‘Embrapa é indutora na revolução verde agropecuária’, diz presidente da empresa


Para Silvia Massruhá, o campo precisa comprovar, com métricas e fatos, que já produz com sustentabilidade

Por Isadora Duarte
Foto: FELIPE RAU
Entrevista comSilvia MassruháPresidente da Embrapa

Uma das grandes responsáveis pela transformação da produtividade da agropecuária brasileira, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) tem um novo desafio: apoiar o produtor na transição para uma agropecuária mais verde, regenerativa, conservacionista e de baixo carbono. “Passamos por um novo momento em que, além de falarmos que podemos aumentar a produção e a produtividade com sustentabilidade, precisamos comprovar com métricas. A Embrapa tem um papel importante, por ser um grande articulador, um novo indutor e facilitador da revolução verde”, diz a presidente da Embrapa, Silvia Massruhá.

O caminho passa por desenvolver e transferir novas tecnologias aos 5 milhões dos produtores brasileiros, quer sejam os bioinsumos, a calculadora da pegada de carbono, ou a integração lavoura-pecuária-floresta, ou em levar indicadores para mostrar a sustentabilidade da agropecuária brasileira. “Mas temos também de avançar, estimulando os produtores de forma que possam ser recompensados por adotarem práticas mais sustentáveis”, defende.

A Embrapa foi fundamental para o agronegócio brasileiro dar um salto em produtividade. Há uma nova revolução verde em curso no setor, do alimento à energia. Qual o papel da instituição nisso tudo?

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No histórico, a Embrapa teve um papel de estimular a produção no País. Passamos de importadores para grandes exportadores de alimentos, desenvolvendo tecnologia para o nosso tipo de clima e solo, ou seja, para a agricultura tropical. Foram tecnologias para aumentar a produtividade, o chamado efeito “poupa terra”, que permitiram expandir em 140% a área plantada e em 580% produção de grãos nos últimos 50 anos. Hoje passamos por um momento em que, além de mostrarmos que podemos aumentar a produção e a produtividade com sustentabilidade, precisamos comprovar isso com métricas. Vejo que, neste novo momento, a Embrapa tem um papel importante por ser um grande articulador, um novo indutor e facilitador da revolução verde. Isso passa pelo portfólio de tecnologias que ela possui e pode ajudar na nova revolução verde e por levar métricas e indicadores para comprovar que a nossa agropecuária é sustentável ambiental, econômica e socialmente. Mas temos também de avançar, estimulando mais os produtores de forma que possam ser recompensados por adotarem práticas sustentáveis.

Na prática, como a pesquisa e a tecnologia se inserem nesse processo da agricultura regenerativa?

A Embrapa pode ser um novo indutor, oferecendo o portfólio de tecnologias, participando desse movimento de agricultura sustentável. Por exemplo, com a fixação biológica de nitrogênio, o plantio direto, os sistemas integrados de lavoura, pecuária e floresta (ILPF), os sistemas agroflorestais, os sistemas consorciados, a recuperação de florestas e o próprio incentivo aos bioinsumos. São maneiras de incentivar o melhor aproveitamento do solo e com a visão de agricultura regenerativa, adotando práticas mais sustentáveis. Nessa pauta, entra também a recuperação de áreas degradadas. Hoje o Brasil tem mais de 160 milhões de hectares de pastagens, sendo aproximadamente 40 milhões de hectares com aptidão agrícola. Podemos trabalhar essa recuperação com pastos e práticas sustentáveis ou sistemas agroflorestais, a depender da região.

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Silvia Massruhá já foi pesquisadora sênior e chefe da área de pesquisas da Embrapa Foto: FELIPE RAU /ESTADÃO

Está em curso o programa de recuperação de pastagens degradadas, com a meta do governo de converter 40 milhões de hectares de pastos em dez anos. Quais são os caminhos para acelerar esse movimento e como se dá a participação da Embrapa no programa?

