Ex-presidente do BC e sócio da A.C. Pastore e Associados

Opinião|Federal Reserve: pausa ou final do ciclo de aumento dos juros nos Estados Unidos?


Inflação alta e persistente impede a queda da taxa no país norte-americano

Por Affonso Celso Pastore

Com mais um aumento de 0,25 ponto porcentual na taxa básica de juros, o Federal Reserve optou por sinalizar uma pausa, ressalvando que espera novos dados para indicar quais serão os próximos passos da política monetária. Embora em alguns setores sensíveis ao ciclo econômico, como na construção civil, já haja sinais de desaceleração, o mercado de trabalho continua muito apertado, com cerca de 1,7 vaga aberta por trabalhador desempregado, e com os salários em elevação. A forte pressão no mercado de trabalho e a resiliência dos núcleos da inflação indicariam o prosseguimento do ciclo de alta, e não a pausa. Até que ponto a tal decisão foi influenciada pelo problema bancário que vem ocorrendo nos Estados Unidos?

Não me parece que o problema com o Silicon Valley Bank exigiria esse cuidado. Aquele foi um caso clássico de corrida bancária, na qual os depositantes correm para sacar o que têm no banco antes que ele quebre. Em um artigo que deu um enorme impulso ao estudo das crises bancárias, Diamond e Dybvig demonstraram que esse “mau equilíbrio” pode transformar-se em um “bom equilíbrio” desde que seja dada a plena garantia a todos os depositantes. Se esse fosse o único caso, o Federal Reserve poderia, confortavelmente, aplicar o “princípio da separação”, segundo o qual usa a taxa de juros para controlar a inflação, e as medidas macroprudenciais – incluindo a garantia total dos depósitos – para estancar a corrida bancária e, provavelmente, a decisão tomada na última reunião do FOMC teria sido outra.

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Jerome Powell, presidente do Federal Reserve Foto: REUTERS/Elizabeth Frantz

Porém, não demorou muito para que o FDIC fosse compelido a induzir o banco JPMorgan a comprar o First Republic Bank, e enquanto escrevia este artigo saíam as notícias de que as ações do PacWest Bank (entre outros) haviam caído 40%, e que o próximo alvo de um take over seria o Western Alliance. Diamond e Dybvig dividiram com Ben Bernanke o Prêmio Nobel em Economia de 2022 devido às suas análises sobre crises bancárias, e na sua Nobel Lecture, Bernanke analisou como uma regulação bancária mais frouxa leva a crises, que podem não ter a dimensão da Grande Depressão, ocorrida em 1929, e da Grande Recessão, de 2008, mas causam danos econômicos e interferem com a execução da política monetária.

Se esse for o caso, que me parece provável, a pausa no ciclo de queda da taxa de juros deve ser apenas uma etapa intermediária. A inflação alta e persistente impede a queda da taxa de juros, e o prognóstico do staff do Federal Reserve é de que, dado o atual grau de aperto monetário, a queda da inflação ocorrerá ao lado de uma recessão curta e suave, mas, ainda assim, uma recessão.

Com mais um aumento de 0,25 ponto porcentual na taxa básica de juros, o Federal Reserve optou por sinalizar uma pausa, ressalvando que espera novos dados para indicar quais serão os próximos passos da política monetária. Embora em alguns setores sensíveis ao ciclo econômico, como na construção civil, já haja sinais de desaceleração, o mercado de trabalho continua muito apertado, com cerca de 1,7 vaga aberta por trabalhador desempregado, e com os salários em elevação. A forte pressão no mercado de trabalho e a resiliência dos núcleos da inflação indicariam o prosseguimento do ciclo de alta, e não a pausa. Até que ponto a tal decisão foi influenciada pelo problema bancário que vem ocorrendo nos Estados Unidos?

Não me parece que o problema com o Silicon Valley Bank exigiria esse cuidado. Aquele foi um caso clássico de corrida bancária, na qual os depositantes correm para sacar o que têm no banco antes que ele quebre. Em um artigo que deu um enorme impulso ao estudo das crises bancárias, Diamond e Dybvig demonstraram que esse “mau equilíbrio” pode transformar-se em um “bom equilíbrio” desde que seja dada a plena garantia a todos os depositantes. Se esse fosse o único caso, o Federal Reserve poderia, confortavelmente, aplicar o “princípio da separação”, segundo o qual usa a taxa de juros para controlar a inflação, e as medidas macroprudenciais – incluindo a garantia total dos depósitos – para estancar a corrida bancária e, provavelmente, a decisão tomada na última reunião do FOMC teria sido outra.

