse contexto, enquanto as energias renováveis seguiram como sendo a principal escolha para o fornecimento energético no longo prazo, a questão da segurança energética assumiu o centro dos debates de curto e médio prazos. Por ocupar uma posição estratégica nos conflitos recentes, o primeiro devido ao envolvimento direto da Rússia, já no segundo, Israel-Hamas, em função da presença ostensiva de membros da OPEP+ na região, o petróleo e seus derivados retomaram o protagonismo no planejamento da matriz energética mundial e seu papel na transição foi amplamente debatido na COP-28.
O crescimento da influência do maior cartel de O&G no mundo vai na contramão das expectativas de especialistas na virada do milênio, que viam a queda iminente da organização. O mesmo pode ser dito em relação às majors do setor, muitas das quais recentemente interromperam seus planos de transição e reorientaram seus investimentos no segmento de fósseis. Entre os melhores exemplos desta guinada estão as últimas fusões e aquisições da ExxonMobil e Chevron.
Durante entrevista, em 14 de novembro, Darren Woods, CEO da Exxon Mobil, afirmou que tratar a indústria de O&G como vilã da transição não só não contribui para a redução das emissões globais, como alimenta a insegurança energética. Segundo ele, isso “na verdade coloca em risco o fornecimento confiável de energia, (...) desestabilizando economias globais, degradando o padrão de vida das pessoas e, como vimos na Europa, aumentando as emissões”.
As mudanças de hoje apontam para um futuro complexo, no qual as tecnologias alternativas coexistem com as fósseis tradicionais, utilizando-se não só da redução das emissões absolutas, como também da captura de carbono já presente na atmosfera. O tamanho e a complexidade da transição estão muito além das expectativas iniciais. Desmantelar um sistema energético construído ao longo de mais de 150 anos demanda um esforço hercúleo e a cooperação de todos os agentes envolvidos, e isso agora está mais claro do que nunca. O imediatismo, que poderia ser notado em discursos de 5 anos atrás, hoje dá lugar à racionalidade. Não se pode mais falar de transição sem falar de segurança.