Cientista político e economista

Opinião|A América de Trump


No discurso de posse, Trump prometeu medidas em linhas gerais, sem qualquer detalhe

Por Albert Fishlow

Donald J. Trump é agora o novo presidente dos Estados Unidos. Embora eleito com a minoria dos votos nacionais, mas com a maioria do colégio eleitoral, e índices de popularidade que mostram o menor apoio já obtido pelos últimos presidentes, ele tomou posse na sexta-feira.

Ao contrário do caso de Gâmbia, cujo presidente eleito recentemente teve de tomar posse em sua embaixada no Senegal porque o anterior, no cargo há 22 anos, se recusa a deixar o poder, o processo eleitoral nos EUA se deu sem nenhum entrave, como vem acontecendo desde o fim do século 18.

O que acontecerá agora?

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Os escolhidos para a formação do seu gabinete, que ele considera as pessoas mais inteligentes do país, têm pouca experiência em administração pública, mas certamente são as mais ricas de que se tem memória. As sabatinas a que foram submetidos para a confirmação do Senado revelam não apenas isso, mas também seu limitado conhecimento das tarefas que supostamente deverão desempenhar.

Muitos deles discordam das declarações iniciais de Trump sobre o aquecimento global, a ameaça do presidente russo Putin, o apoio a práticas de tortura, as propostas para construir muros para inibir a entrada de imigrantes ilegais, a proibição de importações e uma série de outros pontos. Resta ver se esta é apenas uma posição de conveniência ou se será mantida seriamente.

Em seu discurso de posse, no espírito agressivo de outro presidente americano, Andrew Jackson, Trump rejeitou a ordem anterior em nome de um novo populismo. Ele não fez referência à recuperação econômica após a Grande Recessão. Não lembrou de um papel positivo do sistema financeiro. Não deu o menor crédito à cooperação com os aliados por meio da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Tampouco se referiu aos tratados presentes, como o acordo nuclear com o Irã ou os relativos a mudanças climáticas.

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Ao contrário, o presidente insistiu nos seus temas de campanha, como a promessa de drenar o pântano político de Washington, o que incluiria tanto a ala republicana quanto a democrata. E enfatizou o retorno da produção das indústrias nacionais com maciços investimentos em infraestrutura.

Ficou claro, em suas palavras, que os Estados Unidos se retirarão dos compromissos econômicos, políticos e militares internacionais assumidos anteriormente. A única exceção foi a destruição total do Islã radical, o Estado Islâmico, no futuro imediato, e o aumento do orçamento militar.

O discurso reiterou o tema da “América em primeiro lugar”, a necessidade de trazer de volta a riqueza investida no exterior e a garantia de novos empregos para reduzir as importações. Nisto, lembrou a postura de Charles Lindbergh nos anos 1930 e do isolacionismo que ele apoiava. Como Trump mencionou, o céu é o limite. Ouras nações poderão até imitar os enormes ganhos que virão em decorrência disso, mas sem a ativa participação dos EUA.

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Só discurso. Como sempre, estes foram princípios gerais, desprovidos de detalhe. O que não surpreendeu num discurso que durou apenas 15 minutos. O problema, entretanto, é a persistente ausência de medidas concretas. Elas serão divulgadas, como nos foi assegurado, nos próximos cem dias, quando uma nova legislação fiscal, novas negociações comerciais, novas normas sobre saúde, novos procedimentos relativos ao meio ambiente, novos programas de investimentos em infraestrutura, novos procedimentos sobre imigrantes ilegais e medidas para garantir uma maior presença da polícia, serão apresentadas ao Congresso.

Qual será a consequência para os gastos federais e a dimensão do déficit? Novas exigências serão transmitidas a Estados e municípios. Isto poderá ser viável numa economia em que estas entidades dispõem de um superávit, mas se torna um problema quando muitas delas não dispõem de recursos, e atualmente são governadas por republicanos. Além disso, os juros estão destinados a subir a patamares coerentes com uma taxa menor de desemprego. Isso elevará o custo para financiamentos.

A certa altura, a capacidade do presidente Trump de conseguir realizar o que pretende rapidamente e de tornar realidade seus desejos esbarrará em problemas. Não há dúvida quanto a qual das visões prevalecerá. Com certeza, ele encontrará maneiras de contornar a posição dos republicanos do Congresso. Desta vez não haverá nenhum Obama para culpar e criticar.

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Em seu discurso, Trump deixou claro que o sucesso deste programa populista só dependerá dele próprio. Ele não mostrou nenhuma humildade em sua apresentação. Não houve espaço para dirigir palavras a Hillary Clinton, que estava sentada perto dele. Nem fez a menor menção a qualquer outra pessoa.

