Análises sobre o cenário macroeconômico

Opinião|Alta do dólar não é ataque especulativo, e sim um clássico caso de língua solta de Lula


Perda de valor do real reflete fenômenos que não são afetado pela ação do BC no câmbio

Por Alexandre Schwartsman

Incapazes de admitir sua parcela de culpa (100%) pela piora do ambiente econômico, que se materializa na perda de valor do real, o governo e seus minions atribuem o problema a um “ataque especulativo” contra a moeda nacional e aproveitam para exigir do Banco Central (BC) que enfrente o suposto ataque intervindo no mercado de câmbio.

Trata-se de uma tolice inacreditável. Ataques especulativos contra uma moeda surgem apenas no contexto de um regime em que o BC tente manter a paridade desta moeda relativamente ao dólar em patamar que é percebido como insustentável (por exemplo, a libra em 1992, ou o próprio real em 1999).

Como, para manter o câmbio fixo, o BC tem que se dispor a vender dólares para o mercado a um dado preço, especuladores conseguem comprá-los relativamente baratos, até que as reservas caiam a níveis que forcem o BC a abandonar a paridade, o dólar suba, e especuladores realizem um lucro extraordinário,

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No Brasil, porém, o câmbio é flutuante. O BC não tem, a priori, compromisso de vender dólares a certo preço. Quem quer comprá-los, à vista ou no mercado futuro, empurra a cotação da moeda para cima, sem a “molezinha” de uma oferta a preço camarada do BC. Quanto mais compra, mais caro fica, o que eleva o risco para o comprador, em particular aquele que chega mais tarde.

Fortalecimento global da moeda norte-americana, incapacidade do governo de promover ajuste fiscal e palavrório do presidente afetam cotação do dólar Foto: Paulo Vitor

Neste contexto, a intervenção do BC só dá ao mercado a oportunidade de comprar mais em conta do que comprariam sem a intervenção, ou seja, favorece o especulador.

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É mais do que óbvio que a elevação do dólar reflete três fenômenos, nenhum deles afetado pela ação do BC no câmbio: o fortalecimento global da moeda norte-americana, a incapacidade de promover um ajuste fiscal que impeça a elevação persistente da dívida pública e, por fim, o palavrório do presidente sobre a “mudança de filosofia” no BC, quando Sua Sumidade puder indicar o novo presidente da autarquia.

Não é necessário gênio para entender que a mudança filosófica se traduziria, na prática, pela redução de juros sem maior compromisso com a inflação. Inflação mais alta e juros mais baixos implicam dólar mais caro à frente. Como ninguém espera até que o dólar suba sob nova direção, já compram agora, seguindo a dinâmica tradicional dos mercados financeiros.

Há um ataque por trás da alta do dólar, mas não um ataque especulativo do mercado e sim um ataque oportunista do presidente ao BC, alimentado por pesquisas sugerindo que retórica inflamada pode ajudá-lo a ganhar uns trocados de popularidade, embora apenas até a mudança no BC.

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Um clássico caso de língua solta.

Incapazes de admitir sua parcela de culpa (100%) pela piora do ambiente econômico, que se materializa na perda de valor do real, o governo e seus minions atribuem o problema a um “ataque especulativo” contra a moeda nacional e aproveitam para exigir do Banco Central (BC) que enfrente o suposto ataque intervindo no mercado de câmbio.

Trata-se de uma tolice inacreditável. Ataques especulativos contra uma moeda surgem apenas no contexto de um regime em que o BC tente manter a paridade desta moeda relativamente ao dólar em patamar que é percebido como insustentável (por exemplo, a libra em 1992, ou o próprio real em 1999).

Como, para manter o câmbio fixo, o BC tem que se dispor a vender dólares para o mercado a um dado preço, especuladores conseguem comprá-los relativamente baratos, até que as reservas caiam a níveis que forcem o BC a abandonar a paridade, o dólar suba, e especuladores realizem um lucro extraordinário,

No Brasil, porém, o câmbio é flutuante. O BC não tem, a priori, compromisso de vender dólares a certo preço. Quem quer comprá-los, à vista ou no mercado futuro, empurra a cotação da moeda para cima, sem a “molezinha” de uma oferta a preço camarada do BC. Quanto mais compra, mais caro fica, o que eleva o risco para o comprador, em particular aquele que chega mais tarde.

