Análises sobre o cenário macroeconômico

Opinião|Galípolo subscreve a proposta de seu mentor de elevar meta de inflação ou fingirá que não é com ele?


Periodicamente a proposta reaparece e, a cada reaparição, continua errada; elevação da meta é um tiro no pé, especialidade dos nossos economistas heterodoxos

Por Alexandre Schwartsman

Economistas heterodoxos voltaram a pedir a elevação da meta de inflação. Não é novidade: periodicamente a proposta reaparece e, a cada reaparição, continua errada.

O argumento é o seguinte. Há resquícios de indexação na economia, ou seja, parcela dos preços ainda responde à inflação passada. Assim, para atingirmos a meta, a inflação dos não indexados teria de ficar abaixo dela, requerendo juros mais altos e crescimento menor. Com a meta mais alta, não seria necessário derrubar tanto a inflação dos não indexados, aliviando a pressão sobre a política monetária e permitindo crescimento mais elevado (de onde viria, dado que economia está em pleno-emprego, não se sabe).

O pressuposto implícito, contudo, é que a inflação esperada não se alteraria, o que dificilmente seria verdade.

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Gabriel Galípolo, futuro presidente do Banco Central, durante sabatina no Senado Foto: Wilton Junior/Estadão

Quando o BC segue as regras do regime de metas na presença de indexação, a inflação esperada será sempre a média ponderada da inflação passada e da meta para a inflação. Por exemplo, se a inflação passada foi 4% e a meta 3%, a expectativa seria, para simplificar, 3,5% (peso 50% para cada componente).

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Dado que expectativas balizam o aumento de salários e preços, a inflação propriamente dita ficaria ao redor de 3,5%. No ano seguinte, a inflação esperada cairia para 3,25%, depois para 3,125% e assim por diante.

Se, porém, subirem a meta para 4%, a expectativa se ajustará à nova informação. Em nosso exemplo simples, pularia de 3,5% para 4%, atraindo consigo a inflação, já que tanto trabalhadores como empresas tenderiam a reajustar salários e preços de acordo com a expectativa mais alta.

Como se vê, isto não facilitaria a vida do BC. Pelo contrário, se a mudança da meta for percebida como precedente para novas mudanças à frente, a expectativa contemplaria esta eventualidade. Ainda seguindo nosso exemplo, em vez de 4%, se moveria um pouco mais, digamos, 4,5%, incorporando o risco de novas alterações. Isto se traduziria em inflação ainda mais alta, acima, portanto, da meta.

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Neste caso, o BC teria de elevar ainda mais a taxa de juros, na verdade, mais do que o aumento das expectativas, para trazê-la de volta à meta, isto é, juro real mais alto, logo, crescimento mais baixo.

A proposta é, pois, o proverbial tiro no pé, especialidade dos nossos heterodoxos.

Dado, porém, que o cacique da referida tribo é coautor de livros e artigos com o futuro presidente do BC, eu bem que gostaria de saber opinião deste acerca da proposta do seu mentor: subscreve, ou finge que não é com ele?

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Com a palavra, Gabriel Galípolo.

Economistas heterodoxos voltaram a pedir a elevação da meta de inflação. Não é novidade: periodicamente a proposta reaparece e, a cada reaparição, continua errada.

O argumento é o seguinte. Há resquícios de indexação na economia, ou seja, parcela dos preços ainda responde à inflação passada. Assim, para atingirmos a meta, a inflação dos não indexados teria de ficar abaixo dela, requerendo juros mais altos e crescimento menor. Com a meta mais alta, não seria necessário derrubar tanto a inflação dos não indexados, aliviando a pressão sobre a política monetária e permitindo crescimento mais elevado (de onde viria, dado que economia está em pleno-emprego, não se sabe).

O pressuposto implícito, contudo, é que a inflação esperada não se alteraria, o que dificilmente seria verdade.

Gabriel Galípolo, futuro presidente do Banco Central, durante sabatina no Senado Foto: Wilton Junior/Estadão

Quando o BC segue as regras do regime de metas na presença de indexação, a inflação esperada será sempre a média ponderada da inflação passada e da meta para a inflação. Por exemplo, se a inflação passada foi 4% e a meta 3%, a expectativa seria, para simplificar, 3,5% (peso 50% para cada componente).