A Embrapa está fazendo um estudo com o cruzamento de informações dessa área possível de ser recuperada com o zoneamento agrícola de risco climático, para mapear qual a maior aptidão agrícola de cada área. O Ministério da Agricultura tem apresentado o projeto no mundo todo para captar recursos. A Embrapa entra com tecnologias. A partir do cruzamento de dados das pastagens com o zoneamento, veremos quais são as tecnologias mais adequadas que podemos aplicar. Já existe um embrião que começamos no Rio Grande do Sul este ano junto com Banco do Brasil e a Cooperativa Central Gaúcha.

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Como a Embrapa contribuirá para ajudar os produtores no que tange à pressão internacional por desmatamento zero e melhor uso da terra?

Primeiramente, com as tecnologias, por exemplo, na Amazônia e no Cerrado, de incentivar os modelos integrados e a ILPF. Hoje, há 17 milhões de hectares cultivados com o sistema ILPF, sendo a maioria integração-lavoura-pecuária (ILP). A Embrapa vem trabalhando via Rede ILPF para alcançar 30 milhões de hectares, incluindo a integração com o reflorestamento. No Norte, desenvolvemos muito os sistemas agroflorestais, com cacau, café e açaí. Além disso, trabalhamos com a dimensão sobre o uso de cobertura da terra, participando dos projetos TerraClass Amazônia e TerraClass Cerrado, que, a partir de dados do Prodes, classificam e analisam os dados. Estamos trabalhando o modelo junto com os Ministérios da Agricultura, do Meio Ambiente e da Ciência e Tecnologia para ampliar o TerraClass Brasil para os outros quatro biomas. A partir da classificação dos dados, é possível ter um monitoramento melhor da dinâmica de uso e cobertura da terra e trabalhar com políticas públicas para incentivar o uso dessas tecnologias, visando à adoção da agricultura regenerativa.

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As pressões globais sobre uma agricultura de baixo carbono são cada vez mais frequentes. No Brasil, essa transição está de fato sendo concretizada? Com a regulação em trâmite do mercado de carbono, a Embrapa pode ajudar o produtor na mensuração do balanço de carbono?

A agricultura de baixo carbono já está sendo concretizada, pois temos, há mais dez anos, o Plano de Agricultura de Baixo Carbono, hoje “RenovaAgro”. No Brasil, começamos a estabelecer alguns protocolos, o de soja e carne e leite de baixo carbono por meio de parceria público-privada. Agora, estamos avançando no cálculo da pegada de carbono do ciclo de vida do sistema de produção. Temos uma metodologia já reconhecida e validada internacionalmente. O balanço da pegada de carbono começou com a cana-de-açúcar e avançou para soja, milho, leite e café. É uma metodologia que estamos aplicando em outras cadeias produtivas. A agricultura emite carbono, mas sequestra também. Na análise do ciclo, muitas vezes o saldo é positivo. Portanto, temos que trazer esses dados por cadeia e trazer referências tropicalizadas, visando às exigências de mercado.

A ideia é mensurar o balanço de carbono de toda a cadeia produtiva?

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Já temos calculadora para a pegada de carbono de soja, a PRO Carbono Footprint. Estamos avançando na validação da calculadora para milho. A metodologia para calcular a pegada de carbono foi desenvolvida pela Embrapa Meio Ambiente com base em vários modelos para mensurar o balanço de carbono, independente da cultura. Outra parte do processo é a validação da metodologia com vários produtores, coletando dados de solo e fazendo análise do ciclo de vida antes e dentro da porteira, a fim de mensurar quanto emite e quanto sequestra e comparar com práticas mais sustentáveis. Trabalhamos com soja, leite, carne, milho, café, algodão e há outras culturas nas quais queremos avançar, como arroz e feijão. A partir disso, o produtor poderá ser recompensado, porque hoje não temos como contabilizar a pegada de carbono das culturas.

Na outra ponta, da redução da pegada de carbono, quais projetos atuais da Embrapa visam à redução do CO2 na agricultura brasileira, aos moldes da contribuição da fixação biológica de nitrogênio?

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Temos investido em bioinsumos, uma alternativa que visa à redução da pegada de carbono. Já temos dez tecnologias, além de mais de 240 que estamos discutindo em várias cadeias. Os sistemas consorciados também são uma maneira de reduzir a pegada de carbono e de a Embrapa incentivar práticas mais sustentáveis. Há ainda a participação da agricultura na produção de biocombustíveis, e o Brasil já vem fazendo isso com etanol de segunda geração.

