Alexandre Ribas, CEO da Falconi, a maior consultoria brasileira de gestão empresarial e de pessoas e que atua hoje em 40 países, afirma que o País tem hoje “freios de mão puxados”, que atrapalham o crescimento da economia, e que a iniciativa privada pode ajudar o Estado a superar as dificuldades.
“Fazer concessões, principalmente relacionadas à infraestrutura, é um grande caminho para trazer a iniciativa privada para ajudar no desenvolvimento (do País)”, diz.
A seguir, trechos da entrevista:
Como a Falconi consegue se programar em um momento de tantas incertezas?
Tem uma coisa interessante que eu costumo dizer: é que consultorias navegam muito bem em cenários de certeza, seja a certeza de um ambiente de negócios ruim, seja a certeza de um ambiente de negócios bom. Serviços profissionais especializados como o de consultoria tendem a andar de lado quando há incertezas. E o que a gente viveu nos últimos trimestres, principalmente no último trimestre (de 2023) e um pouquinho no primeiro trimestre deste ano, foi muita incerteza.
Vocês trabalham com Estados brasileiros? Quando vocês entram, quais são as prioridades?
A maioria dos governos estaduais tem uma grande dificuldade em fazer fechar as contas. Há a necessidade de se fazer um ajuste fiscal. Você não ser fiscalmente responsável é um problema para os Executivos, porque, primeiro, você tem a Lei de Responsabilidade Fiscal, essa é uma questão legal que você precisa atender. Segundo, dependendo do seu grau de endividamento, você deixa de acessar linhas de financiamento importantes, seja da União, seja de bancos de fomento, linhas de crédito internacionais.
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Os Estados nunca quebraram, pois ficam pendurados na União. Essa espada na cabeça que todo empresário tem não se repete no setor público. Como fazer?
Acho que ela pende em cima da cabeça do gestor público, mas pende de uma outra forma. Ele não vai ser reeleito. E não só isso, a maioria dos ex-governadores e ex-prefeitos têm muitos processos por questões da Lei de Responsabilidade Fiscal. Essa é a maior espada em cima dos gestores públicos.
Corte de custo não pode ser via funcionário. Já começa daí...
Exato. E hoje nós temos um problema grande no Brasil, que são os gastos previdenciários. Eles representam quase 50% de todo o gasto da União.
Já se fala numa segunda reforma da Previdência. Seria isso?
Exato. E precisa ser mais profunda do que a primeira.
O problema é parar a cada dois anos para fazer uma reforma da Previdência...
Previdência é um elemento estrutural. O ponto principal, que muitas pessoas colocam, é: ‘Mas eu vou fazer uma reforma previdenciária para os entes federativos gerarem lucro’. Não são entes que buscam lucro, eles visam a melhor alocação desse recurso. Hoje, nós investimos em infraestrutura menos de 2% do Orçamento. Quando a gente vai para Europa, Estados Unidos, a infraestrutura já está em segunda, terceira, quarta gerações.
Uma solução para isso não seriam investimentos privados?
Fazer concessões, principalmente relacionadas à infraestrutura, é um grande caminho para trazer a iniciativa privada para ajudar no desenvolvimento. Somos uma economia com vários freios de mão puxados, e a gente precisa ficar soltando. Não é que a gente não tenha potência no nosso motor, mas acelerar com o freio de mão puxado não gera a velocidade que a gente poderia alcançar.
Você acha que existe maior espaço para iniciativas individuais mesmo com concessões, acordos com os Estados?
A gente tem visto muitos avanços. Depende muito da vocação do Executivo e da vontade dele de destravar essas parcerias. A gente viu isso em algumas cidades avançando bastante em concessões de áreas públicas para iniciativa privada.
A concessão de parques públicos aqui em São Paulo tem funcionado.
Espaço existe e o interesse da iniciativa privada em muitos casos existe. Por quê? Porque existe interesse econômico, existe potencial econômico.
Com a experiência que vocês têm na área pública e na área privada, qual deveria ser o tamanho do Estado?
Esse é um grande desafio. Porque você vê como os dois lados (governos e empresas) funcionam, as vantagens e desvantagens.
Mas, se o Estado entrar como regulador, não há o equilíbrio entre os setores? Ou precisa de um Estado maior do que isso?
A gente não pode pensar o Estado brasileiro como a gente pensa na Noruega ou na Suíça. Essa é a minha leitura pessoal. Temos elementos sociais importantes que precisam ser trabalhados hoje. O Estado precisa ter um papel relevante no curto prazo e criar condições para precisar ser menos relevante no longo prazo. Agora, independentemente do tamanho do Estado, ele precisa exercer esse tamanho de forma eficiente. Precisamos buscar um Estado, e os nossos entes federativos que usem o recurso da melhor forma possível, de forma mais eficiente, em prol do progresso, em prol da educação, em prol de destravar esses freios de mão puxados que nós temos como economia e como sociedade.