NOVA YORK - Com os juros estratosféricos cobrados pelos bancos no cartão e nos empréstimos pessoais, os brasileiros estão cada vez mais recorrendo a casas de penhora para conseguir recursos extras e pagar contas, destaca uma extensa reportagem do jornal The New York Times nesta quinta-feira.
Os juros praticados no Brasil fariam um agiota americano ficar vermelho de vergonha, destaca a reportagem. O texto cita as taxas de juros cobradas no Brasil no cartão de crédito, que superam 240% ao ano, e as do crédito bancário, acima de 100%, ambas muito acima das praticadas nos EUA, que no caso do cartão costumam ficar abaixo de 20% ao ano. Ontem, o Banco Central voltou a elevar a taxa básica de juros, para 11,75% ao ano, o que pode encarecer ainda mais o crédito no Brasil.
A reportagem do Times cita a dona de casa de São Paulo, Ângela Pereira, que recentemente empenhou joias para conseguir R$ 530 para comprar material escolar para a filha. Para isso, pagou juros anuais de 19%. Ao contrário dos EUA, o Times destaca que as lojas de penhor no Brasil são regulamentadas por uma legislação nacional e operadas pela Caixa Econômica Federal. Nos EUA, as lojas são independentes e estipulam suas próprias taxas e regras.
No Brasil, após análise da joia ou outro bem, o cliente costuma receber 85% do valor do bem e ainda não precisa comprovar renda e emprego. Caso não pague, a Caixa fica com o produto e vende ao público. Um executivo do banco público entrevistado pelo Times, João Régis Magalhães, destaca que a operação é simples, com custo baixo e por isso o juro é menor. Além disso, com o bem como garantia, o risco se reduz consideravelmente. A taxa de inadimplência é de 0,6%, de acordo com dados da Caixa citados no texto, enquanto no crédito pessoal está em 6,7%.
Na Caixa, a carteira de penhora mais que dobrou nos últimos quatro anos, para US$ 670 milhões. A Caixa, diz o executivo, planeja dobrar o número de agências que oferecem penhora até o final de 2015. Embora ainda com volume pequeno quando comparado com outras formas de crédito, como o cartão e o empréstimos bancário, o Times destaca que a penhora tem crescido também como forma das famílias contornarem o crescente endividamento dos últimos anos, quando tomaram crédito para comprar veículos e imóveis.
Uma funcionária pública entrevistada pelo jornal, Arianna França, empenhou bens para pagar gastos com saúde, não cobertos pelo plano de saúde. Ela poderia usar o crédito consignado, com taxas de juros menores e desconto direto em folha de pagamento, mas Arianna disse que já usou todo o limite disponível, de 30% do salário e, por isso, teve que recorrer à penhora.