Uma das grandes responsáveis pela transformação da produtividade da agropecuária brasileira, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) tem um novo desafio: apoiar o produtor na transição para uma agropecuária mais verde, regenerativa, conservacionista e de baixo carbono. “Passamos por um novo momento em que, além de falarmos que podemos aumentar a produção e a produtividade com sustentabilidade, precisamos comprovar com métricas. A Embrapa tem um papel importante, por ser um grande articulador, um novo indutor e facilitador da revolução verde”, diz a presidente da Embrapa, Silvia Massruhá.

O caminho passa por desenvolver e transferir novas tecnologias aos 5 milhões dos produtores brasileiros, quer sejam os bioinsumos, a calculadora da pegada de carbono, ou a integração lavoura-pecuária-floresta, ou em levar indicadores para mostrar a sustentabilidade da agropecuária brasileira. “Mas temos também de avançar, estimulando os produtores de forma que possam ser recompensados por adotarem práticas mais sustentáveis”, defende.

A Embrapa foi fundamental para o agronegócio brasileiro dar um salto em produtividade. Há uma nova revolução verde em curso no setor, do alimento à energia. Qual o papel da instituição nisso tudo?

No histórico, a Embrapa teve um papel de estimular a produção no País. Passamos de importadores para grandes exportadores de alimentos, desenvolvendo tecnologia para o nosso tipo de clima e solo, ou seja, para a agricultura tropical. Foram tecnologias para aumentar a produtividade, o chamado efeito “poupa terra”, que permitiram expandir em 140% a área plantada e em 580% produção de grãos nos últimos 50 anos. Hoje passamos por um momento em que, além de mostrarmos que podemos aumentar a produção e a produtividade com sustentabilidade, precisamos comprovar isso com métricas. Vejo que, neste novo momento, a Embrapa tem um papel importante por ser um grande articulador, um novo indutor e facilitador da revolução verde. Isso passa pelo portfólio de tecnologias que ela possui e pode ajudar na nova revolução verde e por levar métricas e indicadores para comprovar que a nossa agropecuária é sustentável ambiental, econômica e socialmente. Mas temos também de avançar, estimulando mais os produtores de forma que possam ser recompensados por adotarem práticas sustentáveis.

Na prática, como a pesquisa e a tecnologia se inserem nesse processo da agricultura regenerativa?

A Embrapa pode ser um novo indutor, oferecendo o portfólio de tecnologias, participando desse movimento de agricultura sustentável. Por exemplo, com a fixação biológica de nitrogênio, o plantio direto, os sistemas integrados de lavoura, pecuária e floresta (ILPF), os sistemas agroflorestais, os sistemas consorciados, a recuperação de florestas e o próprio incentivo aos bioinsumos. São maneiras de incentivar o melhor aproveitamento do solo e com a visão de agricultura regenerativa, adotando práticas mais sustentáveis. Nessa pauta, entra também a recuperação de áreas degradadas. Hoje o Brasil tem mais de 160 milhões de hectares de pastagens, sendo aproximadamente 40 milhões de hectares com aptidão agrícola. Podemos trabalhar essa recuperação com pastos e práticas sustentáveis ou sistemas agroflorestais, a depender da região.

Silvia Massruhá já foi pesquisadora sênior e chefe da área de pesquisas da Embrapa Foto: FELIPE RAU /ESTADÃO

Está em curso o programa de recuperação de pastagens degradadas, com a meta do governo de converter 40 milhões de hectares de pastos em dez anos. Quais são os caminhos para acelerar esse movimento e como se dá a participação da Embrapa no programa?

A Embrapa está fazendo um estudo com o cruzamento de informações dessa área possível de ser recuperada com o zoneamento agrícola de risco climático, para mapear qual a maior aptidão agrícola de cada área. O Ministério da Agricultura tem apresentado o projeto no mundo todo para captar recursos. A Embrapa entra com tecnologias. A partir do cruzamento de dados das pastagens com o zoneamento, veremos quais são as tecnologias mais adequadas que podemos aplicar. Já existe um embrião que começamos no Rio Grande do Sul este ano junto com Banco do Brasil e a Cooperativa Central Gaúcha.