O que existe é um esforço conjunto entre ele e a classe média baixa para “tornar a América novamente grande” (frase que patenteou em 2012 logo após os republicanos perderam as eleições presidenciais daquele ano). Ninguém mais importa. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

Donald J. Trump é agora o novo presidente dos Estados Unidos. Embora eleito com a minoria dos votos nacionais, mas com a maioria do colégio eleitoral, e índices de popularidade que mostram o menor apoio já obtido pelos últimos presidentes, ele tomou posse na sexta-feira.

Ao contrário do caso de Gâmbia, cujo presidente eleito recentemente teve de tomar posse em sua embaixada no Senegal porque o anterior, no cargo há 22 anos, se recusa a deixar o poder, o processo eleitoral nos EUA se deu sem nenhum entrave, como vem acontecendo desde o fim do século 18.

O que acontecerá agora?

Os escolhidos para a formação do seu gabinete, que ele considera as pessoas mais inteligentes do país, têm pouca experiência em administração pública, mas certamente são as mais ricas de que se tem memória. As sabatinas a que foram submetidos para a confirmação do Senado revelam não apenas isso, mas também seu limitado conhecimento das tarefas que supostamente deverão desempenhar.

Muitos deles discordam das declarações iniciais de Trump sobre o aquecimento global, a ameaça do presidente russo Putin, o apoio a práticas de tortura, as propostas para construir muros para inibir a entrada de imigrantes ilegais, a proibição de importações e uma série de outros pontos. Resta ver se esta é apenas uma posição de conveniência ou se será mantida seriamente.

Em seu discurso de posse, no espírito agressivo de outro presidente americano, Andrew Jackson, Trump rejeitou a ordem anterior em nome de um novo populismo. Ele não fez referência à recuperação econômica após a Grande Recessão. Não lembrou de um papel positivo do sistema financeiro. Não deu o menor crédito à cooperação com os aliados por meio da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Tampouco se referiu aos tratados presentes, como o acordo nuclear com o Irã ou os relativos a mudanças climáticas.

Ao contrário, o presidente insistiu nos seus temas de campanha, como a promessa de drenar o pântano político de Washington, o que incluiria tanto a ala republicana quanto a democrata. E enfatizou o retorno da produção das indústrias nacionais com maciços investimentos em infraestrutura.

Ficou claro, em suas palavras, que os Estados Unidos se retirarão dos compromissos econômicos, políticos e militares internacionais assumidos anteriormente. A única exceção foi a destruição total do Islã radical, o Estado Islâmico, no futuro imediato, e o aumento do orçamento militar.

O discurso reiterou o tema da “América em primeiro lugar”, a necessidade de trazer de volta a riqueza investida no exterior e a garantia de novos empregos para reduzir as importações. Nisto, lembrou a postura de Charles Lindbergh nos anos 1930 e do isolacionismo que ele apoiava. Como Trump mencionou, o céu é o limite. Ouras nações poderão até imitar os enormes ganhos que virão em decorrência disso, mas sem a ativa participação dos EUA.

Só discurso. Como sempre, estes foram princípios gerais, desprovidos de detalhe. O que não surpreendeu num discurso que durou apenas 15 minutos. O problema, entretanto, é a persistente ausência de medidas concretas. Elas serão divulgadas, como nos foi assegurado, nos próximos cem dias, quando uma nova legislação fiscal, novas negociações comerciais, novas normas sobre saúde, novos procedimentos relativos ao meio ambiente, novos programas de investimentos em infraestrutura, novos procedimentos sobre imigrantes ilegais e medidas para garantir uma maior presença da polícia, serão apresentadas ao Congresso.

Qual será a consequência para os gastos federais e a dimensão do déficit? Novas exigências serão transmitidas a Estados e municípios. Isto poderá ser viável numa economia em que estas entidades dispõem de um superávit, mas se torna um problema quando muitas delas não dispõem de recursos, e atualmente são governadas por republicanos. Além disso, os juros estão destinados a subir a patamares coerentes com uma taxa menor de desemprego. Isso elevará o custo para financiamentos.

A certa altura, a capacidade do presidente Trump de conseguir realizar o que pretende rapidamente e de tornar realidade seus desejos esbarrará em problemas. Não há dúvida quanto a qual das visões prevalecerá. Com certeza, ele encontrará maneiras de contornar a posição dos republicanos do Congresso. Desta vez não haverá nenhum Obama para culpar e criticar.

Em seu discurso, Trump deixou claro que o sucesso deste programa populista só dependerá dele próprio. Ele não mostrou nenhuma humildade em sua apresentação. Não houve espaço para dirigir palavras a Hillary Clinton, que estava sentada perto dele. Nem fez a menor menção a qualquer outra pessoa.