Jerome Powell, presidente do Federal Reserve Foto: REUTERS/Elizabeth Frantz

Porém, não demorou muito para que o FDIC fosse compelido a induzir o banco JPMorgan a comprar o First Republic Bank, e enquanto escrevia este artigo saíam as notícias de que as ações do PacWest Bank (entre outros) haviam caído 40%, e que o próximo alvo de um take over seria o Western Alliance. Diamond e Dybvig dividiram com Ben Bernanke o Prêmio Nobel em Economia de 2022 devido às suas análises sobre crises bancárias, e na sua Nobel Lecture, Bernanke analisou como uma regulação bancária mais frouxa leva a crises, que podem não ter a dimensão da Grande Depressão, ocorrida em 1929, e da Grande Recessão, de 2008, mas causam danos econômicos e interferem com a execução da política monetária.

Se esse for o caso, que me parece provável, a pausa no ciclo de queda da taxa de juros deve ser apenas uma etapa intermediária. A inflação alta e persistente impede a queda da taxa de juros, e o prognóstico do staff do Federal Reserve é de que, dado o atual grau de aperto monetário, a queda da inflação ocorrerá ao lado de uma recessão curta e suave, mas, ainda assim, uma recessão.

Com mais um aumento de 0,25 ponto porcentual na taxa básica de juros, o Federal Reserve optou por sinalizar uma pausa, ressalvando que espera novos dados para indicar quais serão os próximos passos da política monetária. Embora em alguns setores sensíveis ao ciclo econômico, como na construção civil, já haja sinais de desaceleração, o mercado de trabalho continua muito apertado, com cerca de 1,7 vaga aberta por trabalhador desempregado, e com os salários em elevação. A forte pressão no mercado de trabalho e a resiliência dos núcleos da inflação indicariam o prosseguimento do ciclo de alta, e não a pausa. Até que ponto a tal decisão foi influenciada pelo problema bancário que vem ocorrendo nos Estados Unidos?

Não me parece que o problema com o Silicon Valley Bank exigiria esse cuidado. Aquele foi um caso clássico de corrida bancária, na qual os depositantes correm para sacar o que têm no banco antes que ele quebre. Em um artigo que deu um enorme impulso ao estudo das crises bancárias, Diamond e Dybvig demonstraram que esse “mau equilíbrio” pode transformar-se em um “bom equilíbrio” desde que seja dada a plena garantia a todos os depositantes. Se esse fosse o único caso, o Federal Reserve poderia, confortavelmente, aplicar o “princípio da separação”, segundo o qual usa a taxa de juros para controlar a inflação, e as medidas macroprudenciais – incluindo a garantia total dos depósitos – para estancar a corrida bancária e, provavelmente, a decisão tomada na última reunião do FOMC teria sido outra.

Jerome Powell, presidente do Federal Reserve Foto: REUTERS/Elizabeth Frantz

Porém, não demorou muito para que o FDIC fosse compelido a induzir o banco JPMorgan a comprar o First Republic Bank, e enquanto escrevia este artigo saíam as notícias de que as ações do PacWest Bank (entre outros) haviam caído 40%, e que o próximo alvo de um take over seria o Western Alliance. Diamond e Dybvig dividiram com Ben Bernanke o Prêmio Nobel em Economia de 2022 devido às suas análises sobre crises bancárias, e na sua Nobel Lecture, Bernanke analisou como uma regulação bancária mais frouxa leva a crises, que podem não ter a dimensão da Grande Depressão, ocorrida em 1929, e da Grande Recessão, de 2008, mas causam danos econômicos e interferem com a execução da política monetária.

Se esse for o caso, que me parece provável, a pausa no ciclo de queda da taxa de juros deve ser apenas uma etapa intermediária. A inflação alta e persistente impede a queda da taxa de juros, e o prognóstico do staff do Federal Reserve é de que, dado o atual grau de aperto monetário, a queda da inflação ocorrerá ao lado de uma recessão curta e suave, mas, ainda assim, uma recessão.

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