Como a Embrapa contribuirá para ajudar os produtores no que tange à pressão internacional por desmatamento zero e melhor uso da terra?

Primeiramente, com as tecnologias, por exemplo, na Amazônia e no Cerrado, de incentivar os modelos integrados e a ILPF. Hoje, há 17 milhões de hectares cultivados com o sistema ILPF, sendo a maioria integração-lavoura-pecuária (ILP). A Embrapa vem trabalhando via Rede ILPF para alcançar 30 milhões de hectares, incluindo a integração com o reflorestamento. No Norte, desenvolvemos muito os sistemas agroflorestais, com cacau, café e açaí. Além disso, trabalhamos com a dimensão sobre o uso de cobertura da terra, participando dos projetos TerraClass Amazônia e TerraClass Cerrado, que, a partir de dados do Prodes, classificam e analisam os dados. Estamos trabalhando o modelo junto com os Ministérios da Agricultura, do Meio Ambiente e da Ciência e Tecnologia para ampliar o TerraClass Brasil para os outros quatro biomas. A partir da classificação dos dados, é possível ter um monitoramento melhor da dinâmica de uso e cobertura da terra e trabalhar com políticas públicas para incentivar o uso dessas tecnologias, visando à adoção da agricultura regenerativa.

As pressões globais sobre uma agricultura de baixo carbono são cada vez mais frequentes. No Brasil, essa transição está de fato sendo concretizada? Com a regulação em trâmite do mercado de carbono, a Embrapa pode ajudar o produtor na mensuração do balanço de carbono?

A agricultura de baixo carbono já está sendo concretizada, pois temos, há mais dez anos, o Plano de Agricultura de Baixo Carbono, hoje “RenovaAgro”. No Brasil, começamos a estabelecer alguns protocolos, o de soja e carne e leite de baixo carbono por meio de parceria público-privada. Agora, estamos avançando no cálculo da pegada de carbono do ciclo de vida do sistema de produção. Temos uma metodologia já reconhecida e validada internacionalmente. O balanço da pegada de carbono começou com a cana-de-açúcar e avançou para soja, milho, leite e café. É uma metodologia que estamos aplicando em outras cadeias produtivas. A agricultura emite carbono, mas sequestra também. Na análise do ciclo, muitas vezes o saldo é positivo. Portanto, temos que trazer esses dados por cadeia e trazer referências tropicalizadas, visando às exigências de mercado.

A ideia é mensurar o balanço de carbono de toda a cadeia produtiva?

Já temos calculadora para a pegada de carbono de soja, a PRO Carbono Footprint. Estamos avançando na validação da calculadora para milho. A metodologia para calcular a pegada de carbono foi desenvolvida pela Embrapa Meio Ambiente com base em vários modelos para mensurar o balanço de carbono, independente da cultura. Outra parte do processo é a validação da metodologia com vários produtores, coletando dados de solo e fazendo análise do ciclo de vida antes e dentro da porteira, a fim de mensurar quanto emite e quanto sequestra e comparar com práticas mais sustentáveis. Trabalhamos com soja, leite, carne, milho, café, algodão e há outras culturas nas quais queremos avançar, como arroz e feijão. A partir disso, o produtor poderá ser recompensado, porque hoje não temos como contabilizar a pegada de carbono das culturas.

Na outra ponta, da redução da pegada de carbono, quais projetos atuais da Embrapa visam à redução do CO2 na agricultura brasileira, aos moldes da contribuição da fixação biológica de nitrogênio?

Temos investido em bioinsumos, uma alternativa que visa à redução da pegada de carbono. Já temos dez tecnologias, além de mais de 240 que estamos discutindo em várias cadeias. Os sistemas consorciados também são uma maneira de reduzir a pegada de carbono e de a Embrapa incentivar práticas mais sustentáveis. Há ainda a participação da agricultura na produção de biocombustíveis, e o Brasil já vem fazendo isso com etanol de segunda geração.