Dado que expectativas balizam o aumento de salários e preços, a inflação propriamente dita ficaria ao redor de 3,5%. No ano seguinte, a inflação esperada cairia para 3,25%, depois para 3,125% e assim por diante.

Se, porém, subirem a meta para 4%, a expectativa se ajustará à nova informação. Em nosso exemplo simples, pularia de 3,5% para 4%, atraindo consigo a inflação, já que tanto trabalhadores como empresas tenderiam a reajustar salários e preços de acordo com a expectativa mais alta.

Como se vê, isto não facilitaria a vida do BC. Pelo contrário, se a mudança da meta for percebida como precedente para novas mudanças à frente, a expectativa contemplaria esta eventualidade. Ainda seguindo nosso exemplo, em vez de 4%, se moveria um pouco mais, digamos, 4,5%, incorporando o risco de novas alterações. Isto se traduziria em inflação ainda mais alta, acima, portanto, da meta.

Neste caso, o BC teria de elevar ainda mais a taxa de juros, na verdade, mais do que o aumento das expectativas, para trazê-la de volta à meta, isto é, juro real mais alto, logo, crescimento mais baixo.

A proposta é, pois, o proverbial tiro no pé, especialidade dos nossos heterodoxos.

Dado, porém, que o cacique da referida tribo é coautor de livros e artigos com o futuro presidente do BC, eu bem que gostaria de saber opinião deste acerca da proposta do seu mentor: subscreve, ou finge que não é com ele?

Com a palavra, Gabriel Galípolo.

Economistas heterodoxos voltaram a pedir a elevação da meta de inflação. Não é novidade: periodicamente a proposta reaparece e, a cada reaparição, continua errada.

O argumento é o seguinte. Há resquícios de indexação na economia, ou seja, parcela dos preços ainda responde à inflação passada. Assim, para atingirmos a meta, a inflação dos não indexados teria de ficar abaixo dela, requerendo juros mais altos e crescimento menor. Com a meta mais alta, não seria necessário derrubar tanto a inflação dos não indexados, aliviando a pressão sobre a política monetária e permitindo crescimento mais elevado (de onde viria, dado que economia está em pleno-emprego, não se sabe).

O pressuposto implícito, contudo, é que a inflação esperada não se alteraria, o que dificilmente seria verdade.

Gabriel Galípolo, futuro presidente do Banco Central, durante sabatina no Senado Foto: Wilton Junior/Estadão

Quando o BC segue as regras do regime de metas na presença de indexação, a inflação esperada será sempre a média ponderada da inflação passada e da meta para a inflação. Por exemplo, se a inflação passada foi 4% e a meta 3%, a expectativa seria, para simplificar, 3,5% (peso 50% para cada componente).

Dado que expectativas balizam o aumento de salários e preços, a inflação propriamente dita ficaria ao redor de 3,5%. No ano seguinte, a inflação esperada cairia para 3,25%, depois para 3,125% e assim por diante.

Se, porém, subirem a meta para 4%, a expectativa se ajustará à nova informação. Em nosso exemplo simples, pularia de 3,5% para 4%, atraindo consigo a inflação, já que tanto trabalhadores como empresas tenderiam a reajustar salários e preços de acordo com a expectativa mais alta.

Como se vê, isto não facilitaria a vida do BC. Pelo contrário, se a mudança da meta for percebida como precedente para novas mudanças à frente, a expectativa contemplaria esta eventualidade. Ainda seguindo nosso exemplo, em vez de 4%, se moveria um pouco mais, digamos, 4,5%, incorporando o risco de novas alterações. Isto se traduziria em inflação ainda mais alta, acima, portanto, da meta.

Neste caso, o BC teria de elevar ainda mais a taxa de juros, na verdade, mais do que o aumento das expectativas, para trazê-la de volta à meta, isto é, juro real mais alto, logo, crescimento mais baixo.

A proposta é, pois, o proverbial tiro no pé, especialidade dos nossos heterodoxos.

Dado, porém, que o cacique da referida tribo é coautor de livros e artigos com o futuro presidente do BC, eu bem que gostaria de saber opinião deste acerca da proposta do seu mentor: subscreve, ou finge que não é com ele?

Com a palavra, Gabriel Galípolo.

Opinião por Alexandre Schwartsman

Economista e consultor da A.C. Pastore

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