Em entrevista recente o presidente da República afirmou que ninguém é mais responsável do que ele mesmo do ponto de vista fiscal, cabotinismo até modesto para quem já se comparou a Jesus Cristo, o aniversariante da semana. Não contente com isto, promete agora falar sobre responsabilidade fiscal em mais uma reunião para deixar claro seu compromisso com o tema e assim interromper a alta do dólar e dos juros que caracterizam este final de ano. Se bravata fosse comida, ninguém passaria fome.
O problema, óbvio, é a completa ausência de credibilidade nestes pronunciamentos. E não apenas pela conhecida dificuldade do presidente para com a verdade, nem mesmo pelo seu histórico recente, em particular o aumento do gasto e a transformação do modesto superávit federal ao final de 2022 em consideráveis déficits em 2023 e 2024.
Ninguém acredita nas lorotas presidenciais por motivo bem mais simples: não é interesse do atual governo reverter a trajetória dos gastos públicos, entendidos como essenciais para as chances de vitória na dura eleição que se avizinha.
Note-se que a atual administração fez o segundo maior aumento de gastos da história, inferior apenas ao observado durante a pandemia. Todavia, como se sabe, hoje não enfrentamos uma pandemia (apesar das conhecidas dificuldades com a vacina contra a dengue). Pelo contrário, ao assumir, Lula encontrou uma economia que crescia a cerca de 3% ao ano e desemprego em queda. Mesmo assim tomou a decisão de estimular o consumo por meio da elevação da despesa, em particular transferências a famílias.
Aumento das despesas
Adicionalmente, em oposição à expansão de gastos de 2020-21, em larga medida temporária, optou pelo aumento permanente das despesas. O total de transferências, por exemplo, já ajustado à inflação, aumentou de R$ 1,1 trilhão para R$ 1,3 trilhão de dezembro de 2022 a outubro de 2024. Não há como reverter este processo.
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A esta altura do campeonato, com menos de dois anos para a eleição, opções do governo são essencialmente duas: tentar uma redução custosa da despesa, correndo o risco de jogar a economia em recessão às vésperas do pleito; ou empurrar o problema com a barriga, torcendo para que o dólar e a inflação não piorem a ponto de ameaçar seu projeto político.
São ambas ruins, mas parece claro que a administração vê a segunda como o caminho de menor resistência, inclusive para a eleição. O dólar caro e a aceleração inflacionária dele decorrente são os danos colaterais da estratégia eleitoral do presidente.