Uma das grandes responsáveis pela transformação da produtividade da agropecuária brasileira, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) tem um novo desafio: apoiar o produtor na transição para uma agropecuária mais verde, regenerativa, conservacionista e de baixo carbono. “Passamos por um novo momento em que, além de falarmos que podemos aumentar a produção e a produtividade com sustentabilidade, precisamos comprovar com métricas. A Embrapa tem um papel importante, por ser um grande articulador, um novo indutor e facilitador da revolução verde”, diz a presidente da Embrapa, Silvia Massruhá.

O caminho passa por desenvolver e transferir novas tecnologias aos 5 milhões dos produtores brasileiros, quer sejam os bioinsumos, a calculadora da pegada de carbono, ou a integração lavoura-pecuária-floresta, ou em levar indicadores para mostrar a sustentabilidade da agropecuária brasileira. “Mas temos também de avançar, estimulando os produtores de forma que possam ser recompensados por adotarem práticas mais sustentáveis”, defende.

A Embrapa foi fundamental para o agronegócio brasileiro dar um salto em produtividade. Há uma nova revolução verde em curso no setor, do alimento à energia. Qual o papel da instituição nisso tudo?

No histórico, a Embrapa teve um papel de estimular a produção no País. Passamos de importadores para grandes exportadores de alimentos, desenvolvendo tecnologia para o nosso tipo de clima e solo, ou seja, para a agricultura tropical. Foram tecnologias para aumentar a produtividade, o chamado efeito “poupa terra”, que permitiram expandir em 140% a área plantada e em 580% produção de grãos nos últimos 50 anos. Hoje passamos por um momento em que, além de mostrarmos que podemos aumentar a produção e a produtividade com sustentabilidade, precisamos comprovar isso com métricas. Vejo que, neste novo momento, a Embrapa tem um papel importante por ser um grande articulador, um novo indutor e facilitador da revolução verde. Isso passa pelo portfólio de tecnologias que ela possui e pode ajudar na nova revolução verde e por levar métricas e indicadores para comprovar que a nossa agropecuária é sustentável ambiental, econômica e socialmente. Mas temos também de avançar, estimulando mais os produtores de forma que possam ser recompensados por adotarem práticas sustentáveis.

Na prática, como a pesquisa e a tecnologia se inserem nesse processo da agricultura regenerativa?

A Embrapa pode ser um novo indutor, oferecendo o portfólio de tecnologias, participando desse movimento de agricultura sustentável. Por exemplo, com a fixação biológica de nitrogênio, o plantio direto, os sistemas integrados de lavoura, pecuária e floresta (ILPF), os sistemas agroflorestais, os sistemas consorciados, a recuperação de florestas e o próprio incentivo aos bioinsumos. São maneiras de incentivar o melhor aproveitamento do solo e com a visão de agricultura regenerativa, adotando práticas mais sustentáveis. Nessa pauta, entra também a recuperação de áreas degradadas. Hoje o Brasil tem mais de 160 milhões de hectares de pastagens, sendo aproximadamente 40 milhões de hectares com aptidão agrícola. Podemos trabalhar essa recuperação com pastos e práticas sustentáveis ou sistemas agroflorestais, a depender da região.

Silvia Massruhá já foi pesquisadora sênior e chefe da área de pesquisas da Embrapa Foto: FELIPE RAU /ESTADÃO

Está em curso o programa de recuperação de pastagens degradadas, com a meta do governo de converter 40 milhões de hectares de pastos em dez anos. Quais são os caminhos para acelerar esse movimento e como se dá a participação da Embrapa no programa?

A Embrapa está fazendo um estudo com o cruzamento de informações dessa área possível de ser recuperada com o zoneamento agrícola de risco climático, para mapear qual a maior aptidão agrícola de cada área. O Ministério da Agricultura tem apresentado o projeto no mundo todo para captar recursos. A Embrapa entra com tecnologias. A partir do cruzamento de dados das pastagens com o zoneamento, veremos quais são as tecnologias mais adequadas que podemos aplicar. Já existe um embrião que começamos no Rio Grande do Sul este ano junto com Banco do Brasil e a Cooperativa Central Gaúcha.

