O crescimento do PIB além do esperado no segundo trimestre e as revisões para cima dos dados passados reacenderam a discussão sobre a natureza da expansão econômica.
Há quem defenda se tratar de aceleração da nossa capacidade de crescimento (potencial), presumivelmente em resposta a reformas aprovadas nos últimos anos. E há quem acredite, como eu, que seja apenas um processo de ocupação de recursos (capital e, principalmente, trabalho) até então ociosos.
Não é uma questão acadêmica. Se crescemos ocupando recursos ociosos, o ritmo atual não pode ser sustentado sem que problemas apareçam quando a ociosidade se for, seja pelo lado das contas externas (devido ao aumento de importações), seja, de forma mais preocupante, pela aceleração da inflação.
Caso a expansão reflita o aumento da capacidade produtiva do País, bem como produtividade mais elevada, não há razão para estes receios. Teríamos crescimento sem desequilíbrios externos e domésticos (em particular, inflação).
Não há, porém, evidência de aumento de capacidade, nem de produtividade. Embora o PIB tenha crescido ao ritmo de 3% ao ano desde o fim de 2021, o emprego aumentou ainda mais, 4% ao ano, ou seja, houve queda da produtividade. E isto apesar do bom desempenho da agricultura, cujo produto por trabalhador se expandiu a quase 8% ao ano no período.
Já o investimento, em que pese a alta dos três últimos trimestres, ainda se encontra no mesmo nível observado em meados de 2022 e 13% abaixo do pico de 2013.
Adicionalmente, houve redução da participação da população em idade ativa (PIA) no mercado de trabalho, de 63% antes da pandemia para 62% agora. Como a PIA corresponde a cerca de 175 milhões de pessoas, há 1,75 milhão delas que poderiam estar disponíveis para trabalhar, mas preferem ficar de fora, reduzindo, assim, a capacidade produtiva do País.
O aumento do PIB tem sido acompanhado por queda do desemprego, agora próximo ao mínimo histórico, e alta da ocupação de capacidade na indústria, similar aos valores registrados em 2013 e 2014. Na presença destes gargalos, observamos aumento vigoroso das importações industriais (e queda do saldo do setor), assim como aceleração da inflação, em particular o componente de serviços, o mais sensível às condições domésticas.
A elevação do gasto público, que incentivou o consumo, levou ao esgotamento da capacidade ociosa da economia e, consequentemente, à possibilidade que o Copom volte a subir a taxa de juros em suas próximas reuniões.
Não faltou aviso; faltou corrigir a rota.