A busca por avanços na transição energética está levando diversos países a assumirem, cada vez mais, planos de substituição das tecnologias intensivas em combustíveis fósseis pelas de baixo carbono. Como a matriz energética mundial ainda é predominantemente fóssil, a transição e a descarbonização passaram a ser praticamente sinônimos, sobretudo no setor elétrico. Mas esse não é o caso do Brasil, cuja matriz elétrica conta com 87,9% de energias renováveis. Neste ano, em função das condições hidrológicas favoráveis, a geração de energia elétrica chegou a mais de 90% com energias renováveis. Ou seja, na matriz elétrica, talvez o Brasil seja o único país a já ter feito a transição energética.
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Entretanto, a transição energética não se limita à descarbonização da matriz elétrica. No Brasil a questão está muito mais associada à matriz de transportes. Atualmente, os derivados de petróleo, somados, representam 75,2% dessa matriz, caracterizando a maior participação entre as fontes que suprem o mercado nacional. Os produtos renováveis (etanol e biodiesel) representam 21,5% e o gás natural, apenas 2,2%. É nesse segmento que o País tem mais espaço para reduzir as emissões por meio do etanol, do biodiesel, do biometano, do gás natural veicular (GNV) e do gás natural liquefeito (GNL) em caminhões.
Em relação à matriz elétrica, não faz sentido o País renunciar aos 20,1% de geração térmica, dos quais os fósseis correspondem a 10%. É importante que a matriz se mantenha balanceada, com as térmicas permanecendo como garantidoras da segurança energética, por serem fontes de geração regulares e controláveis. E, para andar em linha com o objetivo da transição, tanto as térmicas já existentes quanto as novas podem ser enquadradas em esforços para a descarbonização.
O caminho é começar com a conversão das térmicas a óleo para gás natural, ciclo aberto. Essas usinas poderão ser utilizadas em períodos de carga mais alta e na geração de base em períodos críticos. A segunda alternativa é que usinas térmicas a gás novas ou existentes de ciclo fechado se tornem usinas com capacidade e energia Merchant. Esses modelos também são compatíveis com a implantação de tecnologias de captura, utilização e armazenamento de carbono (CCUS, na sigla em inglês). E, por fim, o incentivo à introdução de um porcentual de hidrogênio ou biometano no blending do gás utilizado em novas térmicas. Coisa que já está ocorrendo na Alemanha.
Não se pode esquecer que as usinas térmicas, sobretudo a gás natural, foram de extrema importância no suporte ao fornecimento de energia elétrica em diversas crises hídricas pelas quais passou o País nos últimos 20 anos. O exemplo mais recente foi em 2021. É importante entender que a descarbonização das térmicas já é uma realidade e será fundamental no processo da transição energética para garantir o suprimento de energia com confiabilidade.