Como a Embrapa contribuirá para ajudar os produtores no que tange à pressão internacional por desmatamento zero e melhor uso da terra?

Primeiramente, com as tecnologias, por exemplo, na Amazônia e no Cerrado, de incentivar os modelos integrados e a ILPF. Hoje, há 17 milhões de hectares cultivados com o sistema ILPF, sendo a maioria integração-lavoura-pecuária (ILP). A Embrapa vem trabalhando via Rede ILPF para alcançar 30 milhões de hectares, incluindo a integração com o reflorestamento. No Norte, desenvolvemos muito os sistemas agroflorestais, com cacau, café e açaí. Além disso, trabalhamos com a dimensão sobre o uso de cobertura da terra, participando dos projetos TerraClass Amazônia e TerraClass Cerrado, que, a partir de dados do Prodes, classificam e analisam os dados. Estamos trabalhando o modelo junto com os Ministérios da Agricultura, do Meio Ambiente e da Ciência e Tecnologia para ampliar o TerraClass Brasil para os outros quatro biomas. A partir da classificação dos dados, é possível ter um monitoramento melhor da dinâmica de uso e cobertura da terra e trabalhar com políticas públicas para incentivar o uso dessas tecnologias, visando à adoção da agricultura regenerativa.

As pressões globais sobre uma agricultura de baixo carbono são cada vez mais frequentes. No Brasil, essa transição está de fato sendo concretizada? Com a regulação em trâmite do mercado de carbono, a Embrapa pode ajudar o produtor na mensuração do balanço de carbono?

A agricultura de baixo carbono já está sendo concretizada, pois temos, há mais dez anos, o Plano de Agricultura de Baixo Carbono, hoje “RenovaAgro”. No Brasil, começamos a estabelecer alguns protocolos, o de soja e carne e leite de baixo carbono por meio de parceria público-privada. Agora, estamos avançando no cálculo da pegada de carbono do ciclo de vida do sistema de produção. Temos uma metodologia já reconhecida e validada internacionalmente. O balanço da pegada de carbono começou com a cana-de-açúcar e avançou para soja, milho, leite e café. É uma metodologia que estamos aplicando em outras cadeias produtivas. A agricultura emite carbono, mas sequestra também. Na análise do ciclo, muitas vezes o saldo é positivo. Portanto, temos que trazer esses dados por cadeia e trazer referências tropicalizadas, visando às exigências de mercado.

A ideia é mensurar o balanço de carbono de toda a cadeia produtiva?

Já temos calculadora para a pegada de carbono de soja, a PRO Carbono Footprint. Estamos avançando na validação da calculadora para milho. A metodologia para calcular a pegada de carbono foi desenvolvida pela Embrapa Meio Ambiente com base em vários modelos para mensurar o balanço de carbono, independente da cultura. Outra parte do processo é a validação da metodologia com vários produtores, coletando dados de solo e fazendo análise do ciclo de vida antes e dentro da porteira, a fim de mensurar quanto emite e quanto sequestra e comparar com práticas mais sustentáveis. Trabalhamos com soja, leite, carne, milho, café, algodão e há outras culturas nas quais queremos avançar, como arroz e feijão. A partir disso, o produtor poderá ser recompensado, porque hoje não temos como contabilizar a pegada de carbono das culturas.

Na outra ponta, da redução da pegada de carbono, quais projetos atuais da Embrapa visam à redução do CO2 na agricultura brasileira, aos moldes da contribuição da fixação biológica de nitrogênio?

Temos investido em bioinsumos, uma alternativa que visa à redução da pegada de carbono. Já temos dez tecnologias, além de mais de 240 que estamos discutindo em várias cadeias. Os sistemas consorciados também são uma maneira de reduzir a pegada de carbono e de a Embrapa incentivar práticas mais sustentáveis. Há ainda a participação da agricultura na produção de biocombustíveis, e o Brasil já vem fazendo isso com etanol de segunda geração.

