Análise|BC endurece o discurso, cobra ajuste fiscal, mas ganha tempo antes de indicar nova alta dos juros


Copom manteve os juros em 10,5% ao ano e, apesar de não cravar um aumento da Selic em setembro, abriu as portas para que os juros voltem a subir em caso de piora do cenário

Por Alvaro Gribel
Atualização:

O Banco Central fez o certo ontem e endureceu o discurso diante de um quadro para a inflação que piora por vários lados. Ainda assim, uma alta da Selic em setembro não é o mais provável, e a estratégia foi ganhar tempo, para ver se o cenário externo se torna mais favorável e se o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, consegue impor dentro do governo uma agenda efetiva de cortes de gastos.

Antes da próxima reunião do Copom, a equipe econômica terá de enviar o Orçamento de 2025, e esse será um novo marco na relação de confiança entre o mercado financeiro e a política fiscal.

O fato é que o cenário para a inflação piorou nas últimas semanas, e isso justifica o tom mais duro pela autoridade monetária. O dólar está mais alto, as expectativas deram um salto, e os preços correntes, que vinham melhores do que o esperado, surpreenderam negativamente.

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Brasília, 31/01/2024 - Reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central do Brasil. Foto: Raphael Ribeiro/BCB Foto: Raphael Ribeiro/BC

Lá fora, houve a boa notícia do Fed, que deu um sinal forte de que está próximo de cortar os juros. Mas, para azar do Brasil, o Banco Central do Japão subiu a taxa e passou a atrair recursos que viriam para países emergentes. O resultado é que o real mal se mexeu e se manteve na casa de R$ 5,65.

Um dos dados mais importantes do dia foi comunicado pelo IBGE. A Pnad mostrou um panorama altamente favorável para o mercado de trabalho, que é para onde todos os indicadores relevantes da economia convergem.

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A despeito dos ataques de Lula ao BC e dos juros reais elevados, a taxa de desemprego caiu para 6,9% no trimestre encerrado em junho, o menor número em dez anos, a população ocupada bateu recorde, a massa de rendimentos, também, e os salários reais voltaram a crescer. Ainda que isso signifique pressão inflacionária para o Banco Central, o PT não tem do que reclamar.

É verdade que o Bolsa Família diminuiu a taxa de participação no mercado de trabalho, que ficou em 62,1% em junho, contra 63,7% em junho de 2019, antes da pandemia. Isso significa que cerca de 1,6 milhão de brasileiros estão optando por não trabalhar ou procurar emprego.

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Mas, como mostrou o economista Pedro Nery, em seu livro “Extremos - Um mapa para entender as desigualdades no Brasil”, é alta a probabilidade de que essas pessoas estejam fugindo dos subempregos ou simplesmente tendo a oportunidade de ficar em casa para cuidar dos seus filhos. No melhor cenário, eles voltarão mais qualificados ao mercado, produzindo um salto na produtividade.

Mesmo com todos os ruídos, o Banco Central tem feito um trabalho técnico de controlar a inflação. Se for obrigado a subir os juros à frente, o País não vai acabar. Ao governo federal, cabe acelerar a agenda de corte de gastos e evitar esse pior cenário.

O Banco Central fez o certo ontem e endureceu o discurso diante de um quadro para a inflação que piora por vários lados. Ainda assim, uma alta da Selic em setembro não é o mais provável, e a estratégia foi ganhar tempo, para ver se o cenário externo se torna mais favorável e se o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, consegue impor dentro do governo uma agenda efetiva de cortes de gastos.

Antes da próxima reunião do Copom, a equipe econômica terá de enviar o Orçamento de 2025, e esse será um novo marco na relação de confiança entre o mercado financeiro e a política fiscal.

O fato é que o cenário para a inflação piorou nas últimas semanas, e isso justifica o tom mais duro pela autoridade monetária. O dólar está mais alto, as expectativas deram um salto, e os preços correntes, que vinham melhores do que o esperado, surpreenderam negativamente.

Brasília, 31/01/2024 - Reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central do Brasil. Foto: Raphael Ribeiro/BCB Foto: Raphael Ribeiro/BC

Lá fora, houve a boa notícia do Fed, que deu um sinal forte de que está próximo de cortar os juros. Mas, para azar do Brasil, o Banco Central do Japão subiu a taxa e passou a atrair recursos que viriam para países emergentes. O resultado é que o real mal se mexeu e se manteve na casa de R$ 5,65.