Fortalecimento global da moeda norte-americana, incapacidade do governo de promover ajuste fiscal e palavrório do presidente afetam cotação do dólar Foto: Paulo Vitor

Neste contexto, a intervenção do BC só dá ao mercado a oportunidade de comprar mais em conta do que comprariam sem a intervenção, ou seja, favorece o especulador.

É mais do que óbvio que a elevação do dólar reflete três fenômenos, nenhum deles afetado pela ação do BC no câmbio: o fortalecimento global da moeda norte-americana, a incapacidade de promover um ajuste fiscal que impeça a elevação persistente da dívida pública e, por fim, o palavrório do presidente sobre a “mudança de filosofia” no BC, quando Sua Sumidade puder indicar o novo presidente da autarquia.

Não é necessário gênio para entender que a mudança filosófica se traduziria, na prática, pela redução de juros sem maior compromisso com a inflação. Inflação mais alta e juros mais baixos implicam dólar mais caro à frente. Como ninguém espera até que o dólar suba sob nova direção, já compram agora, seguindo a dinâmica tradicional dos mercados financeiros.

Há um ataque por trás da alta do dólar, mas não um ataque especulativo do mercado e sim um ataque oportunista do presidente ao BC, alimentado por pesquisas sugerindo que retórica inflamada pode ajudá-lo a ganhar uns trocados de popularidade, embora apenas até a mudança no BC.

Um clássico caso de língua solta.

Incapazes de admitir sua parcela de culpa (100%) pela piora do ambiente econômico, que se materializa na perda de valor do real, o governo e seus minions atribuem o problema a um “ataque especulativo” contra a moeda nacional e aproveitam para exigir do Banco Central (BC) que enfrente o suposto ataque intervindo no mercado de câmbio.

Trata-se de uma tolice inacreditável. Ataques especulativos contra uma moeda surgem apenas no contexto de um regime em que o BC tente manter a paridade desta moeda relativamente ao dólar em patamar que é percebido como insustentável (por exemplo, a libra em 1992, ou o próprio real em 1999).

Como, para manter o câmbio fixo, o BC tem que se dispor a vender dólares para o mercado a um dado preço, especuladores conseguem comprá-los relativamente baratos, até que as reservas caiam a níveis que forcem o BC a abandonar a paridade, o dólar suba, e especuladores realizem um lucro extraordinário,

No Brasil, porém, o câmbio é flutuante. O BC não tem, a priori, compromisso de vender dólares a certo preço. Quem quer comprá-los, à vista ou no mercado futuro, empurra a cotação da moeda para cima, sem a “molezinha” de uma oferta a preço camarada do BC. Quanto mais compra, mais caro fica, o que eleva o risco para o comprador, em particular aquele que chega mais tarde.

Fortalecimento global da moeda norte-americana, incapacidade do governo de promover ajuste fiscal e palavrório do presidente afetam cotação do dólar Foto: Paulo Vitor

Neste contexto, a intervenção do BC só dá ao mercado a oportunidade de comprar mais em conta do que comprariam sem a intervenção, ou seja, favorece o especulador.

É mais do que óbvio que a elevação do dólar reflete três fenômenos, nenhum deles afetado pela ação do BC no câmbio: o fortalecimento global da moeda norte-americana, a incapacidade de promover um ajuste fiscal que impeça a elevação persistente da dívida pública e, por fim, o palavrório do presidente sobre a “mudança de filosofia” no BC, quando Sua Sumidade puder indicar o novo presidente da autarquia.

Não é necessário gênio para entender que a mudança filosófica se traduziria, na prática, pela redução de juros sem maior compromisso com a inflação. Inflação mais alta e juros mais baixos implicam dólar mais caro à frente. Como ninguém espera até que o dólar suba sob nova direção, já compram agora, seguindo a dinâmica tradicional dos mercados financeiros.

Há um ataque por trás da alta do dólar, mas não um ataque especulativo do mercado e sim um ataque oportunista do presidente ao BC, alimentado por pesquisas sugerindo que retórica inflamada pode ajudá-lo a ganhar uns trocados de popularidade, embora apenas até a mudança no BC.

Um clássico caso de língua solta.

Opinião por Alexandre Schwartsman

Economista e consultor da A.C. Pastore

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