Uma das grandes responsáveis pela transformação da produtividade da agropecuária brasileira, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) tem um novo desafio: apoiar o produtor na transição para uma agropecuária mais verde, regenerativa, conservacionista e de baixo carbono. “Passamos por um novo momento em que, além de falarmos que podemos aumentar a produção e a produtividade com sustentabilidade, precisamos comprovar com métricas. A Embrapa tem um papel importante, por ser um grande articulador, um novo indutor e facilitador da revolução verde”, diz a presidente da Embrapa, Silvia Massruhá.

O caminho passa por desenvolver e transferir novas tecnologias aos 5 milhões dos produtores brasileiros, quer sejam os bioinsumos, a calculadora da pegada de carbono, ou a integração lavoura-pecuária-floresta, ou em levar indicadores para mostrar a sustentabilidade da agropecuária brasileira. “Mas temos também de avançar, estimulando os produtores de forma que possam ser recompensados por adotarem práticas mais sustentáveis”, defende.

A Embrapa foi fundamental para o agronegócio brasileiro dar um salto em produtividade. Há uma nova revolução verde em curso no setor, do alimento à energia. Qual o papel da instituição nisso tudo?

No histórico, a Embrapa teve um papel de estimular a produção no País. Passamos de importadores para grandes exportadores de alimentos, desenvolvendo tecnologia para o nosso tipo de clima e solo, ou seja, para a agricultura tropical. Foram tecnologias para aumentar a produtividade, o chamado efeito “poupa terra”, que permitiram expandir em 140% a área plantada e em 580% produção de grãos nos últimos 50 anos. Hoje passamos por um momento em que, além de mostrarmos que podemos aumentar a produção e a produtividade com sustentabilidade, precisamos comprovar isso com métricas. Vejo que, neste novo momento, a Embrapa tem um papel importante por ser um grande articulador, um novo indutor e facilitador da revolução verde. Isso passa pelo portfólio de tecnologias que ela possui e pode ajudar na nova revolução verde e por levar métricas e indicadores para comprovar que a nossa agropecuária é sustentável ambiental, econômica e socialmente. Mas temos também de avançar, estimulando mais os produtores de forma que possam ser recompensados por adotarem práticas sustentáveis.

Na prática, como a pesquisa e a tecnologia se inserem nesse processo da agricultura regenerativa?

A Embrapa pode ser um novo indutor, oferecendo o portfólio de tecnologias, participando desse movimento de agricultura sustentável. Por exemplo, com a fixação biológica de nitrogênio, o plantio direto, os sistemas integrados de lavoura, pecuária e floresta (ILPF), os sistemas agroflorestais, os sistemas consorciados, a recuperação de florestas e o próprio incentivo aos bioinsumos. São maneiras de incentivar o melhor aproveitamento do solo e com a visão de agricultura regenerativa, adotando práticas mais sustentáveis. Nessa pauta, entra também a recuperação de áreas degradadas. Hoje o Brasil tem mais de 160 milhões de hectares de pastagens, sendo aproximadamente 40 milhões de hectares com aptidão agrícola. Podemos trabalhar essa recuperação com pastos e práticas sustentáveis ou sistemas agroflorestais, a depender da região.

Silvia Massruhá já foi pesquisadora sênior e chefe da área de pesquisas da Embrapa Foto: FELIPE RAU /ESTADÃO

Está em curso o programa de recuperação de pastagens degradadas, com a meta do governo de converter 40 milhões de hectares de pastos em dez anos. Quais são os caminhos para acelerar esse movimento e como se dá a participação da Embrapa no programa?

A Embrapa está fazendo um estudo com o cruzamento de informações dessa área possível de ser recuperada com o zoneamento agrícola de risco climático, para mapear qual a maior aptidão agrícola de cada área. O Ministério da Agricultura tem apresentado o projeto no mundo todo para captar recursos. A Embrapa entra com tecnologias. A partir do cruzamento de dados das pastagens com o zoneamento, veremos quais são as tecnologias mais adequadas que podemos aplicar. Já existe um embrião que começamos no Rio Grande do Sul este ano junto com Banco do Brasil e a Cooperativa Central Gaúcha.

Como a Embrapa contribuirá para ajudar os produtores no que tange à pressão internacional por desmatamento zero e melhor uso da terra?

