BRASÍLIA - Após a abertura do mercado chinês ao sorgo brasileiro, anunciada na quarta-feira, 20, durante visita do presidente Xi Jinping, o Brasil começa a se preparar para efetivar esse comércio. Os próximos passos incluem a habilitação dos estabelecimentos exportadores do cereal, a certificação sanitária pelo Ministério da Agricultura e eventualmente uma vistoria da autoridade sanitária chinesa em lavouras do produto, conforme apurou o Estadão/Broadcast Agro. O cereal é utilizado para alimentação animal e para produção de etanol e biomassa e plantado na segunda safra como rotação de cultura para a safra de verão.
A Associação Brasileira dos Produtores de Milho e Sorgo (Abramilho) projeta iniciar as vendas na safra que será colhida a partir de junho de 2025. Inicialmente, a tendência é de volumes pequenos, mas a associação vê amplo potencial de exportação de sorgo brasileiro, dado que a China importa 7 milhões de toneladas do cereal por ano, sobretudo dos Estados Unidos.
“O Brasil é o terceiro maior produtor de sorgo do mundo, com cerca de 5 milhões de toneladas por safra, e com uma exportação relativamente pequena. Há espaço para o País se tornar o maior exportador de sorgo do mundo, competindo com os Estados Unidos”, avalia o assessor técnico da Abramilho, Daniel Rosa, em entrevista ao Estadão/Broadcast Agro.
Daniel Rosa retornou recentemente de uma missão ao país asiático. Atualmente, o cultivo do sorgo no País é concentrado em Estados, como Goiás, Minas Gerais e crescente em Mato Grosso e Bahia.
O potencial a ser exportado pelo Brasil, segundo o assessor técnico da Abramilho, vai depender do crescimento da produção brasileira. “Observamos que a China tem diversificado seus fornecedores e, provavelmente, deve fazer com o sorgo um processo semelhante ao do milho, deslocando parte da compra dos Estados Unidos para o Brasil, em momento de possível escalada do conflito comercial entre Estados Unidos e China”, observou.
Esse acesso à China pode também permitir maior exportação de sorgo brasileiro a outros países da Ásia, inclusive pelo fato de ele ser substitutivo do milho. “A quantidade vai depender também de preço e da relação entre preço de sorgo e milho”, pontuou. Para ele, o potencial a ser exportado pelo Brasil dependerá também do aumento do consumo doméstico de etanol a partir de sorgo e de milho.
A maior importadora mundial
A China é a maior importadora mundial de sorgo, consumindo 10 milhões de toneladas por ano. Em 2023, o país importou US$ 1,83 bilhão em sorgo, o equivalente a 82,8% do comércio mundial do produto, segundo dados do Ministério da Agricultura. Metade do volume internalizado pela China é originário dos Estados Unidos.
Em contrapartida, a participação brasileira é de 0,29% no mercado mundial de sorgo. No acumulado deste ano, de janeiro a outubro, o Brasil exportou 114,640 mil toneladas com receita de US$ 22,343 milhões, segundo dados do Agrostat - sistema de estatísticas de comércio exterior do agronegócio brasileiro. O volume embarcado pelo Brasil neste ano é recorde, em virtude sobretudo de uma seca na África do Sul que recorreu ao cereal brasileiro.
Quais são as exigências sanitárias
O protocolo fitossanitário acordado entre os países, obtido pela reportagem, prevê que o sorgo a ser exportado para o país asiático deve estar livre de insetos vivos e de 11 pragas quarentenárias de preocupação para a China: Maize chlorotic mottle virus, Maize dwarf mosaic virus, Peronosclerospora sorghi, Helicoverpa zea, Spodoptera frugiperda, Ambrosia artemisiifolia, Sorghum halepense, Cenchrus echinatus, Solanum elaeagnifolium, Acanthospermum hispidum e Tagetes minuta.
Parte dessas pragas, segundo a Abramilho, consta também do protocolo fitossanitário para exportação de milho, sendo assim, os exportadores já estão adequados ao processo, incluindo a lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda). Já a Sorghum halepense, praga comum nas lavouras, gera receio nos exportadores em virtude do processo de limpeza por peneiras e pela semente ser menor que a do milho.
O grão poderá ser exportado para processamento, e não para cultivo. O Ministério da Agricultura controlará as empresas que exportam sorgo para a China e estabelecerá controles a ser realizados por elas nas etapas de limpeza, no processo de armazenamento e transporte do cereal, ou antes do carregamento, para reduzir “solo, restos de plantas, impurezas e sementes perigosas de ervas daninhas, sorgo e outras sementes de grãos”.
O órgão fará a inspeção de quarentena das remessas do cereal antes da exportação para a China e emitirá o certificado fitossanitário, em processo semelhante aos embarques de milho. Cada remessa do sorgo deverá ser submetida à amostragem e testes oficiais. A pasta deverá instruir também as empresas quanto ao manejo integrado de pragas para minimizar a ocorrência das pragas.
O documento não detalha de qual ano-safra o cereal poderá ser exportado, mas afirma que o protocolo entra em vigor na data de assinatura com validade de cinco anos. As empresas interessadas em exportar o produto terão de solicitar a habilitação pelo Ministério da Agricultura, que avaliará se a empresa estará apta à exportação do cereal, e deverão ser registradas pelo GACC.
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Já os importadores chineses devem obter uma licença quarentenária emitida pela GACC antes da importação, devendo ser importado por portos e processado pro fábricas designadas pela GACC e não poderá ser distribuído antes do processamento. A alfândega chinesa realizará inspeção e quarentena do produto nos portos.
Também está prevista, eventualmente, a visita de uma delegação da Administração Geral de Aduana da China (GACC, autoridade sanitária do país) nas lavouras de sorgo brasileiras em abril ou maio de 2025, quando o cereal está em desenvolvimento vegetativo e seria possível a agência identificar possíveis pragas que preocupam ao país, chamado de avaliação de risco adicional.
O Brasil pleiteava há anos a abertura do mercado chinês para o sorgo brasileiro, com o protocolo fitossanitário sendo preparado desde 2019.