Um dos dados mais importantes do dia foi comunicado pelo IBGE. A Pnad mostrou um panorama altamente favorável para o mercado de trabalho, que é para onde todos os indicadores relevantes da economia convergem.

A despeito dos ataques de Lula ao BC e dos juros reais elevados, a taxa de desemprego caiu para 6,9% no trimestre encerrado em junho, o menor número em dez anos, a população ocupada bateu recorde, a massa de rendimentos, também, e os salários reais voltaram a crescer. Ainda que isso signifique pressão inflacionária para o Banco Central, o PT não tem do que reclamar.

É verdade que o Bolsa Família diminuiu a taxa de participação no mercado de trabalho, que ficou em 62,1% em junho, contra 63,7% em junho de 2019, antes da pandemia. Isso significa que cerca de 1,6 milhão de brasileiros estão optando por não trabalhar ou procurar emprego.

Mas, como mostrou o economista Pedro Nery, em seu livro “Extremos - Um mapa para entender as desigualdades no Brasil”, é alta a probabilidade de que essas pessoas estejam fugindo dos subempregos ou simplesmente tendo a oportunidade de ficar em casa para cuidar dos seus filhos. No melhor cenário, eles voltarão mais qualificados ao mercado, produzindo um salto na produtividade.

Mesmo com todos os ruídos, o Banco Central tem feito um trabalho técnico de controlar a inflação. Se for obrigado a subir os juros à frente, o País não vai acabar. Ao governo federal, cabe acelerar a agenda de corte de gastos e evitar esse pior cenário.

O Banco Central fez o certo ontem e endureceu o discurso diante de um quadro para a inflação que piora por vários lados. Ainda assim, uma alta da Selic em setembro não é o mais provável, e a estratégia foi ganhar tempo, para ver se o cenário externo se torna mais favorável e se o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, consegue impor dentro do governo uma agenda efetiva de cortes de gastos.

Antes da próxima reunião do Copom, a equipe econômica terá de enviar o Orçamento de 2025, e esse será um novo marco na relação de confiança entre o mercado financeiro e a política fiscal.

O fato é que o cenário para a inflação piorou nas últimas semanas, e isso justifica o tom mais duro pela autoridade monetária. O dólar está mais alto, as expectativas deram um salto, e os preços correntes, que vinham melhores do que o esperado, surpreenderam negativamente.

Brasília, 31/01/2024 - Reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central do Brasil. Foto: Raphael Ribeiro/BCB Foto: Raphael Ribeiro/BC

Lá fora, houve a boa notícia do Fed, que deu um sinal forte de que está próximo de cortar os juros. Mas, para azar do Brasil, o Banco Central do Japão subiu a taxa e passou a atrair recursos que viriam para países emergentes. O resultado é que o real mal se mexeu e se manteve na casa de R$ 5,65.

Um dos dados mais importantes do dia foi comunicado pelo IBGE. A Pnad mostrou um panorama altamente favorável para o mercado de trabalho, que é para onde todos os indicadores relevantes da economia convergem.

A despeito dos ataques de Lula ao BC e dos juros reais elevados, a taxa de desemprego caiu para 6,9% no trimestre encerrado em junho, o menor número em dez anos, a população ocupada bateu recorde, a massa de rendimentos, também, e os salários reais voltaram a crescer. Ainda que isso signifique pressão inflacionária para o Banco Central, o PT não tem do que reclamar.

É verdade que o Bolsa Família diminuiu a taxa de participação no mercado de trabalho, que ficou em 62,1% em junho, contra 63,7% em junho de 2019, antes da pandemia. Isso significa que cerca de 1,6 milhão de brasileiros estão optando por não trabalhar ou procurar emprego.

Mas, como mostrou o economista Pedro Nery, em seu livro “Extremos - Um mapa para entender as desigualdades no Brasil”, é alta a probabilidade de que essas pessoas estejam fugindo dos subempregos ou simplesmente tendo a oportunidade de ficar em casa para cuidar dos seus filhos. No melhor cenário, eles voltarão mais qualificados ao mercado, produzindo um salto na produtividade.

Mesmo com todos os ruídos, o Banco Central tem feito um trabalho técnico de controlar a inflação. Se for obrigado a subir os juros à frente, o País não vai acabar. Ao governo federal, cabe acelerar a agenda de corte de gastos e evitar esse pior cenário.

Análise por Alvaro Gribel

Repórter especial e colunista do Estadão em Brasília. Há mais de 15 anos acompanha os principais assuntos macroeconômicos no Brasil e no mundo. Foi colunista e coordenador de economia no Globo.

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