Primeiramente, com as tecnologias, por exemplo, na Amazônia e no Cerrado, de incentivar os modelos integrados e a ILPF. Hoje, há 17 milhões de hectares cultivados com o sistema ILPF, sendo a maioria integração-lavoura-pecuária (ILP). A Embrapa vem trabalhando via Rede ILPF para alcançar 30 milhões de hectares, incluindo a integração com o reflorestamento. No Norte, desenvolvemos muito os sistemas agroflorestais, com cacau, café e açaí. Além disso, trabalhamos com a dimensão sobre o uso de cobertura da terra, participando dos projetos TerraClass Amazônia e TerraClass Cerrado, que, a partir de dados do Prodes, classificam e analisam os dados. Estamos trabalhando o modelo junto com os Ministérios da Agricultura, do Meio Ambiente e da Ciência e Tecnologia para ampliar o TerraClass Brasil para os outros quatro biomas. A partir da classificação dos dados, é possível ter um monitoramento melhor da dinâmica de uso e cobertura da terra e trabalhar com políticas públicas para incentivar o uso dessas tecnologias, visando à adoção da agricultura regenerativa.

As pressões globais sobre uma agricultura de baixo carbono são cada vez mais frequentes. No Brasil, essa transição está de fato sendo concretizada? Com a regulação em trâmite do mercado de carbono, a Embrapa pode ajudar o produtor na mensuração do balanço de carbono?

A agricultura de baixo carbono já está sendo concretizada, pois temos, há mais dez anos, o Plano de Agricultura de Baixo Carbono, hoje “RenovaAgro”. No Brasil, começamos a estabelecer alguns protocolos, o de soja e carne e leite de baixo carbono por meio de parceria público-privada. Agora, estamos avançando no cálculo da pegada de carbono do ciclo de vida do sistema de produção. Temos uma metodologia já reconhecida e validada internacionalmente. O balanço da pegada de carbono começou com a cana-de-açúcar e avançou para soja, milho, leite e café. É uma metodologia que estamos aplicando em outras cadeias produtivas. A agricultura emite carbono, mas sequestra também. Na análise do ciclo, muitas vezes o saldo é positivo. Portanto, temos que trazer esses dados por cadeia e trazer referências tropicalizadas, visando às exigências de mercado.

A ideia é mensurar o balanço de carbono de toda a cadeia produtiva?

Já temos calculadora para a pegada de carbono de soja, a PRO Carbono Footprint. Estamos avançando na validação da calculadora para milho. A metodologia para calcular a pegada de carbono foi desenvolvida pela Embrapa Meio Ambiente com base em vários modelos para mensurar o balanço de carbono, independente da cultura. Outra parte do processo é a validação da metodologia com vários produtores, coletando dados de solo e fazendo análise do ciclo de vida antes e dentro da porteira, a fim de mensurar quanto emite e quanto sequestra e comparar com práticas mais sustentáveis. Trabalhamos com soja, leite, carne, milho, café, algodão e há outras culturas nas quais queremos avançar, como arroz e feijão. A partir disso, o produtor poderá ser recompensado, porque hoje não temos como contabilizar a pegada de carbono das culturas.

Na outra ponta, da redução da pegada de carbono, quais projetos atuais da Embrapa visam à redução do CO2 na agricultura brasileira, aos moldes da contribuição da fixação biológica de nitrogênio?

Temos investido em bioinsumos, uma alternativa que visa à redução da pegada de carbono. Já temos dez tecnologias, além de mais de 240 que estamos discutindo em várias cadeias. Os sistemas consorciados também são uma maneira de reduzir a pegada de carbono e de a Embrapa incentivar práticas mais sustentáveis. Há ainda a participação da agricultura na produção de biocombustíveis, e o Brasil já vem fazendo isso com etanol de segunda geração.

Entrevista por Isadora Duarte

Repórter do Broadcast, serviço de notícias em tempo real do Grupo Estado, em Brasília. Jornalista formada pela UFRGS, com extensão em economia pela FGV e especialização em agronegócio pelo Insper. Responsável pela cobertura do agronegócio na capital federal, acompanha a condução da política agrícola e os projetos setoriais no Legislativo.

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