O que existe é um esforço conjunto entre ele e a classe média baixa para “tornar a América novamente grande” (frase que patenteou em 2012 logo após os republicanos perderam as eleições presidenciais daquele ano). Ninguém mais importa. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

Donald J. Trump é agora o novo presidente dos Estados Unidos. Embora eleito com a minoria dos votos nacionais, mas com a maioria do colégio eleitoral, e índices de popularidade que mostram o menor apoio já obtido pelos últimos presidentes, ele tomou posse na sexta-feira.

Ao contrário do caso de Gâmbia, cujo presidente eleito recentemente teve de tomar posse em sua embaixada no Senegal porque o anterior, no cargo há 22 anos, se recusa a deixar o poder, o processo eleitoral nos EUA se deu sem nenhum entrave, como vem acontecendo desde o fim do século 18.

O que acontecerá agora?

Os escolhidos para a formação do seu gabinete, que ele considera as pessoas mais inteligentes do país, têm pouca experiência em administração pública, mas certamente são as mais ricas de que se tem memória. As sabatinas a que foram submetidos para a confirmação do Senado revelam não apenas isso, mas também seu limitado conhecimento das tarefas que supostamente deverão desempenhar.

Muitos deles discordam das declarações iniciais de Trump sobre o aquecimento global, a ameaça do presidente russo Putin, o apoio a práticas de tortura, as propostas para construir muros para inibir a entrada de imigrantes ilegais, a proibição de importações e uma série de outros pontos. Resta ver se esta é apenas uma posição de conveniência ou se será mantida seriamente.

Em seu discurso de posse, no espírito agressivo de outro presidente americano, Andrew Jackson, Trump rejeitou a ordem anterior em nome de um novo populismo. Ele não fez referência à recuperação econômica após a Grande Recessão. Não lembrou de um papel positivo do sistema financeiro. Não deu o menor crédito à cooperação com os aliados por meio da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Tampouco se referiu aos tratados presentes, como o acordo nuclear com o Irã ou os relativos a mudanças climáticas.

Ao contrário, o presidente insistiu nos seus temas de campanha, como a promessa de drenar o pântano político de Washington, o que incluiria tanto a ala republicana quanto a democrata. E enfatizou o retorno da produção das indústrias nacionais com maciços investimentos em infraestrutura.

Ficou claro, em suas palavras, que os Estados Unidos se retirarão dos compromissos econômicos, políticos e militares internacionais assumidos anteriormente. A única exceção foi a destruição total do Islã radical, o Estado Islâmico, no futuro imediato, e o aumento do orçamento militar.

O discurso reiterou o tema da “América em primeiro lugar”, a necessidade de trazer de volta a riqueza investida no exterior e a garantia de novos empregos para reduzir as importações. Nisto, lembrou a postura de Charles Lindbergh nos anos 1930 e do isolacionismo que ele apoiava. Como Trump mencionou, o céu é o limite. Ouras nações poderão até imitar os enormes ganhos que virão em decorrência disso, mas sem a ativa participação dos EUA.

Só discurso. Como sempre, estes foram princípios gerais, desprovidos de detalhe. O que não surpreendeu num discurso que durou apenas 15 minutos. O problema, entretanto, é a persistente ausência de medidas concretas. Elas serão divulgadas, como nos foi assegurado, nos próximos cem dias, quando uma nova legislação fiscal, novas negociações comerciais, novas normas sobre saúde, novos procedimentos relativos ao meio ambiente, novos programas de investimentos em infraestrutura, novos procedimentos sobre imigrantes ilegais e medidas para garantir uma maior presença da polícia, serão apresentadas ao Congresso.

Qual será a consequência para os gastos federais e a dimensão do déficit? Novas exigências serão transmitidas a Estados e municípios. Isto poderá ser viável numa economia em que estas entidades dispõem de um superávit, mas se torna um problema quando muitas delas não dispõem de recursos, e atualmente são governadas por republicanos. Além disso, os juros estão destinados a subir a patamares coerentes com uma taxa menor de desemprego. Isso elevará o custo para financiamentos.

A certa altura, a capacidade do presidente Trump de conseguir realizar o que pretende rapidamente e de tornar realidade seus desejos esbarrará em problemas. Não há dúvida quanto a qual das visões prevalecerá. Com certeza, ele encontrará maneiras de contornar a posição dos republicanos do Congresso. Desta vez não haverá nenhum Obama para culpar e criticar.

Em seu discurso, Trump deixou claro que o sucesso deste programa populista só dependerá dele próprio. Ele não mostrou nenhuma humildade em sua apresentação. Não houve espaço para dirigir palavras a Hillary Clinton, que estava sentada perto dele. Nem fez a menor menção a qualquer outra pessoa.

O que existe é um esforço conjunto entre ele e a classe média baixa para “tornar a América novamente grande” (frase que patenteou em 2012 logo após os republicanos perderam as eleições presidenciais daquele ano). Ninguém mais importa. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

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